O perfil desbravador é essencial para assimilar novos aprendizados, afirma Luciano da American Tower
Na coluna desta semana, conheça a história de Luciano Ferreira Vice-presidente Finanças & CFO Latam American Tower
Colunista
Publicado em 7 de julho de 2023 às 15h25.
A ênfase na educação de qualidade e o compromisso com valores adquiridos desde jovem me permitiram construir uma carreira em instituições proeminentes do universo corporativo. Com um perfil multidisciplinar, de viés desbravador, alcancei metas relevantes em minha trajetória, proporcionando-me a celebração e a realização de sonhos planejados ainda no início de minha jornada. Atualmente, ocupo a cadeira de vice-presidente & CFO da American Tower para a América Latina.
O gosto por desbravar o mundo ocorreu naturalmente. Ainda bem jovem, no interior de Minas Gerais, tive que viajar todos os dias para estudar. Meus pais sempre apostaram na educação de alta qualidade e, sendo assim, concluí o Ensino Fundamental em um Colégio Militar. Já o Ensino Médio, realizei em uma escola particular, onde descobri que apreciava demais a Física, o que ajudou a moldar a minha carreira e meu gosto pelas Ciências Exatas.
No período do vestibular, ainda na dúvida se prestaria Física ou Engenharia, passei em ambos os cursos. Meu pai, que sempre teve uma influência muito grande em minhas decisões, me incentivou a ingressar no Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), onde me graduei, em 1994, em Engenharia Eletrônica e de Telecomunicações.
Na faculdade, meu primeiro desafio foi o de me adaptar ao novo estilo de vida, estando longe da família e morando em uma república estudantil. Já no segundo ano de faculdade, consegui meu primeiro estágio, em uma fábrica de cimento, hoje a Lafarge-Holcim.
No quarto ano, fui aceito no Grupo de Optoeletrônica da faculdade, um time seleto de estudantes pesquisadores, que abriu muitas portas para a minha carreira. Tive a oportunidade de conhecer vários centros de pesquisas, além de várias outras empresas de tecnologia. A partir dessa interação com pesquisadores, obtive uma bolsa para implementar meu primeiro projeto, voltado para fibra óptica, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).
Meu último estágio se deu na Rede Globo, onde obtive experiência em estações de transmissão da emissora.
Os sonhos consumados dentro do universo corporativo
Ao me formar, seguindo o conselho de meus professores e amigos pesquisadores, resolvi continuar me desenvolvendo e ingressei no mestrado em Comunicações Digitais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que me deu a oportunidade de trabalhar com pesquisas no CPqD-Telebras.
Após essa experiência, ingressei na Promon Eletrônica, em 1996, como engenheiro de atendimento aos clientes. Nessa época, pude viajar bastante pelo Brasil implementando centrais telefônicas nas operadoras de telefonia. Todavia, sempre que retornava ao escritório central da empresa em Campinas, e me deparava com outros profissionais em cargos de gerência e envolvidos em projetos internacionais, pensava: “É isso o que quero para mim”.
De imediato, decidi buscar outras oportunidades e ingressei na Ericsson, em 1998, como gerente de Projetos. Fui contratado no Rio de Janeiro, mas a Ericsson nem sequer possuía escritório por lá. Íamos implementar a primeira rede digital de telefonia móvel da Claro, na época, chamada ATL. Improvisamos o escritório em um hotel, como em um ambiente de startup, cercado por enormes desafios técnicos e de prazo. Foi tudo muito rico e engrandecedor no aspecto profissional. Descobri a importância dos relacionamentos interpessoais, da mobilização de times – foi quando comecei a lidar com gente. Meu primeiro desafio, no entanto, foi aprender inglês em um curto período, pois os projetos contavam com vários expatriados, de diferentes partes do mundo.
Neste ínterim, me transferi para Portugal e, ao voltar, assumi uma área de suporte a negócios, quando então tive um insight: para subir na empresa era preciso migrar para vendas ou finanças, deixando o nicho de operações. Amparado por essa ideia, me enveredei para o setor de vendas e cursei uma pós-graduação em Marketing Empresarial. Em seguida, decidi migrar para finanças – e iniciei um MBA no Insper, na referida área.
Desbravando o mundo: novos conceitos e culturas
De imediato, me identifiquei muito com a área financeira, atuando como Business Controller. Como sempre pontuei a meus líderes a intenção de ter uma carreira internacional, não tardou para que eu assumisse como diretor financeiro para Austrália e Nova Zelândia, em 2008.
No mesmo dia que fiquei sabendo dessa oportunidade no exterior, também recebi a notícia de que minha esposa, Carla, estava grávida de gêmeos e tratava-se de uma gestação de risco. Acabei me mudando para a Austrália e minha família se juntou a mim após o nascimento das crianças. Sem dúvida esse foi meu maior desafio.
A Austrália, por ser um país com grande diversidade, me oportunizou entender as diferenças culturais, suas complexidades e sua importância no ambiente corporativo de empresas multinacionais.
Logo na sequência, mudei para Dubai, para assumir o cargo de vice-presidente de Planejamento Financeiro. Nesta época, já me encontrava à frente de um grande time, sendo responsável por 25 países do Oriente Médio. Depois de três anos, com o sucesso nas operações, fui convidado a assumir as operações da região do Mediterrâneo, alocado em Madri e responsável por 23 países da Europa, solidificando mais uma etapa como um executivo expatriado.
Em 2015, me tornei CFO da África, sendo alocado na África do Sul. Em Johanesburgo, tive a incumbência de comandar as finanças e as operações de 43 países, liderando um time de aproximadamente 400 pessoas.
Após dois anos na África, decidi buscar experiência como CFO de uma empresa aberta. Assumi então a Vice-Presidência de Finanças da Ericsson Nikola Tesla, na Croácia, empresa de capital aberto na bolsa de Zagreb.
As conquistas e as intempéries como líder na Índia
Abordado por headhunters, aceitei uma posição na Brightstar Corp., joint-venture entre os Grupos Softbank e Bharti Airtel, que atua com distribuição de celulares e acessórios eletrônicos.
A proposta era muito boa e desafiadora. Parti para a Índia em 2018, amparado pelo propósito de trabalhar em algo novo e diferenciado. A empresa tinha historicamente uma performance financeira muito ruim e, em dois anos, conseguimos fazer um grande turnaround. Tratou-se de um grande aprendizado – morar na Índia foi desafiador e, ao mesmo tempo, excepcional profissionalmente. A etapa na Índia foi extremamente emblemática, um turnaround importante em todos os aspectos. Tive que promover aquelas conversas difíceis que muitos líderes tendem a evitar. Com um programa de redução de custos sólido e uma alteração drástica do portfólio de produtos e serviços, a empresa voltou a ter um EBITDA positivo. Tínhamos um problema de caixa muito grande, que foi ainda mais agravado com a Pandemia de Covid-19. A redução de salários, na legislação vigente, foi algo inevitável de se efetuar. Inclusive, cortei os meus próprios ganhos, permanecendo alguns meses sem receber. Considero essa decisão excepcionalmente importante por ter salvado o negócio e os empregos da grande maioria dos colaboradores.
O retorno ao Brasil como CFO da American Tower
O desejo de retornar ao meu país de origem, amplificado pela pandemia, além do fato de meus filhos Álvaro e Lorena nunca terem morado no Brasil, me levaram a estabelecer como meta essa movimentação. E em agosto de 2020, ingressei na American Tower como CFO do Brasil. Em 2022, fui promovido a vice-presidente e CFO para a América Latina.
A pandemia mudou muito a minha vida. O desconforto e a preocupação com a saúde de minha família em um país distante me impulsionaram a regressar. Contudo, ainda precisei driblar inúmeras dificuldades até concretizar essa meta. Passei por várias entrevistas durante o processo de contratação, tudo de forma virtual. Viajei com minha família no auge da pandemia e desembarquei no Brasil já devidamente contratado pela American Tower. Quando comecei na empresa, trabalhava virtualmente e só tive a oportunidade de conhecer pessoalmente minha equipe muito tempo depois.
Nesse sentido, destaco a importância da família na decisão de morar fora do país. O mais importante é que o seu parceiro ou parceira esteja 100% com você. Minha esposa sempre foi aventureira como eu – estávamos alinhados nos nossos propósitos e isso nunca foi um problema para ela. Minha esposa sempre almejou morar fora e conseguimos realizar tudo isso em família. Nossos filhos sempre estudaram em escolas internacionais, aprenderam vários idiomas e adquiriram uma ampla visão do mundo e das diferentes culturas. Isso foi realmente muito importante na criação e educação deles.
A minha história mostra que, sem dúvida, sempre busquei priorizar a minha carreira. Entretanto, em certo momento precisei colocar a família em primeiro lugar.
No momento, não estou buscando outra expatriação, apesar de haver muitas oportunidades. Tenho dedicado parte do meu tempo com cursos e grupos especializados em conselhos de empresas. Acho muito interessante poder atuar como executivo e conselheiro ao mesmo tempo.
Autoconhecimento e perseverança devem prevalecer
Considero muito importante tomar as rédeas da carreira, evitando deixar que a empresa decida pelo profissional. É essencial traçar um plano e fazer acontecer da sua maneira. O autoconhecimento é fundamental na consolidação de uma trajetória bem-sucedida. Conhecer as fraquezas, os pontos de melhoria para poder se desenvolver e criar um plano de desenvolvimento são aspectos valiosos.
Ao ser indagado sobre como o novo líder deve se portar, sinalizo como é cada vez mais essencial conseguir inspirar os indivíduos, mobilizá-los, com o intuito de darem o seu melhor constantemente. Outro ponto que destaco é a capacidade de desenvolvê-los para que isso aconteça.
Atualmente, a necessidade de ser criativo é primordial, assim como saber se comunicar adequadamente. Além disso, ter uma ampla visão do negócio e ser capaz de se antecipar aos problemas são imperativos.
No momento da contratação, valorizo o “brilho nos olhos”, analiso prioritariamente a força de vontade, a dedicação e o desejo de desenvolvimento, além da ambição sadia. A capacidade de interação com o time, saber contar histórias e conseguir se impor também são aspectos notáveis e indispensáveis.
O compromisso categórico de se investir no ESG
A minha carreira inteira foi pautada em realizar turnarounds, lidar com eficiência e atuar na redução de custos. Hoje, meu grande desafio é adequar o crescimento exponencial da empresa com as demandas da cadeira a qual ocupo, expandindo de forma padronizada e com eficiência. Na American Tower fazemos muitas aquisições, e ao incorporar outras companhias, estas vêm com sistemas diferentes, outros processos e culturas. Ao analisar a América Latina, trata-se de um emaranhado de situações distintas, principalmente em termos estruturais. Portanto, preciso promover a padronização, a automatização, focar em eficiência e, concomitantemente, desenvolver o time, conciliando tudo com o momento de crescimento. Simplesmente necessito trabalhar da forma como sempre fiz, porém, dentro de uma corporação em franca ascensão e com amplo potencial para seguir neste ritmo.
Aproveito ainda para evidenciar a importância do ESG e de como a American Tower se destaca nesta prática. As instituições e a sociedade chegaram à conclusão de que precisam prover mais coisas, e que isso não é somente uma responsabilidade dos governos – essa associação precisa ser desfeita. Houve uma nítida evolução em todos os campos, algo sem volta. Na empresa, o ESG é uma parte sólida de nossa estratégia. É uma diretriz muito forte na nossa cultura. Aplicamos tempo e dinheiro pautando o tema, com um cuidado enorme acerca dos projetos.
Um belo exemplo de nossas ações remete à rede de fibra óptica localizada em Minas Gerais, com 100% da operação funcionando com energia solar. Temos uma fazenda estruturada para tal e estamos desenvolvendo a segunda planta. Além disso, toda a reciclagem recebe a devida atenção.
Há ainda toda a questão social. Contamos com um projeto de comunidades conectadas e lançamos recentemente a empreitada em São José do Rio Preto (SP), em parceria com nossos clientes e outras ONGs. Enfim, provemos tecnologia, inovação e ferramentas diferenciadas para a comunidade local. Ademais, motes como diversidade e inclusão são bastante fortes na empresa – levamos tudo muito a sério. Um dos nossos valores é: “ Fazer o que falamos que vamos fazer ”.
Priorize suas metas com equilíbrio e perseverança
Aos mais jovens, deixo o seguinte conselho: nunca deixe para amanhã o que se pode realizar hoje. Aproveite o presente momento para progredir.
Além disso, a harmonia é essencial para se incorporar no cotidiano, integrando o cuidado com a família, a saúde mental e física, pois isso propicia qualidade de vida em todos os aspectos.
Endosso a importância de se ter uma educação financeira pessoal. Não vejo muito isso nas escolas, faculdades, e considero primordial estarmos preparados desde o início para lidar com nossas finanças pessoais. Uma dica para começar é ler Pai Rico, Pai Pobre , do Robert Kiyosaki e da Sharon L. Lechter. Trata-se de uma leitura tranquila, que proporciona uma visão básica de finanças pessoais.
E para quem pretende chegar longe, é preciso nunca ter medo de mudanças, estar sempre se atualizando, aprender coisas novas e buscar novos desafios. No fim das contas, o que faz toda a diferença é entregar mais do que se é esperado.
A ênfase na educação de qualidade e o compromisso com valores adquiridos desde jovem me permitiram construir uma carreira em instituições proeminentes do universo corporativo. Com um perfil multidisciplinar, de viés desbravador, alcancei metas relevantes em minha trajetória, proporcionando-me a celebração e a realização de sonhos planejados ainda no início de minha jornada. Atualmente, ocupo a cadeira de vice-presidente & CFO da American Tower para a América Latina.
O gosto por desbravar o mundo ocorreu naturalmente. Ainda bem jovem, no interior de Minas Gerais, tive que viajar todos os dias para estudar. Meus pais sempre apostaram na educação de alta qualidade e, sendo assim, concluí o Ensino Fundamental em um Colégio Militar. Já o Ensino Médio, realizei em uma escola particular, onde descobri que apreciava demais a Física, o que ajudou a moldar a minha carreira e meu gosto pelas Ciências Exatas.
No período do vestibular, ainda na dúvida se prestaria Física ou Engenharia, passei em ambos os cursos. Meu pai, que sempre teve uma influência muito grande em minhas decisões, me incentivou a ingressar no Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), onde me graduei, em 1994, em Engenharia Eletrônica e de Telecomunicações.
Na faculdade, meu primeiro desafio foi o de me adaptar ao novo estilo de vida, estando longe da família e morando em uma república estudantil. Já no segundo ano de faculdade, consegui meu primeiro estágio, em uma fábrica de cimento, hoje a Lafarge-Holcim.
No quarto ano, fui aceito no Grupo de Optoeletrônica da faculdade, um time seleto de estudantes pesquisadores, que abriu muitas portas para a minha carreira. Tive a oportunidade de conhecer vários centros de pesquisas, além de várias outras empresas de tecnologia. A partir dessa interação com pesquisadores, obtive uma bolsa para implementar meu primeiro projeto, voltado para fibra óptica, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).
Meu último estágio se deu na Rede Globo, onde obtive experiência em estações de transmissão da emissora.
Os sonhos consumados dentro do universo corporativo
Ao me formar, seguindo o conselho de meus professores e amigos pesquisadores, resolvi continuar me desenvolvendo e ingressei no mestrado em Comunicações Digitais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que me deu a oportunidade de trabalhar com pesquisas no CPqD-Telebras.
Após essa experiência, ingressei na Promon Eletrônica, em 1996, como engenheiro de atendimento aos clientes. Nessa época, pude viajar bastante pelo Brasil implementando centrais telefônicas nas operadoras de telefonia. Todavia, sempre que retornava ao escritório central da empresa em Campinas, e me deparava com outros profissionais em cargos de gerência e envolvidos em projetos internacionais, pensava: “É isso o que quero para mim”.
De imediato, decidi buscar outras oportunidades e ingressei na Ericsson, em 1998, como gerente de Projetos. Fui contratado no Rio de Janeiro, mas a Ericsson nem sequer possuía escritório por lá. Íamos implementar a primeira rede digital de telefonia móvel da Claro, na época, chamada ATL. Improvisamos o escritório em um hotel, como em um ambiente de startup, cercado por enormes desafios técnicos e de prazo. Foi tudo muito rico e engrandecedor no aspecto profissional. Descobri a importância dos relacionamentos interpessoais, da mobilização de times – foi quando comecei a lidar com gente. Meu primeiro desafio, no entanto, foi aprender inglês em um curto período, pois os projetos contavam com vários expatriados, de diferentes partes do mundo.
Neste ínterim, me transferi para Portugal e, ao voltar, assumi uma área de suporte a negócios, quando então tive um insight: para subir na empresa era preciso migrar para vendas ou finanças, deixando o nicho de operações. Amparado por essa ideia, me enveredei para o setor de vendas e cursei uma pós-graduação em Marketing Empresarial. Em seguida, decidi migrar para finanças – e iniciei um MBA no Insper, na referida área.
Desbravando o mundo: novos conceitos e culturas
De imediato, me identifiquei muito com a área financeira, atuando como Business Controller. Como sempre pontuei a meus líderes a intenção de ter uma carreira internacional, não tardou para que eu assumisse como diretor financeiro para Austrália e Nova Zelândia, em 2008.
No mesmo dia que fiquei sabendo dessa oportunidade no exterior, também recebi a notícia de que minha esposa, Carla, estava grávida de gêmeos e tratava-se de uma gestação de risco. Acabei me mudando para a Austrália e minha família se juntou a mim após o nascimento das crianças. Sem dúvida esse foi meu maior desafio.
A Austrália, por ser um país com grande diversidade, me oportunizou entender as diferenças culturais, suas complexidades e sua importância no ambiente corporativo de empresas multinacionais.
Logo na sequência, mudei para Dubai, para assumir o cargo de vice-presidente de Planejamento Financeiro. Nesta época, já me encontrava à frente de um grande time, sendo responsável por 25 países do Oriente Médio. Depois de três anos, com o sucesso nas operações, fui convidado a assumir as operações da região do Mediterrâneo, alocado em Madri e responsável por 23 países da Europa, solidificando mais uma etapa como um executivo expatriado.
Em 2015, me tornei CFO da África, sendo alocado na África do Sul. Em Johanesburgo, tive a incumbência de comandar as finanças e as operações de 43 países, liderando um time de aproximadamente 400 pessoas.
Após dois anos na África, decidi buscar experiência como CFO de uma empresa aberta. Assumi então a Vice-Presidência de Finanças da Ericsson Nikola Tesla, na Croácia, empresa de capital aberto na bolsa de Zagreb.
As conquistas e as intempéries como líder na Índia
Abordado por headhunters, aceitei uma posição na Brightstar Corp., joint-venture entre os Grupos Softbank e Bharti Airtel, que atua com distribuição de celulares e acessórios eletrônicos.
A proposta era muito boa e desafiadora. Parti para a Índia em 2018, amparado pelo propósito de trabalhar em algo novo e diferenciado. A empresa tinha historicamente uma performance financeira muito ruim e, em dois anos, conseguimos fazer um grande turnaround. Tratou-se de um grande aprendizado – morar na Índia foi desafiador e, ao mesmo tempo, excepcional profissionalmente. A etapa na Índia foi extremamente emblemática, um turnaround importante em todos os aspectos. Tive que promover aquelas conversas difíceis que muitos líderes tendem a evitar. Com um programa de redução de custos sólido e uma alteração drástica do portfólio de produtos e serviços, a empresa voltou a ter um EBITDA positivo. Tínhamos um problema de caixa muito grande, que foi ainda mais agravado com a Pandemia de Covid-19. A redução de salários, na legislação vigente, foi algo inevitável de se efetuar. Inclusive, cortei os meus próprios ganhos, permanecendo alguns meses sem receber. Considero essa decisão excepcionalmente importante por ter salvado o negócio e os empregos da grande maioria dos colaboradores.
O retorno ao Brasil como CFO da American Tower
O desejo de retornar ao meu país de origem, amplificado pela pandemia, além do fato de meus filhos Álvaro e Lorena nunca terem morado no Brasil, me levaram a estabelecer como meta essa movimentação. E em agosto de 2020, ingressei na American Tower como CFO do Brasil. Em 2022, fui promovido a vice-presidente e CFO para a América Latina.
A pandemia mudou muito a minha vida. O desconforto e a preocupação com a saúde de minha família em um país distante me impulsionaram a regressar. Contudo, ainda precisei driblar inúmeras dificuldades até concretizar essa meta. Passei por várias entrevistas durante o processo de contratação, tudo de forma virtual. Viajei com minha família no auge da pandemia e desembarquei no Brasil já devidamente contratado pela American Tower. Quando comecei na empresa, trabalhava virtualmente e só tive a oportunidade de conhecer pessoalmente minha equipe muito tempo depois.
Nesse sentido, destaco a importância da família na decisão de morar fora do país. O mais importante é que o seu parceiro ou parceira esteja 100% com você. Minha esposa sempre foi aventureira como eu – estávamos alinhados nos nossos propósitos e isso nunca foi um problema para ela. Minha esposa sempre almejou morar fora e conseguimos realizar tudo isso em família. Nossos filhos sempre estudaram em escolas internacionais, aprenderam vários idiomas e adquiriram uma ampla visão do mundo e das diferentes culturas. Isso foi realmente muito importante na criação e educação deles.
A minha história mostra que, sem dúvida, sempre busquei priorizar a minha carreira. Entretanto, em certo momento precisei colocar a família em primeiro lugar.
No momento, não estou buscando outra expatriação, apesar de haver muitas oportunidades. Tenho dedicado parte do meu tempo com cursos e grupos especializados em conselhos de empresas. Acho muito interessante poder atuar como executivo e conselheiro ao mesmo tempo.
Autoconhecimento e perseverança devem prevalecer
Considero muito importante tomar as rédeas da carreira, evitando deixar que a empresa decida pelo profissional. É essencial traçar um plano e fazer acontecer da sua maneira. O autoconhecimento é fundamental na consolidação de uma trajetória bem-sucedida. Conhecer as fraquezas, os pontos de melhoria para poder se desenvolver e criar um plano de desenvolvimento são aspectos valiosos.
Ao ser indagado sobre como o novo líder deve se portar, sinalizo como é cada vez mais essencial conseguir inspirar os indivíduos, mobilizá-los, com o intuito de darem o seu melhor constantemente. Outro ponto que destaco é a capacidade de desenvolvê-los para que isso aconteça.
Atualmente, a necessidade de ser criativo é primordial, assim como saber se comunicar adequadamente. Além disso, ter uma ampla visão do negócio e ser capaz de se antecipar aos problemas são imperativos.
No momento da contratação, valorizo o “brilho nos olhos”, analiso prioritariamente a força de vontade, a dedicação e o desejo de desenvolvimento, além da ambição sadia. A capacidade de interação com o time, saber contar histórias e conseguir se impor também são aspectos notáveis e indispensáveis.
O compromisso categórico de se investir no ESG
A minha carreira inteira foi pautada em realizar turnarounds, lidar com eficiência e atuar na redução de custos. Hoje, meu grande desafio é adequar o crescimento exponencial da empresa com as demandas da cadeira a qual ocupo, expandindo de forma padronizada e com eficiência. Na American Tower fazemos muitas aquisições, e ao incorporar outras companhias, estas vêm com sistemas diferentes, outros processos e culturas. Ao analisar a América Latina, trata-se de um emaranhado de situações distintas, principalmente em termos estruturais. Portanto, preciso promover a padronização, a automatização, focar em eficiência e, concomitantemente, desenvolver o time, conciliando tudo com o momento de crescimento. Simplesmente necessito trabalhar da forma como sempre fiz, porém, dentro de uma corporação em franca ascensão e com amplo potencial para seguir neste ritmo.
Aproveito ainda para evidenciar a importância do ESG e de como a American Tower se destaca nesta prática. As instituições e a sociedade chegaram à conclusão de que precisam prover mais coisas, e que isso não é somente uma responsabilidade dos governos – essa associação precisa ser desfeita. Houve uma nítida evolução em todos os campos, algo sem volta. Na empresa, o ESG é uma parte sólida de nossa estratégia. É uma diretriz muito forte na nossa cultura. Aplicamos tempo e dinheiro pautando o tema, com um cuidado enorme acerca dos projetos.
Um belo exemplo de nossas ações remete à rede de fibra óptica localizada em Minas Gerais, com 100% da operação funcionando com energia solar. Temos uma fazenda estruturada para tal e estamos desenvolvendo a segunda planta. Além disso, toda a reciclagem recebe a devida atenção.
Há ainda toda a questão social. Contamos com um projeto de comunidades conectadas e lançamos recentemente a empreitada em São José do Rio Preto (SP), em parceria com nossos clientes e outras ONGs. Enfim, provemos tecnologia, inovação e ferramentas diferenciadas para a comunidade local. Ademais, motes como diversidade e inclusão são bastante fortes na empresa – levamos tudo muito a sério. Um dos nossos valores é: “ Fazer o que falamos que vamos fazer ”.
Priorize suas metas com equilíbrio e perseverança
Aos mais jovens, deixo o seguinte conselho: nunca deixe para amanhã o que se pode realizar hoje. Aproveite o presente momento para progredir.
Além disso, a harmonia é essencial para se incorporar no cotidiano, integrando o cuidado com a família, a saúde mental e física, pois isso propicia qualidade de vida em todos os aspectos.
Endosso a importância de se ter uma educação financeira pessoal. Não vejo muito isso nas escolas, faculdades, e considero primordial estarmos preparados desde o início para lidar com nossas finanças pessoais. Uma dica para começar é ler Pai Rico, Pai Pobre , do Robert Kiyosaki e da Sharon L. Lechter. Trata-se de uma leitura tranquila, que proporciona uma visão básica de finanças pessoais.
E para quem pretende chegar longe, é preciso nunca ter medo de mudanças, estar sempre se atualizando, aprender coisas novas e buscar novos desafios. No fim das contas, o que faz toda a diferença é entregar mais do que se é esperado.