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Água que vale ouro: uma oportunidade para o Brasil

A água está cada vez mais escassa. Somos um país rico em água doce - com a maior reserva mundial. Esse é o momento de fazer a retomada verde

Amazônia: Brasil é um dos países com maior reserva de água doce do mundo (iStock/Getty Images)
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felipegiacomelli

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 11h54.

Em relatório recente, o BlackRock Investment Institute alertou os investidores sobre riscos em seus portfólios decorrentes da escassez de um recurso natural tão precioso quanto subestimado: a água . A recomendação é que os investidores considerem companhias que fazem a melhor gestão do recurso hídrico, evitando prejuízos provenientes da potencial falta de água para a continuidade de suas atividades. O relatório indica que, até 2030, é esperado que uma a cada duas pessoas no mundo viva em locais com estresse hídrico - trazendo graves consequências-para a população e para os negócios.

O Brasil, que tem a maior reserva de água doce do mundo (com 12% do total), precisa participar desde já deste debate. Afinal, não estamos imunes à escassez. Em plena pandemia, Curitiba enfrenta uma das piores crises hídricas de sua história recente, com rodízio de água afetando 1,2 milhão de pessoas. Em Santa Catarina, pelo menos 18 municípios também passaram por racionamento este ano. Em 2014 e 2015, foram o Rio de Janeiro e São Paulo. E, em 2017, o Distrito Federal, para citar alguns casos. Imagine esses cenários daqui a alguns anos, em que a projeção de aumento na demanda por água potável é de 80%, até 2040. Os dados estão num estudo recém publicado pelo Instituto Trata Brasil com a EX Ante Consultoria

O país construiu o modelo hídrico levando em conta a abundância, embora ela se concentre 80% no Norte do país, o menos povoado. E não se preparou para a escassez em função das mudanças no clima e do desmatamento, que nos conduzem a secas históricas, como a atual no Paraná. Ações de reflorestamento e para manter a floresta em pé são essenciais para proteger nossos mananciais e foco de pressão internacional, de investidores e empresas, como nunca antes.

Um total de 58% dos municípios brasileiros utiliza mananciais de água superficiais – rios, lagos, represas -, e 42% depende de mananciais subterrâneos como aquíferos, que só deveriam ser acessados em último caso. O desmatamento e as grandes transformações climáticas, somados ao aumento da população, afetam dramaticamente o modelo original de abastecimento – o que é agravado também por questões estruturais e culturais, como a perda de 37% da água tratada com vazamentos e fraudes. Além da lentidão na ampliação do tratamento de esgoto, hoje acessível a apenas 46,3% dos brasileiros. O novo marco do Regulamento do Saneamento Básico nacional, com a abertura para a participação do capital privado, traz novos ares e expectativas para evoluir os serviços de água e esgoto, e universalizar os acessos.

O grande desafio do Brasil e do mundo é construir um sistema de abastecimento resiliente. Transformação que depende de vários atores e está no centro das discussões de um grupo de CEOS de sete grandes empresas globais, entre elas ABInBev, Cargill, Diageo e Microsoft, desenvolvido em parceria com as Nações Unidas. O objetivo da coalizão é reduzir o estresse hídrico até 2050 e garantir que as fontes sejam sustentáveis e diversas para atender às necessidades de produção e da sociedade.

No caminho da resiliência, Singapura é um exemplo a ser estudado, porque, apesar de não ter uma única fonte natural de água, aquíferos ou lagos, essa pequena ilha no sudeste asiático dá um show de diversidade de opções em abastecimento. É a escassez impulsionadora de inovação!

O segredo aprendido arduamente durante a grande seca de 1960 e, mais recentemente, na estiagem nos anos 90, é que cada gota de água importa. Singapura conta com quatro fontes diferentes para garantir água: captação local de água da chuva, importação de água, e dois projetos que envolvem construção de alternativas para reduzir a dependência das extremas condições climáticas. Um de dessalinização e outro considerado o pilar da estratégia de sustentabilidade da água no país, o NEWater.

Esse é daqueles modelos inovadores e inspiradores que nos fazem acreditar no potencial humano de promover grandes feitos para o bem comum. A chamada “água nova” é parte de um conceito de reuso infinito da água. Água reciclada é a forma considerada mais sustentável de aumentar o abastecimento em todo o país, que já reaproveita de apartamentos, ralos e do que importa da Malásia. E pretende ampliar as opções reaproveitando de indústrias.

Singapura se adiantou 30 anos em soluções e em novos acordos. Esse é o tempo de gestação e de evolução do NEWater que tem a condução de um órgão do governo federal, a Agência Nacional de Água. Se há um belo aprendizado aqui é que é possível regar um futuro melhor se focarmos na solução de problemas com cadência e seriedade.

A partir de agora, as novas escolhas devem ponderar sob qual perspectiva olhar nossos grandes problemas. Porque a escassez de água pode ser um risco precificado para investidores, mas também uma oportunidade valiosa. Especialmente para o Brasil, dada sua enorme capacidade hídrica. E essa mudança de visão é que libera ações e recursos com foco em soluções, atraindo inclusive uma massa de investidores cada vez mais preocupada com a sustentabilidade do planeta. Para nós, brasileiros, esse deveria ser o momento de utilizar a natureza como fortaleza para nossa construção de País no longo prazo.

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Em relatório recente, o BlackRock Investment Institute alertou os investidores sobre riscos em seus portfólios decorrentes da escassez de um recurso natural tão precioso quanto subestimado: a água . A recomendação é que os investidores considerem companhias que fazem a melhor gestão do recurso hídrico, evitando prejuízos provenientes da potencial falta de água para a continuidade de suas atividades. O relatório indica que, até 2030, é esperado que uma a cada duas pessoas no mundo viva em locais com estresse hídrico - trazendo graves consequências-para a população e para os negócios.

O Brasil, que tem a maior reserva de água doce do mundo (com 12% do total), precisa participar desde já deste debate. Afinal, não estamos imunes à escassez. Em plena pandemia, Curitiba enfrenta uma das piores crises hídricas de sua história recente, com rodízio de água afetando 1,2 milhão de pessoas. Em Santa Catarina, pelo menos 18 municípios também passaram por racionamento este ano. Em 2014 e 2015, foram o Rio de Janeiro e São Paulo. E, em 2017, o Distrito Federal, para citar alguns casos. Imagine esses cenários daqui a alguns anos, em que a projeção de aumento na demanda por água potável é de 80%, até 2040. Os dados estão num estudo recém publicado pelo Instituto Trata Brasil com a EX Ante Consultoria

O país construiu o modelo hídrico levando em conta a abundância, embora ela se concentre 80% no Norte do país, o menos povoado. E não se preparou para a escassez em função das mudanças no clima e do desmatamento, que nos conduzem a secas históricas, como a atual no Paraná. Ações de reflorestamento e para manter a floresta em pé são essenciais para proteger nossos mananciais e foco de pressão internacional, de investidores e empresas, como nunca antes.

Um total de 58% dos municípios brasileiros utiliza mananciais de água superficiais – rios, lagos, represas -, e 42% depende de mananciais subterrâneos como aquíferos, que só deveriam ser acessados em último caso. O desmatamento e as grandes transformações climáticas, somados ao aumento da população, afetam dramaticamente o modelo original de abastecimento – o que é agravado também por questões estruturais e culturais, como a perda de 37% da água tratada com vazamentos e fraudes. Além da lentidão na ampliação do tratamento de esgoto, hoje acessível a apenas 46,3% dos brasileiros. O novo marco do Regulamento do Saneamento Básico nacional, com a abertura para a participação do capital privado, traz novos ares e expectativas para evoluir os serviços de água e esgoto, e universalizar os acessos.

O grande desafio do Brasil e do mundo é construir um sistema de abastecimento resiliente. Transformação que depende de vários atores e está no centro das discussões de um grupo de CEOS de sete grandes empresas globais, entre elas ABInBev, Cargill, Diageo e Microsoft, desenvolvido em parceria com as Nações Unidas. O objetivo da coalizão é reduzir o estresse hídrico até 2050 e garantir que as fontes sejam sustentáveis e diversas para atender às necessidades de produção e da sociedade.

No caminho da resiliência, Singapura é um exemplo a ser estudado, porque, apesar de não ter uma única fonte natural de água, aquíferos ou lagos, essa pequena ilha no sudeste asiático dá um show de diversidade de opções em abastecimento. É a escassez impulsionadora de inovação!

O segredo aprendido arduamente durante a grande seca de 1960 e, mais recentemente, na estiagem nos anos 90, é que cada gota de água importa. Singapura conta com quatro fontes diferentes para garantir água: captação local de água da chuva, importação de água, e dois projetos que envolvem construção de alternativas para reduzir a dependência das extremas condições climáticas. Um de dessalinização e outro considerado o pilar da estratégia de sustentabilidade da água no país, o NEWater.

Esse é daqueles modelos inovadores e inspiradores que nos fazem acreditar no potencial humano de promover grandes feitos para o bem comum. A chamada “água nova” é parte de um conceito de reuso infinito da água. Água reciclada é a forma considerada mais sustentável de aumentar o abastecimento em todo o país, que já reaproveita de apartamentos, ralos e do que importa da Malásia. E pretende ampliar as opções reaproveitando de indústrias.

Singapura se adiantou 30 anos em soluções e em novos acordos. Esse é o tempo de gestação e de evolução do NEWater que tem a condução de um órgão do governo federal, a Agência Nacional de Água. Se há um belo aprendizado aqui é que é possível regar um futuro melhor se focarmos na solução de problemas com cadência e seriedade.

A partir de agora, as novas escolhas devem ponderar sob qual perspectiva olhar nossos grandes problemas. Porque a escassez de água pode ser um risco precificado para investidores, mas também uma oportunidade valiosa. Especialmente para o Brasil, dada sua enorme capacidade hídrica. E essa mudança de visão é que libera ações e recursos com foco em soluções, atraindo inclusive uma massa de investidores cada vez mais preocupada com a sustentabilidade do planeta. Para nós, brasileiros, esse deveria ser o momento de utilizar a natureza como fortaleza para nossa construção de País no longo prazo.

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