Keynes e o Brasil de hoje
Já dizia Keynes: “no longo prazo todos estaremos mortos”. Será que o Copom estaria esperando por isso?
rogeferreira
Publicado em 2 de junho de 2017 às 15h08.
Por que o Banco Central do Brasil (BCB) tem sido tão criticado em sua política de juros recente? Para tentar responder à questão, vou comentar alguns pontos sobre a nota de imprensa, divulgada pelo BCB logo após a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) pela redução de um ponto percentual na taxa Selic, na última quarta-feira, 31/05.
Interessante notar que a palavra política, ou crise política não é mencionada uma vez sequer ao longo de todo o comunicado. Vale ressaltar que o BCB/Copom preferiu utilizar o termo incertezas para substituí-las.
“ O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom permanece compatível com estabilização da economia brasileira no curto prazo e recuperação gradual ao longo do ano.”
Traduzindo: a inflação está abaixo da meta de 4,5% aa e apontando para baixo, com um nível de atividade econômica muito aquém do desejado e necessário para recuperar o emprego do vasto contingente de desempregados existente no país, recuperar o nível de investimentos, o consumo das famílias e, sobretudo, a confiança dos agentes.
Ou seja, o país continua - apesar do resultado do PIB do 1o. trimestre de 2017 ter aumentado 1% frente ao trimestre imediatamente anterior -, mergulhado na mais profunda fragilidade econômica (se é que não podemos utilizar o termo recessão – já que o governo declarou que ela acabou!?!?
“ A manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica;”
Nesse parágrafo da nota percebe-se que o BCB acaba por mostrar a incoerência da decisão e das justificativas apontadas pelo Copom para uma redução aquém do necessário na sua última reunião e uma “ redução moderada do ritmo de flexibilização monetária ” acenado para a sua próxima reunião - mais à frente na nota.
“ O Copom ressalta que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá, dentre outros fatores, das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira”.
“O Comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas. Essas estimativas continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo.”
Não seria mais adequado que ele divulgasse qual sua estimativa e, melhor ainda, meta para essa taxa de juros estrutural da economia brasileira, para que os agentes pudessem tê-la como referência? E, assim, diminuir o nível de incertezas causado por uma comunicação deficiente por parte do BCB?
Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião. Naturalmente, o ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.”
Na avaliação do Copom a incerteza quanto à evolução do processo de reformas pode comprometer o desempenho da atividade econômica do país em decorrência de um possível resultado aquém do esperado no processo de ajustes necessários à economia.
Será que ele não enxerga que ele próprio está fazendo o papel de agente desestabilizador da economia e gerador de incertezas também? Por que ele, como principal formulador e executor de política monetária e cambial no país, não toma para si a responsabilidade de minimizar essa incerteza e impedir que o país caminhe para uma deflação – que poderá acabar por desembocar em uma depressão econômica – e reduz mais fortemente e com maior velocidade a taxa de juros Selic?
Alguns críticos do meu raciocínio podem argumentar que o BCB não tem como função fazer política monetária visando à administração do crescimento econômico do país, mas apenas controlar a inflação... Então, essa tarefa estaria sendo muito fácil para ele nesse momento, já que a inflação simplesmente está à beira da morte por uma série de erros na condução da política monetária e de juros do BCB entre outros fatores.
O que o BCB e o Copom não querem ver é que um dos diagnósticos econômicos mais acertados para a situação de nossa economia já há um bom tempo é o de que sofremos de insuficiência de demanda crônica. Que, certamente, será agravada pela crise política e, infelizmente, pelo conservadorismo e falta de visão demonstrado pelo posicionamento recente do Copom.
Já dizia Keynes: “no longo prazo todos estaremos mortos”. Será que o Copom estaria esperando por isso?
Por que o Banco Central do Brasil (BCB) tem sido tão criticado em sua política de juros recente? Para tentar responder à questão, vou comentar alguns pontos sobre a nota de imprensa, divulgada pelo BCB logo após a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) pela redução de um ponto percentual na taxa Selic, na última quarta-feira, 31/05.
Interessante notar que a palavra política, ou crise política não é mencionada uma vez sequer ao longo de todo o comunicado. Vale ressaltar que o BCB/Copom preferiu utilizar o termo incertezas para substituí-las.
“ O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom permanece compatível com estabilização da economia brasileira no curto prazo e recuperação gradual ao longo do ano.”
Traduzindo: a inflação está abaixo da meta de 4,5% aa e apontando para baixo, com um nível de atividade econômica muito aquém do desejado e necessário para recuperar o emprego do vasto contingente de desempregados existente no país, recuperar o nível de investimentos, o consumo das famílias e, sobretudo, a confiança dos agentes.
Ou seja, o país continua - apesar do resultado do PIB do 1o. trimestre de 2017 ter aumentado 1% frente ao trimestre imediatamente anterior -, mergulhado na mais profunda fragilidade econômica (se é que não podemos utilizar o termo recessão – já que o governo declarou que ela acabou!?!?
“ A manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica;”
Nesse parágrafo da nota percebe-se que o BCB acaba por mostrar a incoerência da decisão e das justificativas apontadas pelo Copom para uma redução aquém do necessário na sua última reunião e uma “ redução moderada do ritmo de flexibilização monetária ” acenado para a sua próxima reunião - mais à frente na nota.
“ O Copom ressalta que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá, dentre outros fatores, das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira”.
“O Comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas. Essas estimativas continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo.”
Não seria mais adequado que ele divulgasse qual sua estimativa e, melhor ainda, meta para essa taxa de juros estrutural da economia brasileira, para que os agentes pudessem tê-la como referência? E, assim, diminuir o nível de incertezas causado por uma comunicação deficiente por parte do BCB?
Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião. Naturalmente, o ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.”
Na avaliação do Copom a incerteza quanto à evolução do processo de reformas pode comprometer o desempenho da atividade econômica do país em decorrência de um possível resultado aquém do esperado no processo de ajustes necessários à economia.
Será que ele não enxerga que ele próprio está fazendo o papel de agente desestabilizador da economia e gerador de incertezas também? Por que ele, como principal formulador e executor de política monetária e cambial no país, não toma para si a responsabilidade de minimizar essa incerteza e impedir que o país caminhe para uma deflação – que poderá acabar por desembocar em uma depressão econômica – e reduz mais fortemente e com maior velocidade a taxa de juros Selic?
Alguns críticos do meu raciocínio podem argumentar que o BCB não tem como função fazer política monetária visando à administração do crescimento econômico do país, mas apenas controlar a inflação... Então, essa tarefa estaria sendo muito fácil para ele nesse momento, já que a inflação simplesmente está à beira da morte por uma série de erros na condução da política monetária e de juros do BCB entre outros fatores.
O que o BCB e o Copom não querem ver é que um dos diagnósticos econômicos mais acertados para a situação de nossa economia já há um bom tempo é o de que sofremos de insuficiência de demanda crônica. Que, certamente, será agravada pela crise política e, infelizmente, pelo conservadorismo e falta de visão demonstrado pelo posicionamento recente do Copom.
Já dizia Keynes: “no longo prazo todos estaremos mortos”. Será que o Copom estaria esperando por isso?