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Farinha pouca, meu pirão primeiro

Os americanos não estão mais dispostos a carregar o fardo da liderança global. Agora, priorizam seus próprios interesses estratégicos e políticos

US President Donald Trump looks on before signing executive orders in the Oval Office of the White House in Washington, DC on March 6, 2025. (Photo by Mandel NGAN / AFP) (AFP)

US President Donald Trump looks on before signing executive orders in the Oval Office of the White House in Washington, DC on March 6, 2025. (Photo by Mandel NGAN / AFP) (AFP)

Instituto Millenium
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Publicado em 7 de março de 2025 às 19h57.

Por Mateus Vitória Oliveira*

 

A decisão dos Estados Unidos de importar tarifas sobre importações do México, Canadá e China marca uma mudança na postura comercial da maior economia do mundo. A medida sinaliza um afastamento definitivo do livre comércio, que por décadas foi um pilar da política econômica americana, e reforça uma tendência de um mundo cada vez mais protecionista.

Os reflexos dessa movimentação já surgiram nos mercados financeiros. Na semana em que a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou que os EUA adiaram por um mês a imposição da tarifa de 25% sobre produtos mexicanos, o dólar operou em baixa ante o real. Nesta semana, com o anúncio de Trump que confirmou a tarifa adicional, a moeda norte-americana inverteu o fluxo de queda, refletindo as reações do mercado ao impacto da postura norte-americana nas relações econômicas internacionais.

O adiamento teria sido resultado de uma “boa conversa” com Trump, culminando em um acordo que prevê o envio imediato de 10.000 soldados da Guarda Nacional mexicana para fortalecer a fronteira e combater o tráfico de drogas, especialmente o fentanil, uma das principais preocupações do governo americano.

No entanto, a trégua temporária não durou e ainda trouxe antecipação do início da tributação. A decisão já assinada por Trump tem gerado apreensão. O temor de que o Brasil possa ser afetado pelas novas tarifas ganha força. Mais do que uma mudança pontual na política comercial dos EUA, essa possível estratégia indica um reposicionamento no cenário geopolítico.

Como consequência, fica evidente que os americanos não estão mais dispostos a carregar sozinhos o fardo da liderança global. Em vez disso, priorizam seus próprios interesses estratégicos e políticos, ajustando suas relações internacionais para aumentar vantagens diretas.

A postura de Trump pode acelerar a transição para uma economia mundial mais multipolar, no qual diferentes potências disputam influência sem um líder global incontestável. Nesse contexto, cada país precisará buscar alternativas para proteger sua economia e garantir seu espaço no novo jogo comercial.

Diante dessa incerteza crescente, o Brasil não pode adotar uma postura passiva. Pelo contrário, deve agir estrategicamente para se adaptar a essa nova dinâmica. Três caminhos se destacam:

Redução da dependência externa – Construir cadeias produtivas mais sólidas internamente pode diminuir a vulnerabilidade do Brasil às oscilações externas. Isso não significa isolamento, mas maior segurança econômica.

Abertura comercial seletiva – Embora algumas potências restrinjam o comércio, o Brasil pode se beneficiar fortalecendo acordos estratégicos e diversificando suas parcerias comerciais.

Eficiência e competitividade – O protecionismo americano não deve servir de desculpa para medidas ultrapassadas aqui. Melhorar o ambiente de negócios e aumentar a produtividade são as respostas corretas para um cenário mais desafiador.

A lógica do "farinha pouca, meu pirão primeiro" nunca foi tão evidente, e os países que não se adaptarem correm o risco de ficar para trás. Nesse cenário, o desafio para o Brasil será encontrar o equilíbrio e proteger sua economia sem adotar um isolamento. Afinal, se a farinha for pouca, a melhor estratégia não é apenas garantir o próprio pirão, mas encontrar formas de produzir mais farinha.

*Mateus Vitória Oliveira é fundador e CEO da Private Construtora e esteve à frente do desenvolvimento do Private Log, o maior complexo logístico sustentável do Brasil, localizado no Espírito Santo. Destacado pela Forbes Under 30, possui formação com MBAs em Finanças e Economia e atua com foco em inovação, sustentabilidade e gestão eficiente no setor logístico e de construção civil.

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