O discurso de ódio e o ódio ao discurso
O discurso de ódio pode ser um problema, mas a liberdade de expressão não deve ser limitada pelos riscos que ela representa
Colunista - Instituto Millenium
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 08h00.
Nesta semana, li o artigo de uma jornalista que demostrava preocupação com o discurso de ódio poder gerar danos e clamava por controle das autoridades. Na verdade, qualquer discurso é capaz de gerar danos, não apenas o de ódio, seja lá o que isso for. O risco de todo mundo que se expressa é fazê-lo mal, ofender ou causar danos, e essa métrica não é adequada para limitar o direito à expressão, tão relevante que seus riscos de percurso valem a pena, se a democracia não é pequena.
Assim como o amor pode gerar ódio e acarretar danos, mas vale ser vivido, assim como ter filhos pode resultar prejuízos e desgastes, mas estamos dispostos a tanto, a liberdade de expressão pode resultar ódio e causar danos, nem por isso deve ser coibida.
Há quem lucre com o ódio nas redes, dirá algum leitor. Certo, mas há quem lucre com as tragédias dos jornais e nem por isso censuramos estas notícias. Há quem lucre com a religião, nem por isso impedimos a crença, há quem lucre com a política, nem por isso, vivemos sem ela.
Querer eliminar o dano neutralizando o risco do discurso deveria soar desumano e até cruel a uma alma verdadeiramente democrática. No entanto, merece extrema atenção de parcela dos jornalistas, professores e, no Brasil, de juízes, que não percebem que, ao extinguir o risco, extingue-se o discurso, pois impedida sua liberdade. Joga-se a bacia do banho com o bebê dentro.
O pavor do discurso de ódio tem levado nossa elite intelectual a odiar o discurso, sobretudo aquele que circula nas redes sociais sem o filtro de um sofisticado editor, querendo-se uma rede social adestrada, desejo higienista e autoritário que encontra eco nas cabeças mais fascistas do século XX.
Cabeças estas cujos pensamentos tiveram à época acolhida, não por existirem redes sociais tóxicas, mas por existir quem toxicamente acreditasse em um inimigo a ser combatido e eliminado. É o que fazem hoje os obcecados pelo ódio alheio. Padre Antonio Vieira, em um de seus famosos sermões de Ramos, disse certa vez: quase sempre parecem finezas os ódios refinadíssimos da elite.
Nesta semana, li o artigo de uma jornalista que demostrava preocupação com o discurso de ódio poder gerar danos e clamava por controle das autoridades. Na verdade, qualquer discurso é capaz de gerar danos, não apenas o de ódio, seja lá o que isso for. O risco de todo mundo que se expressa é fazê-lo mal, ofender ou causar danos, e essa métrica não é adequada para limitar o direito à expressão, tão relevante que seus riscos de percurso valem a pena, se a democracia não é pequena.
Assim como o amor pode gerar ódio e acarretar danos, mas vale ser vivido, assim como ter filhos pode resultar prejuízos e desgastes, mas estamos dispostos a tanto, a liberdade de expressão pode resultar ódio e causar danos, nem por isso deve ser coibida.
Há quem lucre com o ódio nas redes, dirá algum leitor. Certo, mas há quem lucre com as tragédias dos jornais e nem por isso censuramos estas notícias. Há quem lucre com a religião, nem por isso impedimos a crença, há quem lucre com a política, nem por isso, vivemos sem ela.
Querer eliminar o dano neutralizando o risco do discurso deveria soar desumano e até cruel a uma alma verdadeiramente democrática. No entanto, merece extrema atenção de parcela dos jornalistas, professores e, no Brasil, de juízes, que não percebem que, ao extinguir o risco, extingue-se o discurso, pois impedida sua liberdade. Joga-se a bacia do banho com o bebê dentro.
O pavor do discurso de ódio tem levado nossa elite intelectual a odiar o discurso, sobretudo aquele que circula nas redes sociais sem o filtro de um sofisticado editor, querendo-se uma rede social adestrada, desejo higienista e autoritário que encontra eco nas cabeças mais fascistas do século XX.
Cabeças estas cujos pensamentos tiveram à época acolhida, não por existirem redes sociais tóxicas, mas por existir quem toxicamente acreditasse em um inimigo a ser combatido e eliminado. É o que fazem hoje os obcecados pelo ódio alheio. Padre Antonio Vieira, em um de seus famosos sermões de Ramos, disse certa vez: quase sempre parecem finezas os ódios refinadíssimos da elite.