A grande oportunidade para a pecuária brasileira
Momento é único para cadeia da carne ser protagonista no cumprimento das metas climáticas do Brasil
Redação Exame
Publicado em 20 de junho de 2023 às 14h32.
Por Alexandre Mansur
Nos últimos meses, a pecuária brasileira entrou no foco das discussões sobre sustentabilidade. Não é por acaso. Temos um rebanho de mais de 224 milhões de cabeças de gado e somos os maiores exportadores de carne bovina do mundo, mas precisamos com urgência desassociar a cadeia da carne do desmatamento da Amazônia.
Os mercados consumidor e financeiros estão pressionando por uma mudança, como deixa claro o mais novo protocolo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), segundo o qual os bancos vão passar a exigir dos frigoríficos da Amazônia Legal que comprovem que não compram gado de área de desmatamento ilegal para conseguir financiamento, a partir de dezembro de 2025.
Tudo isso, no entanto, também é uma oportunidade. Temos o maior rebanho comercial do mundo, extensas áreas de pastagens e ampla disponibilidade de estratégias de boas práticas agropecuárias, que permitem também ganho de produtividade e renda.
A junção desses fatores “coloca o Brasil numa posição única no que se refere ao potencial de incrementos de produtividade na pecuária atrelados a atributos socioambientais”. A conclusão é de um estudo inédito, que acaba de ser lançado pela Agroicone e pelo Partnerships for Forests (P4F) - que pode ser conferido, na íntegra, aqui.
Tão grande quanto a oportunidade, contudo, é o desafio. Um dos maiores obstáculos é a adoção de boas práticas entre os pecuaristas. Já existem vários casos de sucesso na região e eles apresentam resultados financeiros, com ganhos de produtividade comprovados. Mas adotar essas práticas depende, essencialmente, de uma decisão do produtor rural.
E esse é um público que, além de diversificado, tende a ser conservador e avesso a riscos. Por mais que os esforços dos demais elos da cadeia, como frigoríficos e varejistas, sejam necessários e bem-vindos, eles ainda têm uma capacidade limitada de influenciar nesse processo.
O relatório mostra que, mesmo com o crescimento dos programas de financiamento de investimento para fins de sustentabilidade e uma maior rede de incentivos devido à evolução institucional e do ambiente de negócios sustentáveis, ainda existe uma barreira de acesso do produtor rural a esses instrumentos.
Além disso, há uma dispersão entre os atores (instituições de pesquisa, associações e sindicatos, prestadores de serviços, frigoríficos, governos, varejistas, etc.), que não atuam de forma conectada. Uma maior coordenação entre esses elos da cadeia é, portanto, uma das formas de impulsionar a pecuária sustentável no Brasil.
Mas não é a única. Entre as estratégias sugeridas no relatório está a focalização de esforços para a construção de incentivos, tanto públicos quanto privados, que alterem o processo decisório, fomentando o ambiente de negócios sustentáveis na dinâmica produtiva da pecuária de corte brasileira.
Além dos próprios compromissos dos bancos em monitorar a conformidade socioambiental, esses novos recursos podem ser direcionados para o fomento de modelos de negócios agregadores, como os modelos de cessão da operação agrícola (quando, por meio de contrato, o produtor cede a operação da fazenda por um determinado período). “Podem ainda ser fundamentais no processo de diferenciação de produtores, premiando com melhores condições de financiamento aqueles que adotam melhores práticas e são mais sustentáveis”, diz o texto do relatório.
O trabalho destaca ainda outro ponto fundamental. É importante ter iniciativas para falar diretamente com os criadores de gado e todo mundo envolvido na atividade em cada região. Será necessário criar ações que conversem com os produtores, ouçam suas dúvidas, ajudem o pecuarista a entender as vantagens em se regularizar ambientalmente, ou aumentar a produtividade, reduzindo a necessidade de abrir novas áreas.
“Essa atuação no território é ainda mais preponderante para o monitoramento e rastreabilidade. É necessário entender a solução de uso da Guia de Trânsito Animal (GTA) como complementar às soluções de rastreabilidade individual, única estratégia capaz de trazer luz à questão do monitoramento do desmatamento”, destaca Leila Harfuch, coordenadora do trabalho e sócia-gerente da Agroicone.
Segundo a pesquisadora, conferir valor às informações socioeconômicas e produtivas de cada propriedade num sistema de rastreabilidade individual poderia ser uma solução. “Isso seria empacotado numa política nacional de rastreabilidade individual, tudo isso de forma coordenada e compartilhada com os demais elos da cadeia. O entendimento de uma política nacional não significa que ela será destinada a todo o território, e sim para aquelas regiões com maior risco socioambiental”, explica. Por fim, mas não menos importante, ela lembra que os instrumentos de comando e controle (públicos) e de mercado (privados) são complementares e indissociáveis quando se almeja alcançar cadeias produtivas livres de desmatamento.
Por Alexandre Mansur
Nos últimos meses, a pecuária brasileira entrou no foco das discussões sobre sustentabilidade. Não é por acaso. Temos um rebanho de mais de 224 milhões de cabeças de gado e somos os maiores exportadores de carne bovina do mundo, mas precisamos com urgência desassociar a cadeia da carne do desmatamento da Amazônia.
Os mercados consumidor e financeiros estão pressionando por uma mudança, como deixa claro o mais novo protocolo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), segundo o qual os bancos vão passar a exigir dos frigoríficos da Amazônia Legal que comprovem que não compram gado de área de desmatamento ilegal para conseguir financiamento, a partir de dezembro de 2025.
Tudo isso, no entanto, também é uma oportunidade. Temos o maior rebanho comercial do mundo, extensas áreas de pastagens e ampla disponibilidade de estratégias de boas práticas agropecuárias, que permitem também ganho de produtividade e renda.
A junção desses fatores “coloca o Brasil numa posição única no que se refere ao potencial de incrementos de produtividade na pecuária atrelados a atributos socioambientais”. A conclusão é de um estudo inédito, que acaba de ser lançado pela Agroicone e pelo Partnerships for Forests (P4F) - que pode ser conferido, na íntegra, aqui.
Tão grande quanto a oportunidade, contudo, é o desafio. Um dos maiores obstáculos é a adoção de boas práticas entre os pecuaristas. Já existem vários casos de sucesso na região e eles apresentam resultados financeiros, com ganhos de produtividade comprovados. Mas adotar essas práticas depende, essencialmente, de uma decisão do produtor rural.
E esse é um público que, além de diversificado, tende a ser conservador e avesso a riscos. Por mais que os esforços dos demais elos da cadeia, como frigoríficos e varejistas, sejam necessários e bem-vindos, eles ainda têm uma capacidade limitada de influenciar nesse processo.
O relatório mostra que, mesmo com o crescimento dos programas de financiamento de investimento para fins de sustentabilidade e uma maior rede de incentivos devido à evolução institucional e do ambiente de negócios sustentáveis, ainda existe uma barreira de acesso do produtor rural a esses instrumentos.
Além disso, há uma dispersão entre os atores (instituições de pesquisa, associações e sindicatos, prestadores de serviços, frigoríficos, governos, varejistas, etc.), que não atuam de forma conectada. Uma maior coordenação entre esses elos da cadeia é, portanto, uma das formas de impulsionar a pecuária sustentável no Brasil.
Mas não é a única. Entre as estratégias sugeridas no relatório está a focalização de esforços para a construção de incentivos, tanto públicos quanto privados, que alterem o processo decisório, fomentando o ambiente de negócios sustentáveis na dinâmica produtiva da pecuária de corte brasileira.
Além dos próprios compromissos dos bancos em monitorar a conformidade socioambiental, esses novos recursos podem ser direcionados para o fomento de modelos de negócios agregadores, como os modelos de cessão da operação agrícola (quando, por meio de contrato, o produtor cede a operação da fazenda por um determinado período). “Podem ainda ser fundamentais no processo de diferenciação de produtores, premiando com melhores condições de financiamento aqueles que adotam melhores práticas e são mais sustentáveis”, diz o texto do relatório.
O trabalho destaca ainda outro ponto fundamental. É importante ter iniciativas para falar diretamente com os criadores de gado e todo mundo envolvido na atividade em cada região. Será necessário criar ações que conversem com os produtores, ouçam suas dúvidas, ajudem o pecuarista a entender as vantagens em se regularizar ambientalmente, ou aumentar a produtividade, reduzindo a necessidade de abrir novas áreas.
“Essa atuação no território é ainda mais preponderante para o monitoramento e rastreabilidade. É necessário entender a solução de uso da Guia de Trânsito Animal (GTA) como complementar às soluções de rastreabilidade individual, única estratégia capaz de trazer luz à questão do monitoramento do desmatamento”, destaca Leila Harfuch, coordenadora do trabalho e sócia-gerente da Agroicone.
Segundo a pesquisadora, conferir valor às informações socioeconômicas e produtivas de cada propriedade num sistema de rastreabilidade individual poderia ser uma solução. “Isso seria empacotado numa política nacional de rastreabilidade individual, tudo isso de forma coordenada e compartilhada com os demais elos da cadeia. O entendimento de uma política nacional não significa que ela será destinada a todo o território, e sim para aquelas regiões com maior risco socioambiental”, explica. Por fim, mas não menos importante, ela lembra que os instrumentos de comando e controle (públicos) e de mercado (privados) são complementares e indissociáveis quando se almeja alcançar cadeias produtivas livres de desmatamento.