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Quando propósito e ambição se unem, o sucesso é inevitável, afirma Dennis Herszkowicz

Na coluna desta semana, conheça a história de Dennis Herszkowicz, CEO e presidente da TOTVS S.A

Na coluna desta semana, conheça a história de Dennis Herszkowicz, CEO e presidente da TOTVS S.A (Editora Global Partners)

Publicado em 8 de novembro de 2024 às 13h03.

Motivação e engajamento são palavras importantes na vida de um líder. E para lapidar essas experiências de forma duradoura é necessário unir uma ambição robusta e um propósito bem definido. Isto porque se não houver um sentido claro, a ambição pode tornar-se superficial; e se não houver um propósito com aspiração pode-se não gerar a energia necessária para se sustentar ao longo do tempo. A verdadeira força surge dessa combinação estratégica, fomentadora do impulso necessário para buscar novos patamares. Falo com conhecimento de causa, pois desde cedo meu maior objetivo era conquistar independência financeira de forma rápida. No entanto, os acontecimentos se desenrolaram de maneira orgânica, sem uma decisão consciente sobre qual "carreira dos sonhos" eu deveria seguir. Com o tempo, os fatos foram esculpindo o trajeto que me trouxe até aqui.

Meu foco sempre foi avançar de forma contínua, seja enfrentando novos desafios, seja encontrando maneiras para obter melhores resultados. O entusiasmo está na busca constante por aprimoramento, agregando conhecimentos e gerando um impacto positivo tanto em minha vida quanto no ambiente ao redor.

Nasci em São Paulo, na capital paulista, no começo de novembro de 1974, e sou o mais velho de uma família com quatro filhos, composta por dois meninos e duas meninas. Minha trajetória escolar foi bastante estável. Frequentei o Colégio Judaico I.L Peretz durante toda a infância e adolescência, até concluir a educação básica. Aos 16 anos, ingressei na graduação em Propaganda e Marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing ( ESPM ). Nos primeiros dois anos, as aulas eram apenas pela manhã, o que restringia as oportunidades de entrar formalmente no mercado de trabalho. Em 1993, iniciei um estágio de seis meses na empresa-júnior da faculdade. Após essa experiência, os próximos seis meses foram dentro de uma agência de publicidade, no período da tarde. Esse tempo foi crucial para esclarecer muitas das dúvidas remanescentes sobre qual caminho seguir. E foi quando compreendi com clareza o que, definitivamente, não desejava fazer.

O poder da resiliência e das conexões

A busca por um rápido sucesso financeiro me conduziu também a alternativas não diretamente alinhadas à formação acadêmica. Decidi explorar o mercado financeiro e, em 1996, elaborei uma lista com 51 bancos, aos quais enviei meu currículo em busca de uma oportunidade. Curiosamente, apenas o último banco dessa lista me convocou para uma entrevista. E foi onde acabei contratado como negociador de derivativos. Fui atraído pela possibilidade de sucesso rápido, influenciado pelos resultados de familiares exitosos nesse setor. Identifiquei ali uma oportunidade promissora. No entanto, o que parecia ser uma grande chance revelou-se uma jornada desafiadora. Aquele foi um período conturbado nos mercados financeiros globais, com crises expressivas como as da Rússia e sobretudo da Ásia, afetando diretamente o setor. E o banco no qual eu atuava passou por sérias dificuldades, culminando em uma intervenção do Banco Central devido à crise dos precatórios de Alagoas. Isso resultou na liquidação extrajudicial da instituição. Foi uma fase extremamente difícil, em meio a uma tempestade financeira de grandes proporções. Os atalhos esperados não se concretizaram.

Alguns anos depois, em 1999, me envolvi em um novo contexto. Fundei uma empresa de comércio eletrônico aproveitando a primeira grande onda das empresas de internet no Brasil, antes do colapso da Nasdaq. Inicialmente, o negócio experimentou um crescimento expressivo, entretanto a crise subsequente tornou inviável a sua manutenção, levando ao seu fechamento após um ano de operação. Logo em seguida, assumi a direção do Arremate.com, principal concorrente do meu antigo negócio no Brasil. Esse período foi ainda mais desafiador, exigindo reestruturação da companhia, dispensa de centenas de colaboradores e o enfrentamento de uma incerteza generalizada no mercado digital. Aos 26 anos, me vi liderando uma transformação profunda.

Mesmo diante dessas adversidades, sempre mantive uma postura resiliente e otimista. Quando os resultados não aconteciam conforme o esperado, enxergava o processo como uma chance de aprendizado, fortalecedor de minha capacidade de lidar com a pressão. Ao longo dos anos, construí uma rede de contatos consistente, frequentemente proporcionadora de novas oportunidades, mesmo em cenários desfavoráveis. Manter essa rede de relacionamentos ativa e engajada é, sem dúvida, um grande desafio na atualidade. Mas alguns fatores considero essenciais nesse processo, como por exemplo, a acessibilidade genuína. Sem essa abertura, é difícil cultivar laços próximos e significativos. A coerência entre o que se pratica e o que se prega é um diferencial, especialmente à medida que avançamos para cargos de maior responsabilidade.

Por fim, é fundamental que as conexões não sejam meramente transacionais. Relacionamentos pautados apenas por interesses mútuos tendem a ser efêmeros. Foi essa combinação de resiliência e relacionamentos que me permitiram seguir em frente e explorar novos horizontes.

Os pilares da ascensão profissional

Atualmente, a TOTVS, empresa que lidero, conta com mais de 12 mil colaboradores. Gerir um contingente composto por profissionais com diferentes perspectivas e abordagens demanda uma estrutura focada, eficiente e uma comunicação clara e objetiva. Garantir tudo funcionando em harmonia não é tarefa simples, e alguns pilares são essenciais para alcançar esse equilíbrio.

Contar com uma equipe capacitada é indispensável, pois é humanamente impossível estar presente em todas as decisões ou momentos cruciais, especialmente em uma organização de grande porte, como a TOTVS. O tempo é limitado para todos, independentemente da posição hierárquica, seja você o CEO ou colaborador em início de carreira. Dessa forma, confiar em profissionais qualificados e comprometidos se torna imprescindível. Ademais, descentralizar o controle é igualmente vital. Quanto mais distribuída e colaborativa for a liderança, mais fluida será a operação.

A disciplina é outro fator de destaque. Sem uma organização pessoal eficiente, mesmo os melhores líderes, com os times mais competentes, encontrarão dificuldades para administrar as inúmeras demandas. A habilidade de gerenciar o tempo e definir as prioridades é essencial em qualquer nível de gestão.

Por fim, o mais importante: manter o equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Embora eu dedique boa parte do tempo ao ambiente corporativo, não me considero um viciado em trabalho. Sempre busquei condicionar atividades e interesses fora do mundo empresarial, e esta ação me permite preservar a saúde mental e o bem-estar. Esses são alguns princípios aplicados em minha trajetória.

Certamente, há outras formas de conduzir uma grande equipe, entretanto esses fundamentos têm sido decisivos ao longo da minha jornada. E como diz o senso comum: "em time que está ganhando, não se mexe".

Para que esses alicerces funcionem de maneira eficaz, o autoconhecimento é uma peça-chave, e requer um profundo grau de humildade. É necessário entender: ao se alcançar uma posição de liderança não nos tornamos superiores aos outros. Saber mais que os demais não é uma vantagem inerente, tampouco ser viável controlar todos os aspectos ao nosso redor. O verdadeiro reconhecimento dos nossos limites e capacidades surge da introspecção. Esse processo não apenas proporciona tranquilidade, muitas vezes associada à maturidade, mas também nos dá a confiança necessária para envolver outras pessoas. Ao aceitar que não podemos fazer tudo sozinhos, ganhamos segurança para delegar e permitir que outros contribuam de forma significativa. E, ao abrir espaço para a colaboração, fortalecemos a equipe e criamos um ambiente de trabalho mais dinâmico e produtivo. Afinal, o êxito em qualquer empreendimento é o resultado do esforço coletivo e de uma rede bem-coordenada e coesa.

Bom senso e sorte constroem um caminho sólido

Ao refletir sobre as armadilhas encontradas ao longo do percurso, percebo que elas podem surgir em diferentes situações. Um dos mais difíceis de evitar, sem dúvida, é o elemento sorte. Por mais que estejamos preparados e atentos, existem circunstâncias que escapam ao nosso controle. Quanto mais nos dedicamos e trabalhamos, menor é a influência do acaso. Contudo, ele pode, sim, se manifestar. Reconhecer que não temos controle absoluto sobre todas as situações é essencial.

Além do mais, algo que considero igualmente perigoso é a arrogância, a presunção de acreditar que temos mais controle ou habilidades do que realmente possuímos. Esse excesso de confiança pode corroer relacionamentos, prejudicar a capacidade de julgamento e, ao longo do tempo, deteriorar como os outros nos percebem. Conforme avançamos na hierarquia, essa armadilha se torna ainda mais sutil, pois cresce a tendência de acreditar sermos detentores de algo extraordinário. É preciso estar constantemente alerta para evitar que esse pensamento se enraíze.

Dessa forma, acredito fortemente na importância do bom senso. Esse princípio abrange uma ampla gama de comportamentos, como a necessidade de paciência e a busca incessante por fazer o certo. No entanto, o que pode ser certo ou justo para uma pessoa pode não ser para outra, porém o objetivo deve ser sempre agir com base no conhecimento disponível, tomando decisões equilibradas. Ademais, é fundamental cumprir o que prometemos em qualquer circunstância. E para garantir todas as promessas honradas, é crucial comprometer-se apenas com aquelas capaz de realizar. Assim, ao combinar bom senso, paciência e equidade, conseguimos manter nossa trajetória de forma constante e ascendente.

Um aspecto igualmente importante a não deve ser negligenciado é a educação financeira. Uma das primeiras lições que compartilhei - essencial - reflete-se no presente dado à minha esposa, há 26 anos: o livro Os axiomas de Zurique, de Max Gunther. Apesar de ter sido escrito há cerca de 40 anos, continua extremamente pertinente, oferecendo orientações valiosas dos banqueiros suíços sobre gestão financeira pessoal. A principal mensagem dessa obra, que sigo até hoje na gestão dos meus recursos, é o equilíbrio entre ousadia e prudência. É essencial fazer apostas que possam gerar grandes retornos, contudo, é igualmente necessário saber quando sair rapidamente se estas não estiverem dando certo. Um dos axiomas do livro aconselha: "Quando o barco começa a afundar, não reze; pule do barco." Outra ressalva: " Preocupação não é sinal de fraqueza. Se você não está preocupado, é porque não está arriscando o suficiente." Assim, devemos ser ousados, porém sempre com cautela, cortando rapidamente as perdas. Esse método pode resultar em várias pequenas derrotas, entretanto, essas devem ser compensadas por conquistas significativas. Portanto, uma estratégia eficaz na gestão dos recursos pessoais envolve gerenciar riscos de forma inteligente, maximizando as oportunidades de sucesso enquanto minimizamos os prejuízos.

Integração cautelosa e paixão genuína pela TOTVS

A chegada à TOTVS , em 2018, foi fascinante. A transição para suceder a Laércio Cosentino, fundador da TOTVS, trouxe um desafio considerável. Laércio havia sido o CEO da empresa durante os 35 anos de existência, fato a torná-lo uma referência icônica e amplamente respeitada.

Diante dessa circunstância, optei por adotar uma abordagem mais cuidadosa e receptiva. Em vez de implementar grandes mudanças ou imposições na largada, busquei entender a fundo a empresa, os colaboradores e a cultura já estabelecida. Essa abordagem me permitiu compreender rapidamente os aspectos essenciais valorizados pela equipe e pela organização.

Esse período de adaptação foi determinante para eu desenvolver uma verdadeira paixão pela cultura e história da empresa. Quando algo é genuíno e autêntico, isso é percebido rapidamente. Esse processo de integração e de me tornar um verdadeiro entusiasta da organização foi fundamental para conquistar a confiança da equipe.

Cheguei em um momento desafiador, após alguns anos difíceis para a companhia, que enfrentara uma situação de mercado e da economia brasileira impactante em seu desempenho financeiro. Isso havia afetado o nível de confiança da organização. Minha entrada representou uma oportunidade de estabelecer uma nova ambição e um propósito renovado para os anos seguintes. A combinação da minha integração à cultura da nova casa, uma nova ambição e um ritmo acelerado de execução resultou em um ciclo de vitórias significativas e bem-sucedidas. O maior orgulho que sinto após esses anos não reside apenas nos resultados alcançados, mas também na maneira como esses resultados foram obtidos, praticamente sem alterações na equipe herdada. Conquistar o que conquistamos, mantendo a maior parte do time foi um aspecto verdadeiramente gratificante para mim.

Dedicação e talento juntos são os segredos para êxito nos objetivos

Pessoas na faixa dos 40 aos 60 anos observam frequentemente os jovens e percebem um aumento na ansiedade, muitas vezes atribuído às redes sociais e à rapidez das transformações. Isso pode criar a impressão de uma inquietação mais acentuada em comparação com o passado. Existe uma vasta quantidade de livros, estudos e pesquisas sobre o tema.

No entanto, mantenho uma visão mais otimista. Quando busquei alcançar sucesso rapidamente, meus pais provavelmente me observavam com a mesma frustração, considerando-me impaciente. Eles não estavam completamente equivocados. Acredito que essa sensação sentida pelos jovens de hoje não é muito distinta da que experimentei há 25 ou 30 anos. No início da jornada, é normal enfrentar incertezas quanto ao futuro. Costumo enfatizar para meus filhos, ainda jovens — um com 14 e o outro com 16 anos — a importância da dedicação. Sem empenho, o talento por si só raramente resulta em grandes conquistas. Quando o talento é aliado ao esforço, as chances de atingir e até superar objetivos aumentam consideravelmente. No entanto, sem talento, o caminho torna-se significativamente mais desafiador.

Incentivo-os a arriscar. Durante cerca de uma década, entre 1993 e 2003, arrisquei constantemente. Embora muitos desses riscos não tenham produzido sucesso imediato, o conhecimento adquirido, a resiliência desenvolvida, aliada às conexões e reputação construídas, foram extremamente valiosas. Apesar de levar mais tempo, como ocorreu no meu caso, foram esses anos de tentativa e aprendizado que moldaram minha trajetória. Hoje, reconheço: sem esse período de riscos e aprendizados não teria alcançado a posição em que me encontro no momento. Portanto, cada passo é importante. Os resultados virão com o tempo e serão incríveis. Apenas confie e siga adiante com garra e determinação.

Livros recomendados por Dennis Herszkowicz

Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill. Editora Harper Collins, 2019.

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Motivação e engajamento são palavras importantes na vida de um líder. E para lapidar essas experiências de forma duradoura é necessário unir uma ambição robusta e um propósito bem definido. Isto porque se não houver um sentido claro, a ambição pode tornar-se superficial; e se não houver um propósito com aspiração pode-se não gerar a energia necessária para se sustentar ao longo do tempo. A verdadeira força surge dessa combinação estratégica, fomentadora do impulso necessário para buscar novos patamares. Falo com conhecimento de causa, pois desde cedo meu maior objetivo era conquistar independência financeira de forma rápida. No entanto, os acontecimentos se desenrolaram de maneira orgânica, sem uma decisão consciente sobre qual "carreira dos sonhos" eu deveria seguir. Com o tempo, os fatos foram esculpindo o trajeto que me trouxe até aqui.

Meu foco sempre foi avançar de forma contínua, seja enfrentando novos desafios, seja encontrando maneiras para obter melhores resultados. O entusiasmo está na busca constante por aprimoramento, agregando conhecimentos e gerando um impacto positivo tanto em minha vida quanto no ambiente ao redor.

Nasci em São Paulo, na capital paulista, no começo de novembro de 1974, e sou o mais velho de uma família com quatro filhos, composta por dois meninos e duas meninas. Minha trajetória escolar foi bastante estável. Frequentei o Colégio Judaico I.L Peretz durante toda a infância e adolescência, até concluir a educação básica. Aos 16 anos, ingressei na graduação em Propaganda e Marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing ( ESPM ). Nos primeiros dois anos, as aulas eram apenas pela manhã, o que restringia as oportunidades de entrar formalmente no mercado de trabalho. Em 1993, iniciei um estágio de seis meses na empresa-júnior da faculdade. Após essa experiência, os próximos seis meses foram dentro de uma agência de publicidade, no período da tarde. Esse tempo foi crucial para esclarecer muitas das dúvidas remanescentes sobre qual caminho seguir. E foi quando compreendi com clareza o que, definitivamente, não desejava fazer.

O poder da resiliência e das conexões

A busca por um rápido sucesso financeiro me conduziu também a alternativas não diretamente alinhadas à formação acadêmica. Decidi explorar o mercado financeiro e, em 1996, elaborei uma lista com 51 bancos, aos quais enviei meu currículo em busca de uma oportunidade. Curiosamente, apenas o último banco dessa lista me convocou para uma entrevista. E foi onde acabei contratado como negociador de derivativos. Fui atraído pela possibilidade de sucesso rápido, influenciado pelos resultados de familiares exitosos nesse setor. Identifiquei ali uma oportunidade promissora. No entanto, o que parecia ser uma grande chance revelou-se uma jornada desafiadora. Aquele foi um período conturbado nos mercados financeiros globais, com crises expressivas como as da Rússia e sobretudo da Ásia, afetando diretamente o setor. E o banco no qual eu atuava passou por sérias dificuldades, culminando em uma intervenção do Banco Central devido à crise dos precatórios de Alagoas. Isso resultou na liquidação extrajudicial da instituição. Foi uma fase extremamente difícil, em meio a uma tempestade financeira de grandes proporções. Os atalhos esperados não se concretizaram.

Alguns anos depois, em 1999, me envolvi em um novo contexto. Fundei uma empresa de comércio eletrônico aproveitando a primeira grande onda das empresas de internet no Brasil, antes do colapso da Nasdaq. Inicialmente, o negócio experimentou um crescimento expressivo, entretanto a crise subsequente tornou inviável a sua manutenção, levando ao seu fechamento após um ano de operação. Logo em seguida, assumi a direção do Arremate.com, principal concorrente do meu antigo negócio no Brasil. Esse período foi ainda mais desafiador, exigindo reestruturação da companhia, dispensa de centenas de colaboradores e o enfrentamento de uma incerteza generalizada no mercado digital. Aos 26 anos, me vi liderando uma transformação profunda.

Mesmo diante dessas adversidades, sempre mantive uma postura resiliente e otimista. Quando os resultados não aconteciam conforme o esperado, enxergava o processo como uma chance de aprendizado, fortalecedor de minha capacidade de lidar com a pressão. Ao longo dos anos, construí uma rede de contatos consistente, frequentemente proporcionadora de novas oportunidades, mesmo em cenários desfavoráveis. Manter essa rede de relacionamentos ativa e engajada é, sem dúvida, um grande desafio na atualidade. Mas alguns fatores considero essenciais nesse processo, como por exemplo, a acessibilidade genuína. Sem essa abertura, é difícil cultivar laços próximos e significativos. A coerência entre o que se pratica e o que se prega é um diferencial, especialmente à medida que avançamos para cargos de maior responsabilidade.

Por fim, é fundamental que as conexões não sejam meramente transacionais. Relacionamentos pautados apenas por interesses mútuos tendem a ser efêmeros. Foi essa combinação de resiliência e relacionamentos que me permitiram seguir em frente e explorar novos horizontes.

Os pilares da ascensão profissional

Atualmente, a TOTVS, empresa que lidero, conta com mais de 12 mil colaboradores. Gerir um contingente composto por profissionais com diferentes perspectivas e abordagens demanda uma estrutura focada, eficiente e uma comunicação clara e objetiva. Garantir tudo funcionando em harmonia não é tarefa simples, e alguns pilares são essenciais para alcançar esse equilíbrio.

Contar com uma equipe capacitada é indispensável, pois é humanamente impossível estar presente em todas as decisões ou momentos cruciais, especialmente em uma organização de grande porte, como a TOTVS. O tempo é limitado para todos, independentemente da posição hierárquica, seja você o CEO ou colaborador em início de carreira. Dessa forma, confiar em profissionais qualificados e comprometidos se torna imprescindível. Ademais, descentralizar o controle é igualmente vital. Quanto mais distribuída e colaborativa for a liderança, mais fluida será a operação.

A disciplina é outro fator de destaque. Sem uma organização pessoal eficiente, mesmo os melhores líderes, com os times mais competentes, encontrarão dificuldades para administrar as inúmeras demandas. A habilidade de gerenciar o tempo e definir as prioridades é essencial em qualquer nível de gestão.

Por fim, o mais importante: manter o equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Embora eu dedique boa parte do tempo ao ambiente corporativo, não me considero um viciado em trabalho. Sempre busquei condicionar atividades e interesses fora do mundo empresarial, e esta ação me permite preservar a saúde mental e o bem-estar. Esses são alguns princípios aplicados em minha trajetória.

Certamente, há outras formas de conduzir uma grande equipe, entretanto esses fundamentos têm sido decisivos ao longo da minha jornada. E como diz o senso comum: "em time que está ganhando, não se mexe".

Para que esses alicerces funcionem de maneira eficaz, o autoconhecimento é uma peça-chave, e requer um profundo grau de humildade. É necessário entender: ao se alcançar uma posição de liderança não nos tornamos superiores aos outros. Saber mais que os demais não é uma vantagem inerente, tampouco ser viável controlar todos os aspectos ao nosso redor. O verdadeiro reconhecimento dos nossos limites e capacidades surge da introspecção. Esse processo não apenas proporciona tranquilidade, muitas vezes associada à maturidade, mas também nos dá a confiança necessária para envolver outras pessoas. Ao aceitar que não podemos fazer tudo sozinhos, ganhamos segurança para delegar e permitir que outros contribuam de forma significativa. E, ao abrir espaço para a colaboração, fortalecemos a equipe e criamos um ambiente de trabalho mais dinâmico e produtivo. Afinal, o êxito em qualquer empreendimento é o resultado do esforço coletivo e de uma rede bem-coordenada e coesa.

Bom senso e sorte constroem um caminho sólido

Ao refletir sobre as armadilhas encontradas ao longo do percurso, percebo que elas podem surgir em diferentes situações. Um dos mais difíceis de evitar, sem dúvida, é o elemento sorte. Por mais que estejamos preparados e atentos, existem circunstâncias que escapam ao nosso controle. Quanto mais nos dedicamos e trabalhamos, menor é a influência do acaso. Contudo, ele pode, sim, se manifestar. Reconhecer que não temos controle absoluto sobre todas as situações é essencial.

Além do mais, algo que considero igualmente perigoso é a arrogância, a presunção de acreditar que temos mais controle ou habilidades do que realmente possuímos. Esse excesso de confiança pode corroer relacionamentos, prejudicar a capacidade de julgamento e, ao longo do tempo, deteriorar como os outros nos percebem. Conforme avançamos na hierarquia, essa armadilha se torna ainda mais sutil, pois cresce a tendência de acreditar sermos detentores de algo extraordinário. É preciso estar constantemente alerta para evitar que esse pensamento se enraíze.

Dessa forma, acredito fortemente na importância do bom senso. Esse princípio abrange uma ampla gama de comportamentos, como a necessidade de paciência e a busca incessante por fazer o certo. No entanto, o que pode ser certo ou justo para uma pessoa pode não ser para outra, porém o objetivo deve ser sempre agir com base no conhecimento disponível, tomando decisões equilibradas. Ademais, é fundamental cumprir o que prometemos em qualquer circunstância. E para garantir todas as promessas honradas, é crucial comprometer-se apenas com aquelas capaz de realizar. Assim, ao combinar bom senso, paciência e equidade, conseguimos manter nossa trajetória de forma constante e ascendente.

Um aspecto igualmente importante a não deve ser negligenciado é a educação financeira. Uma das primeiras lições que compartilhei - essencial - reflete-se no presente dado à minha esposa, há 26 anos: o livro Os axiomas de Zurique, de Max Gunther. Apesar de ter sido escrito há cerca de 40 anos, continua extremamente pertinente, oferecendo orientações valiosas dos banqueiros suíços sobre gestão financeira pessoal. A principal mensagem dessa obra, que sigo até hoje na gestão dos meus recursos, é o equilíbrio entre ousadia e prudência. É essencial fazer apostas que possam gerar grandes retornos, contudo, é igualmente necessário saber quando sair rapidamente se estas não estiverem dando certo. Um dos axiomas do livro aconselha: "Quando o barco começa a afundar, não reze; pule do barco." Outra ressalva: " Preocupação não é sinal de fraqueza. Se você não está preocupado, é porque não está arriscando o suficiente." Assim, devemos ser ousados, porém sempre com cautela, cortando rapidamente as perdas. Esse método pode resultar em várias pequenas derrotas, entretanto, essas devem ser compensadas por conquistas significativas. Portanto, uma estratégia eficaz na gestão dos recursos pessoais envolve gerenciar riscos de forma inteligente, maximizando as oportunidades de sucesso enquanto minimizamos os prejuízos.

Integração cautelosa e paixão genuína pela TOTVS

A chegada à TOTVS , em 2018, foi fascinante. A transição para suceder a Laércio Cosentino, fundador da TOTVS, trouxe um desafio considerável. Laércio havia sido o CEO da empresa durante os 35 anos de existência, fato a torná-lo uma referência icônica e amplamente respeitada.

Diante dessa circunstância, optei por adotar uma abordagem mais cuidadosa e receptiva. Em vez de implementar grandes mudanças ou imposições na largada, busquei entender a fundo a empresa, os colaboradores e a cultura já estabelecida. Essa abordagem me permitiu compreender rapidamente os aspectos essenciais valorizados pela equipe e pela organização.

Esse período de adaptação foi determinante para eu desenvolver uma verdadeira paixão pela cultura e história da empresa. Quando algo é genuíno e autêntico, isso é percebido rapidamente. Esse processo de integração e de me tornar um verdadeiro entusiasta da organização foi fundamental para conquistar a confiança da equipe.

Cheguei em um momento desafiador, após alguns anos difíceis para a companhia, que enfrentara uma situação de mercado e da economia brasileira impactante em seu desempenho financeiro. Isso havia afetado o nível de confiança da organização. Minha entrada representou uma oportunidade de estabelecer uma nova ambição e um propósito renovado para os anos seguintes. A combinação da minha integração à cultura da nova casa, uma nova ambição e um ritmo acelerado de execução resultou em um ciclo de vitórias significativas e bem-sucedidas. O maior orgulho que sinto após esses anos não reside apenas nos resultados alcançados, mas também na maneira como esses resultados foram obtidos, praticamente sem alterações na equipe herdada. Conquistar o que conquistamos, mantendo a maior parte do time foi um aspecto verdadeiramente gratificante para mim.

Dedicação e talento juntos são os segredos para êxito nos objetivos

Pessoas na faixa dos 40 aos 60 anos observam frequentemente os jovens e percebem um aumento na ansiedade, muitas vezes atribuído às redes sociais e à rapidez das transformações. Isso pode criar a impressão de uma inquietação mais acentuada em comparação com o passado. Existe uma vasta quantidade de livros, estudos e pesquisas sobre o tema.

No entanto, mantenho uma visão mais otimista. Quando busquei alcançar sucesso rapidamente, meus pais provavelmente me observavam com a mesma frustração, considerando-me impaciente. Eles não estavam completamente equivocados. Acredito que essa sensação sentida pelos jovens de hoje não é muito distinta da que experimentei há 25 ou 30 anos. No início da jornada, é normal enfrentar incertezas quanto ao futuro. Costumo enfatizar para meus filhos, ainda jovens — um com 14 e o outro com 16 anos — a importância da dedicação. Sem empenho, o talento por si só raramente resulta em grandes conquistas. Quando o talento é aliado ao esforço, as chances de atingir e até superar objetivos aumentam consideravelmente. No entanto, sem talento, o caminho torna-se significativamente mais desafiador.

Incentivo-os a arriscar. Durante cerca de uma década, entre 1993 e 2003, arrisquei constantemente. Embora muitos desses riscos não tenham produzido sucesso imediato, o conhecimento adquirido, a resiliência desenvolvida, aliada às conexões e reputação construídas, foram extremamente valiosas. Apesar de levar mais tempo, como ocorreu no meu caso, foram esses anos de tentativa e aprendizado que moldaram minha trajetória. Hoje, reconheço: sem esse período de riscos e aprendizados não teria alcançado a posição em que me encontro no momento. Portanto, cada passo é importante. Os resultados virão com o tempo e serão incríveis. Apenas confie e siga adiante com garra e determinação.

Livros recomendados por Dennis Herszkowicz

Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill. Editora Harper Collins, 2019.

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