Exame.com
Continua após a publicidade

Diversidade é importante e traz benefícios para a organização

Daniel Arouca desenvolveu toda a sua carreira na Colgate. Entrou como estagiário e alcançou posições permanentes dentro da empresa

DANIEL AROUCA

Diretor de Recursos Humanos na Colgate (Divulgação/Divulgação)
DANIEL AROUCA Diretor de Recursos Humanos na Colgate (Divulgação/Divulgação)
H
Histórias de sucesso

Publicado em 4 de fevereiro de 2022 às, 14h04.

Por Fabiana Monteiro

Sou filho único de uma família de classe média e nasci em São Bernardo do Campo, na região do ABC Paulista, em 24 de fevereiro de 1981. Sou casado desde 2010 com Renata Sansoni Francisco e temos uma filha, Ana Clara Sansoni Francisco, de dez anos. Meu pai, Carlos Antônio Francisco, hoje aposentado, foi um executivo da área de vendas com experiência em várias empresas locais e multinacionais, e, junto com minha mãe, Célia Maria Arouca Francisco, hoje artista plástica, e com experiência profissional como bancária durante muitos anos, foram essenciais na minha formação, educação, e incentivo para que eu buscasse inspiração e começasse na minha trajetória profissional. Então, tive estas referências dentro de casa e isso contribui para formar minha visão e despertar em mim o desejo de também fazer parte do mundo corporativo. Quanto à escolha por Recursos Humanos, foi algo bem natural, visto que sempre fui muito voltado para as pessoas, no olhar humano e por acreditar no potencial que podem agregar ao negócio com resultados extraordinários.

Fiz, entre 2000 e 2004, Administração na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Meu interesse inicial era me especializar em Marketing. Entretanto, no meio do curso, recebi uma mensagem de um amigo informando que a Colgate-Palmolive Brasil estava procurando estagiários, tanto para RH quanto para área de Marketing. Fiz a inscrição e, duas semanas depois, alguém da empresa me ligou e disse que tinha uma boa e má notícia. A boa era que eles tinham gostado do meu perfil e a má era que não seria para Marketing, para o qual tinha me credenciado. Ofereceram-me, então, uma oportunidade no RH, e aceitei, para nunca mais sair.

Continuei os estudos na ESPM, realizando uma formação híbrida em Marketing e RH. Depois, especializei em RH para me reciclar e buscar ser um profissional mais completo. Nisso, acabei fazendo um curso específico, em 2005, na Universidade de Irvine, Califórnia (EUA); e também, posteriormente, um MBA em Gestão de Pessoas, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre 2009 e 2010. Aprendizado e a incansável busca por conhecimento sempre estiveram no meu radar e, com a pandemia, encontrei uma oportunidade para fazer uma formação executiva à distância com foco em Recursos Humanos na Wharton School da Universidade da Pensilvânia, reconhecida mundialmente pelo seu rigor acadêmico no campo da Administração.

O objetivo é sempre reciclar conhecimento, pois o aprendizado contínuo é fundamental. É preciso atualização para não ficar obsoleto, independentemente da posição em que se ocupa. É isso que torna o profissional eficiente para a organização e faz com que ele leve para dentro da companhia o que está acontecendo no mercado. Precisamos nos atualizar o tempo todo, e a pandemia da Covid-19 exemplifica o que estou dizendo. Conhecimento é valioso e é essencial para que nos tornemos seres humanos melhores e profissionais mais completos. Essa é a filosofia que trago comigo.

Dos verdadeiros mentores vêm as verdades

Já tenho um bom tempo de estrada e tive a felicidade de ter comigo excelentes líderes e bons exemplos. Com eles aprendi a gerenciar gente e a lidar com situações complexas, que são aqueles momentos em que realmente crescemos. Consegui me sobressair no que faço não só pela capacidade pessoal, mas também pelas dicas importantes dos verdadeiros mentores que tive na vida. Destes vêm as verdades, de fato, e não simplesmente aquilo que estamos fazendo bem. Todos temos os nossos pontos cegos, contudo estas pessoas, de uma forma transparente e construtora, nos fazem enxergar estas fragilidades, corrigi-las e nos aperfeiçoarmos. Uma dessas, para mim, foi a americana Cathy Dillane. Ela já está aposentada da Colgate, porém mantemos a amizade até hoje. Trabalhei com ela em dois momentos específicos ao longo da minha carreira. O primeiro foi em Nova York, onde estive entre abril de 2014 e fevereiro de 2016, eu na condição de gerente de RH para a América Latina e ela como vice-presidente de RH. E depois, entre 2018 e 2019, quando voltei para o Brasil, em que ela não era minha líder direta, mas a líder funcional de RH. Ambos foram desafios muito grandes e, felizmente, pude contar com a ajuda e a participação dela. Deu-me um caminho e tranquilidade para fazer o meu trabalho, além de oferecer ajuda e apoio humano. Ela fez com que eu olhasse para meus pontos positivos e para aqueles que tinha de melhorar. Tudo isso de uma forma muito respeitosa, fazendo-me sentir valorizado.

O desafio de ser um expatriado

São quase 20 anos de Colgate. Entrei como estagiário e galguei posições permanentes dentro da empresa. No primeiro momento, foram 12 anos de Brasil, entre 2002 e 2014, quando passei por todos os subsistemas de Recursos Humanos – fábrica, compensação, relações laborais, administração de pessoal. Neste intervalo, tive também uma primeira passagem de quase um ano por Nova York, entre outubro de 2006 e julho de 2007, em um projeto não permanente. Foi uma experiência incrível, e aprendi muito no aspecto pessoal e profissional.

Participei do projeto e, posteriormente, voltei para o Brasil, agora com uma bagagem internacional riquíssima e com uma boa alavancada no inglês e no espanhol. A partir daí, comecei a assumir posições de mais destaque na subsidiária brasileira, como a gerência de Treinamento e Desenvolvimento (entre 2009 e 2012) e, posteriormente, a gerência de Recursos Humanos. Em abril de 2014, dei início a uma nova experiência internacional, desta vez permanente e bem diferente daquela que tinha tido oito anos antes. Agora, já era casado e tinha uma filha, com três anos na época. Fui na condição de gerente de RH para a América Latina, baseado em Nova York.

Foi um desafio incrível. Pude ter contato com outras subsidiárias e culturas e isso me deu uma visão geral do negócio. Fiquei dois anos naquela posição e me ofereceram uma nova oportunidade promocional, dentro dos próprios Estados Unidos. Assim, eu, que estava me dedicando à América Latina, passei para uma outra divisão da companhia americana, para ser o business partner de Recursos Humanos para a área de Marketing, visualizando tudo, desde o plano de sucessão até a parte de relações de trabalho. Ali, pude conhecer outras conexões e uma outra cultura. Em 2017, fui convidado para ir para o México, para a maior fábrica do mundo da Colgate. É um complexo gigantesco, onde se encontram todas as categorias presentes na mesma fábrica, desde home care e personal care a oral care. Essa fábrica tem aproximadamente 2 mil funcionários permanentes e quase igual número de terceirizados. Mais uma vez, foi uma experiência incrível e que me deu exposição no tratamento com as relações laborais e a parte sindical.

Nisso, somando Estados Unidos e México, foram quatro anos fora do Brasil. E acredite: não é fácil a vida de expatriado. As pessoas pensam apenas no lado positivo da experiência de viver em um outro país, todavia, é como um iceberg: vê-se apenas uma pequena parte. Saímos completamente da zona de conforto e a exigência de adaptação é constante. Se o aprendizado é grande, o desafio é maior. Ainda mais para quem muda com a família e tem filhos. Felizmente, para mim, a minha foi muito importante nessa conexão. Renata e Ana Clara foram meu porto seguro, como são até hoje, não só quando estava fora, mas ao longo de quase toda minha trajetória, permitindo que eu seja bem-sucedido nos meus projetos. Por isso, sou muito grato a elas.

No entanto, enfim, em 2018, recebi um convite para voltar ao Brasil, para a posição em que me encontro hoje, de diretor de RH Brasil. Vim para substituir o profissional que foi meu chefe durante muitos anos e que estava se aposentando. Pesou muito na decisão a relevância dessa oportunidade profissional, em que poderia desenvolver projetos incríveis. Mas também questões pessoais e familiares. Já estava há um bom tempo fora, longe dos meus pais (sou filho único, como disse no início) e fazendo com minha filha crescesse longe dos seus avós e demais parentes. Assim, conversando com minha esposa, entendemos que, realmente, já era hora de retornar naquele momento. E não me arrependo disso.

Diversidade, equidade e inclusão

Venho construindo uma carreira bem-sucedida, com alguns resultados práticos, e da qual me orgulho. Julgo que meu primeiro grande caso de sucesso foi minha passagem pela divisão América Latina. Precisava fazer a gestão de todos os aspectos de RH, saber o que estava acontecendo em todos os países latino-americanos. Tive de aprender a me relacionar com a cultura de cada um desses lugares e conseguimos implementar tudo que foi idealizado. Depois, como resultado da experiência na Colgate dos Estados Unidos, nasceu um projeto incrível sobre diversidade, equidade e inclusão. Hoje fala-se muito sobre esses temas, mas fizemos isso lá atrás, e foi muito significativo para mim. Eu era o latino em um ambiente essencialmente americano.

Tinha muitos temas relacionados a isso, por exemplo, como são feitas as contratações ou um plano de sucessão sem ter um viés inconsciente se o candidato é latino ou asiático, homem ou mulher, indiferente à sua orientação sexual ou identidade de gênero. Então, tínhamos um problema relacionado a isso e foi uma oportunidade de implementar uma solução. Com o programa, recorremos a workshops e consultoria externa e preparamos e ajudamos nossos líderes a remover o viés inconsciente e focar essencialmente nos pontos que dizem respeito à performance. Isso foi muito significativo para mim.

Outro case de sucesso se conecta com os anteriores, pois diz respeito à minha volta para o Brasil, em 2019. Neste retorno, busquei refletir e trabalhar em processos que trazem mais diversidade para o ambiente de trabalho, mais focado na questão de etnia. O objetivo era representar mais o Brasil dentro da Colgate. Hoje, 56% da população brasileira se declara preta ou parda. E, infelizmente, não temos essa mesma representação dentro das empresas, falando de maneira geral. Então, criamos uma visão e plano de ação para melhor representar a diversidade do Brasil dentro da Colgate.  Para isso, construímos alguns pilares estratégicos, que incluem aquisição de talentos, conscientização dos funcionários e elevação da importância dada ao tema dentro da Colgate.

Diversidade é importante e traz benefícios para a companhia, não só do ponto de vista da marca, mas também de melhor representação dos nossos consumidores. Este tem sido um trabalho maravilhoso e que me deixa satisfeito e orgulhoso de todo o time e do legado que estamos deixando. Sempre fui genuinamente apaixonado por conexões humanas. Porém, estar em Nova York, dentro de um ambiente corporativo, ajudou-me a ter a percepção de como podemos fazer algumas coisas diferentes dentro das demais subsidiárias. Quando voltei para cá, trouxe comigo todas aquelas memórias e o aprendizado. Com isso, montamos uma visão baseada em diversidade, equidade e inclusão, que, neste 2022, completa três anos com resultados notáveis.

Não celebrar demais os sucessos, nem lamentar demais os fracassos

Apesar de ter uma vasta bagagem profissional, considero que foi apenas em 2018 que tive meu turning point na carreira. Isso aconteceu quando retornei ao Brasil. Estava em uma trajetória internacional e vivendo como expatriado e com 15 anos na companhia. Mas esta chance que me foi oferecida, de fazer com que o RH do meu País se tornasse um modelo e um celeiro das melhores práticas para o ambiente da Colgate Global, é realmente algo significativo. Foi uma oportunidade que agarrei com unhas e dentes, que coloquei minha máxima energia e acabou dando certo. Ser diretor de RH era um cargo aspiracional de alguém que entrou na empresa como estagiário. Então, depois de toda a preparação, chegou o momento. Disse para mim mesmo: “Tem de ser agora”. Estar em casa é muito bom. Estar nesta cadeira é muito bom. Porém, nada é eterno e espero continuar evoluindo dentro da empresa, pois acredito que o melhor está sempre por vir.

Contudo, não celebro os meus sucessos por muito tempo, assim como não perco tempo lamentando demais os meus fracassos. Tanto uma atitude quanto a outra são armadilhas. Tem uma expressão em inglês muito boa para expressar isso que é “neither too high nor to low”. Portanto, nem tanto ao mar nem tanto à terra, muito mais vale o equilíbrio. Tenho usado esta filosofia durante os acertos e equívocos que cometi ao longo de minha carreira. Aprendi que as conquistas são boas, não eternas. Depois de passada a euforia inicial, tem de continuar na batalha. Isso vale para os fracassos, que são doidos, contudo, nos fazem crescer. Ninguém gosta de cometer um erro ou de se frustrar. No entanto, quanto antes voltarmos para o nosso estado original e continuar seguindo em frente, melhor.

Curiosidade, espírito de equipe e positividade

Se olharmos um pouco para o passado, tínhamos aquele líder muito direcionado a resultado a qualquer custo e outro muito focado em pessoas e que, às vezes, evitava conflito ou não era tão eficaz em juntar as famosas hard e soft skills. Contudo, a pandemia veio para equalizar estes dois perfis. Estes novos tempos pedem um líder ao mesmo tempo focado no negócio ou no alcance dos resultados, mas, ao mesmo tempo, que coloca à frente a empatia ou, melhor dizendo, que entende o que está acontecendo no sapato das outras pessoas. Esse profissional é do tipo que trabalha para fazer com que seus liderados naveguem rumo a melhores resultados e que estimula a saúde mental destes e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Isso é sumamente importante hoje, e vai perdurar para o futuro.

Por outro lado, na hora de contratar alguém, levo em consideração ao menos três características. A primeira é a curiosidade, pois ela nos leva a sair da zona de conforto. Ser curioso é fundamental. Assim são aqueles que buscam o novo, que agregam valor no trabalho, em um projeto ou em uma discussão. Valorizo também aqueles que têm espírito de equipe, pois ninguém faz nada sozinho. Outro atributo que é genuinamente brasileiro é a positividade. Temos de ser sempre positivos, acreditar sempre. Acho que esse foi um dos meus diferenciais lá fora, porque é como se diz, “o brasileiro não desiste nunca”. Isso funcionou muito bem para mim, porque sempre fui até o fim nos meus propósitos, naquilo que acredito. Aprecio isso nas pessoas também.

Passei por muitas empresas diferentes em uma só

Depois de construir uma carreira em uma única empresa, alguns me perguntam como consegui permanecer por tanto tempo no mesmo lugar. Minha filosofia sobre isso é que parece que passei por cinco diferentes companhias neste período, apesar de ser a mesma. A primeira é aquela dos meus primeiros 12 anos em que estive no Brasil. Tem ainda a Colgate da América Latina, a Colgate americana e a passagem pelo México. Ninguém me conhecia e tive de me provar e mostrar quem é o Daniel. E, este meu segundo momento de novo no Brasil, representa uma passagem por uma nova empresa, bem diferente daquela que deixei em 2014 antes de ir para Nova York.

Sigo na Colgate porque continuo encontrando oportunidades de desenvolvimento. E enquanto você pode prosperar, aspirar novos cargos e é desafiado, não tem por que se acomodar. É assim que me sinto, sou instigado o tempo todo. Além disso, o fato de ter um horizonte pela frente funciona como um combustível para continuar a trilha profissional. Quando falta isso, é o momento de analisar os próximos passos. Essa é a forma como vejo o desenvolvimento da carreira. No entanto, independentemente do seu histórico profissional, seja você quem for, faça tudo com muito amor, carinho, dedicação e tenha uma visão de longo prazo. É isso que nos diferencia. Nunca deixemos que aqueles primeiros buracos na estrada levem-nos a desacreditar ou sirvam de impeditivo para que atinjamos um sonho. Esse é um mantra geral que procuro seguir, sempre!