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Quanto mais conhecimento dispomos, mais necessários nos tornamos

Aos mais jovens, peço que tenham um pouco mais de paciência e que busquem tudo, mas que se aprofundem um pouco mais

Angelin Adams é CEO da Bruning Tecnometal (Divulgação/Divulgação)
Angelin Adams é CEO da Bruning Tecnometal (Divulgação/Divulgação)
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Histórias de sucesso

Publicado em 23 de abril de 2022 às, 13h01.

Última atualização em 23 de abril de 2022 às, 13h23.

Por: Fabiana Monteiro

Angelin Adams: CEO da Bruning Tecnometal

Nasci em 1976, em um pequeno município gaúcho chamado Mato Queimado, próximo às ruínas de São Miguel das Missões, que hoje tem menos de 2 mil habitantes. Tenho outros três irmãos e sou de uma família de pequenos agricultores, sendo meu pai José Danilo e minha mãe Olga. Aos 13 anos, fui morar em Panambi, na casa do tio Ari Adams, que teria importante papel naquilo que aconteceria na minha vida. Panambi é a mesma cidade em que se encontra a sede de Bruning Tecnometal, onde, pouco tempo depois, começaria a trabalhar. Fiz a oitava série na minha nova cidade e, no ano seguinte, comecei o curso técnico de Mecânica. 

A escolha não foi fortuita. Ari era coordenador do curso e me orientou neste sentido, uma vez que havia demanda da indústria local por este tipo de mão de obra. Naquela época, o sonho da maioria dos garotos de minha idade era ser jogador de futebol e, para outros, trabalhar em bancos públicos. Até então, mecânico, para mim, significava consertar automóveis e tratores. Descobriria com o curso que também era isso, mas ia muito além. Essa visão mais abrangente do que estava aprendendo me fez gostar daquilo tanto que, depois, escolheria a graduação de Engenharia Mecânica, que fiz na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), entre 1995 e 2000. 

Mas voltemos ao colégio técnico, pois, no mesmo dia em que iniciei o meu curso de Mecânica, 25 de fevereiro de 1991, comecei a trabalhar na então Ernesto Rehn, a qual posteriormente veio a ser a Bruning. Tinha apenas 14 anos e entrei na condição de estagiário. De lá para cá, já foram mais de 30 anos e muitos desafios, sendo que o maior deles viria 20 anos depois, quando me escolheram para ser diretor-superintendente da organização, cargo que se converteria depois em diretor-presidente. Neste ínterim, encontrei aquela que viria a ser a minha esposa, Fabiane, com quem tenho três filhos: Augusto (16 anos), Teodoro (12) e Benício (8). 

Líder aos 19 anos 

Fiquei como estagiário pelos quatro anos seguintes. Começava de manhã e, a partir da tarde até a noite, estava na escola. Nesse período, passei por todas as áreas da companhia e isso muito me ajudou a conhecer todo o negócio e os processos da empresa. Depois, fiquei mais um ano na área de Engenharia de Processos e, na sequência, fui convidado para trabalhar junto ao departamento comercial, liderando o desenvolvimento de um novo segmento, o automotivo. Estava com 19 anos. 

Aqui louvo a coragem de Ingomar Brune, presidente da empresa, e Luiz Dotto, então gerente de Desenvolvimento Técnico e de Negócios, que me convidaram para ser supervisor comercial para desenvolver o novo segmento de autopeças. Foi um grande passo para mim. Muito jovem, lá estava eu visitando clientes, prospectando negócios e em contato com grandes organizações. Lembro-me de um dia em que recebi alguns diretores da General Motors para uma reunião. Estava um pouco frio, mas eu tremia mais em função do nervosismo do que da baixa temperatura.  

A área automotiva foi crescendo e fui evoluindo junto com ela. E, depois de oito anos na área comercial, na metade de 2002, surgiu um novo convite para ser, desta vez, gerente de Ferramentaria. Isso foi um outro marco importante para mim e representou uma guinada de 180 graus na carreira. Até então, eu era cliente daquele departamento e, dali em diante, estaria à frente dele para melhorar sua performance. E foi o que fizemos. Investimos em novos equipamentos e procuramos evoluir a forma de como fazíamos a gestão de pessoas. Também aproveitei para investir em mim. Além dos muitos cursos que fiz internamente, concluí uma pós-graduação em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

A área de Ferramentaria cresceu bastante e acabamos oportunizando até a venda de ferramentas para outros clientes. O trabalho deveria estar bem-feito, pois, no final de 2011, meu telefone tocou na sala da Ferramentaria. Era a secretária do Sr. Ingomar. Ela me disse para que eu não deixasse a empresa naquele dia sem antes falar com o chefe. A solenidade da voz indicava que não poderia ser coisa boa. “É hoje que vou para a rua”, pensei.  

Um engenheiro como gestor  

A Bruning começou em 1947 como uma pequena tornearia denominada Ernesto Rehn, nome do seu fundador, que se dedicava, inicialmente, à manutenção de equipamentos agrícolas. É uma empresa familiar que, atualmente, está sob o controle da família de Ingomar Brune e a família de Otto Carlos Fetter. Naquele dia em que a secretária me ligou, uma tarde de sexta-feira, no mês de novembro de 2011, tive de esperar por cerca de duas horas até que chegasse o momento de ir àquele encontro. Pouco consegui produzir naquele espaço de tempo.  

Eles, então, me apresentaram a proposta para que, a partir dali, me tornasse o Diretor Superintendente, sendo responsável pelos demais diretores, alguns desses com 15 anos a mais de casa do que eu. Naquele instante, recebi um grande desafio, ao qual não estava devidamente preparado. Os primeiros dois anos foram bem difíceis. Começamos em 2012 a construir uma nova fábrica, mercado estava crescendo, os desafios eram enormes. Em 2014, contratamos uma consultoria para realizar uma grande transformação na forma de atuação da liderança da empresa, inclusive da minha nesta nova função. Foi um trabalho muito importante. Esta virada de chave foi um dos marcos relevantes da minha trajetória, pois vinha da Ferramentaria, da parte de engenharia e, doravante, teria de cuidar de todo o negócio. 

Sempre acreditei no poder transformador da educação e, mais, no aprendizado contínuo. Eu participei de minha formatura da graduação em um sábado e, no sábado seguinte, embarquei para os Estados Unidos para um curso de aperfeiçoamento do meu inglês. Isso me ajudaria a desenvolver o meu trabalho junto a clientes e fornecedores e na busca de conhecimento, pois logo depois que assumi minha nova posição, o próprio Conselho de Administração da Bruning recomendou que eu participasse do programa Orchestrating Winning Performance (OWP), do Instituto Internacional para Desenvolvimento de Gestão (IMD), em Lausanne, na Suíça. Foi o que fiz em julho de 2012, quando, aos 35 anos, fiquei uma semana inteira nesta conceituada escola, me atualizando sobre liderança.  

Fui fazendo outras formações conforme minhas necessidades. Quando passei a acumular a função de diretor financeiro, busquei uma pós-graduação em Finanças Corporativas e Auditoria. Também realizei formação no Centro de Excelência Empresarial (Cenex) e por último o Executive Program da StartSe. 

Entendo que esse aprendizado contínuo é amplamente necessário. Hoje, você se gradua com 23 anos e vai trabalhar até, ao menos, os 65. Então, não tem como ficar pelos próximos 40 anos sem fazer mais nada, sem se atualizar. Quantos conhecimentos podemos buscar para melhorar nossa carreira profissional, para ampliar o campo de atuação ou simplesmente para nos tornarmos seres humanos melhores? Novos conhecimentos são de suma importância para nos levar adiante. Eu me formei em Engenharia Mecânica, mas hoje estou fazendo a gestão do negócio, algo que não imaginava que fosse acontecer quando recebi o meu diploma. Mas fui me aperfeiçoando e isso foi essencial para eu ter as oportunidades que surgiriam no meu caminho. 

 Um acerto aos 45 minutos do segundo tempo  

Tive dois importantes mentores na minha vida. O primeiro deles foi meu tio Ari, cuja orientação, como já disse, acabou me conduzindo ao futuro. Devo muito a ele por ter dado este empurrão inicial e me encaminhado. Foi dele, por exemplo, a sugestão para que fosse trabalhar na Bruning, além de ter me guiado no que diz respeito a minha educação e aos cursos que deveria fazer. Depois, já dentro da empresa, destaco o papel do próprio Senhor Ingomar, que sempre foi um espelho para mim, pelo seu sucesso, empreendedorismo, persistência, além do seu modo de agir e de liderar.  

Outrossim, tive pessoas contratadas pela própria empresa para me dar suporte e que me ajudaram bastante a me posicionar e a ocupar da maneira correta a cadeira na qual me encontro agora. Foram muitos os que contribuíram ao longo desta jornada. Entre 2014 e 2016, tive o suporte de uma mentoria; atualmente conto também com o suporte de um profissional de São Paulo para a área de negócios além de uma psicóloga para área comportamental. Ademais, participo do YPO, uma comunidade de liderança global formada por altos executivos, o que muito ajuda na troca de experiências. Tudo isso tem me ajudado a lidar com os desafios que se apresentam no dia a dia. 

Aliás, por falar em desafio, listo ao menos três como marcantes ao longo de minha trajetória, que igualmente representam pontos de inflexão da minha caminhada profissional. O primeiro deles foi quando fui direcionado para o departamento comercial para desenvolver o segmento automobilístico, uma realização extremamente bem-sucedida. Tanto que, até hoje, 25 anos depois, mantemos a GM como cliente. Outro turning point foi a mudança para área de Ferramentaria, quando ascendi à condição de gerente e cujos frutos viemos colher posteriormente. Ali tive de ampliar um pouco mais o meu conhecimento. Tratava-se de uma unidade de negócio isolada, inclusive realizando uma gestão mais próxima de RH. Foi realmente um grande aprendizado gerir aquilo exercendo o papel de dono. 

Porém, o mais significativo dos desafios foi minha ascensão à condição de CEO, em que tive de encarar muitas e desafiadoras etapas. Quando assumi, por exemplo, ainda tínhamos um sistema de ERP construído internamente, utilizando o Cobol, a já obsoleta linguagem de programação voltada para o processamento de bancos de dados comerciais. O sistema de gestão tinha chegado ao extremo, estava limitando o nosso crescimento e tudo ainda era dependente de poucas pessoas. Então, iniciamos uma longa busca que começou em 2013. Neste período, visitamos muitas empresas, recebemos especialistas da Índia e, no final, em 2016, optamos pela plataforma da SAP. Fizemos o projeto e a virada de chave veio em março de 2018. Assim, saímos de um sistema permissivo para outro que exige uma disciplina maior. Passamos por um momento turbulento, mas posso dizer que foi uma conquista importante, porque hoje isso nos dá muito mais condições de obter informações e, dessa forma, fazer uma gestão melhor. 

Simultaneamente a isso, em 2015, sobreveio aquela que viria a ser até então a maior crise econômica da história do País, com retração de todos os seus setores produtivos. Para piorar, naquele momento, a Bruning estava com endividamento muito grande e ainda tivemos uma redução de faturamento da ordem de 50%. Passar por 2015/2016 foi uma grande conquista, pois, para nós, representou um período muito difícil. Colocamos em curso o maior programa de redução de salários e jornadas do Rio Grande do Sul, renegociamos e alongamos algumas dívidas, construímos uma sindicalizada (renegociação e obtenção de novos recursos juntos aos bancos) e, no final, tudo isso representou nossa salvação. Assinamos este acordo em novembro de 2019 e, em março de 2020 estourou a pandemia. Foi, como eu digo, aos 45 minutos do segundo tempo. Se não tivéssemos feito o que fizemos, as dificuldades durante a pandemia teriam sido muito maiores.   

Líderes mais dinâmicos 

Muitas são as armadilhas que nos atrapalham durante a nossa jornada, sendo a primeira delas o orgulho. Observe-se e, se tiver de fazer uma opção, escolha a humildade. Outra é ser centralizador e não apostar na capacidade daqueles que estão contigo. É preciso saber delegar e confiar nas pessoas. Por fim, outro aspecto negativo é achar que o conhecimento que temos é suficiente. Nunca é! Tudo evolui muito rápido e é preciso buscar conhecimento e atualização constantemente. 

O mundo precisa de líderes mais dinâmicos, com conhecimento mais amplo e que saibam liderar. Mas, a primeira qualidade que buscamos naqueles que contratamos é o padrão ético. As pessoas precisam ser confiáveis e transparentes; as pessoas precisam gostar de trabalhar com pessoas, em equipe, compartilhando seu conhecimento de um lado e aprendendo, do outro. E, por fim, precisam ser resilientes, para poderem se adaptar às constantes mudanças. Também devem ser empreendedoras, demonstrando capacidade para idealizar, coordenar e realizar projetos, ou disposição para implementar novos negócios ou mudanças no próprio rumo da empresa. 

O esporte como uma porta para cuidar da saúde 

Uma carreira de sucesso é construída com persistência, aprendizado contínuo, trabalho duro, resiliência e paciência. A isso se juntam transparência, ética e a capacidade de não deixar de dar o melhor de si um dia sequer. Procurei sempre agir desta forma, pois são bandeiras que trago comigo. Não sou sócio da Bruning, mas procuro atuar como se fosse, pois tenho comigo também o sentido de dono da empresa. Isso tem me ajudado a tomar as decisões corretas, pois preciso agir para reduzir o número de falhas. 

A carga alta de trabalho me levou ao diagnóstico, no início de 2019, de depressão. Foi resultado de uma somatória de fatores, a começar pela crise econômica, que mencionei anteriormente, iniciada em 2015. Foi um longo período ao qual fui submetido a um profundo estresse e o meu corpo acabou não aguentando. Às vezes, achamos que somos super-homens. Não somos! A doença vem. Sempre considerei depressão uma bobagem, mas hoje, diante do que passei, mudei completamente o pensamento. Não escolhemos ficar doentes, ninguém escolhe ter depressão; mas ela está aí. Para mim, foi uma experiência bem ruim e durante um ano e meio fiquei sob medicação até conseguir fazer a passagem por este momento sombrio da vida.  

Portanto, é preciso cuidar bem da saúde, por intermédio de boa alimentação, lazer, tempo de qualidade com a família e prática de atividades esportivas; do contrário acaba-se doente. O esporte estava presente na minha vida, mas, em determinado momento da carreira, acabei diminuindo. E foi pelo esporte que veio o primeiro sinal. Em um sábado à tarde eu não estava com vontade de ir jogar tênis. Parecia algo trivial. Um mês depois, o problema se revelou. Hoje faço caminhada, corrida e pratico tênis, me dedicando a isso ao menos três dias da semana. Descobri no esporte o ponto de equilíbrio que tenho para me desligar; uma porta que se abriu para cuidar de minha saúde. Gosto também de ler muito. Acabei de ler Porque as gigantes caem: e porque algumas empresas jamais desistem, de Jim Collins, e é uma obra que recomendo. Outro livro que causou grande impacto em mim foi O poder do hábito, de Charles Duhigg.  

Inovar também é pensar no próximo 

Tenho como propósito de vida poder ajudar e fazer o bem ao próximo, pois, graças ao bom Deus, tenho oportunidade de fazer isso. Procuro trabalhar muito em serviços voluntários, contribuir com algumas instituições e faço parte da Família Rotária desde os meus 18 anos. Além disso, busco o equilíbrio entre trabalho e família, pois são pilares muito importantes para mim. Aos mais jovens, peço que tenham um pouco mais de paciência e que busquem tudo, mas que se aprofundem um pouco mais. Não sejam superficiais. Quanto mais conhecimento você tiver, mais necessário você será. Sejam empreendedores, no sentido de criar soluções, ferramentas e novas tecnologias. Procurem fazer algo melhor e diferente do que já existe hoje. Acho que isso também é facilitar a vida do próximo. Seja lá o que for fazer, faça pensando no próximo.