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"Massa justificará sua gestão econômica; Milei buscará eleitores mais velhos", diz Falcone

Instituto Millenium entrevista Marcos Falcone, analista político da Fundación Libertad e do Cato Institute

Marcos Falcone: Massa justificará sua gestão econômica e Milei buscará eleitores mais velhos
Marcos Falcone: Massa justificará sua gestão econômica e Milei buscará eleitores mais velhos

No rescaldo do primeiro turno das eleições argentinas, onde Sergio Massa superou as expectativas e posicionou-se à frente de Javier Milei, o Instituto Millenium conversou com o analista político da Fundación Libertad e do Cato Institute, Marcos Falcone. Em uma conjuntura marcada pelo desempenho mais fraco do peronismo em quatro décadas e a ascensão surpreendente do libertário Milei, Falcone discute a aproximação dos candidatos ao centro, ressaltando as nuances e desafios que ambos enfrentarão na busca por apoio e governabilidade na corrida para o segundo turno.

Instituto Millenium: Javier Milei criticou o "Juntos por el Cambio", coalizão de Patricia Bullrich, durante a campanha, mas agora precisará dos votos dos eleitores desse partido. Sergio Massa também terá que apelar ao centro. O que podemos esperar de diferente nesta campanha de segundo turno?

Marcos Falcone: Esperamos uma aproximação do Milei com a coalizão "Juntos por el Cambio" (JxC), especialmente com o PRO (Propuesta Republicana), e em particular com Maurício Macri, com o objetivo de estabelecer pontes e garantir governabilidade e apoio em um potencial mandato presidencial do candidato libertário. No caso de Massa, o que esperamos é certamente um chamado de unidade nacional, e a promessa de um governo que inclua peronistas, mas também Radicais (que atualmente fazem parte do JxC), socialistas e, entre aspas, democratas. Certamente Massa fará um chamado contra o fascismo, contra a direita, e Milei fará um chamado contra o kirchnerismo.

IM: Por um lado, Sergio Massa representa o Peronismo, que está sendo responsabilizado pela crise argentina. Por outro lado, Javier Milei é um libertário que parece desdenhar da institucionalidade natural do liberalismo, até mesmo em sua versão libertária. Qual é o significado destas duas fraquezas de cada candidato para a campanha e para o possível governo de ambos?

MF: A fraqueza de Massa é, de fato, a situação econômica. É preciso ver como evoluirá o preço do dólar nos próximos dias, bem como a inflação, porque ele terá que defender sua gestão atual como Ministro da Economia, o que é muito difícil. É por isso que ele tem chances de perder. No caso de Milei, o extremismo de seu discurso e de alguns de seus aliados e candidatos a deputados e legisladores é o que afastou os eleitores mais velhos. São eles que agora ele tentará reconquistar, pois o voto jovem ele já tem relativamente garantido. Ele precisa convencer aqueles com 50 anos ou mais. Esse é o eleitorado que Milei deve focar na campanha, uma tarefa difícil, porque é um eleitorado conservador que, como dizemos em espanhol, prefere "un mal conocido que un bien por conocer" (um mal conhecido a um bem desconhecido). Talvez as pessoas tenham medo e prefiram votar em Massa em vez de Milei, porque Milei ainda é uma figura desconhecida e muitas vezes radical em suas propostas.

IM: Como se dividirão os votos de Patricia Bullrich entre Milei e Massa, considerando que, por um lado, Milei é mais liberal e, consequentemente, mais alinhado com a agenda econômica de Bullrich, mas, por outro lado, Massa tem uma maior afinidade com o establishment ao qual Bullrich pertence?

MF: É provável que os votos de Bullrich se dividam entre Milei e Massa. Para Massa, devem ir os votos de seus aliados radicais (como são chamados os membros do partido União Cívica Radical, ou UCR), que são mais social-democratas da coalizão JxC, mais alinhados ao establishment, e que controlam governos provinciais, prefeituras e têm boa representação no Congresso. Já os votos do PRO, partido de Maurício Macri, tendem a ir para Milei, pois estão mais alinhados ao liberalismo econômico proposto por Milei e buscam reformas mais profundas e rápidas do que as propostas por Massa.

IM: Quais serão os temas econômicos e políticos mais contrastantes e divisivos nesta campanha entre o libertário Milei e o peronista Massa?

MF: Milei provavelmente tornará a economia um tema central da eleição, dado o mau estado da economia, a desvalorização do peso, a inflação que atinge 140% ao ano com risco de hiperinflação e o país em recessão. Por todos esses fatores e pelo fato de Milei ser economista com reputação de professor e acadêmico, ele focará na economia. Por outro lado, Massa tentará focar na política. Massa tentará pintar Milei como um fascista e buscará criar uma unidade política e democrática contra a ameaça fascista que, segundo ele, Milei representa.

IM: Considerando a composição atual do Congresso argentino, como cada candidato poderia garantir uma maioria para aprovar suas propostas econômicas?

MF: Milei certamente buscará um acordo com o JxC para garantir votos no Congresso, pois não terá deputados e senadores suficientes para realizar qualquer reforma. Já Massa, mesmo que possivelmente não tenha maioria no Congresso, poderá contar com aliados das províncias, governos provinciais e talvez até mesmo dentro do JxC, como os radicais da UCR. Por isso, ele tentará se aproximar deles agora no segundo turno.