É preciso estar acordado para o sonho se realizar
“Assumam as rédeas de suas vidas e sejam protagonistas de suas histórias”
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2022 às 16h25.
Por Fabiana Monteiro
A minha jornada sempre foi permeada por muitas batalhas e momentos de superação. Nasci em São Bento do Sapucaí, na divisa de Minas Gerais, mas vivi a minha primeira infância em Paraisópolis-MG, até os noves anos, junto aos meus pais – que se casaram bem jovens – e com meus dois irmãos. Sem muitos recursos, partimos para Campos do Jordão-SP com uma oportunidade de trabalho para os meus pais, sempre preocupados em nos proporcionar condições apropriadas e de acessibilidade ao ensino. Contudo, minha mãe e meu pai sabiam que precisaríamos migrar para uma região mais próspera e, embasados nesse pensamento, nos mudamos para São José dos Campos, um local estruturado, apesar de nos depararmos com outra realidade.
Vivemos em vários cenários adversos, pois nunca tivemos casa própria. Isso auxiliou a moldar a minha resiliência e me sinto uma pessoa capaz com ampla capacidade de adaptação, em função desses obstáculos iniciais. A família inteira mudava de bairro, de escola, de casa, e tudo isso trazia, ali, um processo de precisar compreender o novo. Meus pais ficaram preocupados com a violência, pois morávamos em um bairro muito humilde, sequer com ruas asfaltadas. Minha mãe foi procurar uma escola melhor para nós, mas que fosse pública. E precisávamos superar os preconceitos. Mesmo assim, nossos valores imperavam e eu era uma jovem, feliz e destemida.
Minha mãe sempre nos ensinou a não gastar energia com coisas negativas e coloquei essa lição em prática. Na oitava série, comecei a estudar à noite, pois trabalhava em período integral. Ao observar a minha trajetória, comecei bem cedo, assim como meus pais e irmãos. Meu pai, já mais adiante, se formou professor de matemática, exaltando a nossa história de superação e resiliência. Eu adoro a minha história e levo adiante esses fatos, traço uma comparação sadia em relação aos indivíduos que estudaram em escolas melhores. Houve muita luta para chegar aqui. Meus pais não possuíam dinheiro, mas sempre nos orientaram quanto a importância de estudar. Após ensino básico, subsidiei todos os meus estudos e quando comecei o Curso Técnico de Administração na Olavo Bilac, uma instituição particular e tradicional, meu pai me incentivou, explicando que, posteriormente, chegaria à faculdade.
Do curso técnico à graduação
Apesar de não ser uma excelente aluna nas disciplinas de exatas, resolvi fazer Engenharia Ambiental na Universidade do Vale do Paraíba. Fui “no peito e na raça” – compensava estudando com afinco, inclusive virando noites, debruçada nos livros, assim me destacando em outras matérias, até descobrir ser boa também em cálculos. Empregava dedicação e esforço para me desenvolver ao máximo. Em 1998, comecei um estágio no setor administrativo. Ao completar um ano na firma, o dono propôs renovar o contrato, e aleguei conhecer todas as funções. Em suma, minha audácia foi recompensada e obtive a almejada promoção, sendo efetivada.
Próxima de ingressar na faculdade, ponderei se realmente deveria investir em Administração, afinal, já havia experimentado as atribuições da carreira. Passei a pesquisar cursos e foi quando me deparei com a Engenharia Ambiental, então na primeira turma da UNIVAP. Descartei tentar uma vaga em uma universidade federal, pois demandaria tempo extra de estudo para conseguir entrar, mas já contava com o planejamento de como executaria o plano em formar. Trabalhava duro, tinha o meu dinheiro, e nos dois primeiros anos consegui uma bolsa parcial. Quando vi curso de Engenharia Ambiental, vislumbrei como algo promissor, uma faculdade do futuro, em uma área relativamente nova.
Nesse período, trabalhava no WOW do ramo alimentício, e me empolguei por estar no nicho industrial. Sempre fui uma pessoa dedicada, apesar de não ser uma aluna brilhante, e prestei o vestibular com toda logística preparada. A faculdade foi como um sonho que vivia diuturnamente. Eu não faltava, trabalhava o dia inteiro em outra cidade, em Caçapava, acordava cedo e era a primeira a pegar a van rumo ao trabalho. Só chegava em casa às 23h30. Aquilo representava algo indescritível e jamais questionei meus passos, apesar da rotina cansativa. E logo no início da faculdade, consegui que meu gestor me desse uma chance na área de meio ambiente. Lia muito, sobre tudo. E assim soube mais sobre o real papel profissional do segmento.
Comecei a me aprofundar nos estudos e a empresa em que trabalhava tinha uma Estação de Tratamento de Efluentes, longe do escritório. Ainda trabalhava no setor administrativo, então comecei, no horário do almoço, a visitar essa estação. Precisava atravessar pelo meio do mato e, um dia, meu gerente questionou sobre ter me visto saindo do matagal. Expliquei ao Roberto que estudava Engenharia Ambiental e gostava de conversar com os técnicos para ampliar o meu repertório. Ele elogiou a minha dedicação e perguntou mais sobre a minha trajetória. Depois de um mês ele me chamou e anunciou: “Tenho duas notícias para você, uma boa e uma ruim”. Ele ia me demitir do cargo, para ser realocada na área de Qualidade, e passaria a cuidar da Estação de Efluentes, incluindo um curso pago pela empresa para me especializar.
Passei a trabalhar no setor de Meio Ambiente, a minha primeira experiência nesse sentido. O Roberto foi muito generoso comigo, pois valorizou o meu empenho e me deu uma oportunidade. Na faculdade eu sequer precisei fazer estágio, pois consegui preencher toda a ficha com as atividades exercidas na companhia. Todavia, pretendia ingressar em uma multinacional, mas sem dominar o inglês era inviável. E encontrei uma solução para sanar o problema em um momento de tomada de decisão bastante significativo.
Comecei a estudar, praticava a semana inteira. Uma amiga me deu uma dica, a de ir para os EUA e passar pelo processo de au pair, um intercâmbio mais barato, para atuar como baby-sitter, vivendo na casa de uma família. Preenchi o formulário, organizei e expliquei a situação ao meu chefe, pois eu precisava do dinheiro da rescisão para pagar pelo intercâmbio.
Resolvi conversar diretamente com o Roberto e pontuar as minhas demandas. Ele ressaltou os inúmeros trabalhos realizados na companhia, como a implementação na área de reciclagem, a certificação no ISO 14001. Havia me desenvolvido; não estacionei somente em lugar. Fui firme e obtive êxito, ao me desligar com mais dinheiro guardado, para investir nessa empreitada. Embarquei para o programa de intercâmbio, imbuída de coragem, com o meu nível de inglês baixo, mas a família para qual trabalhava falava espanhol.
Estudava, levava as crianças para a escola e no intercâmbio a bolsa de estudos é providenciada para acelerar o aprendizado. Costumo classificar esse período como o primeiro divisor de águas na minha vida. O intercâmbio representou uma forte mudança de mentalidade, de visão de mundo, propiciando coragem, resiliência, tudo através do que se absorve, morando em um pais que não o é seu, morando com uma família que não é sua.
Estudei durante pouco mais de um ano no Nassau Community College, em Mineola, perto de Nova Iorque. O ESL, que é o inglês como segunda língua, paguei do meu bolso, pois minha verba com a família havia terminado. Como possuía dinheiro guardado, pude me manter. Abri mão de conhecer lugares e mantive o foco nos estudos e no trabalho para poder poupar os meus recursos.
Carreira, desafios e conquistas
O curso técnico foi importante, porque fui me desenvolvendo como profissional desde jovem, então quando entrei na faculdade, já possuía uma trajetória profissional agregada. Na WOW, comecei no administrativo, fui descobrindo um mundo de coisas, conversando com as pessoas, aprendendo com o meu chefe, ampliando o leque de possibilidades. Creio que essa minha curiosidade, aliada à vontade de aprender, determinou um fator decisivo de sucesso e a decisão pelo intercâmbio significou um mindset responsável por reorganizar a minha vida, pois quando voltei, enfim, entrei na Gerdau, em 2006.
Certamente, os principais motivos para atingir tal meta foi o de ter aprendido o inglês e convivido com outra cultura. Além de já ter a experiência na área ambiental, com ampla capacidade, com uma trajetória sólida, constituída com o auxílio de gestores excelentes, com relações interpessoais marcadas pela lealdade. Quando voltei dos EUA e assumi o meu posto na Gerdau, o grau de maturidade crescera. O RH da empresa fez o contato e me convidou para participar do processo seletivo e o efetuei, sem influência externa.
Na Gerdau tive contato com outro mundo. E sempre atenta ao que o meu gestor praticava. A observação me fez a prestar atenção no que ele estudava e o MBA entrou na minha mira. Procurei conhecer a fundo a trajetória dos outros profissionais para estabelecer o networking adequado. O relacionamento interpessoal é primordial e ter a humildade em aprender e pedir ajuda ao se deparar com uma demanda que não se tem o domínio, também.
Atingindo novos patamares
Durante a minha trajetória na Gerdau, eu era gestora de contato do Grupo Ambipar, que se chamava Ambitec. Eu era a responsável por esses processos, logo tinha extrema proximidade com a outra firma, devido às reuniões, checagens de resultados e contratos. Assim começou esse relacionamento, até que, em determinado momento, tive a oportunidade de me reunir com o dono da Ambitec. Ao término da reunião, esse executivo mencionou que eu ainda trabalharia com ele. Passado um ano, em 2008, fui convidada para conversar – uma proposta irrecusável havia sido formulada. Porém, tinha me casado, recentemente, construído minha casa em Pindamonhangaba e fiquei muito receosa em ir para o Espírito Santo. Cedi à insistência e optei por escutar a oferta que era excelente. Fui convidada para ser Gerente Técnica dos Projetos das Operações, um salto imenso em minha carreira. Ponderei o fato de poder me desenvolver como gestora, além das vantagens financeiras e, sendo assim, conversei com o meu esposo e minha família, e decidi seguir o desafio.
Soma-se a todos esses elementos a possibilidade de, enfim, conseguir realizar o meu MBA em Gestão Empresarial, na FGV, aprendendo e colocando em prática os conhecimentos nas áreas de finanças, estratégias, business plan e novos projetos. Um grande processo de mudança foi estabelecido, com o fortalecimento através do coaching, algo bastante ativo na empresa. Eu era uma profissional com dúvidas sobre assuntos diversos, mas amadureci rapidamente. Minhas mentoras até hoje, Izabela Mioto e Claudia Serrano participaram de projetos comigo e me ajudaram a repensar alguns planos e a seguir meus valores.
Em 2012, ingressei na FIBRIA, que posteriormente foi adquirida pela Suzano, como Coordenadora de Meio Ambiente. A vaga me proporcionou estar perto de casa, no Vale do Paraíba e eu tinha muita vontade de ficar mais próxima do meu marido – vivia quase que exclusivamente para o trabalho – minha vida pessoal estava ficando de lado. Então, passei a questionar tais fatores em busca do equilíbrio e foi quando o coaching me ajudou. Marcou uma fase de inflexão, de procurar meu verdadeiro potencial como profissional, como pessoa, o que fazia sentido para mim. Ao analisar o mercado, tomei a decisão de migrar para a FIBRIA.
Redirecionando caminhos profissionais
Eu me desenvolvi muito, pois a FIBRIA era uma empresa de excelência no departamento de processos, e bem hierarquizada – algo diferenciado em relação à Ambipar, de caráter familiar. Eu me desenvolvi demais como gestora, no sentido de analisar e compreender o começo, meio e o fim. Estabeleci como Gerenciadora de Projetos e em função disso, de me sentir mais preparada, regressei para um grande desafio em um novo momento da Ambipar, em 2015. Foram seis anos de dedicação intensa e tenho uma enorme admiração pela empresa, na qual participei da preparação para o IPO, com o intuito de estabelecer o plano estratégico da extensão dos negócios e, por conseguinte, fortalecer à internacionalização da companhia. Queria ser desafiada como Executiva Plena, e quando se está perto do dono da empresa, que dá as regras, existe liberdade, mas mesmo assim falta espaço para se expor ideias próprias. Voltei a rever algumas questões sobre a importância de um novo ciclo profissional, com desafios em segmentos diferentes – contabilizando as minhas duas passagens pela Ambipar, somei quase dez anos de empresa.
Conto com um networking extremamente forte e, em setembro de 2021, fui contatada por uma head hunter que me apresentou uma proposta interessante, mas sem anunciar à empresa em questão, somente indicando o setor de infraestrutura e a responsabilidade de reestruturação de uma nova estratégia na agenda ESG, reportando diretamente à vice-presidência de Governança. Assim, no começo de dezembro daquele ano, ingressei na CCR S.A como Superintendente de Sustentabilidade. A minha posição consolida um momento de continuidade na consolidação de uma carreira executiva. Uma fase importante em reforçar a transversalidade acerca do tema da sustentabilidade com os pilares ESG, na companhia, de forma estratégica que me agradou. Após um processo árduo fui a escolhida, em pleno período de pandemia, uma seleção desafiadora, responsável por conhecer a minha posição no mercado.
“Assumam as rédeas de suas vidas e sejam protagonistas de suas histórias”
Triunfos e percalços rumo ao sucesso
Jamais deixaria de mencionar a Ambipar como uma companhia que fez parte da minha carreira, por pavimentar grande parte da minha jornada. Devo muito ao que sou hoje pela decisão de me arriscar, acertar ao fazer intercâmbio, e de ter a coragem para mudar de trabalho algumas vezes, o que nos desafia a mostrar nossa capacidade em um novo ambiente e em uma nova gestão. O mindset desenvolvido na Gerdau se complementa no contexto da minha formação em direção aos novos desafios, de posicionar-me como uma executiva reconhecida na área de atuação.
Obviamente, um fator decisivo de sucesso no mundo corporativo é saber se relacionar adequadamente. Ao ocupar um cargo de analista, as coisas se apresentam de forma mais claras, já no executivo as regras são mais exigentes – o desafio é maior. A solução é simples: jamais leve para o lado pessoal, mas, sim, dissocie e siga em frente, com capacidade de abstração.
Olho adiante, extraio as lições e piso com cuidado diante do caminho que se estende à minha frente. Compreendo o meu lugar, minhas responsabilidades pela entrega de resultados, conciliando a capacidade de ouvir, para assim me posicionar, ou até mesmo recuar. Essa fórmula exige a criação de alianças, pois um executivo isolado não chega a lugar algum. O bom gestor e líder saberá conduzir o seu time para obter resultados em virtude da capacidade relacional, gerenciando o potencial do capital humano – este é o maior desafio do líder moderno.
O perfil desse novo líder requer características específicas, como estar sempre “antenado”, dotado de amplo conhecimento em diversas áreas, capacitado com o máximo de informações técnicas e habilidade de comunicar-se bem e conquistar a confiança das pessoas. Analisar as tendências globais, os cenários políticos, econômicos e tecnológicos. Inspirar os indivíduos a seu redor remete a uma essência libertadora. O pensar “fora da caixa” propicia a análise global e extrapola o olhar focado somente para a empresa ou momento profissional. O cargo executivo exige essa amplitude fundamental de observação, com o intuito de contemplar o todo.
A coragem abre portas para novos aprendizados
As habilidades comportamentais que considero primordiais para se edificar uma carreira bem-sucedida passam por etapas, dentre as quais, manter-se constantemente atualizado. Enfim, essa característica está intrinsicamente conectada ao aprendizado contínuo e ao desejo de se aprimorar a todo instante. O líder deve ter sempre como base o respeito e conhecer cada um da equipe, reconhecer seus pontos fortes e assim como suas respectivas trajetórias. As pessoas têm seus objetivos próprios e incentivar tais empreitadas valoriza cada membro do time.
A coragem é o fio condutor que leva às conquistas e impossibilita a possibilidade de o profissional cair na perigosa, zona de conforto. Exemplo nítido em como a força mental é importante pode ser explicada pelo contexto da pandemia. De certa forma, esse momento de grandes desafios, em sua grande parte, desconhecidos, se faz necessário para ser encarado com esperança, disciplina, foco e criatividade. Assim, diz o ditado: “Em momento de crise, seja criativo”.
Não existe sucesso sem estudarmos, já que somos eternos aprendizes. O estudo é um passaporte, abre portas, mas ele não lhe garante uma conquista sem esforço. O mesmo vale para o networking e a constante troca de ideias. Evite ficar obsoleto e desperdiçar oportunidades, e invista em seus pontos fortes. Por isso indico, como fonte de sabedoria, justamente um livro inspirador nesse sentido: “Descubra os seus pontos fortes ”, de Don Clifton e Tom Rath.
“Esteja sempre atento às pessoas que lhe cercam, você será o resumo das cincos pessoas mais próximas a você. Nossas escolhas diárias determinam onde chegaremos – saiba escolher as suas batalhas”
Por Fabiana Monteiro
A minha jornada sempre foi permeada por muitas batalhas e momentos de superação. Nasci em São Bento do Sapucaí, na divisa de Minas Gerais, mas vivi a minha primeira infância em Paraisópolis-MG, até os noves anos, junto aos meus pais – que se casaram bem jovens – e com meus dois irmãos. Sem muitos recursos, partimos para Campos do Jordão-SP com uma oportunidade de trabalho para os meus pais, sempre preocupados em nos proporcionar condições apropriadas e de acessibilidade ao ensino. Contudo, minha mãe e meu pai sabiam que precisaríamos migrar para uma região mais próspera e, embasados nesse pensamento, nos mudamos para São José dos Campos, um local estruturado, apesar de nos depararmos com outra realidade.
Vivemos em vários cenários adversos, pois nunca tivemos casa própria. Isso auxiliou a moldar a minha resiliência e me sinto uma pessoa capaz com ampla capacidade de adaptação, em função desses obstáculos iniciais. A família inteira mudava de bairro, de escola, de casa, e tudo isso trazia, ali, um processo de precisar compreender o novo. Meus pais ficaram preocupados com a violência, pois morávamos em um bairro muito humilde, sequer com ruas asfaltadas. Minha mãe foi procurar uma escola melhor para nós, mas que fosse pública. E precisávamos superar os preconceitos. Mesmo assim, nossos valores imperavam e eu era uma jovem, feliz e destemida.
Minha mãe sempre nos ensinou a não gastar energia com coisas negativas e coloquei essa lição em prática. Na oitava série, comecei a estudar à noite, pois trabalhava em período integral. Ao observar a minha trajetória, comecei bem cedo, assim como meus pais e irmãos. Meu pai, já mais adiante, se formou professor de matemática, exaltando a nossa história de superação e resiliência. Eu adoro a minha história e levo adiante esses fatos, traço uma comparação sadia em relação aos indivíduos que estudaram em escolas melhores. Houve muita luta para chegar aqui. Meus pais não possuíam dinheiro, mas sempre nos orientaram quanto a importância de estudar. Após ensino básico, subsidiei todos os meus estudos e quando comecei o Curso Técnico de Administração na Olavo Bilac, uma instituição particular e tradicional, meu pai me incentivou, explicando que, posteriormente, chegaria à faculdade.
Do curso técnico à graduação
Apesar de não ser uma excelente aluna nas disciplinas de exatas, resolvi fazer Engenharia Ambiental na Universidade do Vale do Paraíba. Fui “no peito e na raça” – compensava estudando com afinco, inclusive virando noites, debruçada nos livros, assim me destacando em outras matérias, até descobrir ser boa também em cálculos. Empregava dedicação e esforço para me desenvolver ao máximo. Em 1998, comecei um estágio no setor administrativo. Ao completar um ano na firma, o dono propôs renovar o contrato, e aleguei conhecer todas as funções. Em suma, minha audácia foi recompensada e obtive a almejada promoção, sendo efetivada.
Próxima de ingressar na faculdade, ponderei se realmente deveria investir em Administração, afinal, já havia experimentado as atribuições da carreira. Passei a pesquisar cursos e foi quando me deparei com a Engenharia Ambiental, então na primeira turma da UNIVAP. Descartei tentar uma vaga em uma universidade federal, pois demandaria tempo extra de estudo para conseguir entrar, mas já contava com o planejamento de como executaria o plano em formar. Trabalhava duro, tinha o meu dinheiro, e nos dois primeiros anos consegui uma bolsa parcial. Quando vi curso de Engenharia Ambiental, vislumbrei como algo promissor, uma faculdade do futuro, em uma área relativamente nova.
Nesse período, trabalhava no WOW do ramo alimentício, e me empolguei por estar no nicho industrial. Sempre fui uma pessoa dedicada, apesar de não ser uma aluna brilhante, e prestei o vestibular com toda logística preparada. A faculdade foi como um sonho que vivia diuturnamente. Eu não faltava, trabalhava o dia inteiro em outra cidade, em Caçapava, acordava cedo e era a primeira a pegar a van rumo ao trabalho. Só chegava em casa às 23h30. Aquilo representava algo indescritível e jamais questionei meus passos, apesar da rotina cansativa. E logo no início da faculdade, consegui que meu gestor me desse uma chance na área de meio ambiente. Lia muito, sobre tudo. E assim soube mais sobre o real papel profissional do segmento.
Comecei a me aprofundar nos estudos e a empresa em que trabalhava tinha uma Estação de Tratamento de Efluentes, longe do escritório. Ainda trabalhava no setor administrativo, então comecei, no horário do almoço, a visitar essa estação. Precisava atravessar pelo meio do mato e, um dia, meu gerente questionou sobre ter me visto saindo do matagal. Expliquei ao Roberto que estudava Engenharia Ambiental e gostava de conversar com os técnicos para ampliar o meu repertório. Ele elogiou a minha dedicação e perguntou mais sobre a minha trajetória. Depois de um mês ele me chamou e anunciou: “Tenho duas notícias para você, uma boa e uma ruim”. Ele ia me demitir do cargo, para ser realocada na área de Qualidade, e passaria a cuidar da Estação de Efluentes, incluindo um curso pago pela empresa para me especializar.
Passei a trabalhar no setor de Meio Ambiente, a minha primeira experiência nesse sentido. O Roberto foi muito generoso comigo, pois valorizou o meu empenho e me deu uma oportunidade. Na faculdade eu sequer precisei fazer estágio, pois consegui preencher toda a ficha com as atividades exercidas na companhia. Todavia, pretendia ingressar em uma multinacional, mas sem dominar o inglês era inviável. E encontrei uma solução para sanar o problema em um momento de tomada de decisão bastante significativo.
Comecei a estudar, praticava a semana inteira. Uma amiga me deu uma dica, a de ir para os EUA e passar pelo processo de au pair, um intercâmbio mais barato, para atuar como baby-sitter, vivendo na casa de uma família. Preenchi o formulário, organizei e expliquei a situação ao meu chefe, pois eu precisava do dinheiro da rescisão para pagar pelo intercâmbio.
Resolvi conversar diretamente com o Roberto e pontuar as minhas demandas. Ele ressaltou os inúmeros trabalhos realizados na companhia, como a implementação na área de reciclagem, a certificação no ISO 14001. Havia me desenvolvido; não estacionei somente em lugar. Fui firme e obtive êxito, ao me desligar com mais dinheiro guardado, para investir nessa empreitada. Embarquei para o programa de intercâmbio, imbuída de coragem, com o meu nível de inglês baixo, mas a família para qual trabalhava falava espanhol.
Estudava, levava as crianças para a escola e no intercâmbio a bolsa de estudos é providenciada para acelerar o aprendizado. Costumo classificar esse período como o primeiro divisor de águas na minha vida. O intercâmbio representou uma forte mudança de mentalidade, de visão de mundo, propiciando coragem, resiliência, tudo através do que se absorve, morando em um pais que não o é seu, morando com uma família que não é sua.
Estudei durante pouco mais de um ano no Nassau Community College, em Mineola, perto de Nova Iorque. O ESL, que é o inglês como segunda língua, paguei do meu bolso, pois minha verba com a família havia terminado. Como possuía dinheiro guardado, pude me manter. Abri mão de conhecer lugares e mantive o foco nos estudos e no trabalho para poder poupar os meus recursos.
Carreira, desafios e conquistas
O curso técnico foi importante, porque fui me desenvolvendo como profissional desde jovem, então quando entrei na faculdade, já possuía uma trajetória profissional agregada. Na WOW, comecei no administrativo, fui descobrindo um mundo de coisas, conversando com as pessoas, aprendendo com o meu chefe, ampliando o leque de possibilidades. Creio que essa minha curiosidade, aliada à vontade de aprender, determinou um fator decisivo de sucesso e a decisão pelo intercâmbio significou um mindset responsável por reorganizar a minha vida, pois quando voltei, enfim, entrei na Gerdau, em 2006.
Certamente, os principais motivos para atingir tal meta foi o de ter aprendido o inglês e convivido com outra cultura. Além de já ter a experiência na área ambiental, com ampla capacidade, com uma trajetória sólida, constituída com o auxílio de gestores excelentes, com relações interpessoais marcadas pela lealdade. Quando voltei dos EUA e assumi o meu posto na Gerdau, o grau de maturidade crescera. O RH da empresa fez o contato e me convidou para participar do processo seletivo e o efetuei, sem influência externa.
Na Gerdau tive contato com outro mundo. E sempre atenta ao que o meu gestor praticava. A observação me fez a prestar atenção no que ele estudava e o MBA entrou na minha mira. Procurei conhecer a fundo a trajetória dos outros profissionais para estabelecer o networking adequado. O relacionamento interpessoal é primordial e ter a humildade em aprender e pedir ajuda ao se deparar com uma demanda que não se tem o domínio, também.
Atingindo novos patamares
Durante a minha trajetória na Gerdau, eu era gestora de contato do Grupo Ambipar, que se chamava Ambitec. Eu era a responsável por esses processos, logo tinha extrema proximidade com a outra firma, devido às reuniões, checagens de resultados e contratos. Assim começou esse relacionamento, até que, em determinado momento, tive a oportunidade de me reunir com o dono da Ambitec. Ao término da reunião, esse executivo mencionou que eu ainda trabalharia com ele. Passado um ano, em 2008, fui convidada para conversar – uma proposta irrecusável havia sido formulada. Porém, tinha me casado, recentemente, construído minha casa em Pindamonhangaba e fiquei muito receosa em ir para o Espírito Santo. Cedi à insistência e optei por escutar a oferta que era excelente. Fui convidada para ser Gerente Técnica dos Projetos das Operações, um salto imenso em minha carreira. Ponderei o fato de poder me desenvolver como gestora, além das vantagens financeiras e, sendo assim, conversei com o meu esposo e minha família, e decidi seguir o desafio.
Soma-se a todos esses elementos a possibilidade de, enfim, conseguir realizar o meu MBA em Gestão Empresarial, na FGV, aprendendo e colocando em prática os conhecimentos nas áreas de finanças, estratégias, business plan e novos projetos. Um grande processo de mudança foi estabelecido, com o fortalecimento através do coaching, algo bastante ativo na empresa. Eu era uma profissional com dúvidas sobre assuntos diversos, mas amadureci rapidamente. Minhas mentoras até hoje, Izabela Mioto e Claudia Serrano participaram de projetos comigo e me ajudaram a repensar alguns planos e a seguir meus valores.
Em 2012, ingressei na FIBRIA, que posteriormente foi adquirida pela Suzano, como Coordenadora de Meio Ambiente. A vaga me proporcionou estar perto de casa, no Vale do Paraíba e eu tinha muita vontade de ficar mais próxima do meu marido – vivia quase que exclusivamente para o trabalho – minha vida pessoal estava ficando de lado. Então, passei a questionar tais fatores em busca do equilíbrio e foi quando o coaching me ajudou. Marcou uma fase de inflexão, de procurar meu verdadeiro potencial como profissional, como pessoa, o que fazia sentido para mim. Ao analisar o mercado, tomei a decisão de migrar para a FIBRIA.
Redirecionando caminhos profissionais
Eu me desenvolvi muito, pois a FIBRIA era uma empresa de excelência no departamento de processos, e bem hierarquizada – algo diferenciado em relação à Ambipar, de caráter familiar. Eu me desenvolvi demais como gestora, no sentido de analisar e compreender o começo, meio e o fim. Estabeleci como Gerenciadora de Projetos e em função disso, de me sentir mais preparada, regressei para um grande desafio em um novo momento da Ambipar, em 2015. Foram seis anos de dedicação intensa e tenho uma enorme admiração pela empresa, na qual participei da preparação para o IPO, com o intuito de estabelecer o plano estratégico da extensão dos negócios e, por conseguinte, fortalecer à internacionalização da companhia. Queria ser desafiada como Executiva Plena, e quando se está perto do dono da empresa, que dá as regras, existe liberdade, mas mesmo assim falta espaço para se expor ideias próprias. Voltei a rever algumas questões sobre a importância de um novo ciclo profissional, com desafios em segmentos diferentes – contabilizando as minhas duas passagens pela Ambipar, somei quase dez anos de empresa.
Conto com um networking extremamente forte e, em setembro de 2021, fui contatada por uma head hunter que me apresentou uma proposta interessante, mas sem anunciar à empresa em questão, somente indicando o setor de infraestrutura e a responsabilidade de reestruturação de uma nova estratégia na agenda ESG, reportando diretamente à vice-presidência de Governança. Assim, no começo de dezembro daquele ano, ingressei na CCR S.A como Superintendente de Sustentabilidade. A minha posição consolida um momento de continuidade na consolidação de uma carreira executiva. Uma fase importante em reforçar a transversalidade acerca do tema da sustentabilidade com os pilares ESG, na companhia, de forma estratégica que me agradou. Após um processo árduo fui a escolhida, em pleno período de pandemia, uma seleção desafiadora, responsável por conhecer a minha posição no mercado.
“Assumam as rédeas de suas vidas e sejam protagonistas de suas histórias”
Triunfos e percalços rumo ao sucesso
Jamais deixaria de mencionar a Ambipar como uma companhia que fez parte da minha carreira, por pavimentar grande parte da minha jornada. Devo muito ao que sou hoje pela decisão de me arriscar, acertar ao fazer intercâmbio, e de ter a coragem para mudar de trabalho algumas vezes, o que nos desafia a mostrar nossa capacidade em um novo ambiente e em uma nova gestão. O mindset desenvolvido na Gerdau se complementa no contexto da minha formação em direção aos novos desafios, de posicionar-me como uma executiva reconhecida na área de atuação.
Obviamente, um fator decisivo de sucesso no mundo corporativo é saber se relacionar adequadamente. Ao ocupar um cargo de analista, as coisas se apresentam de forma mais claras, já no executivo as regras são mais exigentes – o desafio é maior. A solução é simples: jamais leve para o lado pessoal, mas, sim, dissocie e siga em frente, com capacidade de abstração.
Olho adiante, extraio as lições e piso com cuidado diante do caminho que se estende à minha frente. Compreendo o meu lugar, minhas responsabilidades pela entrega de resultados, conciliando a capacidade de ouvir, para assim me posicionar, ou até mesmo recuar. Essa fórmula exige a criação de alianças, pois um executivo isolado não chega a lugar algum. O bom gestor e líder saberá conduzir o seu time para obter resultados em virtude da capacidade relacional, gerenciando o potencial do capital humano – este é o maior desafio do líder moderno.
O perfil desse novo líder requer características específicas, como estar sempre “antenado”, dotado de amplo conhecimento em diversas áreas, capacitado com o máximo de informações técnicas e habilidade de comunicar-se bem e conquistar a confiança das pessoas. Analisar as tendências globais, os cenários políticos, econômicos e tecnológicos. Inspirar os indivíduos a seu redor remete a uma essência libertadora. O pensar “fora da caixa” propicia a análise global e extrapola o olhar focado somente para a empresa ou momento profissional. O cargo executivo exige essa amplitude fundamental de observação, com o intuito de contemplar o todo.
A coragem abre portas para novos aprendizados
As habilidades comportamentais que considero primordiais para se edificar uma carreira bem-sucedida passam por etapas, dentre as quais, manter-se constantemente atualizado. Enfim, essa característica está intrinsicamente conectada ao aprendizado contínuo e ao desejo de se aprimorar a todo instante. O líder deve ter sempre como base o respeito e conhecer cada um da equipe, reconhecer seus pontos fortes e assim como suas respectivas trajetórias. As pessoas têm seus objetivos próprios e incentivar tais empreitadas valoriza cada membro do time.
A coragem é o fio condutor que leva às conquistas e impossibilita a possibilidade de o profissional cair na perigosa, zona de conforto. Exemplo nítido em como a força mental é importante pode ser explicada pelo contexto da pandemia. De certa forma, esse momento de grandes desafios, em sua grande parte, desconhecidos, se faz necessário para ser encarado com esperança, disciplina, foco e criatividade. Assim, diz o ditado: “Em momento de crise, seja criativo”.
Não existe sucesso sem estudarmos, já que somos eternos aprendizes. O estudo é um passaporte, abre portas, mas ele não lhe garante uma conquista sem esforço. O mesmo vale para o networking e a constante troca de ideias. Evite ficar obsoleto e desperdiçar oportunidades, e invista em seus pontos fortes. Por isso indico, como fonte de sabedoria, justamente um livro inspirador nesse sentido: “Descubra os seus pontos fortes ”, de Don Clifton e Tom Rath.
“Esteja sempre atento às pessoas que lhe cercam, você será o resumo das cincos pessoas mais próximas a você. Nossas escolhas diárias determinam onde chegaremos – saiba escolher as suas batalhas”