Ideias: qual é a personalidade das pessoas com pensamento original no trabalho? (patpitchaya/Thinkstock)
Sócia do BTG Pactual
Publicado em 25 de abril de 2025 às 15h59.
Crises não avisam. Elas rompem como raios em céu limpo: súbitas, intensas, desconcertantes. E quando chegam, não é a força bruta nem a estratégia mais refinada que sustenta. É o equilíbrio.
Esse espaço silencioso entre o impulso e a resposta.
Quando decidi empreender, depois de anos em um ambiente corporativo estruturado, achei que estava pronta para tudo. O mercado, os contatos, a bagagem — tudo parecia suficiente.
Até o silêncio do novo me mostrar o que faltava. O silêncio que aparece quando as certezas se desfazem. Quando os resultados não vêm no ritmo esperado. Quando as decisões pesam. E não há manual para não se desesperar.
Foi nesse espaço desconfortável — entre quem eu era e quem eu ainda não sabia como ser — que entendi: o verdadeiro poder não está em controlar o que acontece, mas em como escolhemos reagir. E isso exige uma força muitas vezes invisível: o equilíbrio emocional.
Equilíbrio emocional não é fingir que está tudo bem. É reconhecer que nem sempre estará e, ainda assim, permanecer presente. É aceitar a vulnerabilidade sem deixar que ela tome o volante. É saber que ser forte não é deixar de sentir — é não permitir que o sentir desestabilize o todo.
Vivemos em tempos reativos.
Basta olhar o cenário político global. A recente repercussão das decisões de Donald Trump, já de volta ao poder, é um termômetro revelador: não diz respeito apenas à política — mas às emoções coletivas. Medo, nostalgia, raiva, insegurança.
Em tempos de instabilidade, muitos correm de volta ao que conhecem mesmo que o conhecido traga mais ruídos do que soluções. Essas escolhas, por mais distantes que pareçam, falam sobre nós. O macro reflete o micro.
Governos instáveis, lideranças agressivas, discursos polarizados são o reflexo de uma sociedade que perdeu o centro. O mundo está sedento por lucidez. Por vozes que pacificam, não que inflamam.
Na vida pessoal e profissional, é a mesma coisa. Quantas vezes você viu alguém talentoso se perder por não saber lidar com o erro? Ou transformar cada desafio em uma batalha pessoal?
Equilíbrio é entender que perder faz parte. Que controle total é ilusão. Que respirar antes de responder pode ser o ato mais revolucionário do dia.
Momentos de crise revelam. Revelam quem somos. Onde estão nossos pilares. O que realmente importa. Eles não nos definem — mas nos mostram do que somos feitos. E, muitas vezes, é só atravessando a tormenta que encontramos nosso eixo.
Hoje, quando penso em liderança — e aqui incluo a liderança sobre nós mesmos — penso em serenidade. Na capacidade de fazer silêncio sem se anular. De se manter firme sem endurecer. De conduzir com sensibilidade, mesmo quando tudo ao redor parece ruir.
Porque no fim, é o equilíbrio essa força silenciosa que sustenta quem permanece. E só permanece quem inspira confiança.
Confiança constrói. Confiança sustenta. Confiança transforma.