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Superando obstáculos educacionais em comunidades vulneráveis no Brasil

Frente a uma crise educacional, iniciativas como o programa federal "Pé de Meia" surgem como esforços para incentivar a permanência na escola

escola sala de de aula colégio (Royalty-free/Getty Images)
escola sala de de aula colégio (Royalty-free/Getty Images)

Este artigo foi escrito em coautoria com Rodrigo Vieira, arquiteto e urbanista, que atualmente cursa um Mestrado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Tel Aviv e exerce o cargo de Gerente de Inovação e Melhoria Contínua na Gerando Falcões.

No Brasil, a educação enfrenta desafios significativos, refletidos nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). De acordo com o último relatório, 73% dos alunos brasileiros não alcançaram o patamar mínimo de aprendizagem em matemática, enquanto 50% falharam em leitura e 55%, em ciências. Esses números revelam uma crise educacional que afeta particularmente as comunidades mais vulneráveis, como as que residem nas favelas. Nesse contexto, iniciativas como o programa federal "Pé de Meia", que propõe criar uma poupança para jovens que completam o ensino médio, surgem como esforços para incentivar a permanência na escola e, por consequência, promover a mobilidade social. 

Na realidade das favelas do Brasil, esse desafio é ainda mais complexo, marcada por desafios que vão além do acesso físico às escolas. Segundo as experiências da Gerando Falcões na favelas 3D do Brasil, a metodologia de ensino, muitas vezes tradicional e descontextualizada, não atende às necessidades reais dos moradores dessas comunidades, falhando em motivar tanto crianças quanto adultos. A vergonha, o preconceito socioeconômico e a falta de recursos tecnológicos são barreiras adicionais que desencorajam a busca pelo conhecimento. Esse ponto se torna ainda mais complexo dependendo do nível de vulnerabilidade e pobreza em que esses alunos se encontram, bem como a idade avançada. Não são poucos os relatos em favelas que atuamos com a Gerando Falcões, que as famílias relatam essa insegurança de ocupar esses espaços pela sua idade e endereço. 

A disparidade racial também é um fator crítico, com famílias negras e chefiadas por mães solteiras enfrentando desafios educacionais significativos. A análise do Programa Decolagem mostra que a lacuna de desempenho nas escolas está diretamente correlacionada com o desempenho na alfabetização, afetando desproporcionalmente crianças negras e pardas. 

Nesse mesmo contexto, a falta de estímulo e orientação familiar, exacerbada pela priorização da sobrevivência imediata em detrimento do investimento educacional, perpetua um ciclo de exclusão educacional e social. A possibilidade de retorno rápido de algum trabalho pode rapidamente se sobrepor sobre a possibilidade de retorno maior no futuro principalmente se essa visão de futuro não for crível e de esperança de mudança.  

Além das barreiras metodológicas e culturais, os moradores das favelas enfrentam uma grave falta de recursos tecnológicos e de infraestrutura adequada para estudo. O acesso limitado à internet e a ausência de dispositivos eletrônicos comprometem a educação digital e a capacidade de complementar o aprendizado formal com recursos online. A inexistência de espaços propícios para estudo e concentração, tanto em casa quanto na comunidade, adiciona outra camada de dificuldade ao desafio educacional. 

Cidades como Sobral e Teresina demonstram que é possível superar os desafios educacionais através da qualidade de gestão escolar, valorização dos professores e fornecimento de bons materiais didáticos. Esses exemplos mostram que não existe uma única solução milagrosa para os problemas da educação. As estratégias de sucesso levam em consideração a qualidade da educação e a realidade específica das comunidades atendidas. A implementação de políticas públicas inovadoras, que abordem tanto a melhoria das condições escolares quanto o enfrentamento das questões socioeconômicas que afetam as famílias, é essencial para promover a inclusão e a equidade educacional. 

Os desafios da educação nas favelas do Brasil são grandes, mas não insuperáveis. Iniciativas governamentais como o "Pé de Meia" e os exemplos de Sobral e Teresina oferecem lições valiosas sobre a importância de adaptar as soluções educacionais às necessidades específicas de cada comunidade. É essencial que a sociedade civil, as autoridades e os educadores trabalhem juntos para criar um ambiente educacional que promova não apenas o aprendizado, mas também a esperança e a oportunidade de um futuro melhor para todos. O investimento na educação é um passo fundamental para a superação da pobreza e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.