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Uma reforma liberal na educação

João Batista Oliveira traça prioridades de reformas e analisa o MEC nesses três meses de governo

IM

Instituto Millenium

Publicado em 16 de abril de 2019 às 08h35.

No Ministério da Educação (MEC), os três meses de governo foram marcados por polêmicas e nenhum avanço relevante em questões educacionais essenciais para o Brasil. A troca de cargos dentro da pasta culminou na demissão do próprio ministro Ricardo Vélez, substituído pelo economista Abraham Weintraub, que tem agora a árdua missão de recuperar o tempo perdido, restabelecer a credibilidade do MEC, e dar andamento às prioridades. Em uma série de reportagens especiais, o Instituto Millenium ouviu os maiores especialistas da área para avaliar a real situação do setor e traçar caminhos adequados a serem seguidos. Nesta primeira etapa, João Batista Araujo e Oliveira, Doutor em educação, presidente do Instituto Alfa e Beto e referência nacional na área, traça um panorama do que aconteceu até aqui e o que precisa ser feito em curto, médio e longo prazos. Confira!

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A crise no MEC fez com que a pasta perdesse protagonismo e oportunidades de ação nesses primeiros meses de governo, segundo o especialista, que considera positiva a experiência gerencial da nova equipe, mas salienta que ainda falta conhecimento sobre os reais problemas da educação no Brasil. Para Batista, algumas questões podem atrapalhar o andamento dos trabalhos, como o excesso de emergências com capacidade para distrair o governo das reais prioridades; os ruídos na relação entre o Executivo e a imprensa; desafios impostos pela burocracia e aparelhamento da própria máquina; pressão externa de ONGs fortes ligadas a corporações e grupos de interesse; além do foco excessivo na guerra cultural e ideológica. Após o anúncio do novo ministro, uma das primeiras medidas foi a nova Política Nacional de Alfabetização, divulgada na última semana. “Isso certamente mostra um avanço e agilidade, inclusive alguma independência do ministro em relação a pressões que vieram do Palácio do Planalto. Mas, também, aponta para a existência de resistências internas, externas e até guerrilhas dentro do próprio MEC. Na véspera do decreto, saiu uma nota oficial do ministério que o contradizia”

Na opinião do especialista, traçar um diagnóstico é um dos passos mais importantes desta nova equipe. A partir daí, seria possível reconhecer os avanços e os gargalos, para enfim por em prática reformas essenciais nos diversos setores da área. Entre todas as urgências que sairiam deste levantamento, estão questões como as crises previdenciária e fiscal, e de que forma elas afetam a educação. “Essas duas crises podem ajudar numa nova forma de relacionamento com Estados e municípios. A questão da aposentadoria dos professores, por exemplo, não apareceu na reforma da Previdência até agora, e é muito séria, pois estados e municípios vão acumular uma dívida próxima a R$ 100 bilhões a serem pagos com recursos que não são do Fundeb ao longo dos próximos 15, 20 ou 25 anos. De onde vai sair esse recurso? Como afetará o desenvolvimento da educação”, questiona.

REFORMAS ESTRUTURAIS
Na educação básica, uma das prioridades é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que já foi aprovada. Na opinião de Batista, no entanto, o texto é frágil e pode causar ruídos e dificuldades de entendimento. “O outro caso foi a reforma do Ensino Médio, mas o principal não está feito, pois ela não dá clareza sobre o avanço no ensino profissionalizante, que seria o mais importante e não andou nada até hoje. E também em relação ao próprio ensino acadêmico, onde o Brasil é muito fraco porque tem um excesso de demandas e a diversificação não está clara”.

O financiamento da educação também está no topo desta lista. Batista acredita que o governo federal pode concentrar seus esforços para promover reformas estruturais nos estados e municípios, além de desenvolver estratégias adequadas para lidar com a atual realidade brasileira e as diferenças demográficas de cada região.

No ensino superior, destaca-se a necessidade de adequar o ensinamento às mudanças no mercado de trabalho. O especialista alerta para a defasagem do país, onde profissionais são formados sem as habilidades que os postos de trabalho demandam. “Outra questão é que o nosso sistema de ensino superior é baseado em um conceito, que está até na Constituição, chamado de ‘indissolubilidade de ensino, pesquisa e extensão’, e o resultado é que elas têm um custo caríssimo e não produzem pesquisa ou extensão de qualidade, então isso precisa mudar”, acrescenta.

No caso específico das universidades federais, o especialista reforça a necessidade de se criar estímulos para as instituições, novos mecanismos de governança, além de uma autonomia real associada à responsabilização. “Você tem hoje uma autonomia formal e uma amarração muito grande pela burocracia, além de uma irresponsabilidade, onde vai-se criando déficit e passando a conta para a viúva, além de uma ineficiente grande, e perda de alunos”.

No caso das instituições privadas, é adequado repensar os atuais mecanismos de regulação que, para João Batista, são caros e ineficientes. Neste ponto, é importante reforçar programas relevantes, como o FIES e o PROUNI, que garantem uma promoção de equidade para o ensino superior.

UMA REFORMA LIBERAL NA EDUCAÇÃO
O liberalismo tem tomado força na economia, mas os princípios desta doutrina também podem ser aplicados no setor educacional. Para o entrevistado, os ideais de liberdade seriam o melhor caminho para promover uma verdadeira reforma da educação brasileira. Na prática, isso significa um sentimento mais claro e avançado do Pacto Federativo, o que compete aos governos estadual e municipal; além de instrumentos de incentivo. “Mais do que obrigações, legislações e regulações, que hoje entravam o desenvolvimento da educação no Brasil, a título de proteger um ou outro grupo, eles acabam amarrando. A agenda liberal, do ponto de vista macro, seria mais para liberar a ação dos atores e usar estímulos do governo apenas quando necessário”.

O próprio Ministério da Educação, segundo João Batista, também carece de uma verdadeira reforma estrutural. Para ele, é preciso repensar o papel e a estrutura do MEC. “Hoje ele é montado como se fosse uma sede de grandes escolar, e não faz o que deveria, que é política educacional. Poderia ser um órgão mais enxuto e barato, mas isso só podemos pensar na medida em que decidimos qual é a função de um ministério dentro de uma agenda liberal de um país efetivamente federativo”.