O papel transformador da Tecnologia na construção de um líder empático
O papel transformador da Tecnologia na construção de um líder humano e empático
Publicado em 6 de maio de 2022 às, 10h31.
Última atualização em 6 de maio de 2022 às, 10h39.
A tecnologia moldou minha trajetória profissional desde o início, quando, aos 13 anos de idade, consegui meu primeiro emprego como office-boy na Elebra. Nesta época, era uma das maiores empresas do Brasil nesse mercado. Hoje, quase 40 anos depois, enxergo como o destino que me levou ao lugar certo, pois na Elebra tive acesso à duas coisas que mudaram a minha vida: computadores e livros técnicos. Descobri uma habilidade inata em relação ao universo da tecnologia e sempre encantado por seu poder transformador na busca de soluções e pelo impacto na vida das pessoas, na sociedade e nas empresas. Seja desenvolvendo sistemas ou liderando equipes em companhias globais de TI, atuei de forma a nunca me desviar da essência sobre o que a tecnologia representa em minha vida: melhorar a vida das pessoas, da sociedade como um todo e também das empresas.
O início autodidata e a semente da liderança
De forma completamente autodidata, ainda como office-boy na Elebra, aprendi a programar e logo fui promovido. O primeiro sistema de TI que desenvolvi foi um gerenciador de processos para a área de vendas, contribuindo diretamente para a organização e para o crescimento dos negócios da companhia.
Até meus 25 anos de idade, eu havia dedicado minha carreira totalmente ao desenvolvimento de software. Destaco nesse período meu ingresso na Star Soft em 1995. Nesta empresa, que era uma startup de software nacional, descobri-me não somente como programador, fui contratado para ajudar na liderança. Assim, gerenciei crises de relacionamentos com os clientes, trouxe talentos para resolver problemas, pensei financeiramente no modelo econômico propício para a companhia sem muito investimento etc. Em suma, foi uma experiência significativa para gerenciar pessoas e situações adversas. A sementinha como líder de TI começava a ser plantada.
De empresas nacionais, impulsionei-me a virar a chave rumo às multinacionais. A Plaut Consulting, uma empresa de consultoria alemã, era a principal parceira da SAP na década de 90, no âmbito global, e eu fui o responsável por iniciar a operação deles no Brasil. Desde então, fiquei mais próximo de tecnologias e de ambientes globais. Decidi, no entanto, que era momento de dar passos mais largos para seguir vislumbrando o futuro profissional dos meus sonhos.
Aprendizados diversos, ousadia, gana por desafios e por curiosidade
Cursei Administração de Empresas na FMU e entendo que, tão importante quanto a formação acadêmica, o que faz um profissional seguir evoluindo em sua carreira é nunca perder a curiosidade e o apetite por aprender e por vivenciar experiências despido de qualquer preconceito. Conhecer pessoas, culturas e lugares distintos enriquece tanto quanto o estudo tradicional.
A soma de todos esses elementos foi o que me levou, aos 30 anos, a sair da Plaut e partir para a Universidade de Berkeley, na Califórnia, onde fiz pós-graduação em e-commerce e fui aprovado na primeira turma do curso. A passagem pelos EUA foi crucial na minha jornada profissional. Aprimorei o inglês, compreendi melhor os ecossistemas de inovações globais, e desenvolvi meu lado empreendedor: tive a ideia de montar uma empresa de serviços de tecnologia com profissionais brasileiros, para atender a alta demanda das empresas da região. Convenci a Procwork (atual Sonda) a investir, para iniciarmos a primeira empresa brasileira no Silicon Valley. Após 2 anos, formei-me na Universidade de Berkeley e decidi voltar ao Brasil para formar a minha família, próximo aos meus pais. Voltei com uma bagagem extremamente enriquecedora do ponto de vista pessoal e profissional.
A trajetória nas gigantes de Tecnologia
Um tempo depois de retornar ao Brasil, atuei, durante cinco anos, como General Manager da divisão Dynamics Business na Microsoft. Neste período, fui responsável pelo startup no País dessa divisão, que era especializada em soluções de negócios CRM e ERP. Fomos muito bem sucedidos e crescemos o business de forma exponencial. Tanto eu quanto o meu time recebemos diversos prêmios como os melhores da divisão de Dynamics no mundo todo. Após esse período, passei a ser o General Manager da divisão de Server & Tools, lançando com enorme sucesso o Windows Azure.
Após estas experiências ricas na Microsoft, criei uma grande expectativa de trabalhar em algo mais motivador e de crescimento acelerado. Então, não hesitei em aceitar a oportunidade de liderar o startup de uma das divisões da Expedia na América Latina, na época era tida como a maior empresa de e-commerce para turismo no mundo.
Voltando um pouco na história… quando eu ainda estava na Microsoft tinha o hábito de estudar de perto os principais concorrentes da companhia. A Salesforce era uma delas e passei a admirá-la, pois gostava da forma que estava transformando o mundo de Software, através das soluções em nuvem (SAAS), e também da cultura inovadora de uma empresa nascida no Silicon Valley. Estava tão encantado pela empresa que resolvi enviar um e-mail ao Marc Benioff, fundador e CEO da Salesforce. No e-mail, comentei que a empresa ainda não tinha operações na região e que eu era o melhor profissional para liderar o startup, considerando a minha experiência. Ele respondeu explicando que ainda não estava na hora de investir na região, mas que tinha gostado da minha atitude, da minha experiência e me convidou para visitar a empresa em San Francisco. Cerca de dois anos depois, já na Expedia, fui convidado pela Salesforce para fazer o lançamento da empresa na América Latina, o que me levou a assumir a presidência no Brasil, posteriormente. Em quatro anos criamos um negócio sólido, com crescimento exponencial e com uma liderança forte. Com isto, ganhamos diversos prêmios globais pela excelente performance.
A importância das relações humanas e a responsabilidade social das lideranças
No início de 2018, desliguei-me da Salesforce de forma abrupta. Neste momento de incerteza profissional tive uma surpresa: ter sido, durante toda a carreira, um profissional competente, e que sempre gostou e cuidou muito das pessoas fez total diferença. A minha reputação fez com que, em menos de uma semana, outra potência da tecnologia me convidasse para uma posição ainda mais motivante. Fui contratado pela Oracle como Vice-Presidente da divisão de Aplicativos de Negócios. Uma experiência muito marcante, não só em termos de carreira, como também para me recuperar emocionalmente depois do desligamento da Salesforce. Aprendi bastante e criei amizades para o resto da vida.
Após dois anos na Oracle, a Pegasystems surgiu com o convite para que eu assumisse a Vice-Presidência da América Latina, proporcionando uma possibilidade que me fez “brilhar os olhos”: criar a operação a partir do zero na região. Eu não poderia perder a oportunidade de, novamente, construir um negócio inovador, e poder montar um time com os melhores profissionais do mercado. Estou em um momento rico na Pegasystems, em plena ascensão, colhendo o que foi implementado nos dois últimos anos. Encontrei uma empresa ética e alinhada com meus princípios pessoais e profissionais.
Após tantos anos de carreira, e tendo ainda muito a contribuir com meu trabalho, tenho convicção de que o mais importante que podemos construir são boas relações, seja com funcionários, clientes, fornecedores ou líderes.
Meus pais José Roberto e Dona Ivonne são os principais responsáveis pela minha formação, não diretamente relacionado à carreira, mas aos valores de trabalho, disciplina, ser justo com as pessoas e demonstrar empatia. Como líder corporativo, tenho a responsabilidade de impactar a vida das pessoas que me cercam e, por isso construir um ambiente de trabalho que privilegie a equidade, a diversidade, a transparência e a inclusão é um pilar inegociável que pauta meu dia a dia na gestão. Sou pai de três meninas, lindas, e quero que elas, quando estiverem no mercado de trabalho, vivam em uma sociedade mais livre de rótulos, amarras, preconceitos, e de toda e qualquer forma de discriminação. Desde o início da minha atuação como gestor, sempre apostei em equipes diversas, mesmo antes de o tema ser uma bandeira corporativa.
Acredito que o perfil da nova liderança é ser humano na essência, vulnerável, empático e agregador, alguém que sabe escutar e aprender ao mesmo tempo, seja na empresa, no comando de uma instituição ou de um país. O pior líder que existe é aquele que acha que sabe tudo. É preciso gostar do próximo, de aprender, estar disposto a assumir os seus erros. Não há como liderar sem gostar de gente.
Paixão e contribuição social
Sou apaixonado por esportes desde criança. Fui surfista e skatista quando criança e, por mais de 20 anos, fui piloto competitivo de asa-delta. Quando minha filha, Sophia, nasceu, resolvi praticar um esporte menos arriscado e que pudesse ser praticado em família, e assim encontrei a paixão por velejar, que mantenho viva até hoje. Sempre me vejo traçando paralelos dessa prática esportiva com a vida profissional, de vencer, de se desafiar a buscar o novo, de montar um time motivado e, principalmente, de se divertir e de aproveitar a jornada. No fundo, isso é muito parecido com o cotidiano do trabalho.
Também faço parte da startup social Vamos Subir, do Flavio Valiati, que auxilia e impacta jovens de baixa renda, das classes C e D - como um dia, eu fui. A mensagem que entrego às gerações vindouras, que remonta à minha caminhada, é: “Mantenha-se jovem e curioso”. A juventude traz esse componente de se apaixonar facilmente, da dedicação, da vontade de aprender e de abraçar o mundo. Vamos todos em frente, pois o caminho ainda revelará muitas surpresas.