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Da liderança pelo exemplo ao toque de Midas

“Tudo o que fizer na vida, faça com amor, dedicação e vontade, ou então não o faça"

MARCELO DE A. BRACCO: Managing Director Brazil & Latin America regions na Manitou Group. (Reprodução/Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de dezembro de 2021 às 14h31.

Por Fabiana Monteiro

Levo uma regra para minha vida que aprendi com meu querido pai. É um ensinamento bastante simples, até comum, mas que para mim faz muita diferença: “Tudo o que fizer na vida, faça com amor, dedicação e vontade, ou então não o faça.” E eu falo isso para os meus filhos e para minha equipe também: “Não faça as coisas mais ou menos, porque isso é péssimo, faça tudo muito bem feito e com amor, sempre.”

A regra de ouro, porém, que sempre aplico em minha vida é “trate todos como gostaria que os outros tratassem você.” Se estou na empresa, busco me colocar na posição dos meus funcionários.  O mesmo vale para quando estou em casa ou com amigos, aplicando essa filosofia de vida com meus filhos, esposa e conhecidos. Vale para qualquer lugar ou situação, afinal, eu sou a mesma pessoa onde quer que esteja. Sou aquele que elogia em público e puxa as orelhas de portas fechadas. São diretrizes básicas que pratico no meu dia a dia que, sinceramente, funcionam muito para mim, e acredito que para qualquer um também pode funcionar. Entendo que, em questão de liderança, são as atitudes simples, nada muito mirabolante, que fazem a diferença. Alguém duvida que a simplicidade é a chave do sucesso?

Um dos meus pilares principais é liderar pelo exemplo, porque uma das situações das mais complicadas é você falar uma coisa e fazer outra. Você não ensina ou educa quando fala, mas quando faz. Em inglês, tem uma expressão de que gosto muito, que é Walk the talk (o que você fala, você faz). Por isso, procuro ser um exemplo de dedicação, persistência, profissionalismo, seriedade, diálogo aberto e ética, para que todos da equipe vejam e falem assim: “Se o diretor está seguindo este caminho, é por aqui que devo seguir também.” Um filho segue o que o pai faz, e nem sempre o que o pai fala.

Em toda a minha carreira, sempre olhei muito para meus superiores e tentei aprender com eles. E hoje, como diretor-geral da Manitou para toda a América Latina, procuro fazer o que de correto aprendi na trajetória profissional. Como já disse, procuro agir com minha equipe da mesma forma que gostaria que outros, em momentos distintos de minha carreira, tivessem agido comigo. Em casa não sou diferente. O que não sou é do tipo “eu mando, você obedece”, pois o diálogo é a base forte de minhas equipes. Sou comunicativo por natureza. Mas algo que exijo de todos é muita dedicação. Digo sempre a todos: “Se no dia combinado o seu salário chega certinho e completo, exato até nos centavos, então você deve responder com a mesma dedicação à empresa, até nos mínimos detalhes, não deixando que falte o correspondente a um mísero centavo dos seus esforços.”

Conheça-te a ti mesmo

Eu nasci na cidade de Santos, estado de São Paulo, em 1967, e sempre fui uma pessoa que gostava muito de máquinas, carros, caminhões e aviões durante minha infância.  E de arrumar objetos quebrados durante minha adolescência, o que faço até hoje, mas como hobby. Portanto, a escolha pelo curso de Engenharia Mecânica foi natural para mim e não causou surpresa a ninguém em minha casa.

Comecei a faculdade no Instituto Mauá de Tecnologia, em 1986, em São Caetano do Sul, e fui morar na cidade vizinha, São Bernardo do Campo. Sempre gostei muito e tive muita facilidade para cálculos. Destaquei-me entre os colegas de turma já no primeiro ano, com altas notas em quase todas as matérias, e fui escolhido para ser monitor na faculdade. Nessa atividade, ajudava o professor a corrigir provas, fazer lista de exercícios e esclarecer dúvidas de alunos de turmas mais novas. Assim, fui monitor de Cálculo I no meu segundo ano do curso de Engenharia, e de Cálculo Numérico no terceiro ano. Depois dessa experiência interessante na faculdade, parti para os estágios em empresas. Inicialmente, fui aceito para a área de Manutenção Mecânica na Petrobras, onde comecei a ver qual seria de fato o meu papel na profissão, e logo vi que eu “falava demais” para um engenheiro da área de Manutenção. Em seguida, consegui uma posição na área de Engenharia de Vendas da Scania do Brasil, onde me apaixonei por uma atividade muito mais comercial do que puramente técnica.

No entanto, o que me ajudou a definir meu futuro desde o início da carreira foi a aprovação para a vaga de trainee no grupo Iochpe-Maxion, assim que concluí a graduação de Engenharia. Nessa empresa tive a oportunidade de conhecer diversos departamentos, através de um programa de formação de recém-graduados, e acabei me identificando muito com a área comercial e de desenvolvimento de negócios, o que faço até hoje. Eu diria que a minha passagem pela Iochpe-Maxion foi fundamental para minha carreira e alavancou o meu futuro profissional. Tudo aquilo foi determinante para eu me conhecer melhor, tendo o suporte de uma psicóloga da empresa, e pude conduzir minha trajetória para onde tinha o maior potencial, que é a área de desenvolvimento de negócios, atendimento ao cliente, marketing, vendas e pós-vendas.

Hora de mudança na carreira

Fiquei na Iochpe-Maxion de 1990 a 1996, trabalhando na área comercial e de atendimento ao cliente, em duas divisões da empresa: fabricação de motores a diesel e produção de rodas e chassis para caminhões. Nesta última, acabei me desenvolvendo e fui promovido algumas vezes. Depois, migrei para o Grupo Fiat-Iveco, em que fui transferido para a cidade de Betim, em Minas Gerais. Ali, fiquei por mais alguns anos, participando ativamente da implantação e lançamento do veículo comercial Ducato, trabalhando no desenvolvimento da rede de distribuidores para a comercialização deste veículo em todo o Brasil.

Neste ínterim, a Navistar adquiriu grande parte da divisão de motores do Grupo Iochpe-Maxion, e eles, em outubro de 2000, me convidaram para retornar à empresa, mas agora como Gerente de Desenvolvimento de Negócios para toda a América Latina, e em pouco tempo acabei sendo transferido para a matriz da empresa nos Estados Unidos. Essa experiência fora do país foi, certamente, interessante, desafiadora e igualmente enriquecedora, pois pude expandir minha capacidade comercial e de desenvolvimento de negócios no concorrido mercado norte-americano. Estando por lá, consegui implementar alguns importantes negócios para a companhia e contribuí muito para a crescimento da empresa.

Por questões pessoais, voltei ao Brasil em 2006, ainda no mercado automotivo. Fiquei dois anos na Nissan, em Curitiba, como diretor de Desenvolvimento de Rede de Distribuidores.  Depois retornei para São Paulo, sendo contratado pela Rodobens, do grupo Mercedes-Benz, como responsável pela gestão das concessionárias da região Sudeste até o final de 2010. Então, já com 20 anos de uma sólida carreira no setor automotivo, optei por uma mudança na minha trajetória profissional, sendo convidado a atuar no segmento de máquinas e equipamentos, pelo qual me apaixonei totalmente e em que permaneço até hoje. Nesse segmento, trabalhei em três companhias. A primeira a abrir as portas para mim foi a Haulotte Group, um dos grandes fabricantes europeus de máquinas de elevação de pessoas e cargas.

Depois, em 2015, tive uma passagem pela Socage Srl, fabricante italiano de plataformas de trabalho em altura sobre caminhões, em que estruturei, organizei e desenvolvi clientes e distribuidores, para a empresa se estabelecer legalmente e comercialmente no Brasil.  E, naquele mesmo ano, fui contratado pela Manitou Group, líder global na fabricação e venda de manipuladores telescópicos, plataformas, empilhadeiras e outros equipamentos, empresa que admiro muito e à qual tenho muito orgulho de pertencer. Sou o responsável pelo desenvolvimento da companhia no Brasil e em toda a América Latina. Em resumo, tenho atualmente trinta anos de formado, sendo vinte dedicados ao setor automotivo, e os últimos dez, ao setor de máquinas e equipamentos.

Tartaruga não sobe em árvore

Como já disse anteriormente, um diferencial na construção de minha carreira foi ter entendido, logo no início, quais eram minhas principais aptidões. Há jovens que, infelizmente, não conseguem isso e ficam dez ou quinze anos em uma determinada profissão, sem gostar muito do que fazem, acabando frustrados e desmotivados. Certamente, se a esta altura eu me encontrasse em uma área que não aprecio, estaria exatamente assim, insatisfeito e desapontado, e não teria chegado à posição e ao nível em que cheguei, com um nome muito conhecido e respeitado em todo o mercado.

Mas, como gosto sempre de lembrar àqueles que estão comigo, não comecei minha carreira como diretor. Iniciei lá embaixo na escala hierárquica, como estagiário, trainee e engenheiro de vendas. E vejam onde cheguei! Por isso que sempre falo que atingir uma posição de liderança é consequência de todo um esforço e resultados que você proporcionou e conseguiu ao longo de sua carreira. E só tem duas formas de conseguir: ou alguém o ajudou, empurrou e colocou lá em cima; ou você conquistou o topo pelo próprio trabalho, dedicação, persistência e merecimento. Costumo brincar que tartaruga não sobe em árvore. Se você vir uma nessa condição, não mexa porque alguém a colocou lá. Em minha carreira, tenho subido em árvores às custas de meu esforço e ótimos resultados obtidos.

Muitas vezes, quando a equipe tem dúvidas sobre fazer algum trabalho, eu mesmo vou lá e faço, explicando a eles e demonstrando como se faz. E, em certas circunstâncias, volto e digo para a pessoa: “Você sabia que eu não nasci diretor, por isso que sei fazer essa atividade?” Assim, demonstro como se faz e ensino o que deve ser feito, da melhor forma. Isso transmite admiração e respeito para as equipes.  Ao final, são eles que o apoiam e o mantêm lá no topo, quando entendem e acreditam que você é capacitado para liderá-los. É diferente de quando se tem um chefe que não sabe dar as devidas respostas para os problemas. Isso deixa todos inseguros e surgem os questionamentos sobre a liderança.

Perdi algumas batalhas, mas a guerra jamais

A partir da descoberta da minha vocação, foquei os meus esforços e direcionei meus treinamentos e a minha educação. Entre 1995 e 1998, fiz o Curso de Especialização em Administração para Graduados (Ceag), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).  Nele, tive a oportunidade de aprender mais profundamente sobre a gestão financeira e estratégica de empresas. Foi aqui que as coisas ficaram mais claras para mim. A graduação de Engenharia é muito focada na parte técnica. Então, quando fiz o curso da FGV, encantei-me pela área de gestão de negócios. Mais recentemente, em 2019, fiz outro aperfeiçoamento profissional, em desenvolvimento de novos negócios e inovação financeira, na Stanford University Graduate School of Business. O mais importante de tudo é você nunca parar de estudar. Sempre leio diferentes livros de gestão e administração, pois gosto muito da área e de me atualizar nas novas tendências.

Sou uma pessoa muito persistente e organizada. Eu sempre me organizo em tudo que devo fazer, tenho controles pessoais e profissionais de todas as pendências e coisas a fazer. Chamo-as de meu “ To do List ”, de casa e da empresa. Além disso, sempre me preparo muito bem antes de alguma reunião ou encontro com cliente ou distribuidor, para que me sinta mais confortável e tranquilo quando colocar algo em prática. Mas também sou focado naquilo que quero e sou uma pessoa que, por todas as empresas pelas quais passei, fiz com que crescessem e se desenvolvessem muito. Se alguém analisar minha carreira em detalhes, verá claramente que em todas as companhias em que trabalhei, eu possibilitei resultados excepcionais e consegui ainda fazer com que elas expandissem em resultados.

Por isso, me considero puramente uma pessoa de desenvolvimento de negócios e tenho olho clínico para pegar uma companhia, analisar suas dificuldades, identificar alternativas e fazê-la crescer rapidamente. Por exemplo: durante uma conferência com um de meus distribuidores, o mesmo me disse, ao agradecer por umas dicas que dei para que melhorasse o aproveitamento da sua empresa, que tenho o “toque de Midas” para os negócios, o que me deixou muito contente e orgulhoso. Esse tipo de comentário me realiza e dá a certeza de que, lá atrás, fiz a escolha certa para a minha vida profissional.

Evidentemente que, ainda que me julgue bem-sucedido naquilo que ambicionei para a minha carreira, tive também alguns reveses. Mas foram apenas derrotas temporárias, nunca fracassos longos. Foram frustrações, que transpus e segui adiante, pois em todas elas dei a volta por cima porque fiz o meu melhor. Não posso contar a história de um grande fracasso, uma história horrível, pois, felizmente, não a vivi e nem irei viver. Alguns tropeços, sim, mas, mesmo quando caí, levantei-me rápido, sacudi a poeira e continuei caminhando, pensando sempre de forma muito positiva. Posso dizer que perdi algumas batalhas, mas a guerra jamais.

Lições aprendidas com a pandemia

A pandemia tem sido um grande desafio cujos reflexos ainda vão reverberar por algum tempo. Ela nos mostrou o quanto precisamos ser resilientes. Temos de entender as mudanças, ter a cabeça muito aberta e ser flexíveis para nos adaptar às novas situações que vivemos.  O filósofo Heráclito, cinco séculos antes de Cristo, já ensinava que “a única coisa que não muda é que tudo muda.” Portanto, já que a mudança é inevitável e está fadada a acontecer, temos de aceitá-la e ser resilientes para saber lidar com os novos desafios que advêm dela.

Nestes dias turbulentos, foi preciso focar os esforços naquilo que realmente importava. Quando tudo parece fora do lugar, não se pode perder tempo com amenidades, mas trabalhar naquilo que gera e agrega valor ao negócio. Essa consciência foi fundamental para termos bons resultados neste período de pandemia. Outra coisa relevante foi estar sempre em contato com os nossos clientes, distribuidores e fornecedores. A pandemia acabou nos mostrando o quanto a comunicação é importante. Não importa se eles estão em Santiago, no Chile, ou São Paulo, no Brasil, no Rio de Janeiro ou na Cidade do México, é preciso entender a situação e as dificuldades de cada um e encontrar formas criativas e positivas para solucioná-las.

E assim você se adapta conforme as condições se apresentam. E agora, com o uso das chamadas de vídeo, a comunicação ficou ainda mais fácil e rápida. Converso hoje com pessoas com quem não falava tão frequentemente antes. Nessas trocas com todos, aprendo muito com as informações e as demandas que chegam até mim. E foi assim, com esta mentalidade positiva e muito empenho e persistência, que estamos fazendo a companhia passar de forma mais tranquila por este complexo período em que vivemos.

Também vale destacar que identificamos necessidades em segmentos específicos, que não estavam parados na pandemia, e focamos neles. Em algumas situações, refizemos nossas propostas de produtos e serviços de forma criativa, firmamos parceria com bancos de financiamento. Tudo isso para termos condições de aproveitar o momento. E com essas e outras iniciativas, a companhia acabou passando pela crise. Por isso que exijo da minha equipe pensamento positivo e que não esmoreçam, e faço com que nunca esqueçam de que, como se diz, enquanto alguns choram outros vendem lenço!

O segredo está em aprender com a experiência de outros

Sinto que a geração de hoje está mais bem preparada do que estávamos em um passado recente. Mas esses jovens profissionais, no geral, uma vez que a tecnologia torna tudo muito mais fácil, anseiam que tudo seja muito rápido e fácil. Por isso que, no dia a dia, contribuo com orientações e conselhos, mostrando, por meio de minha experiência, a importância da perseverança e do esforço de grupo, pois nada vem de mão beijada. Eu não cheguei aonde cheguei sem suar a camisa, me dedicar e estudar muito. Se tive sorte, foi em 1% das vezes, e nos outros 99% tive que me dedicar e lutar muito.

Por isso que recomendo aos mais jovens que saibam escutar e aproveitar a experiência daqueles que têm mais anos de estrada. Pode parecer contraditório, se olharmos apenas para este período recente, mas o mundo está em um momento muito bom, desde que se consiga enxergar o que há de bom nele e agir dentro das regras e dos padrões de ética. Afinal, felizmente, o Brasil melhorou muito em relação ao que era duas ou três décadas atrás. E são os que entenderem isso que ajudarão a fazer este país crescer e, consequentemente, crescerão junto com ele.

Um último agradecimento

Eu não tive especificamente um mentor, alguém que tenha trocado comigo seus conhecimentos acumulados em função de anos de carreira e que tenha assim me ajudado a construir a minha. Mas tive algumas pessoas-chave na minha trajetória, em quem prestava muita atenção, pois sempre mirei muito alto. Sempre fui muito comunicativo, mas também sempre soube escutar e seguir bons conselhos. Ouvi muitas orientações e isso foi me direcionando e ajudando no meu desenvolvimento profissional. Mas, se não tive um mentor único, posso dizer que tive uma conselheira dedicada, que é minha esposa, Claudia. Uma pessoa muito sábia, inteligente, esclarecida, que, embora tenha a mesma idade que eu, amparou-me em algumas decisões importantes da minha trajetória profissional, graças ao seu bom senso e sabedoria.

Nosso namoro começou em 1985 e o casamento foi em 1992. Ela é minha companheira por 35 anos, mãe dos meus filhos: Mateus, de 23 anos, e Joao Vitor, de 20 anos, e minha conselheira, parceira, amiga e confidente. Muito do que conquistei até aqui foi em função dela. Costumo brincar que ela nunca esteve ao meu lado, porque sempre esteve à minha frente. Mas eu, esperto que fui, seguia atrás, ouvindo atentamente os seus conselhos.

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Levo uma regra para minha vida que aprendi com meu querido pai. É um ensinamento bastante simples, até comum, mas que para mim faz muita diferença: “Tudo o que fizer na vida, faça com amor, dedicação e vontade, ou então não o faça.” E eu falo isso para os meus filhos e para minha equipe também: “Não faça as coisas mais ou menos, porque isso é péssimo, faça tudo muito bem feito e com amor, sempre.”

A regra de ouro, porém, que sempre aplico em minha vida é “trate todos como gostaria que os outros tratassem você.” Se estou na empresa, busco me colocar na posição dos meus funcionários.  O mesmo vale para quando estou em casa ou com amigos, aplicando essa filosofia de vida com meus filhos, esposa e conhecidos. Vale para qualquer lugar ou situação, afinal, eu sou a mesma pessoa onde quer que esteja. Sou aquele que elogia em público e puxa as orelhas de portas fechadas. São diretrizes básicas que pratico no meu dia a dia que, sinceramente, funcionam muito para mim, e acredito que para qualquer um também pode funcionar. Entendo que, em questão de liderança, são as atitudes simples, nada muito mirabolante, que fazem a diferença. Alguém duvida que a simplicidade é a chave do sucesso?

Um dos meus pilares principais é liderar pelo exemplo, porque uma das situações das mais complicadas é você falar uma coisa e fazer outra. Você não ensina ou educa quando fala, mas quando faz. Em inglês, tem uma expressão de que gosto muito, que é Walk the talk (o que você fala, você faz). Por isso, procuro ser um exemplo de dedicação, persistência, profissionalismo, seriedade, diálogo aberto e ética, para que todos da equipe vejam e falem assim: “Se o diretor está seguindo este caminho, é por aqui que devo seguir também.” Um filho segue o que o pai faz, e nem sempre o que o pai fala.

Em toda a minha carreira, sempre olhei muito para meus superiores e tentei aprender com eles. E hoje, como diretor-geral da Manitou para toda a América Latina, procuro fazer o que de correto aprendi na trajetória profissional. Como já disse, procuro agir com minha equipe da mesma forma que gostaria que outros, em momentos distintos de minha carreira, tivessem agido comigo. Em casa não sou diferente. O que não sou é do tipo “eu mando, você obedece”, pois o diálogo é a base forte de minhas equipes. Sou comunicativo por natureza. Mas algo que exijo de todos é muita dedicação. Digo sempre a todos: “Se no dia combinado o seu salário chega certinho e completo, exato até nos centavos, então você deve responder com a mesma dedicação à empresa, até nos mínimos detalhes, não deixando que falte o correspondente a um mísero centavo dos seus esforços.”

Conheça-te a ti mesmo

Eu nasci na cidade de Santos, estado de São Paulo, em 1967, e sempre fui uma pessoa que gostava muito de máquinas, carros, caminhões e aviões durante minha infância.  E de arrumar objetos quebrados durante minha adolescência, o que faço até hoje, mas como hobby. Portanto, a escolha pelo curso de Engenharia Mecânica foi natural para mim e não causou surpresa a ninguém em minha casa.

Comecei a faculdade no Instituto Mauá de Tecnologia, em 1986, em São Caetano do Sul, e fui morar na cidade vizinha, São Bernardo do Campo. Sempre gostei muito e tive muita facilidade para cálculos. Destaquei-me entre os colegas de turma já no primeiro ano, com altas notas em quase todas as matérias, e fui escolhido para ser monitor na faculdade. Nessa atividade, ajudava o professor a corrigir provas, fazer lista de exercícios e esclarecer dúvidas de alunos de turmas mais novas. Assim, fui monitor de Cálculo I no meu segundo ano do curso de Engenharia, e de Cálculo Numérico no terceiro ano. Depois dessa experiência interessante na faculdade, parti para os estágios em empresas. Inicialmente, fui aceito para a área de Manutenção Mecânica na Petrobras, onde comecei a ver qual seria de fato o meu papel na profissão, e logo vi que eu “falava demais” para um engenheiro da área de Manutenção. Em seguida, consegui uma posição na área de Engenharia de Vendas da Scania do Brasil, onde me apaixonei por uma atividade muito mais comercial do que puramente técnica.

No entanto, o que me ajudou a definir meu futuro desde o início da carreira foi a aprovação para a vaga de trainee no grupo Iochpe-Maxion, assim que concluí a graduação de Engenharia. Nessa empresa tive a oportunidade de conhecer diversos departamentos, através de um programa de formação de recém-graduados, e acabei me identificando muito com a área comercial e de desenvolvimento de negócios, o que faço até hoje. Eu diria que a minha passagem pela Iochpe-Maxion foi fundamental para minha carreira e alavancou o meu futuro profissional. Tudo aquilo foi determinante para eu me conhecer melhor, tendo o suporte de uma psicóloga da empresa, e pude conduzir minha trajetória para onde tinha o maior potencial, que é a área de desenvolvimento de negócios, atendimento ao cliente, marketing, vendas e pós-vendas.

Hora de mudança na carreira

Fiquei na Iochpe-Maxion de 1990 a 1996, trabalhando na área comercial e de atendimento ao cliente, em duas divisões da empresa: fabricação de motores a diesel e produção de rodas e chassis para caminhões. Nesta última, acabei me desenvolvendo e fui promovido algumas vezes. Depois, migrei para o Grupo Fiat-Iveco, em que fui transferido para a cidade de Betim, em Minas Gerais. Ali, fiquei por mais alguns anos, participando ativamente da implantação e lançamento do veículo comercial Ducato, trabalhando no desenvolvimento da rede de distribuidores para a comercialização deste veículo em todo o Brasil.

Neste ínterim, a Navistar adquiriu grande parte da divisão de motores do Grupo Iochpe-Maxion, e eles, em outubro de 2000, me convidaram para retornar à empresa, mas agora como Gerente de Desenvolvimento de Negócios para toda a América Latina, e em pouco tempo acabei sendo transferido para a matriz da empresa nos Estados Unidos. Essa experiência fora do país foi, certamente, interessante, desafiadora e igualmente enriquecedora, pois pude expandir minha capacidade comercial e de desenvolvimento de negócios no concorrido mercado norte-americano. Estando por lá, consegui implementar alguns importantes negócios para a companhia e contribuí muito para a crescimento da empresa.

Por questões pessoais, voltei ao Brasil em 2006, ainda no mercado automotivo. Fiquei dois anos na Nissan, em Curitiba, como diretor de Desenvolvimento de Rede de Distribuidores.  Depois retornei para São Paulo, sendo contratado pela Rodobens, do grupo Mercedes-Benz, como responsável pela gestão das concessionárias da região Sudeste até o final de 2010. Então, já com 20 anos de uma sólida carreira no setor automotivo, optei por uma mudança na minha trajetória profissional, sendo convidado a atuar no segmento de máquinas e equipamentos, pelo qual me apaixonei totalmente e em que permaneço até hoje. Nesse segmento, trabalhei em três companhias. A primeira a abrir as portas para mim foi a Haulotte Group, um dos grandes fabricantes europeus de máquinas de elevação de pessoas e cargas.

Depois, em 2015, tive uma passagem pela Socage Srl, fabricante italiano de plataformas de trabalho em altura sobre caminhões, em que estruturei, organizei e desenvolvi clientes e distribuidores, para a empresa se estabelecer legalmente e comercialmente no Brasil.  E, naquele mesmo ano, fui contratado pela Manitou Group, líder global na fabricação e venda de manipuladores telescópicos, plataformas, empilhadeiras e outros equipamentos, empresa que admiro muito e à qual tenho muito orgulho de pertencer. Sou o responsável pelo desenvolvimento da companhia no Brasil e em toda a América Latina. Em resumo, tenho atualmente trinta anos de formado, sendo vinte dedicados ao setor automotivo, e os últimos dez, ao setor de máquinas e equipamentos.

Tartaruga não sobe em árvore

Como já disse anteriormente, um diferencial na construção de minha carreira foi ter entendido, logo no início, quais eram minhas principais aptidões. Há jovens que, infelizmente, não conseguem isso e ficam dez ou quinze anos em uma determinada profissão, sem gostar muito do que fazem, acabando frustrados e desmotivados. Certamente, se a esta altura eu me encontrasse em uma área que não aprecio, estaria exatamente assim, insatisfeito e desapontado, e não teria chegado à posição e ao nível em que cheguei, com um nome muito conhecido e respeitado em todo o mercado.

Mas, como gosto sempre de lembrar àqueles que estão comigo, não comecei minha carreira como diretor. Iniciei lá embaixo na escala hierárquica, como estagiário, trainee e engenheiro de vendas. E vejam onde cheguei! Por isso que sempre falo que atingir uma posição de liderança é consequência de todo um esforço e resultados que você proporcionou e conseguiu ao longo de sua carreira. E só tem duas formas de conseguir: ou alguém o ajudou, empurrou e colocou lá em cima; ou você conquistou o topo pelo próprio trabalho, dedicação, persistência e merecimento. Costumo brincar que tartaruga não sobe em árvore. Se você vir uma nessa condição, não mexa porque alguém a colocou lá. Em minha carreira, tenho subido em árvores às custas de meu esforço e ótimos resultados obtidos.

Muitas vezes, quando a equipe tem dúvidas sobre fazer algum trabalho, eu mesmo vou lá e faço, explicando a eles e demonstrando como se faz. E, em certas circunstâncias, volto e digo para a pessoa: “Você sabia que eu não nasci diretor, por isso que sei fazer essa atividade?” Assim, demonstro como se faz e ensino o que deve ser feito, da melhor forma. Isso transmite admiração e respeito para as equipes.  Ao final, são eles que o apoiam e o mantêm lá no topo, quando entendem e acreditam que você é capacitado para liderá-los. É diferente de quando se tem um chefe que não sabe dar as devidas respostas para os problemas. Isso deixa todos inseguros e surgem os questionamentos sobre a liderança.

Perdi algumas batalhas, mas a guerra jamais

A partir da descoberta da minha vocação, foquei os meus esforços e direcionei meus treinamentos e a minha educação. Entre 1995 e 1998, fiz o Curso de Especialização em Administração para Graduados (Ceag), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).  Nele, tive a oportunidade de aprender mais profundamente sobre a gestão financeira e estratégica de empresas. Foi aqui que as coisas ficaram mais claras para mim. A graduação de Engenharia é muito focada na parte técnica. Então, quando fiz o curso da FGV, encantei-me pela área de gestão de negócios. Mais recentemente, em 2019, fiz outro aperfeiçoamento profissional, em desenvolvimento de novos negócios e inovação financeira, na Stanford University Graduate School of Business. O mais importante de tudo é você nunca parar de estudar. Sempre leio diferentes livros de gestão e administração, pois gosto muito da área e de me atualizar nas novas tendências.

Sou uma pessoa muito persistente e organizada. Eu sempre me organizo em tudo que devo fazer, tenho controles pessoais e profissionais de todas as pendências e coisas a fazer. Chamo-as de meu “ To do List ”, de casa e da empresa. Além disso, sempre me preparo muito bem antes de alguma reunião ou encontro com cliente ou distribuidor, para que me sinta mais confortável e tranquilo quando colocar algo em prática. Mas também sou focado naquilo que quero e sou uma pessoa que, por todas as empresas pelas quais passei, fiz com que crescessem e se desenvolvessem muito. Se alguém analisar minha carreira em detalhes, verá claramente que em todas as companhias em que trabalhei, eu possibilitei resultados excepcionais e consegui ainda fazer com que elas expandissem em resultados.

Por isso, me considero puramente uma pessoa de desenvolvimento de negócios e tenho olho clínico para pegar uma companhia, analisar suas dificuldades, identificar alternativas e fazê-la crescer rapidamente. Por exemplo: durante uma conferência com um de meus distribuidores, o mesmo me disse, ao agradecer por umas dicas que dei para que melhorasse o aproveitamento da sua empresa, que tenho o “toque de Midas” para os negócios, o que me deixou muito contente e orgulhoso. Esse tipo de comentário me realiza e dá a certeza de que, lá atrás, fiz a escolha certa para a minha vida profissional.

Evidentemente que, ainda que me julgue bem-sucedido naquilo que ambicionei para a minha carreira, tive também alguns reveses. Mas foram apenas derrotas temporárias, nunca fracassos longos. Foram frustrações, que transpus e segui adiante, pois em todas elas dei a volta por cima porque fiz o meu melhor. Não posso contar a história de um grande fracasso, uma história horrível, pois, felizmente, não a vivi e nem irei viver. Alguns tropeços, sim, mas, mesmo quando caí, levantei-me rápido, sacudi a poeira e continuei caminhando, pensando sempre de forma muito positiva. Posso dizer que perdi algumas batalhas, mas a guerra jamais.

Lições aprendidas com a pandemia

A pandemia tem sido um grande desafio cujos reflexos ainda vão reverberar por algum tempo. Ela nos mostrou o quanto precisamos ser resilientes. Temos de entender as mudanças, ter a cabeça muito aberta e ser flexíveis para nos adaptar às novas situações que vivemos.  O filósofo Heráclito, cinco séculos antes de Cristo, já ensinava que “a única coisa que não muda é que tudo muda.” Portanto, já que a mudança é inevitável e está fadada a acontecer, temos de aceitá-la e ser resilientes para saber lidar com os novos desafios que advêm dela.

Nestes dias turbulentos, foi preciso focar os esforços naquilo que realmente importava. Quando tudo parece fora do lugar, não se pode perder tempo com amenidades, mas trabalhar naquilo que gera e agrega valor ao negócio. Essa consciência foi fundamental para termos bons resultados neste período de pandemia. Outra coisa relevante foi estar sempre em contato com os nossos clientes, distribuidores e fornecedores. A pandemia acabou nos mostrando o quanto a comunicação é importante. Não importa se eles estão em Santiago, no Chile, ou São Paulo, no Brasil, no Rio de Janeiro ou na Cidade do México, é preciso entender a situação e as dificuldades de cada um e encontrar formas criativas e positivas para solucioná-las.

E assim você se adapta conforme as condições se apresentam. E agora, com o uso das chamadas de vídeo, a comunicação ficou ainda mais fácil e rápida. Converso hoje com pessoas com quem não falava tão frequentemente antes. Nessas trocas com todos, aprendo muito com as informações e as demandas que chegam até mim. E foi assim, com esta mentalidade positiva e muito empenho e persistência, que estamos fazendo a companhia passar de forma mais tranquila por este complexo período em que vivemos.

Também vale destacar que identificamos necessidades em segmentos específicos, que não estavam parados na pandemia, e focamos neles. Em algumas situações, refizemos nossas propostas de produtos e serviços de forma criativa, firmamos parceria com bancos de financiamento. Tudo isso para termos condições de aproveitar o momento. E com essas e outras iniciativas, a companhia acabou passando pela crise. Por isso que exijo da minha equipe pensamento positivo e que não esmoreçam, e faço com que nunca esqueçam de que, como se diz, enquanto alguns choram outros vendem lenço!

O segredo está em aprender com a experiência de outros

Sinto que a geração de hoje está mais bem preparada do que estávamos em um passado recente. Mas esses jovens profissionais, no geral, uma vez que a tecnologia torna tudo muito mais fácil, anseiam que tudo seja muito rápido e fácil. Por isso que, no dia a dia, contribuo com orientações e conselhos, mostrando, por meio de minha experiência, a importância da perseverança e do esforço de grupo, pois nada vem de mão beijada. Eu não cheguei aonde cheguei sem suar a camisa, me dedicar e estudar muito. Se tive sorte, foi em 1% das vezes, e nos outros 99% tive que me dedicar e lutar muito.

Por isso que recomendo aos mais jovens que saibam escutar e aproveitar a experiência daqueles que têm mais anos de estrada. Pode parecer contraditório, se olharmos apenas para este período recente, mas o mundo está em um momento muito bom, desde que se consiga enxergar o que há de bom nele e agir dentro das regras e dos padrões de ética. Afinal, felizmente, o Brasil melhorou muito em relação ao que era duas ou três décadas atrás. E são os que entenderem isso que ajudarão a fazer este país crescer e, consequentemente, crescerão junto com ele.

Um último agradecimento

Eu não tive especificamente um mentor, alguém que tenha trocado comigo seus conhecimentos acumulados em função de anos de carreira e que tenha assim me ajudado a construir a minha. Mas tive algumas pessoas-chave na minha trajetória, em quem prestava muita atenção, pois sempre mirei muito alto. Sempre fui muito comunicativo, mas também sempre soube escutar e seguir bons conselhos. Ouvi muitas orientações e isso foi me direcionando e ajudando no meu desenvolvimento profissional. Mas, se não tive um mentor único, posso dizer que tive uma conselheira dedicada, que é minha esposa, Claudia. Uma pessoa muito sábia, inteligente, esclarecida, que, embora tenha a mesma idade que eu, amparou-me em algumas decisões importantes da minha trajetória profissional, graças ao seu bom senso e sabedoria.

Nosso namoro começou em 1985 e o casamento foi em 1992. Ela é minha companheira por 35 anos, mãe dos meus filhos: Mateus, de 23 anos, e Joao Vitor, de 20 anos, e minha conselheira, parceira, amiga e confidente. Muito do que conquistei até aqui foi em função dela. Costumo brincar que ela nunca esteve ao meu lado, porque sempre esteve à minha frente. Mas eu, esperto que fui, seguia atrás, ouvindo atentamente os seus conselhos.

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