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Na coluna desta semana, conheça a história de Marcelo Abdo, CEO na Ourofino Agrociência

A missão do CEO engloba valorizar a cultura e o propósito da empresa

Marcelo Abdo, CEO na Ourofino Agrociência (Marcelo Abdo/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2022 às 17h06.

Última atualização em 14 de outubro de 2022 às 17h07.

Por Fabiana Monteiro

Princípios e valores sólidos, assim como a busca incessante por novos conhecimentos, e o genuíno interesse por sempre ouvir e aprender com as pessoas representam os pontos cruciais rumo à minha jornada de sucesso dentro do universo corporativo, permeada por desafios intrínsecos, em diferentes níveis de complexidade. Amparado pela enorme dedicação aos estudos, ciente de que perseverança e compromisso compõem a chave para deixar um legado próspero, cumpri as metas por mim estabelecidas até alcançar a posição de CEO da Ourofino Agrociência.

Paulistano, nascido em 14 de janeiro de 1971, oriundo de uma família de classe média, frequentei colégios estaduais até o Ensino Médio, e sempre tive o respaldo dos meus pais para me aplicar nos estudos, visando obter uma graduação de nível superior. Meu pai, Chafic Abdo, era comerciante e estudou apenas até a oitava-série, ao passo que minha mãe, Laís Damus Abdo, trabalhou como professora.

Meus pais enalteciam o aprendizado como meta primordial, o que denota como eles exerceram enorme influência nos meus primeiros passos. Sendo assim, dedicava-me à busca de desenvolvimento e, com somente 14 anos, posso considerar que a primeira grande oportunidade da minha vida surgiu. O Banco do Brasil solicitou ao diretor da minha escola que alguns alunos prestassem uma prova, pois haviam sido disponibilizadas vagas de office-boy. Devidamente aprovado, celebrei o meu primeiro emprego, assim conciliei com os estudos e com os treinos de futebol – até então, perseguia a possibilidade de firmar carreira profissional no esporte.

Permaneci com os meus afazeres no banco até os 18 anos, quando chegou a idade limite para realizar o concurso externo. Analisei como uma oportunidade de seguir na instituição e de ganhar dinheiro, então desisti da carreira futebolística e estudei muito para me submeter à prova. Fui aprovado e comecei a me interessar por assuntos relacionados ao banco, como economia, administração e contabilidade. Todavia, havia inclinação por Economia. Então, ingressei na PUC-SP, em que graduei como economista em 1995.

A jornada no Banco do Brasil provia segurança, e galguei colocações dentro da organização rapidamente, ao longo dos 25 anos de intensa dedicação. O fato de ter atuado em diferentes funções me proporcionou consolidação e amplitude, em termos de conhecimentos técnicos, aprendizados significativos e experiências marcantes. Trabalhei na área administrativa, no RH, em agências de varejo, e depois assumi a gerência dos cartões de crédito, sempre ampliando meu espaço e abrindo portas.

Quando o Banco do Brasil efetuou uma segmentação do atendimento, e criou as agências do atacado, para atender médias e grandes empresas, um poderoso nicho se estabeleceu. Até 2000, segui ocupando diferentes posições dentro da instituição, até me especializar nesse setor. Comecei como gerente de contas, englobei as áreas de relacionamento, de negócios, sendo, posteriormente, promovido a gerente geral de uma região.

No ano seguinte, o banco teve a iniciativa de identificar alguém com um perfil profissional que reunisse as características e as experiências de atuação da capital para assumir uma posição no interior do estado. Ponderei acerca das minhas habilidades com o corporate, e aceitei o desafio de conduzir o projeto em Ribeirão Preto, permanecendo à frente do processo até 2003. Basicamente, teria que obter duas carteiras de clientes – entre eles estava a Ourofino -, mas junto com uma excelente equipe, fomos além, entregando o projeto com o dobro do previsto, amparado por resultados extremamente positivos.

Ao regressar para São Paulo, segui crescendo na carreira, ciente de ter deixado um legado robusto com o projeto efetuado no interior, mas não imaginava que me renderia uma grande oportunidade no futuro.

O outro lado da mesa: o desafio na Ourofino Agrociência

Em 2010, após sete anos do projeto em Ribeirão Preto – e aqui enfatizo como é importante dar o seu melhor em qualquer desafio, pois sempre terá alguém analisando, mesmo sem você saber que isso esteja acontecendo – recebi um convite para almoçar com um executivo da Ourofino Agrociência, curiosamente no dia do meu aniversário. A princípio, a conversa se daria sobre assuntos pertinentes ao mercado, porém a intenção era outra: esse profissional, responsável pela área financeira, mostrou-me o projeto que estava sendo elaborado pela empresa para a área de defensivos agrícolas.

A Ourofino nasceu em 1987, com foco em saúde animal, inserida na indústria de produtos veterinários. Em 2010, os sócios, Norival Bonamichi e Jardel Massari, dois empreendedores natos, decidiram ingressar no negócio de defensivos agrícolas, para complementar a ação dentro do agronegócio. O projeto partiu do zero e, portanto, seria essencial montar outra companhia. Assim, fui convidado para arquitetar toda a Diretoria Financeira Administrativa.

Já estava há 25 anos no Banco do Brasil, em uma posição extremamente estável, morando em São Paulo, com tudo organizado, desfrutando de uma ótima qualidade de vida, e com a certeza de que me aposentaria naquela instituição financeira. Neste contexto, disse ao executivo que poderia indicar alguém para executar aquela tarefa, pois, no banco, atendia várias indústrias e, certamente, poderia recomendar um bom e experiente profissional, que “trocaria o pneu com o carro andando”, pois eu sabia que há uma enorme diferença entre a visão do bancário e a do profissional da indústria.

De nada adiantou a minha argumentação, eles queriam alguém de confiança para gerir a companhia, haja vista o investimento em torno de R$ 100 milhões aplicado logo no início. Além disso, precisava ser alguém com conhecimentos específicos do negócio, com princípios alinhados, com caráter e responsabilidade. Quando esse executivo pontuou tais características, aceitei a proposta, porque poderia entregar tais competências de imediato, por causa do meu perfil. Meus pais podiam não ter dinheiro, mas me deram tudo em termos de formação de caráter.

Obviamente, por causa da projeção do projeto, levou cerca de quatro meses até essa negociação ser concluída – incluía um risco que nem eu sabia possuir, tamanha coragem para assumir. Estava com 39 anos, e fui motivo de uma reunião familiar com pai, tios e meu irmão, Ricardo, pois todos ficaram muito preocupados com a minha decisão. Houve muita pressão por causa da estabilidade que o Banco do Brasil me proporcionava à época. Afinal, eu estava trocando tudo isso por uma startup que poderia acontecer de tudo.

Apesar de tais atribulações, estou há 12 anos na Ourofino Agrociência.  Compensou demais apostar nessa empreitada! Iniciei minhas atribuições como Diretor Financeiro Administrativo, realizando toda a estruturação, envolvendo processos, políticas e contratações. Posteriormente, fui alçado ao posto de CFO, agregando RH e Jurídico. Com os resultados obtidos, conquistei a promoção para Vice-Presidente e, em junho de 2021, assumi a função de CEO.

Transição facilitada pelo preparo prévio

A transição do Banco do Brasil para assumir a Ourofino Agrociência foi o grande ponto de inflexão da minha carreira. Foi um movimento cercado por algumas preocupações, por se tratar de uma mudança radical na minha trajetória, e que me desafiava com a incumbência de montar todos os processos da empresa.  Contudo, ao migrar para a posição corporativa na Indústria, percebi que detinha conhecimento, e havia me desenvolvido para ocupar a função.  Nem eu sabia o quanto havia me preparado para esse desafio, através da formação que o BB me proporcionou com treinamentos e aprendizados, e também com as três especializações e o MBA que realizei, na ESALQ-USP, com ênfase em Agronegócios.

O começo dessa transição não foi fácil, por se tratar de uma empresa de origem familiar. Era necessário implementar a minha visão de gestor, principalmente com relação à governança. Muitas vezes, existiram divergências acerca das estratégias, resultando em debates de alto nível. Mas, foi desta maneira que conquistei a confiança dos donos, pois havia sido contratado para demonstrar outras possibilidades e alternativas com vistas a viabilizar os negócios, com segurança e sustentabilidade.

Em 2010, a organização obteve o seu primeiro faturamento. Cinco anos depois, o faturamento atingiu os R$ 530 milhões, e em 2022, a projeção gira em torno de R$ 3 bilhões. Trata-se de uma companhia que briga com as gigantes do setor, multinacionais consolidadas, e somos uma instituição brasileira conseguindo se impor dentro desse competitivo mercado, com resultados brilhantes.

Enfrentamos grandes obstáculos no começo, encarando grandes concorrentes, com um portfólio, até então, limitado, e com pouco recurso financeiro. Até 2019, trabalhamos somente com genéricos e, mesmo assim, elevamos o potencial da companhia, embasados em resultados consistentes. Agora, com o nosso propósito de reimaginar a agricultura brasileira e nos diferenciarmos, temos a capacidade de inserir no mercado produtos reimaginados e especialidades, exclusivos da empresa.

A fundamental sinergia entre culturas

Outra medida que foi necessária diz respeito a compreender, e investir na China. Viajei inúmeras vezes até a gigante nação asiática para conhecer como funcionava a elaboração de um escritório naquele país, analisando a viabilidade da execução. Estudado tudo isso, erguemos uma sede em Hong Kong e outra em Xangai com o intuito de podermos viabilizar suprimentos e garantir a qualidade dos nossos produtos, vindos da China. Mas o case de sucesso, de fato, foi a preparação para conhecer melhor a cultura chinesa, pois somos dependentes da matéria-prima derivada deles. Deu muito certo e, em 2012, montamos nosso escritório, onde atualmente atuam oito profissionais. Uma grande realização!

Diante dos progressos obtidos em tão pouco tempo, em 2016, várias multinacionais efetivamente demonstraram intenção em propor uma integração. À época, disse aos sócios que precisávamos começar a escutar as propostas, pois a perspectiva de crescimento era muito grande, e uma parceria estratégica poderia nos ajudar. Analisamos as possibilidades e chegamos, após dois anos e quatro meses de tratativas, a uma negociação com as empresas Mitsui & Co. e ISK, um enorme conglomerado japonês e uma desenvolvedora de moléculas.

A Ourofino Agrociência é ágil na tomada de decisões e simples em seus processos, o que nos torna muito competitivos. Enquanto a concorrência está pensando, já estamos realizando.

Desde a primeira reunião, pontuei para a Mitsui e ISK que, caso eles suprimissem a agilidade da Ourofino Agrociência, não poderia garantir qual companhia eles estariam adquirindo. Se eles trouxessem muita burocracia e morosidade, os resultados se tornariam imprevisíveis. Ao término das negociações, em março de 2019, obtivemos o aval deles para que a gestão ficasse ao nosso encargo, enquanto a Mitsui teria duas cadeiras no conselho, obviamente, com participação na tomada de decisões.

Nessa sinergia, as empresas japonesas viabilizam moléculas novas e produtos diferenciados para que possamos continuar com o crescimento sustentável. Essa negociação é um grande case de sucesso, permeado por aprendizados importantes, especialmente pela forma diferenciada apresentada pelos executivos japoneses, no trato com os negócios. Marcou, ainda, como outra intervenção de cunho cultural de enorme valia para mim.

Autoconhecimento e o profissional protagonista

Desde o começo da minha carreira sempre gostei do que ninguém apreciava –um ótimo diferencial inclusive dentro do Banco do Brasil. “Onde havia encrenca”, eu estava lá para ajudar a resolvê-la, agindo como uma espécie de “bombeiro”, pois os desafios sempre me motivaram. Ser designado para solucionar missões complexas, assumindo grandes responsabilidades, inclusive em compliance, ajustando processos, ajudou a me manter em desenvolvimento.

Via de regra, ao se analisar o papel do líder, saliento que, julgar-se um conhecedor de tudo, com ideias centralizadoras e comportamento autossuficiente são indícios de um perfil arcaico para a posição. A pessoa, conforme eleva seu patamar profissional, pode ser tragada por tais armadilhas, ou seja, nunca o autoconhecimento foi tão importante para discernir as situações de riscos e as oportunidades.

O movimento mais óbvio para se evitar isso é saber escutar atentamente e contar com as demais pessoas. Tento atuar consultando outras opiniões, pois trabalhar em conjunto é fundamental, com o apoio de equipes preparadas, que proporcionem feedbacks a todo momento.

Além disso, investir no autoconhecimento auxilia a saber quais são as fortalezas do líder e em que se encontram os possíveis gaps e fraquezas, passíveis de serem minimizados. O chefe “antigo” necessitava demonstrar que poderia resolver tudo sozinho – isso definitivamente não existe mais. Neste mundo dinâmico é preciso pedir ajuda, inclusive para liderar as equipes.

A habilidade de prestar atenção nas pessoas, e de se envolver com as necessidades intrínsecas dos membros do time é primordial. Ao tratar todos da mesma forma, sem notar as características singulares de cada indivíduo, os resultados não surgirão, portanto, tento auxiliar nas necessidades para gerar engajamento e felicidade dos colaboradores. Desta forma, fica mais fácil atingir as conquistas almejadas.

Essa análise ampla desmistifica a rigidez encontrada dentro de algumas instituições. O ato de escutar as pessoas, independentemente de crachá, do grau de senioridade, facilita as relações interpessoais e faz com que as pessoas sintam como parte do negócio, com suas ideias e com suas contribuições.

Todavia, também tento atrair profissionais que estejam devidamente aptos a trabalharem em uma empresa como a Ourofino Agrociência. Neste aspecto, além dos conhecimentos técnicos e comportamentais, valorizo muito a capacidade de se adequarem à cultura da organização. Não faz sentido estar desalinhado com os princípios e com os propósitos, e trabalhar em determinado lugar visando somente ganhos materiais.

A boa comunicação e ter atitude são outros pontos cruciais para quem vislumbra uma carreira bem-sucedida. Observo com atenção, no momento de contratar alguém, se o profissional conta com o desejo de realizar, se possui o perfil de protagonista: eu quero que ele seja essa pessoa essencial dentro da companhia.

O desafio de cativar a cultura da empresa

As demandas de um executivo são bastante exigentes e agregam temáticas diversas. Portanto, manter-me sempre atualizado e acompanhar o que está acontecendo no mercado global é imprescindível. Necessito estar sempre buscando informações, com o intuito de prover sustentabilidade ao negócio, em todos os sentidos. A pauta da sucessão, dada a dificuldade para constituir sucessores em todas as áreas da companhia, propiciando a continuidade, é um grande desafio.

Um ponto importante é o trato geracional.  Vivenciamos uma fase que várias gerações coexistem dentro da empresa. A melhor forma de manter a harmonia operacional envolve o poder de adaptação do líder, e de como aprender a conduzir essas equipes multidisciplinares, e com expectativas e formas de atuação tão diversas, atualmente. Esse é um caminho que estou implementando por aqui – desenvolvimento da liderança. Ao alocar uma pessoa em um cargo de gestão, sem o preparo adequado, o sofrimento é muito grande, por falta de embasamento, de treinamento para cuidar de determinada função/situação.

A missão do CEO é fazer com que a cultura e o propósito da empresa sigam vivos, acompanhando tudo o que ocorre ao seu redor, envolvendo o autodesenvolvimento, a visão sistêmica, e entregando resultados sustentáveis aos acionistas. Para que isso aconteça, é fundamental reservar um tempo para cuidar de si próprio e investir na qualidade de vida - equilíbrio.

Jamais se desvencilhe da sua essência

“Acreditem no País, acreditem em vocês. Durante toda a minha trajetória, ratifiquei a relevância de jamais ter passado por cima do meu caráter e dos meus princípios - certeza de que não vale a pena. Busque realizar o seu melhor em tudo o que é proposto, pois alguém sempre estará te observando. Fui contatado sete anos depois de ter atendido a Ourofino – acho que alguma coisa boa deixei para ser lembrado.

Acredito que a perseverança deve ser aplicada aos estudos, pois o aprendizado contínuo é necessário ao longo da vida. Sou um profissional em constante evolução e com a mente aberta para novos aprendizados.

A gratidão é um valor essencial e, por isso, quero agradecer aos senhores Norival Bonamichi e Jardel Massari pela confiança e por acreditarem no meu potencial e no meu trabalho.

Sou muito grato também a quem sempre esteve a meu lado, portanto enalteço a importância de frisar esse pensamento: conte com um companheiro ou companheira que lhe impulsione para cima e esteja ao seu lado em todos os momentos, nos bons e nos ruins. Felizmente, conto com essa magnífica experiência, há trinta anos, ao lado de minha esposa, Tatiana Carollo Porto Abdo, que ainda me deu o melhor presente da vida, nossa filha, Beatriz”.

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Por Fabiana Monteiro

Princípios e valores sólidos, assim como a busca incessante por novos conhecimentos, e o genuíno interesse por sempre ouvir e aprender com as pessoas representam os pontos cruciais rumo à minha jornada de sucesso dentro do universo corporativo, permeada por desafios intrínsecos, em diferentes níveis de complexidade. Amparado pela enorme dedicação aos estudos, ciente de que perseverança e compromisso compõem a chave para deixar um legado próspero, cumpri as metas por mim estabelecidas até alcançar a posição de CEO da Ourofino Agrociência.

Paulistano, nascido em 14 de janeiro de 1971, oriundo de uma família de classe média, frequentei colégios estaduais até o Ensino Médio, e sempre tive o respaldo dos meus pais para me aplicar nos estudos, visando obter uma graduação de nível superior. Meu pai, Chafic Abdo, era comerciante e estudou apenas até a oitava-série, ao passo que minha mãe, Laís Damus Abdo, trabalhou como professora.

Meus pais enalteciam o aprendizado como meta primordial, o que denota como eles exerceram enorme influência nos meus primeiros passos. Sendo assim, dedicava-me à busca de desenvolvimento e, com somente 14 anos, posso considerar que a primeira grande oportunidade da minha vida surgiu. O Banco do Brasil solicitou ao diretor da minha escola que alguns alunos prestassem uma prova, pois haviam sido disponibilizadas vagas de office-boy. Devidamente aprovado, celebrei o meu primeiro emprego, assim conciliei com os estudos e com os treinos de futebol – até então, perseguia a possibilidade de firmar carreira profissional no esporte.

Permaneci com os meus afazeres no banco até os 18 anos, quando chegou a idade limite para realizar o concurso externo. Analisei como uma oportunidade de seguir na instituição e de ganhar dinheiro, então desisti da carreira futebolística e estudei muito para me submeter à prova. Fui aprovado e comecei a me interessar por assuntos relacionados ao banco, como economia, administração e contabilidade. Todavia, havia inclinação por Economia. Então, ingressei na PUC-SP, em que graduei como economista em 1995.

A jornada no Banco do Brasil provia segurança, e galguei colocações dentro da organização rapidamente, ao longo dos 25 anos de intensa dedicação. O fato de ter atuado em diferentes funções me proporcionou consolidação e amplitude, em termos de conhecimentos técnicos, aprendizados significativos e experiências marcantes. Trabalhei na área administrativa, no RH, em agências de varejo, e depois assumi a gerência dos cartões de crédito, sempre ampliando meu espaço e abrindo portas.

Quando o Banco do Brasil efetuou uma segmentação do atendimento, e criou as agências do atacado, para atender médias e grandes empresas, um poderoso nicho se estabeleceu. Até 2000, segui ocupando diferentes posições dentro da instituição, até me especializar nesse setor. Comecei como gerente de contas, englobei as áreas de relacionamento, de negócios, sendo, posteriormente, promovido a gerente geral de uma região.

No ano seguinte, o banco teve a iniciativa de identificar alguém com um perfil profissional que reunisse as características e as experiências de atuação da capital para assumir uma posição no interior do estado. Ponderei acerca das minhas habilidades com o corporate, e aceitei o desafio de conduzir o projeto em Ribeirão Preto, permanecendo à frente do processo até 2003. Basicamente, teria que obter duas carteiras de clientes – entre eles estava a Ourofino -, mas junto com uma excelente equipe, fomos além, entregando o projeto com o dobro do previsto, amparado por resultados extremamente positivos.

Ao regressar para São Paulo, segui crescendo na carreira, ciente de ter deixado um legado robusto com o projeto efetuado no interior, mas não imaginava que me renderia uma grande oportunidade no futuro.

O outro lado da mesa: o desafio na Ourofino Agrociência

Em 2010, após sete anos do projeto em Ribeirão Preto – e aqui enfatizo como é importante dar o seu melhor em qualquer desafio, pois sempre terá alguém analisando, mesmo sem você saber que isso esteja acontecendo – recebi um convite para almoçar com um executivo da Ourofino Agrociência, curiosamente no dia do meu aniversário. A princípio, a conversa se daria sobre assuntos pertinentes ao mercado, porém a intenção era outra: esse profissional, responsável pela área financeira, mostrou-me o projeto que estava sendo elaborado pela empresa para a área de defensivos agrícolas.

A Ourofino nasceu em 1987, com foco em saúde animal, inserida na indústria de produtos veterinários. Em 2010, os sócios, Norival Bonamichi e Jardel Massari, dois empreendedores natos, decidiram ingressar no negócio de defensivos agrícolas, para complementar a ação dentro do agronegócio. O projeto partiu do zero e, portanto, seria essencial montar outra companhia. Assim, fui convidado para arquitetar toda a Diretoria Financeira Administrativa.

Já estava há 25 anos no Banco do Brasil, em uma posição extremamente estável, morando em São Paulo, com tudo organizado, desfrutando de uma ótima qualidade de vida, e com a certeza de que me aposentaria naquela instituição financeira. Neste contexto, disse ao executivo que poderia indicar alguém para executar aquela tarefa, pois, no banco, atendia várias indústrias e, certamente, poderia recomendar um bom e experiente profissional, que “trocaria o pneu com o carro andando”, pois eu sabia que há uma enorme diferença entre a visão do bancário e a do profissional da indústria.

De nada adiantou a minha argumentação, eles queriam alguém de confiança para gerir a companhia, haja vista o investimento em torno de R$ 100 milhões aplicado logo no início. Além disso, precisava ser alguém com conhecimentos específicos do negócio, com princípios alinhados, com caráter e responsabilidade. Quando esse executivo pontuou tais características, aceitei a proposta, porque poderia entregar tais competências de imediato, por causa do meu perfil. Meus pais podiam não ter dinheiro, mas me deram tudo em termos de formação de caráter.

Obviamente, por causa da projeção do projeto, levou cerca de quatro meses até essa negociação ser concluída – incluía um risco que nem eu sabia possuir, tamanha coragem para assumir. Estava com 39 anos, e fui motivo de uma reunião familiar com pai, tios e meu irmão, Ricardo, pois todos ficaram muito preocupados com a minha decisão. Houve muita pressão por causa da estabilidade que o Banco do Brasil me proporcionava à época. Afinal, eu estava trocando tudo isso por uma startup que poderia acontecer de tudo.

Apesar de tais atribulações, estou há 12 anos na Ourofino Agrociência.  Compensou demais apostar nessa empreitada! Iniciei minhas atribuições como Diretor Financeiro Administrativo, realizando toda a estruturação, envolvendo processos, políticas e contratações. Posteriormente, fui alçado ao posto de CFO, agregando RH e Jurídico. Com os resultados obtidos, conquistei a promoção para Vice-Presidente e, em junho de 2021, assumi a função de CEO.

Transição facilitada pelo preparo prévio

A transição do Banco do Brasil para assumir a Ourofino Agrociência foi o grande ponto de inflexão da minha carreira. Foi um movimento cercado por algumas preocupações, por se tratar de uma mudança radical na minha trajetória, e que me desafiava com a incumbência de montar todos os processos da empresa.  Contudo, ao migrar para a posição corporativa na Indústria, percebi que detinha conhecimento, e havia me desenvolvido para ocupar a função.  Nem eu sabia o quanto havia me preparado para esse desafio, através da formação que o BB me proporcionou com treinamentos e aprendizados, e também com as três especializações e o MBA que realizei, na ESALQ-USP, com ênfase em Agronegócios.

O começo dessa transição não foi fácil, por se tratar de uma empresa de origem familiar. Era necessário implementar a minha visão de gestor, principalmente com relação à governança. Muitas vezes, existiram divergências acerca das estratégias, resultando em debates de alto nível. Mas, foi desta maneira que conquistei a confiança dos donos, pois havia sido contratado para demonstrar outras possibilidades e alternativas com vistas a viabilizar os negócios, com segurança e sustentabilidade.

Em 2010, a organização obteve o seu primeiro faturamento. Cinco anos depois, o faturamento atingiu os R$ 530 milhões, e em 2022, a projeção gira em torno de R$ 3 bilhões. Trata-se de uma companhia que briga com as gigantes do setor, multinacionais consolidadas, e somos uma instituição brasileira conseguindo se impor dentro desse competitivo mercado, com resultados brilhantes.

Enfrentamos grandes obstáculos no começo, encarando grandes concorrentes, com um portfólio, até então, limitado, e com pouco recurso financeiro. Até 2019, trabalhamos somente com genéricos e, mesmo assim, elevamos o potencial da companhia, embasados em resultados consistentes. Agora, com o nosso propósito de reimaginar a agricultura brasileira e nos diferenciarmos, temos a capacidade de inserir no mercado produtos reimaginados e especialidades, exclusivos da empresa.

A fundamental sinergia entre culturas

Outra medida que foi necessária diz respeito a compreender, e investir na China. Viajei inúmeras vezes até a gigante nação asiática para conhecer como funcionava a elaboração de um escritório naquele país, analisando a viabilidade da execução. Estudado tudo isso, erguemos uma sede em Hong Kong e outra em Xangai com o intuito de podermos viabilizar suprimentos e garantir a qualidade dos nossos produtos, vindos da China. Mas o case de sucesso, de fato, foi a preparação para conhecer melhor a cultura chinesa, pois somos dependentes da matéria-prima derivada deles. Deu muito certo e, em 2012, montamos nosso escritório, onde atualmente atuam oito profissionais. Uma grande realização!

Diante dos progressos obtidos em tão pouco tempo, em 2016, várias multinacionais efetivamente demonstraram intenção em propor uma integração. À época, disse aos sócios que precisávamos começar a escutar as propostas, pois a perspectiva de crescimento era muito grande, e uma parceria estratégica poderia nos ajudar. Analisamos as possibilidades e chegamos, após dois anos e quatro meses de tratativas, a uma negociação com as empresas Mitsui & Co. e ISK, um enorme conglomerado japonês e uma desenvolvedora de moléculas.

A Ourofino Agrociência é ágil na tomada de decisões e simples em seus processos, o que nos torna muito competitivos. Enquanto a concorrência está pensando, já estamos realizando.

Desde a primeira reunião, pontuei para a Mitsui e ISK que, caso eles suprimissem a agilidade da Ourofino Agrociência, não poderia garantir qual companhia eles estariam adquirindo. Se eles trouxessem muita burocracia e morosidade, os resultados se tornariam imprevisíveis. Ao término das negociações, em março de 2019, obtivemos o aval deles para que a gestão ficasse ao nosso encargo, enquanto a Mitsui teria duas cadeiras no conselho, obviamente, com participação na tomada de decisões.

Nessa sinergia, as empresas japonesas viabilizam moléculas novas e produtos diferenciados para que possamos continuar com o crescimento sustentável. Essa negociação é um grande case de sucesso, permeado por aprendizados importantes, especialmente pela forma diferenciada apresentada pelos executivos japoneses, no trato com os negócios. Marcou, ainda, como outra intervenção de cunho cultural de enorme valia para mim.

Autoconhecimento e o profissional protagonista

Desde o começo da minha carreira sempre gostei do que ninguém apreciava –um ótimo diferencial inclusive dentro do Banco do Brasil. “Onde havia encrenca”, eu estava lá para ajudar a resolvê-la, agindo como uma espécie de “bombeiro”, pois os desafios sempre me motivaram. Ser designado para solucionar missões complexas, assumindo grandes responsabilidades, inclusive em compliance, ajustando processos, ajudou a me manter em desenvolvimento.

Via de regra, ao se analisar o papel do líder, saliento que, julgar-se um conhecedor de tudo, com ideias centralizadoras e comportamento autossuficiente são indícios de um perfil arcaico para a posição. A pessoa, conforme eleva seu patamar profissional, pode ser tragada por tais armadilhas, ou seja, nunca o autoconhecimento foi tão importante para discernir as situações de riscos e as oportunidades.

O movimento mais óbvio para se evitar isso é saber escutar atentamente e contar com as demais pessoas. Tento atuar consultando outras opiniões, pois trabalhar em conjunto é fundamental, com o apoio de equipes preparadas, que proporcionem feedbacks a todo momento.

Além disso, investir no autoconhecimento auxilia a saber quais são as fortalezas do líder e em que se encontram os possíveis gaps e fraquezas, passíveis de serem minimizados. O chefe “antigo” necessitava demonstrar que poderia resolver tudo sozinho – isso definitivamente não existe mais. Neste mundo dinâmico é preciso pedir ajuda, inclusive para liderar as equipes.

A habilidade de prestar atenção nas pessoas, e de se envolver com as necessidades intrínsecas dos membros do time é primordial. Ao tratar todos da mesma forma, sem notar as características singulares de cada indivíduo, os resultados não surgirão, portanto, tento auxiliar nas necessidades para gerar engajamento e felicidade dos colaboradores. Desta forma, fica mais fácil atingir as conquistas almejadas.

Essa análise ampla desmistifica a rigidez encontrada dentro de algumas instituições. O ato de escutar as pessoas, independentemente de crachá, do grau de senioridade, facilita as relações interpessoais e faz com que as pessoas sintam como parte do negócio, com suas ideias e com suas contribuições.

Todavia, também tento atrair profissionais que estejam devidamente aptos a trabalharem em uma empresa como a Ourofino Agrociência. Neste aspecto, além dos conhecimentos técnicos e comportamentais, valorizo muito a capacidade de se adequarem à cultura da organização. Não faz sentido estar desalinhado com os princípios e com os propósitos, e trabalhar em determinado lugar visando somente ganhos materiais.

A boa comunicação e ter atitude são outros pontos cruciais para quem vislumbra uma carreira bem-sucedida. Observo com atenção, no momento de contratar alguém, se o profissional conta com o desejo de realizar, se possui o perfil de protagonista: eu quero que ele seja essa pessoa essencial dentro da companhia.

O desafio de cativar a cultura da empresa

As demandas de um executivo são bastante exigentes e agregam temáticas diversas. Portanto, manter-me sempre atualizado e acompanhar o que está acontecendo no mercado global é imprescindível. Necessito estar sempre buscando informações, com o intuito de prover sustentabilidade ao negócio, em todos os sentidos. A pauta da sucessão, dada a dificuldade para constituir sucessores em todas as áreas da companhia, propiciando a continuidade, é um grande desafio.

Um ponto importante é o trato geracional.  Vivenciamos uma fase que várias gerações coexistem dentro da empresa. A melhor forma de manter a harmonia operacional envolve o poder de adaptação do líder, e de como aprender a conduzir essas equipes multidisciplinares, e com expectativas e formas de atuação tão diversas, atualmente. Esse é um caminho que estou implementando por aqui – desenvolvimento da liderança. Ao alocar uma pessoa em um cargo de gestão, sem o preparo adequado, o sofrimento é muito grande, por falta de embasamento, de treinamento para cuidar de determinada função/situação.

A missão do CEO é fazer com que a cultura e o propósito da empresa sigam vivos, acompanhando tudo o que ocorre ao seu redor, envolvendo o autodesenvolvimento, a visão sistêmica, e entregando resultados sustentáveis aos acionistas. Para que isso aconteça, é fundamental reservar um tempo para cuidar de si próprio e investir na qualidade de vida - equilíbrio.

Jamais se desvencilhe da sua essência

“Acreditem no País, acreditem em vocês. Durante toda a minha trajetória, ratifiquei a relevância de jamais ter passado por cima do meu caráter e dos meus princípios - certeza de que não vale a pena. Busque realizar o seu melhor em tudo o que é proposto, pois alguém sempre estará te observando. Fui contatado sete anos depois de ter atendido a Ourofino – acho que alguma coisa boa deixei para ser lembrado.

Acredito que a perseverança deve ser aplicada aos estudos, pois o aprendizado contínuo é necessário ao longo da vida. Sou um profissional em constante evolução e com a mente aberta para novos aprendizados.

A gratidão é um valor essencial e, por isso, quero agradecer aos senhores Norival Bonamichi e Jardel Massari pela confiança e por acreditarem no meu potencial e no meu trabalho.

Sou muito grato também a quem sempre esteve a meu lado, portanto enalteço a importância de frisar esse pensamento: conte com um companheiro ou companheira que lhe impulsione para cima e esteja ao seu lado em todos os momentos, nos bons e nos ruins. Felizmente, conto com essa magnífica experiência, há trinta anos, ao lado de minha esposa, Tatiana Carollo Porto Abdo, que ainda me deu o melhor presente da vida, nossa filha, Beatriz”.

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