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Impaciência, a armadilha complicadora do sucesso da carreira, afirma Alberto Raich

Na coluna desta semana, conheça a história de Alberto Raich - Gerente Geral da Kellanova

Impaciência, a armadilha complicadora do sucesso da carreira, afirma Alberto Raich
Impaciência, a armadilha complicadora do sucesso da carreira, afirma Alberto Raich

O começo da minha carreira foi um pouco diferente do que tinha planejado. Inicialmente, a ideia era me formar em Engenharia Industrial e trabalhar com finanças, segmento que apreciava desde a época estudantil. Contudo, apesar de ter conseguido a graduação na área desejada, o desenrolar dos acontecimentos me conduziram ao universo do marketing, um rumo naquela época inimaginável, mas hoje faz todo o sentido para mim. 

Nasci em Bogotá, capital da Colômbia e tenho ascendência espanhola por parte de pai. Meu avô aportou na capital colombiana no início do século XX, e naquele país ergueu     os pilares para fundar novos negócios e educar os filhos. Sua primeira empreitada foi a construção de uma fábrica de brinquedos; e depois de algum tempo, disposto a diversificar os investimentos, passou também a trabalhar com postos de combustíveis, rumo indicador de sua veia empreendedora e engajadora. 

Este movimento foi acompanhado de perto por meu pai. Um dos filhos vivenciou a luta da família ano após ano. Anos mais tarde, já na fase adulta, ele conheceu aquela que se tornaria minha mãe, filha de uma tradicional família pecuarista da região. Após se casarem, iniciaram a vida a dois em um novo lar, mas nos finais de semana o destino deles era a fazenda dos pais, onde todos sentavam-se à volta de uma grande mesa e juntos colocavam o papo em dia enquanto apreciavam os ares do campo. Essa rotina nostálgica e feliz foi vivenciada por alguns anos, até o dia em que nossa família migrou para os Estados Unidos.  

O sucesso da vivência internacional “depende de atitudes”  

No começo, morar em outro país não foi nada fácil. Estudava em uma boa escola pública, mas sabia que, por ser latino, era minoria dentro daquela realidade. E este fato trouxe consigo a discriminação consciente e inconsciente, algo a aprender a lidar. Ainda não sabia, mas essa experiência seria a primeira de muitas no decorrer da jornada, e me traria grandes aprendizados.  

Anos mais tarde, por conta do trabalho na Kellogg, onde iniciei em 1996, passei um tempo em países como México, Venezuela e Guatemala. Em 2024, como vice-presidente e gerente-geral da Kellanova, passei a residir no Brasil. Apesar de sempre ter escutado: “somos todos iguais”, o fato é que cada lugar tem a sua cultura e costumes. E cabe àquele que está chegando respeitar estas pequenas diferenças e ser humilde para aprender e entender a nova perspectiva aberta. Estar inserido a grupos locais ajuda muito neste processo. Se agir desta maneira, será muito mais assertivo em todas as ações.  

Se a sua escolha for confrontar os costumes locais e colocar na cabeça que a sua cultura é superior à deles, será bastante complicado. Não existe uma cultura melhor do que a outra. Existem diferenças. E estranhamente, com o tempo, é possível que tome parte destas culturas para si. Eu, por exemplo, adoro a forma como os brasileiros enfrentam certos temas, bem como a maneira com que os mexicanos encaram a forma de entender as situações. Na Venezuela, onde estive por algum tempo, guardo a descoberta de que era visto como uma pessoa um pouco fechada, o que me fez tomar determinadas atitudes para ser mais extrovertido.  

Esteja atento aos insights 

Após a temporada nos Estados Unidos, retornamos à Colômbia. Já estava familiarizado com a vida universitária quando fui convocado para servir no Exército. Um ano depois retornei à faculdade e necessitei construir tudo de novo. Tinha comigo o desejo de seguir o ramo de finanças, mas os amigos me diziam sempre que poderia explorar outros nichos e passei a prestar mais atenção em diversas possibilidades.  

O primeiro emprego foi em uma companhia de promoções. Nós atendíamos marcas como Coca-Cola, Nestlé, Kellogg e tive a oportunidade de ver os planos de mercado de todas estas companhias. Gostei deste universo se abrindo diante dos meus olhos e decidi: Marketing era o caminho. Em 1996 iniciei como assistente de marcas na Kellogg Company e confesso que adorei esta parte de entender o consumidor e atuar no desenvolvimento de marcas e produtos. A partir deste ponto fui construindo a carreira e trabalhando em meus desafios favoritos.  

Seja a liderança exemplo, saindo do campo das ideias e partindo para a prática 

O líder deve desenvolver a capacidade de aprender. Para isso, deve ser humilde, íntegro, ouvir os que estão à sua volta e não julgar ser necessário ter decisões e respostas para tudo. Ele também deve ampliar a clareza estratégica e ser um comunicador bom e de consistência, para conseguir criar a onda de engajamento necessária às equipes. Por fim, não pode ficar no status quo; precisa estar sempre buscando novas ações. Em um mundo competitivo onde tudo acontece muito rápido, é inaceitável ficar estático. Afinal, ser um líder não se trata apenas de ter ideias geniais ou visões grandiosas; trata-se de arregaçar as mangas e torná-las uma realidade.  

Impaciência, a armadilha complicadora do sucesso da carreira 

Há certos momentos da vida em que necessitamos ser pacientes para aprender. Às vezes o sonho está em conseguir uma promoção em uma vaga de destaque, mas estarei pronto para assumi-la? Terei todas as qualidades necessárias para desempenhar a nova tarefa com excelência? Não é porque uma pessoa foi promovida em seis meses que eu necessito ser também. Aprendo algo novo todos os dias, absorvo o conteúdo que está chegando até mim e nunca me considero superior. Desenvolva seu potencial: o sucesso vem como consequência.  

O que fazer para se tornar um perfil atrativo 

Aqueles que trazem consigo a capacidade de se comunicar e engajar equipes são fundamentais em qualquer time. Contudo, existe outra característica igualmente importante: a coragem. Coragem para desafiar marcas e equipes, para que ambas se tornem melhores. Pessoas que dizem SIM a tudo não vão ser as que farão da equipe um sucesso. Sempre deverá existir uma certa tensão. As equipes devem ser compostas por perfis diversos, que consigam aprender uns com os outros. É esta mescla tornará o resultado mais interessante e produtivo. Trabalhar somente com aqueles que pensam exatamente como você pode ser fatal. Por quê? Porque se por um lado estar em um ambiente onde todos têm o mesmo pensamento — e a mesma eficiência — pode ser visto como algo positivo, por outro lado, uma quantidade de oportunidades pode se perder no meio do caminho. O sucesso se faz presente dentro de equipes diversas, onde pessoas distintas trazem ideias diferentes. 

Estabeleça metas, foque no resultado e seja consistente Como meu pai trabalhava com importações, passei os primeiros anos de minha vida vendo os movimentos de altos e baixos na vertente financeira. Por isso, decidi: na fase adulta possuirei mais constância e tranquilidade. E este pensamento me fez perceber o quanto é importante avaliar cada passo e construir uma disciplina com relação ao dinheiro. E esta disciplina não chega espontaneamente, ela precisa ser construída, por meio do hábito. Estabeleça uma meta, foque no resultado e seja consistente; este é o segredo. Agora, por onde começar? Qual o primeiro passo? Inicie a jornada estudando sobre o tema, participando de eventos, falando com pessoas, aprendendo o necessário. E comece este movimento o quanto antes. Só assim haverá a percepção se o seu perfil é mais conservador ou de risco e de quais investimentos fazem mais sentido em curto, médio e longo prazo.  

Abra-se para aprendizados 

Algumas vezes aprendemos mais com os fracassos do que com os sucessos. Em ambas as situações, será necessário lidar com desafios, sempre encarados como oportunidades de crescimento. Os primeiros enfrentados em minha carreira certamente estão ligados à minha chegada a novos países, onde precisei me adaptar, entender cada nova cultura e tentar construir, dentro do meu escopo, um caminho sólido, para deixar a operação na melhor posição durante um longo prazo. Assim, começava a traçar um legado.  

No entanto, também precisei lidar com fracassos. E quando isto aconteceu, percebi: algumas vezes fui demasiado otimista, ou não mantive a paciência necessária para tomar a decisão no momento mais oportuno. Eu sempre acreditei no conceito da Engenharia: muito do que precisamos em um negócio é a resiliência. Você necessita ter a capacidade para manejar o acaso e a volatilidade. Faz muita diferença a presença de mentores, pessoas de confiança que direcionarão a tomar as melhores decisões e atitudes.  

Mudanças fazem parte do processo: prepare-se e se adapte a elas 

Esteja preparado para a mudança. Isto é fundamental. No momento atual em que vivemos, onde tudo acontece de forma muito frenética, fique ciente de que, por mais que exista um plano de longo prazo com todas as previsibilidades, simplesmente as coisas vão mudar. E é preciso estar pronto para isto, desenvolver a capacidade não só de aceitar a mudança, como também de querer aprender constantemente algo novo por meio de livros, pessoas, cursos, dentre outros aprendizados. Vá em busca do conhecimento, progrida e expanda a mente sempre e cada vez mais. Só assim será capaz de enxergar oportunidades incríveis que estão à sua espera.  

Dica de leitura: Execução: A disciplina de fazer as coisas - Larry Bossidy, Ram Charan, Charles Burck - Editora Crown Business