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A chave para a prosperidade dos brasileiros

A mentalidade de que o Estado proverá as necessidades, da aposentadoria à assistência em momentos de dificuldade, enfraquece a autonomia dos indivíduos

Bandeira do Brasil:  confira as vagas na carreira pública (Kutay Tanir/Getty Images)

Bandeira do Brasil: confira as vagas na carreira pública (Kutay Tanir/Getty Images)

Instituto Millenium
Instituto Millenium

Instituto Millenium

Publicado em 11 de março de 2025 às 11h27.

Por Stefano Wigner Tremea, planejador financeiro e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

O crescimento econômico sustentável de um país passa pelo nível de educação financeira de sua população. No Brasil, indicadores como a taxa média de poupança, adesão à previdência privada, contratação de seguros de vida, participação na bolsa de valores e índices de endividamento revelam desafios significativos, quando comparados aos de outras economias.

A taxa de poupança de um país representa a parcela da renda nacional que não é consumida e, portanto, está disponível para investimentos. No final de 2024, a taxa de poupança brasileira atingiu cerca de 14,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o menor índice desde 2019. Em contraste, países da União Europeia mantêm taxas superiores a 20% do PIB, enquanto nações asiáticas ultrapassam os 30%. A Coreia do Sul, por exemplo, registrou uma taxa de poupança das famílias de 34,4%. No Brasil, contudo, a forma como essa poupança é direcionada reflete falta de planejamento financeiro: o saldo total investido na caderneta de poupança é de aproximadamente R$ 1 trilhão, com cerca de 25% da população aplicando nessa modalidade. Embora seja um número expressivo, a rentabilidade da poupança é severamente limitada, e, em um cenário de juros altos, alternativas como o Tesouro Selic oferecem mais segurança e retornos muito superiores. Essa preferência pela caderneta reflete desconhecimento sobre outras opções e resistência à diversificação dos investimentos.

A baixa participação no mercado de capitais reforça esse quadro. Apenas 5,3 milhões de brasileiros investem na bolsa de valores, cerca de 2,7% da população. Nos Estados Unidos, esse número ultrapassa 58%, enquanto no Japão chega a 45%, e na Austrália, a 37%. Essa discrepância decorre não apenas da estrutura dos mercados, mas principalmente da falta de cultura de investimento e da ausência de um ensino financeiro sólido. Em países desenvolvidos, investir na bolsa não é visto como especulação, mas como um caminho natural para a construção de patrimônio ao longo do tempo.

A análise da seguridade financeira dos brasileiros também expõe fragilidades estruturais. A previdência privada, ferramenta extremamente útil para garantir uma aposentadoria segura, ainda tem baixa adesão no país. Em 2024, pouco mais de 11 milhões de pessoas tinham planos de previdência aberta, o que representa cerca de 10% da população economicamente ativa. Já no caso de seguros de vida e proteção de renda, apenas 17% dos brasileiros têm algum tipo de cobertura, sendo que 58% desses seguros são coletivos, geralmente oferecidos por empregadores. Isso significa que a maior parte da população não adquire esse tipo de proteção por iniciativa própria, evidenciando despreparo para imprevistos.

Além disso, o endividamento crescente compromete ainda mais a estabilidade financeira das famílias. Em 2023, o nível de endividamento das famílias brasileiras atingiu 78,5%, um recorde histórico. Embora esse percentual seja menor que o de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde chega a 101,7%, a diferença está no custo do crédito: os juros no Brasil são exorbitantes, tornando o serviço da dívida um peso desproporcional sobre a renda da população. Combinando esse fator à baixa poupança e à resistência a investir, o resultado é uma sociedade vulnerável a crises e cada vez mais dependente de assistencialismo estatal. Ao mesmo tempo, observa-se um crescimento desenfreado do mercado de apostas online, as chamadas bets, que prometem ganhos rápidos e fáceis, mas apenas alimentam um círculo vicioso de perdas financeiras. O dinheiro que poderia ser direcionado para investimentos produtivos ou reservas de emergência é, muitas vezes, jogado em plataformas que exploram a falta de conhecimento financeiro da população e incentivam comportamentos impulsivos e destrutivos. Em vez de desenvolver uma mentalidade de longo prazo, muitos brasileiros apostam suas esperanças em jogos de azar, aprofundando sua instabilidade financeira e perpetuando um modelo de fragilidade econômica.

Diante desse cenário, a conclusão é clara: a falta de educação financeira é não apenas um problema individual, mas também um entrave ao crescimento econômico do país. Em vez de esperar soluções do governo, é fundamental que os brasileiros assumam a responsabilidade pelo próprio futuro. A mentalidade de que o Estado proverá todas as necessidades, desde a aposentadoria até a assistência em momentos de dificuldade, enfraquece a autonomia dos indivíduos e perpetua um ciclo de dependência.

Acredito que a rota para a liberdade financeira e, por consequência, ao crescimento da nação passa pelo incentivo à livre-iniciativa, à poupança (hábito de poupar) e ao investimento. Nessa linha, não há desenvolvimento econômico sustentável sem cidadãos financeiramente conscientes. Países que prosperaram economicamente investiram na construção de uma cultura de responsabilidade individual e educação financeira. Se o Brasil deseja seguir esse caminho, é preciso romper com a mentalidade imediatista e investir na disseminação do conhecimento econômico desde cedo. A prosperidade não será fruto de decretos ou benesses estatais, mas do esforço e da consciência de cada cidadão.

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