PIB deve subir em 2021, mas para 2022 a expectativa é comedida
Especialista explica que o cenário internacional e as incertezas políticas eleitorais contribuem para as mudanças nas projeções
Publicado em 28 de setembro de 2021 às, 16h36.
Última atualização em 28 de setembro de 2021 às, 16h51.
Por Instituto Millenium
A retomada econômica do Brasil está cada vez mais perto de se tornar uma realidade ainda neste ano. Em maio, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou a expectativa de crescimento de 3,7% do PIB brasileiro. Porém, na última semana, a entidade revisou para cima sua projeção, e acredita em uma alta de 5,2% do PIB, o que indica um avanço acima do previsto em 2021.
O sócio e economista sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, comenta que a OCDE segue um cronograma de atualização para essas projeções e, por isso, o reajuste foi realizado agora. Segundo ele, o avanço já esperado nas projeções, pesquisas e análises feitas por instituições brasileiras.
“O que tem sido observado ao longo do ano é uma maior resiliência da economia aos impactos ainda presentes da pandemia, especialmente no setor de serviços. Também há a recuperação de alguns outros segmentos como a construção civil, que segue com uma resposta positiva, e a indústria extrativa também com bons números. A indústria tem se mostrado um pouco mais enfraquecida devido a problemas logísticos, mas no geral também terá um crescimento bom tendo em vista a baixa base do ano passado”, explicou.
Já para 2022, a OCDE reduziu para baixo sua previsão de avanço do PIB brasileiro, que deve variar entre 2,5% e 2,3%. De acordo com Silvio Campos Neto, essa diferença de expectativa acontece devido a uma percepção de que a economia brasileira em 2022 vai se deparar com desafios maiores, que devem resultar em uma desaceleração.
“Além de um cenário internacional já mais desafiador com a oscilação da China; com preços de commodities menos vantajosos; com as mudanças de precificação na política monetária dos Estados Unidos, quer dizer, o mundo já não está nos ajudando tanto quanto nessa retomada. Temos internamente também algumas situações importantes como o processo de alta de juros, que está em curso pelo Banco Central e o próprio ambiente de incertezas político eleitorais que, certamente, devem pesar nas decisões de agentes econômicos”, pontuou.
Além das questões apontadas, Silvio Campos Neto ainda destaca outros fatores, como a questão da crise hídrica, com o risco de racionamento que, caso seja necessário, sem dúvidas, causará impactos no próximo ano.
“Para 2022 a expectativa é de um crescimento mais comedido. Diria que esse número que eles apresentaram, de 2,3%, já nesse momento pode ser visto como otimista. É provável que tenhamos uma expansão abaixo de 2% no próximo ano, à luz de todos esses efeitos mencionados, de todos esses ventos contrários que devem nos atingir ao longo dos próximos meses”, alertou.
Tantas altas e baixas no PIB em um curto espaço de tempo, acabam afetando o desenvolvimento da economia. O Brasil já vivia um período de muitas oscilações, com a crise entre 2014 e 2016. E pouco tempo depois, vieram os desafios causados pelas consequências da crise sanitária.
“Essa volatilidade afeta decisões de investidores e empresários, mas neste caso de pandemia, em especial, não havia muito o que se fazer. É um fenômeno global que todas as economias passaram. O mais importante é que o Brasil daqui para frente, superado esses efeitos da crise sanitária, retome uma agenda liberalizante, que permita uma melhora da nossa competitividade. Assim, poderemos colher nos próximos anos um desempenho não só mais estável e previsível, mas também mais consistente e sustentável”, esclareceu.
Segundo Silvio Campos Neto, o Brasil avançará no PIB quando buscar o ganho de produtividade; realizar reformas estruturais importantes, pois são fundamentais para incentivar o protagonismo do setor privado; e preservar as conquistas recentes.
“É preciso uma intensificação, com cumprimento da agenda de reformas estruturais que permitirão a redução do custo Brasil, e aumento da eficiência e produtividade, e ao mesmo tempo, um avanço da agenda de concessões e privatizações, para que o setor privado possa assumir a tarefa de levar adiante essa retomada, e também na melhora da infraestrutura do país. Essas medidas poderiam elevar o potencial de crescimento (em 2022), que hoje é estimado ao redor de 2%, e é muito pouco”, analisou.
Embora a expectativa para 2021 seja boa, precisamos estar atentos à realidade prevista para os próximos anos. Por isso, continuar fiscalizando os governantes e cobrando o cumprimento das propostas previstas na agenda liberal econômica é fundamental para o desenvolvimento efetivo e sustentável da economia.