Desperte a sua chama interna com o brilho no olhar e o foco na inovação
Considero-me um desbravador, haja vista ter escolhido um curso de tecnologia em meados de 1980, quando tudo o que a permeiava ainda era desconhecido
Publicado em 28 de abril de 2023 às, 16h15.
Miguel Angel Garcia Antonio
Country Manager & CFO Brazil na Softtek
O perfil inquieto, criativo e multidisciplinar certamente estabelece uma fortaleza robusta na edificação da minha trajetória. Considero-me um desbravador, haja vista ter escolhido um curso de tecnologia em meados da década de 1980, quando tudo o que a permeiava ainda era bastante desconhecido. Este fato corrobora a minha personalidade vanguardista, afinal, o desconhecido sempre me desafiou a contemplar aprendizados variados. Provido de características inatas e adquiridas, atingi as posições de Country Manager & CFO Brazil da Softtek, empresa na qual trilhei toda a minha jornada profissional.
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Nasci na Cidade do México, em 1967, sou pisciano com ascendente em gêmeos, algo que considero marcante acerca de minha personalidade inventiva e dinâmica. Filho de Angel e Maria de La Paz, tenho três filhos, (Iago, Yasmin, Ihan) e duas enteadas (Mariana e Laura). Considero meu núcleo familiar bastante diverso e moderno. Somos felizes, e destaco a importância da minha companheira Adriele em minha vida.
Detentor de uma natureza pioneira, estudei Engenharia da Computação na Universidad Autónoma Metropolitana de Iztapalapa, onde me graduei em 1989. Posto isso, sou considerado um “lobo das antigas” na área da tecnologia – são mais de 33 anos neste segmento, e optei por um nicho incipiente à época. A influência de familiares fomentou meu interesse pelo setor, tendo em vista já ser considerada uma profissão de enorme potencial na minha juventude, uma carreira do futuro. Obviamente, despertou-me a curiosidade necessária para me enveredar por esse caminho – essa graduação me forneceu, além das competências técnicas, o viés executivo.
Logo ao me formar, ingressei na Softtek, onde atualmente sou o Country Manager e CFO Brazil, ou seja, edifiquei todos os meus passos dentro da mesma corporação. Trata-se de uma experiência singular, pois os âmbitos pessoais e profissionais se misturaram ao longo dessas décadas, com acertos e erros. Encontrei na organização uma cultura alinhada ao meu perfil – ao que era, sou e ainda pretendo ser.
A universidade possuía um processo bastante intenso, dificultando conciliar o trabalho com o academicismo. Contudo, nos intervalos entre os trimestres, encontrava disposição para atuar em serviços pesados, algo importante para enriquecer a visão ampla acerca do valor de se dedicar com afinco à vida profissional. Precisava acordar cedo e suar a camisa, exercendo funções de campo, algo primordial para conquistar mais aprendizados.
Prestes a me formar, fui abordado por alguns amigos que já trabalhavam na Softtek e falavam muito bem da empresa, que apostava em jovens em seu início de carreira, sem muita experiência. Contudo, em setembro de 1989 estava apresentando o meu TCC, e o que mais queria era sair de férias e descansar um pouco. No entanto, resolvi me aplicar no processo seletivo da Softtek, que me encantou de imediato por seus métodos inovadores, ainda que não fosse uma companhia tão conhecida naquela época.
O perfil criativo acelera a ascensão profissional
Enfim, aceitar o desafio da Softtek significou uma quebra de paradigmas, algo bem alinhado ao meu perfil, de estar sempre experimentando, procurando coisas novas e desafiadoras. Uma vez contratado, iniciei minhas atividades como programador, logo ascendendo a analista de sistemas, liderando projetos. Me sinto um afortunado nesta jornada, pois logrei êxito tanto no campo pessoal quanto profissional.
Evidentemente, houve uma pressão muito grande, no sentido de aprender rapidamente – assim que fui contratado, passava os fins de semana aprendendo sobre os assuntos da empresa, lendo os manuais. Já no meu primeiro dia, em uma segunda-feira, tive que atender um cliente. A questão da rápida adaptação era mandatória.
Deparei-me com um enorme desafio, o de aplicar os aprendizados acadêmicos na prática, como cumprir prazos sob pressão sem deixar de lado as regras de qualidade. O passo inicial como programador representou esse contato com a realidade e, com os bons resultados obtidos, fui conquistando seguidas promoções.
Ao passar ao posto de líder-técnico, fiquei à frente de vários times, responsável por projetos importantes, até alcançar a promoção como diretor de Unidade de Negócio, em 1992, com apenas três anos de casa. A empresa é muito dinâmica, detém uma orientação empreendedora, com 40 anos de atuação. Nesse período gerencial, ao iniciar as outras unidades de negócios, fui convidado a ser sócio, ampliando o meu escopo. E essa movimentação requeria compreender os aspectos administrativos, saber como lidar com faturamento, cobranças, vendas, além de englobar os aspectos técnicos e gerenciais que já faziam parte do meu escopo.
Importante frisar que, apesar de ter construído toda a minha carreira em apenas uma empresa, tive contato com gigantes do mercado, clientes prestigiados, como a IBM, HP, Citibank e Xerox. Tais interações me propiciaram amplificar o entendimento da cultura de outras instituições, a forma de realizar negócios, algo fundamental em termos de aprendizagem de solução de problemas.
A imersão e o êxito no mercado brasileiro
Quando surgiu a primeira crise econômica no México, começamos a nos questionar se valia o risco de permanecer somente no mercado interno. Foi quando avaliamos o plano de expansão, por meio da interação com um cliente brasileiro. Nossa forma de realizar negócios chamou a atenção no Brasil e, a partir de então, essa troca resultou em um crescimento exponencial da companhia.
Uma semente fora plantada, conduzindo-nos a experimentar o mercado brasileiro. O mexicano tem uma tendência de olhar mais para a América do Norte, porém, no nosso caso, a iniciativa de investir no Brasil foi extremamente acertada. Começou como um sonho que, com o passar do tempo ganhou em robustez, resultados, apesar das dificuldades inerentes de se lidar com uma nova cultura, outro idioma, etc.
Incentivados pelas oportunidades, chegamos ao país em primeiro de maio de 1994, justamente no dia do falecimento do Ayrton Senna. Foi um choque, com uma nação inteira lamentando a perda de um ícone. Também teve um significado particular para mim, por ser um grande fã até hoje de uma pessoa tão especial – o México inteiro é apaixonado pelo Senna.
Havia a expectativa de realizar coisas inéditas, em meio à comoção nacional, e eu estava com somente 27 anos. Basicamente, não havíamos estabelecido um planejamento estruturado, pautado em um roteiro – só sabíamos que precisávamos efetuar operações básicas, como ligar ao PABX das empresas. Comercialmente, ouvimos muitos “nãos”, mas a persistência nos levou a conquistar os primeiros contratos, sendo que demoramos cerca de oito meses para assinar com o nosso primeiro cliente.
Alocados inicialmente no Rio de Janeiro, assinamos com a The Coca-Cola Company. Recordo-me do momento em que fomos chamados e eles mencionaram alguns processos aos quais aplicávamos, viabilizando a parceria. A partir de então, começamos a prosperar, trouxemos profissionais mexicanos, com o intuito de incrementar os negócios.
Em 1994, o Brasil abriu de fato as portas para a economia mundial, com a introdução do Plano Real. Além disso, a tecnologia já se encontrava em um patamar mais elevado e estávamos em vantagem competitiva por possuirmos ferramentas mais avançadas em relação à concorrência, com toda a expertise das equipes em soluções tecnológicas.
Também houve muita interação cultural com os profissionais de ambos os países, especialmente no intercâmbio dos idiomas. Cito esse exemplo como uma forma simpática de promover relações mais sólidas e de confiança entre os colaboradores. No Brasil, exerci inúmeras funções, assumindo o posto de diretor de Negócios no início de 1996, quando iniciei uma escalada vertiginosa dentro da companhia.
A sólida e bem-aventurada trajetória dentro da Softtek
Desde janeiro de 2020, assumo duplo chapéu, por ser o Country Manager e CFO Brazil, com muitas responsabilidades. Tudo isso foi erigido com enorme esforço, sucessivos êxitos em empreitadas inovadoras, fruto de experiências diversificadas. Certamente, considero que, se tivesse alicerçado a minha carreira passando por várias empresas, não teria atingido o mesmo know-how. Ressalto como pude entrar com contato com culturas distintas, assim como conhecer de perto outras corporações. Sou bastante grato e honrado por esse longo tempo que estou no Brasil, assim como a minha família.
Aproveitando o momento de implementação do SAP, passamos a operar em São Paulo, em 1996. Destaco que fomos pioneiros da implementação deste sistema no Brasil. A expansão na capital paulista impulsionou o nosso crescimento e aproveitamos o movimento que estava ocorrendo na cidade, responsável por abrigar grandes organizações do setor tecnológico. Tratou-se de uma decisão estratégica, porém, jamais deixamos o Rio de Janeiro.
Todavia, por conta destas movimentações, com o crescimento da operação mudei-me para São Paulo, em 1997, principalmente para cuidar da estruturação da empresa. Por conta disso, a cidade passou a ser o nosso headquarter no Brasil. Também tive a oportunidade de ser alocado na Região Sul, em São Leopoldo (RS), onde permaneci de 2003 a 2017, quando decidimos introduzir os GDCs (Centro de Desenvolvimento Global) pelo país, incluindo São Paulo e Fortaleza.
Em São Leopoldo, fui o responsável pelas operações e parte comercial. Posteriormente, regressei para São Paulo com o propósito de apoiar no nosso principal nicho de negócios na Região Sudeste e, concomitantemente, também com o foco de atender aos vários clientes em Fortaleza e adjacências. Unificamos os GDCs, ficando com São Paulo e Fortaleza, nos posicionando como líderes no mercado.
A própria criação da empresa no Brasil é o meu maior case de sucesso – o país é uma escola, que certamente nenhuma pós-graduação proverá dentro da sala de aula. Incorporamos muitos elementos modernos de gestão de empresas, como empresas de serviços e de TI. Nossos métodos são bastante utilizados por startups, companhias empreendedoras consolidadas, inseridos na dualidade de participar de jogos de gente grande.
O propósito de transmitir essa visão adiante, por sermos uma instituição autossuficiente, com crescimento orgânico, resultou em autonomia financeira. Nada foi fácil, todos os dias exigem novos aprendizados contínuos, diante de dificuldades, mas as enormes conquistas chegam no tempo exato – o importante é saber cair e levantar-se. É um grande desafio liderar mais de 1.100 pessoas. Mexe muito com a minha energia, a conexão com os familiares de nossos colaboradores, a vontade de realizar mais, constantemente.
Os desafios constantes geram novos aprendizados
Amparado por tais vivências, confirmo como os meus pontos de inflexões estão bem relacionados aos meus momentos pessoais. Uma mudança de sede, começando tudo do zero, representa escrever uma folha em branco, com outros desafios e metas. E como liderar essas equipes me motiva demasiadamente.
Porém, o meu grande turning point, sem dúvida, remete ao momento de assumir a gestão da empresa como Country Manager, em janeiro de 2020, porque representa o aumento de responsabilidades e muitas considerações por vezes difíceis de serem assimiladas no início. A maturidade adquirida ao longo desta jornada envolve motes de conhecimento, preparação técnica, administrativa e, principalmente, a gestão de pessoas. Enfim, relaciona-se à forma de lidar com vários indivíduos, independentemente dos níveis hierárquicos da empresa, gerando engajamento, com o intuito de convergir e atingir o mesmo objetivo.
Ressalto a intempérie de ter assumido a cadeira pouco antes do início da Pandemia de Covid-19, com o desafio de mapear a situação, identificar os pontos de atenção prioritários, para tomar as ações adequadas em prol dos colaboradores. Todos no mesmo barco, remando juntos, com uma carga emocional demasiadamente grande. Pessoalmente, marcou também como uma modalidade inédita de trabalho: o home office.
Ademais, em meio à crise, incorporamos uma companhia com mais 300 pessoas. Portanto, estava iniciando em um cargo novo, com a atribuição de atuar parcialmente a operação com outro modelo de gestão, o que demandou me posicionar junto aos outros executivos para lograr a confiança deles. Por conta destas missões, 2020 foi um ano deveras desafiador, permeado por enormes aprendizados. Conseguimos dar continuidade a um trabalho e não somente sobreviver e essa etapa, solidificando a base para crescermos nos anos seguintes, inclusive com resultados recordes em 2022.
Dependendo do momento da minha vida, procurei me inspirar em profissionais exemplares de dentro e fora da Softtek. Quando entrei na Softtek, fui mentoreado por mulheres e aprendi demais com essas líderes, sendo que mantenho contato com algumas delas ainda. Além disso, alguns diretores me ajudaram a pavimentar a minha carreira, conforme subia dentro da organização. A nossa própria presidente global Blanca Treviño é admirável, por seu dinamismo e por conseguir transitar por diversas culturas, dentre tantas outras qualidades.
O valor da mente aberta e do brilho no olhar
Há de se ponderar como determinados profissionais se contraem em cenários adversos, como problemas políticos, contextos macroeconômicos, questões legais e financeiras. Muitas pessoas encontram pretextos, empecilhos para justificar o baixo rendimento. Quando realizamos uma análise macroeconômica para o ano vindouro, sabemos que teremos as mesmas variáveis e que os eventuais problemas são obstáculos inerentes ao universo corporativo.
O executivo que traz um diferencial em tais momentos é aquele que tem a capacidade de navegar nas situações adversas. Honestamente, não vejo tais situações como problemas, mas sim etapas que precisam ser contornadas de alguma forma, com planejamento e atitude.
Fundamentado por essa linha de raciocínio, reitero como a mente do líder deve estar sempre muito aberta. A minha geração, por exemplo, situa-se em um momento de transição muito grande, pois existe a herança de algumas crenças, inclusive preconceituosas e intolerantes, tabus antigos, que temos que superar. Por outro lado, trazemos a resiliência e a capacidade de lidar com as frustrações. Mesmo assim, é imperativo integrar novos conceitos, e os líderes mais jovens já detêm essa habilidade de lidar com as inevitáveis mudanças, ao saber ouvir, ao abrir as portas para os diálogos sadios.
Obviamente, é imprescindível se pautar nos aprendizados acadêmicos. Mas nada supera o brilho nos olhos – quando o profissional demonstra paixão pelo ofício, disposição para perseguir os seus sonhos, demonstrando a disposição em realizá-los. Já me deparei com pessoas muito inteligentes, mas sem essa capacidade de contagiar os demais, sem alinhamento com os propósitos da empresa, denotando incapacidade de gerar engajamento.
Antes de finalizar o ano, tento identificar uma palavra-chave que possa alterar o mindset da empresa para a fase vindoura. Em 2021, o mote foi “Movimento”, com o propósito de sair do status quo. Já em 2022, sugeri “Autocrítica”, pois queria implementar o olhar humanizado. E no início de 2023, optei por “Abundância”, visando promover o viés de crescimento. Neste processo, torna-se necessário renunciar às nossas crenças limitantes, abarcando a estratégia mais exponencial e menos linear, mexendo na zona de conforto de cada um.
Ou seja, trata-se de encontrar formas de contagiar e engajar a empresa para evoluirmos juntos, inspirando as pessoas em termos extremamente atuais e urgentes, como a responsabilidade social, a equidade, o ESG, entre outros.
Desperte a sua melhor versão
“É essencial pensar como a vida envolve crescimento. Saber ser objetivo, estabelecendo desafios continuamente, sempre com o mindset de superar novas metas, nos ajuda a nos sentir vivos.
Além disso, dispor da coragem para rever conceitos, desejar quebrar padrões de autocrítica e regras obsoletas. Esses rompimentos auxiliam a encontrar outros caminhos, propiciando vivências diferentes.
Pautar-se em sonhos, almejando o crescimento, desafiando nossas certezas, nos conduz para fora da zona de conforto. Se tudo está muito parado, com certeza haverá o momento de tomar outra rota, sempre em busca da melhor versão de nós mesmos.”