MÍRIAM LEITÃO: jornalista da Globo foi agredida verbalmente dentro de avião / Reprodução/ TV Globo
Joel Pinheiro da Fonseca
Publicado em 15 de junho de 2017 às 15h21.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h59.
Míriam Leitão contou em sua coluna no O Globo como foi agredida por delegados do PT em um voo comercial, sob total omissão do comandante, da tripulação e das autoridades. Suportou calada o “bullying” de vários representantes partidários – músicas ofensivas, xingamentos e gestos ameaçadores.
Ao publicar a coluna relatando o ocorrido, a reação da imprensa marrom petista – de toda a fauna de blogs criada para defender o partido custe o que custar, e que até o impeachment era mantida com dinheiro público – também foi previsível: tentar desacreditá-la. O curioso é que essas tentativas, como por exemplo o relato de uma professora Lucia Capanema, que estaria no avião, repetem lugares-comuns tão batidos do discurso petista que é impossível imaginar que alguém de fora da igrejinha leve-as a sério. Um exemplo, retirado da conclusão do texto da professora (publicado no site da Revista Forum):
“Você sim, na qualidade de profissional da oligarquia midiática brasileira, se aproveita do episódio para envolver e criminalizar nosso mais querido presidente.
Deixem-no em paz e verão que ele, mais uma vez, fará história em favor das classes que vocês odeiam.”
Além de minar a própria credibilidade para qualquer leitor são, essas palavras nos lembram de um fato importante: embora tenha muitas causas e não se explique de maneira simplista, o clima de polarização raivosa que vivemos hoje foi gestado e parido pelo próprio PT. Quem criou a atmosfera de guerra em que vivemos foi a esquerda petista brasileira, ao se arrogar o monopólio da virtude por décadas. Foi, por décadas, o partido dos éticos incorruptíveis e o único dotado de boas intenções.
Para completar, sua estratégia sempre foi criar “lutas de classe” para, dividindo a população, subir em suas costas. Pobres vs ricos, brancos vs negros, mulheres vs homens. Ódio social como arma retórica e ferramenta política.
Deu no que deu. Quem acreditou nisso: 1) auxiliou involuntariamente o maior esquema de corrupção da nossa história; 2) se acostumou a demonizar todo mundo que discordava dos métodos ou das propostas, jurando que ao fazê-lo agia por amor; 3) criou o delicioso clima em que vivemos agora.
Agora que a religião está em franca decadência, vai dobrar a aposta, hostilizando cada vez mais quem não repete as mentiras oficiais. Os fanáticos estão desesperados. Não vai funcionar. Mas ainda teremos muita baixaria pela frente.
E aqui cabe uma nota no outro sentido: a esquerda criou a divisão e se colocou na defesa daquele que seria o lado explorado, o lado mais fraco. A direita menos sofisticada intelectualmente fez a sua parte e entrou nesse jogo, mas para defender o lado mais forte. E assim é impossível não lembrar que Míriam Leitão já foi insultada antes, e pelo colunista de direita Rodrigo Constantino: ele exigia que ela, tendo divulgado a barbárie da tortura que sofrera pelo regime militar, viesse a público pedir perdão por ter defendido o comunismo. Não foi o melhor momento do articulista!
O que precisamos para acabar com o clima de guerra é uma mudança de atitude. Ninguém tem nada que se envergonhar das posições que defende. Não é crime ser comunista e nem ter sido contra os governos Lula e Dilma. Levar a sério os interlocutores e engajar-se de maneira respeitosa com seus discursos é o dever de qualquer pessoa que queira impactar positivamente a opinião pública. Nem todos os atores e comentaristas são dignos de respeito? Pode ser. Mas nesse caso, a escolha deve ser por não engajá-los.