Estratégias sagazes para reduzir disparidades de gênero no mercado de trabalho
A disparidade de renda entre mulheres e homens é um dos temas mais discutidos na atualidade
Publicado em 5 de abril de 2023 às, 08h00.
Por Leandro S. Pongeluppe*
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
A disparidade de renda entre mulheres e homens é um dos temas mais discutidos na atualidade. Estudos apontam diversas razões para a persistente diferença salarial de gênero. Estas vão desde preferências heterogêneas, diferenças na propensão à negociação salarial até preconceito e misoginia entre empregadores. O debate sobre as causas do problema é, sem dúvida, fundamental, mas também é imprescindível pensar em estratégias inteligentes para sanar o problema. É neste aspecto que o paper[1] de Joyce He, Sonia Kang e Nicola Lacetera traz uma inovação. Os autores demonstram como diferenças de enquadramento (do inglês, framing) podem ajudar a atenuar as disparidades.
Em seu estudo publicado na Proceeding of the National Academy of Sciences (2021), os autores testaram se mudanças de enquadramento, nas quais participantes deixaram de “optar por participar” para terem de “optar por não participar” de competições aumentariam a probabilidade de mulheres ingressarem nestas competições e, consequentemente, elevarem seus rendimentos. O objetivo era simular dinâmicas que ocorrem no mundo empresarial (ou mesmo acadêmico), no qual, os processos de promoções, premiações e admissões para cargos de chefia demandam, muitas vezes, que o interessado efetue algum tipo de cadastro para participação. Ou seja, é necessário “optar por participar”. No entanto, esses mesmos procedimentos poderiam ter uma dinâmica diferente, na qual todos aqueles que cumprem os requisitos mínimos estariam automaticamente inscritos para participação do processo seletivo. Neste cenário, aqueles que não tivessem interesse, deveriam “optar por não participar”.
O pressuposto do estudo é simples. Muitas vezes, mulheres têm rendimentos menores que os homens porque elas são menos propensas a “optar por participar” em competições internas nas firmas. Por exemplo, elas prefeririam ganhar um valor fixo por produto produzido, ao invés de aceitar um valor variável superior condicional a ganhar uma dessas competições entre funcionários. Mais ainda, elas poderiam ser preteridas para uma promoção por não se inscreverem para participar de seleções internas para cargos de gerência.
Para testar os efeitos da mudança de enquadramento de “optar por competir” para “optar por não competir”, os autores realizaram uma bateria de experimentos aleatórios, tanto em laboratório quanto em campo. Os resultados apontam que a mudança de enquadramento aumentou significativamente a participação de mulheres nas competições (variando de 9% a 30% de aumento) sem que houvesse diferenças significativas de participação entre os homens. Ou seja, ao mudar o enquadramento, mais mulheres entraram nas competições de performance, o que ocasionou uma redução significativa na disparidade de rendimento entre os gêneros.
O estudo de He, Kang e Lacetera mostra que, muitas vezes, a forma de enquadramento pode fazer toda a diferença para promover uma maior inclusão e equidade de gênero. Soluções sagazes como estas devem ser expandidas. O custo de implementação é baixo e os efeitos podem ser extremamente positivos.
*Leandro S. Pongeluppe é professor assistente da Wharton School, University of Pennsylvania. Especialista em avaliação de impacto socioambiental, Leandro é Ph.D. pelo departamento de gestão estratégica da Rotman School of Management, University of Toronto. Seus principais interesses de pesquisa são compreender como a gestão de organizações pode contribuir com o avanço dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.