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Criptoativos ganham tração institucional, agora com respaldo do Banco Central Europeu

Eles ganham cada vez mais espaço, impulsionados principalmente pelos projetos de Moedas Digitais de Bancos Centrais

 (Karen Bleier/AFP)
(Karen Bleier/AFP)

Prosseguindo com a temática do meu último artigo, retomamos a análise da adoção crescente de criptoativos e tecnologias descentralizadas. Eles ganham cada vez mais espaço, impulsionados principalmente pelos projetos de Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs), maior clareza regulatória, e a expectativa de impacto nos investimentos institucionais com a possível aprovação iminente dos ETFs de Bitcoin Spot nos Estados Unidos. Estes fatores estão removendo gradualmente o Bitcoin e outros criptoativos de uma zona cinzenta, influenciando significativamente o cenário financeiro global. 

A expansão dos criptoativos é notável. Exemplificando, o Itaú, o maior banco da América Latina, recentemente começou a oferecer criptomoedas aos seus clientes. Essa é uma mudança notável, considerando que o banco anteriormente restringia operações com corretoras de criptoativos. Essa mudança é uma importante sinalização da crescente fusão entre o setor financeiro convencional e o digital. 

As CBDCs surgem como um avanço significativo, trazendo a eficiência da blockchain aos sistemas monetários convencionais. Diversos bancos centrais estão explorando esse conceito, vislumbrando um futuro com transações mais rápidas e seguras, por meio de um dinheiro digital programável e confiável. Apesar de manterem a centralização das moedas tradicionais, as CBDCs são uma resposta ao interesse por alternativas digitais eficientes. 

Contudo, é importante frisar que as CBDCs, sendo centralizadas, enfrentam desafios similares às moedas fiduciárias, como a suscetibilidade a desvalorizações cambiais e inflação. Por exemplo, o Real brasileiro perdeu cerca de 88% de seu valor desde 1994 até 2023, com R$1 de 1994 equivalendo a somente R$0,12 em 2023. Similarmente, o dólar americano também experimentou desvalorizações, embora em menor grau no mesmo período. 

Com 13 solicitações para ETFs de Bitcoin Spot em análise nos Estados Unidos, incluindo propostas de gigantes como Blackrock e Fidelity, esses instrumentos financeiros prometem ser revolucionários. Eles oferecem aos investidores um meio regulamentado e simplificado de investir em ativos digitais no principal mercado financeiro do mundo. 

Essa evolução sinaliza uma era de transformação e inovação contínua no setor financeiro. As criptomoedas, antes vistas apenas como instrumentos especulativos, estão emergindo como alternativas legítimas em um universo financeiro que passa por uma mudança de paradigma, unindo de maneira inextricável o digital ao tradicional. 

O sistema financeiro está se tornando mais integrado e eficiente. Os sistemas de pagamento, tanto domésticos quanto internacionais, estão evoluindo para serem mais rápidos, econômicos e acessíveis. A tokenização trará ativos tradicionais para as blockchains, marcando uma transição significativa dos títulos ao portador de antigamente. Produtos financeiros comuns como fundos, CRI, CRA, debêntures e CDB logo existirão na blockchain. Isso é vital para países em desenvolvimento, onde o acesso a serviços bancários tradicionais ainda é limitado. Ademais, a implementação das CBDCs poderá fortalecer os bancos centrais, otimizando o controle da política monetária e a circulação monetária. 

Por outro lado, esses avanços apresentam desafios, especialmente regulatórios, pois modificam o arcabouço existente do sistema financeiro. A natureza descentralizada e por vezes opaca das criptomoedas suscita preocupações com segurança, lavagem de dinheiro e estabilidade financeira. Regular esses ativos digitais é complexo e requer um equilíbrio entre inovação e proteção ao consumidor. 

À medida que avançamos nesta nova era financeira, uma coisa é certa: a inovação continua em ritmo acelerado. Como acontece com toda grande mudança, existem riscos e incertezas, mas também oportunidades vastas e empolgantes para os que estão preparados para navegar neste novo mundo. Afinal, tecnologias superiores tendem a substituir as ultrapassadas. Assim como os cavalos deixaram de ser o principal meio de transporte e os discos de vinil se tornaram itens de colecionadores com o advento do streaming. 

Um dos aspectos mais marcantes que observei recentemente foi a mudança de postura do Banco Central Europeu (ECB), que divulgou um estudo sobre a dinâmica das transações de Bitcoin em relação a 44 moedas fiduciárias nacionais. Pela primeira vez, esta instituição crucial do sistema financeiro global reconhece que o mercado de criptoativos traz inovações importantes, especialmente para economias emergentes e em desenvolvimento (EMDE). O estudo evidencia um ciclo global de criptoativos impulsionado por motivações especulativas, mas nas EMDE, o Bitcoin também oferece benefícios transacionais significativos, particularmente onde a moeda local é instável e volátil. Além disso, o estudo indica que, quanto menor a eficiência e o nível de bancarização e digitalização de um país, maior é a adoção de moedas digitais, sugerindo que os criptoativos podem ser uma alternativa viável às finanças tradicionais ineficientes ou indisponíveis. 

No Brasil, somos afortunados com tecnologias como TED e PIX, mas essa não é a realidade global, como é evidente para quem já realizou transações internacionais via swift ou wire transfer. Isso aponta para um futuro próximo em que criptoativos, como as stablecoins que buscam manter paridade com o dólar americano ou outras moedas de reserva, podem se tornar mais prevalentes em países sem alternativas financeiras adequadas. 

2023 foi um ano complexo para os criptoativos, marcado por eventos como o colapso da FTX, acordos regulatórios envolvendo a Binance e a renúncia de seu CEO CZ. No entanto, ao olharmos para 2024, percebemos um cenário mais promissor para o setor, impulsionado pelos desenvolvimentos mencionados e um maior interesse em ativos alternativos, especialmente com a provável redução das taxas de juros nos mercados desenvolvidos e emergentes. Bons ventos nos aguardam. Boas festas!