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Bitcoin nos EUA: uma nova fronteira para investimentos sustentáveis

O Bitcoin já mudou de narrativa várias vezes e, mais recentemente, é visto como classe de ativo de investimento nova e descorrelacionada

Mid-section of young Asian woman using smartphone in city at night, against illuminated street lights bokeh, working with Bitcoin technologies, investing or trading Bitcoin on cryptocurrency. Business on the go (Getty/Getty Images)
Mid-section of young Asian woman using smartphone in city at night, against illuminated street lights bokeh, working with Bitcoin technologies, investing or trading Bitcoin on cryptocurrency. Business on the go (Getty/Getty Images)

Lá se vão 15 anos desde a criação do Bitcoin e ainda assim a narrativa predominante a respeito do primeiro ativo digital escasso do mundo continua a mudar substancialmente ao longo do tempo, de dinheiro da criminalidade, dinheiro peer-2-peer, ouro digital e mais recentemente uma classe de ativo de investimento nova e descorrelacionada.  

Os arcabouços regulatórios e legislativos, tão necessários para separar os bons agentes dos agentes maliciosos, ainda estão em fase de consolidação, mas ainda assim ocorre expressivo aumento da visibilidade do mundo das Blockchains na mídia, inclusive via diversas iniciativas governamentais desde os projetos de tokenização de títulos públicos do Tesouro Nacional até projetos de grande visibilidade como o real digital, DREX, que promete fazer no mercado de serviços financeiros o que o PIX fez no mercado de transferências bancárias. 

Definitivamente nossa infraestrutura tecnológica está mudando e com isso a maior legitimação e adoção de massa das tecnologias descentralizadas. Por isso considero bastante relevante o noticiário recente sinalizando uma chance muito maior de aprovação dos ETFs de Bitcoin Spot pela Securities and Exchange Commission (SEC, a equivalente americana da CVM), maior mercado de capitais do mundo. Em outras palavras: ETFs de Bitcoin Spot são fundos negociados em bolsa que permitem aos investidores adquirir exposição direta ao preço do Bitcoin sem a necessidade de comprar a criptomoeda propriamente dita, oferecendo uma forma regulamentada e mais acessível de investir em Bitcoin no mercado de capitais. Caso de fato sejam aprovados, testemunharemos não apenas uma adoção e legitimação sem precedentes das tecnologias descentralizadas no maior mercado de capitais do mundo, mas também a inauguração de uma nova era para os investimentos institucionais.  

Além de criar um veículo mais eficiente e aderente ao preço do Bitcoin no maior mercado financeiro mundial, a aprovação de um ETF Spot também evidencia uma evolução na percepção dos aspectos ESG (ambientais, sociais e de governança) associados à criptomoeda. Narrativas ecologicamente mais favoráveis ao Bitcoin estão ganhando força, como exemplificado pelo relatório recente da Coinbase, a maior exchange regulada de criptomoedas do mundo. O relatório destaca que a aprovação dos ETFs de Bitcoin vai além do simples aporte de novo capital no setor. Esta iniciativa tem o objetivo de expandir o espectro de investidores globais que podem acessar o Bitcoin, possibilitando que assessores de investimento e fundos de pensão, atualmente alheios a este mercado, tenham a opção de investir se assim desejarem. 

David Duong, Chefe de Pesquisa Institucional da Coinbase, destaca que os ETFs "facilitarão o acesso de grandes gestores de dinheiro e instituições ao Bitcoin, otimizando a liquidez e a descoberta de preços para todos os participantes do mercado". Essa percepção encontra eco na validação de grandes gestores internacionais, evidenciada pelos 12 pedidos de registro desses ETFs de Bitcoin à vista, com destaque para o da BlackRock, a maior gestora do mundo. A mudança na postura de seu CEO Larry Fink é emblemática. Em 2017, ele se posicionou publicamente contra o Bitcoin, descrevendo-o como 'um índice de lavagem de dinheiro'. No entanto, adotou uma mudança radical de postura em 2023. Agora Fink não apenas adicionou um produto de Bitcoin ao seu portfólio de produtos financeiros, como também reconheceu o potencial revolucionário da criptomoeda no mundo das finanças. 

Nesse contexto, a percepção de que a mineração de Bitcoin é predominantemente prejudicial ao meio ambiente é desafiada por estudos que apontam para uma realidade mais complexa e alinhada ao conceito de investimentos responsáveis. Com cerca de 23 trilhões de dólares em fundos ESG buscando oportunidades, essa mudança de percepção em relação aos aspectos ambientais do Bitcoin é crucial. Ela tem o potencial de destravar a adoção institucional na indústria, especialmente quando alimentada por fontes de energia sustentáveis e com suporte de dados. Estudos recentes da CH4 Capital e da KPMG fornecem evidências convincentes para redefinir a compreensão institucional sobre esta classe de ativos. 

A análise mais detalhada revela que a indústria de mineração de Bitcoin está na vanguarda do uso de energia sustentável. Com a implementação da nova metodologia BEEST, que inclui, por exemplo, os 28% da força computacional do Bitcoin operando 'off-grid' — um fator desconsiderado pela metodologia anterior —, percebemos que mais de 50% da energia utilizada na mineração provém de fontes sustentáveis. Este é um marco significativo, ultrapassando setores como industrial, bancário e até mesmo o agrícola em termos de sustentabilidade. 

Além disso, observamos uma redução na intensidade das emissões de CO2 na mineração de Bitcoin, refletindo o crescimento da indústria com um impacto ambiental proporcionalmente menor. Um exemplo notável é que a principal fonte de energia para a rede Bitcoin é a hidrelétrica, sem mencionar outras inovações ecológicas, como a mineração de Bitcoin usando metano de aterros sanitários ou gases residuais da produção de petróleo. Esses avanços não só diminuem o impacto ambiental, mas também colocam o Bitcoin em posição de destaque em portfólios focados em métricas ESG, além dos benefícios incontestáveis da adoção das tecnologias Blockchain para os aspectos sociais e de governança. 

A provável aprovação do ETF de Bitcoin Spot nos EUA e a mudança na percepção dos aspectos ESG do Bitcoin representam mais do que um marco na história financeira mundial; eles indicam uma evolução na forma como compreendemos e integramos as criptomoedas na nossa cultura, estrutura econômica e ambiental. À medida que avançamos, é fundamental que continuemos a desafiar as percepções existentes e exploremos todas as potencialidades que o Bitcoin e outras tecnologias descentralizadas oferecem, não apenas como ativos de investimento, mas também como catalisadores de prosperidade e soluções sustentáveis.