Seja dona da sua carreira!
Na coluna desta semana, conheça a história de Alessandra Karine, vice-presidente de Vendas para Setor Público, Saúde e Educação da Microsoft Brasil
Publicado em 20 de dezembro de 2024 às, 12h45.
É fato que todos buscam sucesso profissional. E o caminho para atingir o que se deseja leva em conta vários fatores. O primeiro deles é básico: seja dona da sua carreira! Não dá para ficar esperando o emprego que deseja simplesmente cair do céu. É preciso fazer networking, conexões e, principalmente, desempenhar bem a função que executa no momento, deixar o seu legado, pois é isto que te levará para o próximo nível! Sempre tive clareza de onde queria chegar. Então, fui trabalhando para entender o que precisava trazer de experiência para chegar onde queria.
Planejar o futuro é algo que trago comigo desde a infância. Venho de uma grande família de origem portuguesa, que se fixou na cidade de São Cristóvão (RJ), onde nasci. Meu pai, engenheiro formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tornou-se professor da instituição anos depois, fazendo também parte do corpo acadêmico do Colégio Brasileiro, onde passei os primeiros anos escolares. Posteriormente, ele trabalhou no Tribunal de Contas do município, junto à Secretaria de Obras. E eu, ainda pequena, acompanhei muito ativamente esta jornada, e me descobri como uma pessoa muito voltada para os números.
Então, apesar de até chegar a pensar em trilhar uma carreira onde pudesse conhecer diferentes países e culturas (como aeromoça ou diplomata), resolvi me embrenhar em profissões da área de Exatas. Comecei a me interessar por tecnologia, passei no curso de Análise de Sistemas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), e em 1994 mudei de estado e cidade. O contato com a profissão já começou no primeiro ano, quando comecei a trabalhar no laboratório de informática da faculdade. Depois surgiram outros estágios, como no Banco do Brasil, em uma empresa de telefonia, e o interesse pela área tecnológica foi só aumentando. Diferentemente da maioria, não migrei para a área de Desenvolvimento de Sistemas, e sim para a de Infraestrutura, que atua na parte de cabeamento e redes de provedores, por exemplo.
Foi neste período, em que me dividia entre Campinas e Rio, que conheci, dentro de um ônibus de viagem, aquele que seria o meu futuro marido, com quem sou casada há 27 anos e tenho dois filhos, Rodrigo e Renato. Rodrigo está cursando Engenharia Mecânica, e Renato está em dúvida se cursa Engenharia ou segue a carreira diplomática.
Quando mudar é preciso
Assim que me formei, iniciei a carreira na Masterfoods, e lá fiquei por dois anos e meio. Foi um período de intensas viagens internacionais e cheguei a morar no México e nos Estados Unidos, pois assumi a área de suporte Brasil-México. Nessa época já era casada e essa rotina acabou impactando a vida pessoal, visto que ficava muito tempo fora do país. Por isso, em determinado momento, me vi em um impasse. E apesar de gostar do que fazia e estar no auge da carreira, tomei a difícil decisão de mudar os rumos profissionais e procurar um trabalho que não tivesse essa rotina tão frenética de viagens. Foi quando comecei a trabalhar na Embratel no Rio de Janeiro, pois meu marido havia sido transferido para a nossa cidade natal, e iniciei uma nova fase.
Os primeiros meses na Embratel foram difíceis, pois passei a trabalhar em uma vaga que exigia uma expertise bem técnica. Contudo, mostrei o meu potencial e me sobressaí. Rapidamente, fui chamada para atuar em Projetos Especiais, um segmento da Embratel que promovia soluções que não faziam parte do portfólio e eram customizadas para o cliente. Isso até ser convidada para a área de Vendas. Fiz minha transição e fui atrás de inúmeras certificações, sempre vendendo tecnologia e soluções de transformação digital, galgando a cada dia uma nova conquista e chegando ao cargo de gerente-executiva de Vendas pela Embratel, já em São Paulo – cidade onde meu marido resolveu empreender. Ao final dos mais de seis anos de parceria, resolvi aceitar um novo desafio, indo trabalhar na Cisco. Olhando para trás, concluo que toda esta movimentação não foi fácil. Mas às vezes é preciso tomar decisões, e o fato é que não me arrependo das escolhas que fiz, pois elas reforçam em mim a importância de balancear o lado pessoal e profissional.
Maternidade: o dilema da mulher que trabalha
Em 2007, assim que assumi um cargo na Cisco, descobri, após cerca de um mês, que estava grávida do segundo filho, mesmo usando contraceptivos. Na época, fiquei muito nervosa porque, quando me contrataram, deixaram de escolher outra pessoa, pois ela não tinha disponibilidade para ir com frequência ao Rio de Janeiro. Neste novo cenário, como poderia ficar viajando? Quando contei a novidade a eles, houve, a princípio, um estranhamento. Mas, aos poucos, a questão foi sendo trabalhada. No entanto, quando retornei da licença-maternidade, trazia comigo a angústia que a maioria das mulheres tem ao retomar o posto: o medo de ser demitida. Tive que me provar muito e, na minha percepção, trabalhar o dobro do que outras pessoas da área. A impressão que se tinha é que, para alguns líderes, havia o receio de que eu engravidaria novamente e isso poderia impactar nos processos futuros. Por sorte, havia líderes que entenderam o momento e me deram a oportunidade de mostrar o meu potencial. Engravidar é algo natural e não é esse fato ou outro desafio pessoal que fará alguém deixar de entregar o que deve.
Planeje a carreira
Quando estava na Cisco, comecei a desejar alçar novos patamares de gerência, diretoria e presidência. E, então, passei a avaliar o que era preciso agregar à carreira para conseguir chegar lá. Na época, o diretor da Cisco tinha saído para ser o general manager da McAfee, e me convidou para montar a área de Operadoras e vender soluções de segurança, onde fiquei por 11 meses. Foi quando uma empresa de headhunter me contatou e acabei migrando para a Accenture, com a tarefa de cuidar do grupo América Móvil (NET, Claro e Embratel), na função de executiva sênior. Ali fiquei por quase dois anos. E depois de passar pela Amazon Web Services, fui contratada, em 2018, pela Microsoft, onde estou até o momento. Desde 2020 atuo como vice-presidente de vendas do Setor Público, Saúde e Educação, e tenho a alegria de compartilhar que já crescemos três vezes desde que assumi, com um plano de crescer mais quatro vezes em quatro anos. Além disso, sou conselheira consultiva da iza.com.vc, e por três anos liderei o Comitê de Diversidade e Inclusão da Microsoft Brasil.
Nesse quadro, percebo que mercado de trabalho está em constante evolução. Novas tecnologias, metodologias e tendências surgem regularmente. Estar atualizado permite que você se adapte rapidamente a essas mudanças. Por isso procuro manter-me atualizada no trabalho por meio do aprendizado contínuo. Minha última “conquista” nessa jornada de aprendizado contínuo foi o Programa de Desenvolvimento de Lideranças: acelerando a carreira de líderes de alto potencial, pela Harvard Business School, que acabei de terminar.
Desenvolver a equipe é liderar e pensar no futuro
Clareza e integridade. O líder genuíno deve ser honesto, transparente e ter uma visão estratégica. Quando eu digo “clareza” é ter uma comunicação eficaz, algo importante tanto para os liderados quanto para a linha ascendente. Por que quer isso? Qual o objetivo? O que esta medida vai trazer de benefício? Não conte longas histórias. Só seja objetivo, principalmente se está trabalhando com outras culturas.
Também se faz fundamental quando se fala em liderança ter empatia para com o outro. Afinal, por trás de cada indivíduo existem sonhos, anseios e desafios. Questione, pergunte, entenda e tenha escuta ativa. Ser um líder é, em muitos aspectos, atuar como um psicólogo, pois o papel envolve estar presente para compreender, apoiar e desenvolver a equipe. Então tem que saber delegar. Falo sempre para os diretores que estão comigo: para que consiga subir a uma nova posição, é necessário ter no time pessoas que possam fazer o seu trabalho até melhor do que você. Senão, você nunca vai conseguir alavancar na carreira. Não tenha medo de liderar pessoas melhores. Se não tiver aqueles que podem te substituir, jamais irá conseguir crescer.
E mais do que nunca, inspire e motive! Para motivar, é necessário trazer consigo respeito e espírito de equipe. A união do grupo é muito primordial. Diante de uma meta desafiadora, mostre o que pode ser feito, dê horizontes. Aprenda com os erros, seja humilde e, como líder, mostre que é uma pessoa comum, com qualidades e fragilidades, e que tem garra e disposição para ultrapassar obstáculos e chegar aonde quer. E celebre as conquistas, sempre!
Atitudes que promovem a motivação da equipe
Seja positiva e mantenha o bom humor. Promova um ambiente descontraído e sadio e se mostre engajado e presente diante das situações, até mesmo daquelas que não gosta, mas são necessárias no dia a dia corporativo. Particularmente, busco levar esta positividade diária à equipe me priorizando e executando atividades que aprecio, como ginástica e leitura, além de sempre estar em contato com a natureza.
Nunca tome decisões por impulso
Diante de situações de mudança, analise primeiro! Antes de mudar de carreira, de empresa ou mesmo de departamento dentro de uma mesma corporação, tente fazer uma investigação maior do local para onde irá. Busque conversar com pessoas daquela área ou empresa e, se não for possível, faça uma busca no site Glassdoor (www.glassdoor.com.br). Não se deixe levar apenas pelo salário, porque este ativo pode ser variável. Afinal, se aquele trabalho não te fizer feliz, vai ser muito mais difícil acordar todos os dias e desempenhar as suas funções profissionais com o afinco necessário. E se não está contente com o atual local de trabalho, busque novas colocações, mas sempre levando em conta estes pontos. Se for chamado para uma entrevista, aproveite este momento para também saber como funciona a rotina da empresa e detectar se você se conecta com a cultura daquele lugar.
Inteligência artificial: o assunto do momento no universo da liderança
A inteligência artificial existe há décadas, mas nos últimos dois anos vem apresentando uma linguagem mais natural. Acredito que vamos utilizá-la para ganho de eficiência e produtividade. Com isso, novas profissões irão aparecer, assim como outras terão que se reinventar. Contudo, o mundo de oportunidades será muito maior do que o contrário e isso nos dará mais tempo para atividades mais intelectuais. Vale lembrar que é necessário usá-la de forma consciente e responsável. O que observo atualmente, respaldado por pesquisas, é que muitos CEOs têm adotado a inteligência artificial generativa como uma ferramenta estratégica para aumentar a eficiência, melhorar a produtividade e prevenir intercorrências, como acidentes nas empresas.
Mentorias direcionam e encurtam a chegada aos caminhos de sucesso
Sonhe grande! Entenda o que precisa e quem pode te ajudar a atingir esse sonho. E nunca desista, porque vão aparecer diversos entraves antes de você chegar onde deseja. Erga a cabeça e acredite. Não tenha receio de buscar ajuda de quem pode estar junto com você nessa jornada. Procure mentores! Como mentora, procuro não apenas ouvir, mas entender as necessidades de cada pessoa, orientando sobre o que fazer e qual deve ser o próximo passo. O essencial é nunca desistir, manter a resiliência e, caso caia, levantar e continuar em frente.
Recomendação de leitura:
Comece pelo porquê: como grandes líderes inspiram pessoas e equipes agir, de Simon Sinek. Editora Sextante, 2018.