Colunistas

Rio carece de eficiência, liberdade e transparência

É hora do cidadão fluminense entender que o liberalismo não é bicho de 7 cabeças

IM

Instituto Millenium

Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 09h55.

Depois de apontar problemas estruturais causados pela farra de cargos comissionados na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e de questionar a eficácia do funcionalismo público do estado, o Millenium Fiscaliza encerra uma série de três artigos pensados para acender uma faísca de inquietação na cabeça do cidadão fluminense: está claro que o dinheiro público no Rio de Janeiro escorre sem freios pelo ralo da ineficiência. É preciso, de uma vez por todas, que o Estado fiscalize e adote as boas práticas da governança privada na administração do dinheiro pago pelo contribuinte. Mais do que isso: passou da hora de entender que o aumento da arrecadação jamais será suficiente enquanto o mau uso de recursos continuar sendo a prática número um da máquina estatal. Os números não mentem.

Basta uma breve avaliação dos gastos com segurança pública, um dos pilares essenciais atribuídos ao Estado, para verificar a inversão de valores quando o assunto é alocação de recursos. De 2015 a 2017, passando por grave crise fiscal, o Rio reduziu em 9% o orçamento para a área de segurança; foi o corte mais duro, em números absolutos, entre todos os estados brasileiros. O segundo colocado, São Paulo, reduziu em 6%. Destaca-se, porém, que o corte fluminense não foi realizado de forma minimamente inteligente. Enquanto no mesmo período o estado de São Paulo investiu em segurança pública R$ 254 por habitante, o Rio gastou mais que o dobro, R$ 511, só que com resultados nada animadores. Em 2017, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, São Paulo registrou 10,7 mortes violentas a cada 100 mil habitantes. No Rio, mais que o triplo: 32,7 mortos a cada 100 mil habitantes.

A diferença fica ainda mais gritante quando comparados os valores investidos em informação e inteligência (essenciais para o mapeamento de facções organizadas e para evitar confrontos violentos) nos dois estados em 2017. Enquanto São Paulo destinou R$ 279 milhões para a área, o Rio investiu R$ 2,470. Isso mesmo, o estado do Rio destinou menos de três mil reais para uma área de extrema importância para a atuação da Polícia Militar. O resultado de cortes aleatórios e pouco embasados trouxe consequências perversas para os órgãos de segurança, em situação de penúria, e também para os contribuintes, cuja rotina se transforma em uma violenta onda de medo. A situação é catastrófica: em dez anos, o orçamento do Rio para a segurança passou de R$ 5,2 bilhões, em 2008, para R$ 11,5 bilhões em 2018. O problema da violência, no entanto, permanece gravíssimo.

A segurança pública é apenas um dos graves descompassos da ação estatal em relação aos anseios de quem vive no estado do Rio. A Pesquisa Orçamento Firjan-Ibope, realizada em junho do ano passado, revelou que 90% da população fluminense acreditam que a prioridade do Estado deve ser o investimento em saúde. A pesquisa contou com a participação de 1024 pessoas, em 37 municípios, que podiam responder mais de uma opção. Para 79% delas, a educação deveria ser prioridade, e 72% acreditavam que a segurança está no topo da lista. A Previdência Social foi apontada apenas por 1% dos entrevistados. A realidade, na prática, infelizmente é outra. O orçamento do estado para 2019 prevê receita líquida de 72,3 bilhões e despesas de R$ 80,3 bilhões. As prioridades do texto são despesas com salários de servidores ativos (R$ 23 bilhões); Previdência Social (R$ 22 bilhões); segurança pública (R$ 12 bilhões), educação (R$ 7,7 bilhões) e saúde (R$ 6,7 bilhões). A representação da vontade da maioria passa longe quando o assunto é dinheiro.

Fica evidente que o povo fluminense está preocupado com um Estado eficiente em suas funções básicas, para que cada indivíduo possa trabalhar e ter liberdade para fazer o que bem entender com seu próprio dinheiro. Em vez disso, lhes é empurrado goela abaixo o sustento de um cem número de servidores cuja atuação nem sempre preza pelo bom desempenho e eficácia. É importante lembrar que, no Rio de Janeiro, a diferença da remuneração dos servidores e dos celetistas é grande. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a desigualdade na remuneração chega a 79,5%. Ou seja, se servidores públicos do estado, cuja transparência e prestação de contas passam longe dos olhos da sociedade, ganhassem em paridade com os funcionários contratados em regime da CLT, os recursos destinados a áreas como educação, saúde e segurança poderiam ser elevados vertiginosamente. Num cenário de gastos responsáveis norteados por eficiência, o estado do Rio poderia viver dias melhores.

É hora do cidadão fluminense entender que o liberalismo não é um bicho de sete cabeças como boa parte de uma suposta elite intelectual tentou fazer crer nas últimas décadas. O objetivo final das ideias liberais é dar ao indivíduo o entendimento de que valores como a transparência e a liberdade são fundamentais para o funcionamento saudável do Estado, seja ele representado na esfera que for. O acesso à saúde, educação e segurança, como deveres constitucionais do poder público, devem ser priorizados e dotados de eficiência e qualidade. É nisso que o dinheiro do contribuinte deve ser aplicado, bem como na manutenção eficaz e enxuta das estruturas dos três poderes. Ao cidadão, para além do voto em candidatos comprometidos com a aplicação da governança privada na gestão do que é público, cabe a participação nas audiências públicas de discussão e elaboração da Lei Orçamentária Anual. Estar representado e até mesmo presente em debates como esse é um direito constitucional regulado por leis federais, constituições estaduais e leis orgânicas municipais. O cidadão fluminense precisa acompanhar o cotidiano da política feita na Alerj, e consequentemente cobrar dos deputados uma atuação transparente. No Rio, caro leitor, não hesite em cobrar satisfações do deputado Rodrigo Amorim (PSL), presidente da Comissão de Orçamento. Fiscalizar é mais que um direito!

Veja mais no Instituto Millenium