Aproveite as oportunidades e jamais permaneça na zona de conforto, afirma Diego Bravo
Na coluna desta semana, conheça a história de Diego Bravo, CEO Brasil na SGS
Colunista
Publicado em 26 de julho de 2024 às 12h26.
Amparado por características intrínsecas, estruturei o meu plano de carreira com enorme êxito, aplicando-me com perseverança, sem jamais me acomodar. Pondero como a capacidade adaptativa, a humildade e a empatia – além do conceito da construção da confiança – são fatores preponderantes na constituição do meu perfil em todos os âmbitos. Atualmente, ocupo o cargo de CEO Brasil na SGS, prestigiosa multinacional suíça do setor de serviços.
*
Natural de Buenos Aires, sou descendente de imigrantes, sendo que o meu pai, Juan Jesus Bravo Rial, é espanhol, e chegou na década de 1950 na Argentina. Já a minha mãe, Delia Nasser, é filha de sírios, que também se estabeleceram no país nesta época.
Sempre fomos uma família de classe baixa, sem luxos – morávamos no subúrbio da capital. Meu pai trabalhou a vida toda como garçom, ao passo que a minha mãe era dona de casa, além de ter atuado como costureira.
Estudei em escolas públicas, inclusive no Ensino Superior, tendo me graduado como contador público pela Universidad de Buenos Aires (UBA), em 2005. Na Argentina, trata-se de uma carreira bastante valorizada, por ser muito abrangente. Ressalto como no Brasil, por exemplo, certas tarefas designadas aos advogados são realizadas por contadores.
Fui incentivado a estudar desde cedo e obtive êxito no academicismo, atendendo às expectativas dos meus pais. Sou o mais velho de quatro irmãos, e enalteço como a minha primeira conquista ter sido o primeiro membro da família inteira a obter a formação universitária. Isso marcou como uma enorme felicidade e motivo de orgulho.
Sempre tive muita facilidade na escola, me destacava e costumava ser o orador em cerimônias. Isso é reconhecimento. Meus pais me utilizavam como exemplo em casa, o que também gerava certa pressão.
Posteriormente, realizei uma especialização em Administração Pública na UBA. Detinha a ambição de migrar para uma função no setor, e tratei de estudar normas contábeis internacionais para me especializar em impostos, ampliando o meu escopo.
Saliento como possuo facilidade para memorizar determinados temas, de maneira lógica, principalmente ao lidar bem com números. Isso me ajudou muito, haja vista como economizava tempo ao estudar e trabalhar. Além disso, havia amplo compartilhamento com os meus colegas – algo que introduzi na minha carreira profissional.
Comecei a trabalhar precocemente, logo aos 16 anos, como eletricista. Já ao iniciar a universidade, ingressei no Banco de La Nación Argentina (BNA), como atendente de caixa. Trabalhava de dia e estudava à noite, pois precisava me sustentar, pagar os estudos e viajar com os meus amigos quando possível. A dedicação é algo que trago comigo em minhas empreitadas desde o início.
Havia a vontade de fazer algo dedicado à Administração Pública, porém, ao conhecer a disciplina sobre impostos, lecionada por um eminente professor, mudei os meus planos. Detinha enorme admiração por ele, uma pessoa extremamente sábia, que escrevia textos das leis da área. Isso foi decisivo para conduzir a carreira por esse caminho.
Os passos iniciais da carreira e a ascensão como executivo
No Banco de La Nación Argentina, o profissional começava e terminava o trabalho no mesmo dia – não precisava levar extra para casa. Ou seja, sobrava tempo para me dedicar à faculdade, com um salário bom.Na mesma época, conheci minha futura esposa, Laura Veronica Zaninotto, e decidimos poupar dinheiro, tanto para nos casarmos quanto para viajarmos e nos divertirmos.
Já em 2004, recebi uma oferta da Ernst & Young (EY), uma das maiores empresas de auditoria do mundo. Evidentemente, por se tratar de uma companhia da Big Four, atendia à minha intenção de edificar a carreira neste segmento.
Todavia, o salário como auditor júnior era bem baixo. Durante a graduação, pensava em chegar ao final da carreira como sócio em uma Big Four, inserido no ambiente corporativo multinacional. Apesar de financeiramente não fazer sentido, o plano de carreira era sólido e, desta forma, ingressei na companhia.
Contudo, precisei remanejar os meus planos. Como uma boa empresa norte-americana, a EY funciona mais ou menos como o McDonald’s – o profissional começa de baixo e vai ascendendo paulatinamente na escala corporativa, conforme o seu desempenho, entregas e resultados.
Perseverante, atingi a posição de gerente de Impostos, justamente no período em que realizei a minha especialização. Neste ínterim, também dei aulas, pois tal atribuição integrava a parte do desenvolvimento da companhia – éramos estimulamos a estar presentes nas universidades. Assim, lecionei na Universidad de Buenos Aires e na Pontifícia Universidad Católica.
Reitero como o trabalho exigia bastante, fazia hora extra frequentemente, inclusive aos fins de semana – uma carreira sacrificante. Nesta época, no final de 2008, a minha primeira filha, Bianca, nasceu.
Encontra-me como gerente, mas não estava presente em casa, algo que me desagradava bastante. Em 2009, cheguei a ficar praticamente três semanas sem ver a minha filha. Isso me marcou em demasia e decidi sair, após seis anos de empresa, porque pretendia equilibrar a vida pessoal com a profissional.
Aproveitei uma oportunidade quando um ex-chefe da EY migrou para a General Eletric (GE) e me chamou para ir junto. A GE, à época, estava consolidada como companhia número 1 do mundo em seu segmento, sendo a marca mais admirada, com a maior receita a nível global. Ou seja, decidi investir nesta oportunidade fantástica, e assim assumi como gerente de Impostos, com responsabilidades regionais para a América Latina.
Essa transição marcou como a minha primeira oportunidade de poder viajar a trabalho para fora do país, pois até então permanecia alocado na Argentina. Comecei a contar com vivências enriquecedoras, estabelecendo relacionamentos com pessoas dos Estados Unidos, da Europa e do sudeste asiático, além dos colegas da região Latam.
Com o fruto de meu desempenho, recebi a proposta para morar no Peru, porém, a minha esposa estava trabalhando. Apesar disso, ela me apoiou fortemente e embarcarmos nessa aventura em 2015.
Nesta movimentação, deixei o nicho de impostos para assumir a área financeira, como chief financial officer (CFO) na região andina, alocado em Lima. Devidamente estabelecidos no Peru, a minha segunda filha, Allegra, nasceu. Confesso como nos deparamos com alguns receios, especialmente por estarmos longe da família e dos amigos. Contudo, isso significou uma experiência fantástica para todos nós, inclusive pelas interações culturais.
A trajetória repleta de conquistas emblemáticas como CEO da SGS
Ainda atuando em Lima, fui procurado no final de 2017 pela Société Générale de Surveillance (SGS), poderosa organização suíça com 145 anos de história. A GE não atravessava um bom momento e decidi sair da zona de conforto ao aceitar o convite. Contudo, estava como expatriado da GE e passei a ser CLT local, ou seja, requeria ficarmos no Peru por tempo indefinido.
Apesar das dificuldades iniciais, tudo compensou, porque acabei vindo para o Brasil cinco anos depois, após galgar posições importantes dentro da companhia, sendo promovido seguidamente. Assim, eu e minha família consideramos interessante conhecer o Brasil, porém, com o mesmo sentimento de quando partirmos rumo ao Peru, devido à incerteza acerca da permanência. Com o êxito alcançado na organização, atualmente exerço a função de CEO para o Brasil, responsável por todas as operações no país.
Analiso como a GE é uma organização voltada para produtos, com uma área de serviço menor. Já a SGS é um conglomerado focado em serviços – trata-se da líder mundial em inspeção, verificação, testes e certificação. Desta forma, abarcamos todos os setores da economia, aplicando o TIC.
Além disso, a empresa provém testes diversos – detemos muitos laboratórios no Brasil para analisar produtos eletroeletrônicos, têxtis, brinquedos, do setor alimentício, e nos aplicamos acerca da verificação do ar, da água, do solo e da agricultura. Definitivamente, possuímos um portfólio enorme.
Importante frisar como contamos com o reconhecimento dos nossos clientes em dois temas relevantes, que são muito significativos para nós. No quesito qualidade, nos destacamos solidamente no mercado – a nossa marca é extremamente reconhecida neste quesito.
Outro tópico diz respeito à segurança das pessoas. A SGS já foi agraciada com muitas premiações de excelência pela maneira como lida com a segurança dos colaboradores da companhia e dos nossos clientes.
Contamos com quase 100 mil colaboradores – sendo 4 mil no Brasil –, que atuam em uma rede extensa de 2.600 escritórios e laboratórios, com o propósito de possibilitar um mundo melhor, mais seguro e interligado. O sucesso é tamanho que se converteu em um serviço.
Aproveite as oportunidades e jamais permaneça na zona de conforto
Ao longo da minha carreira, sempre estive aberto às oportunidades, sem jamais me acomodar na perigosa zona de conforto. Deixei uma grande auditoria para migrar rumo a uma organização gigantesca, primeiro como gerente de Impostos e depois como gerente financeiro, com mais incumbências e missões. Ao sair da GE, abdiquei de todos os benefícios que dispunha, para assumir o cargo de CFO Latam na SGS, o que logo possibilitou vir para o Brasil como CEO das operações no país.
Saliento que, ao migrar da área financeira para me tornar CEO, precisei me adaptar e sair da “caixinha”, haja vista que as atribuições são mais complexas. Nesta posição, é necessário atuar com uma função pautada no desenvolvimento e com um foco comercial abrangente, envolvendo-se com culturas diferentes. Ademais, demanda-se gerir com extrema competência o setor de RH, englobando os aspectos de segurança e saúde.
Assevero como isso é bastante recorrente em minha carreira: sair da zona de conforto e me adaptar em prol de prosseguir ascendendo no mercado. Essa jornada é marcada por diversos turning points, mas a família, as minhas filhas, sempre foram a prioridade.
Outro ponto relevante ocorreu quando deixei a Argentina, algo que expandiu bastante a minha mente e colocou à prova questões de adaptação, empatia e a capacidade de estabelecer uma nova rede de relacionamentos. Basicamente, foi necessário criar toda uma nova vida no exterior, algo muito impactante devido às circunstâncias que se apresentaram pelo caminho.
Destaco que, ao assumir a posição de CEO, realizei uma autoanálise e percebi que superei minhas próprias expectativas, pois não havia planejado alcançar tal cargo. Portanto, enfrentei e superei desafios e obstáculos complexos ao assumir riscos calculados, sempre com o devido planejamento.
Muitas das novas relações alicerçadas, com amigos e colegas, junto à minha esposa, foram fomentadas pelo convívio nas escolas das nossas filhas ou no trabalho. É valoroso estar aberto e investir em novas relações, seja em promover um churrasco, tomar um café, com o propósito de estabelecer laços sólidos e confiáveis – isso ajuda na trajetória.
A construção de confiança também é baseada em resultados
A carreira sólida é embasada em confiança – é de suma importância se aplicar nesta característica para se desenvolver.Desde o começo, costumo acreditar nas pessoas. Avalio que há duas opções: ou não se acredita no indivíduo e se constrói essa conexão, ou há essa confiança inicial e, ao longo do tempo, ajustam-se os vínculos. E eu aprecio que as pessoas acreditem, confiem em mim.
Enfim, a construção da confiança, em todos os níveis, ajuda a se trabalhar coletivamente, com êxito, transmitindo valor. Pode ser o melhor profissional do mundo, mas sem credibilidade, jamais conseguirá as oportunidades.
Outro aspecto importante é estar aberto a ouvir oportunidades e a sair da zona de conforto, pois a partir disso, o indivíduo cresce, aprende, se desenvolve e abre portas diversas.Tudo se torna mais claro; é possível perceber como é viável transitar por cenários distintos. Manter a mente aberta é imprescindível para entregar resultados robustos e constituir uma carreira exitosa.
Obviamente, a resiliência e a perseverança são predicados inegociáveis. Portanto, é fundamental acreditar em si mesmo, aprender com os eventuais fracassos, para poder executar melhor futuramente.
Cito Michelle Obama para exemplificar a minha linha de pensamento: “ Fracassar é parte crucial do sucesso. Toda vez que você fracassa e se recupera, você exercita a perseverança, que é a chave da vida. Sua força está na habilidade de se recompor ”.
O líder deve atuar junto aos times, com humildade e empatia
O líder atual precisa estar à disposição das pessoas, sabendo ouvir, para se conectar com todos, independentemente do cargo, nível ou segmento. As novas gerações estão ingressando no mercado de forma massiva – são pessoas que precisam da valorização do contato com a liderança, por meio da comunicação assertiva. Os jovens precisam saber o que fazer, compreendendo os contextos, sem a interferência da hierarquia rigorosa.
A maioria entende que a hierarquia está relacionada ao nível de aprovação, de responsabilidades. A hierarquia atual é somente um processo burocrático. Então, se o líder não atuar lado a lado, jamais proverá engajamento junto aos times e colaboradores. E isso impedirá o desenvolvimento e a entrega de resultados satisfatórios.
Outra questão bastante importante é sobre a empatia – falar com a pessoa para compreender o que ela está sentindo, com amplitude e gentileza. Isso exige estar ao lado das pessoas, edificando o relacionamento sadio.
Contar com a disposição de dedicar seu tempo, saber receber críticas e passar a mensagem correta adiante são critérios primordiais das lideranças. Enfim, não há espaço para se acomodar com o cargo – é importante gerar impacto em todos os âmbitos, analisando as realidades dos cenários.
Saber dizer “não” também é valioso, algo que muitas vezes requer ser explicado e compartilhado. Eventualmente, é preciso explicitar como será difícil entregar o que foi requisitado, porque no final do dia os resultados importam, até na construção da confiança. Aprender a não aceitar por questões justas é essencial. Passei por situações complexas e hoje analiso de outra forma, com mais assertividade.
A humildade e a empatia devem integrar o perfil do líder, tendo em vista fomentar os relacionamentos. Ninguém sabe sobre tudo, portanto, estar rodeado por pessoas íntegras é um ponto-chave em toda a trajetória, porque instiga a seguir aprendendo constantemente.
Pondero como há um preconceito enraizado sobre a suposta soberba do argentino. Por isso, destaco o valor da humildade. Defini que seria um líder argentino, mas inserido na cultura brasileira, sempre buscando me adaptar.
A humildade, a empatia e a proximidade junto às outras pessoas me ajudaram muito. Antes de aceitar esse novo e prazeroso desafio, tratei de estudar o português com afinco para ser um líder exemplar, disponível e participativo.
Mentoria e conhecimentos sobre economia são fundamentais
Ao longo da carreira é mandatório identificar mentores, pessoas a quem recorrer para resolver dúvidas e compartilhar opiniões. A interação com indivíduos confiáveis, que tenham a vontade de contribuir, resulta em trocas sadias – é algo bastante relevante na vida. Conto com o auxílio dos meus mentores, que objetivamente ajudam a me aprimorar em determinados aspectos, com assertividade e clareza.
Além disso, ressalto que todos precisam saber um pouco sobre economia, matemática e finanças em geral, pois isso faz parte da vida cotidiana. Tomamos decisões políticas, de carreira, consideramos investimentos e até questões familiares com base em planejamentos econômicos.
Esse conhecimento é básico e deveria ser mais valorizado pelas pessoas. Considero como deve ser tema dentro das escolas, pois há questões pertinentes aos objetivos de vida, de como elaborar planos para o futuro. A economia faz parte do dia a dia de todo mundo. Trata-se de uma formação imprescindível em qualquer setor, inclusive para o indivíduo conseguir crescer na carreira.
Amparado por características intrínsecas, estruturei o meu plano de carreira com enorme êxito, aplicando-me com perseverança, sem jamais me acomodar. Pondero como a capacidade adaptativa, a humildade e a empatia – além do conceito da construção da confiança – são fatores preponderantes na constituição do meu perfil em todos os âmbitos. Atualmente, ocupo o cargo de CEO Brasil na SGS, prestigiosa multinacional suíça do setor de serviços.
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Natural de Buenos Aires, sou descendente de imigrantes, sendo que o meu pai, Juan Jesus Bravo Rial, é espanhol, e chegou na década de 1950 na Argentina. Já a minha mãe, Delia Nasser, é filha de sírios, que também se estabeleceram no país nesta época.
Sempre fomos uma família de classe baixa, sem luxos – morávamos no subúrbio da capital. Meu pai trabalhou a vida toda como garçom, ao passo que a minha mãe era dona de casa, além de ter atuado como costureira.
Estudei em escolas públicas, inclusive no Ensino Superior, tendo me graduado como contador público pela Universidad de Buenos Aires (UBA), em 2005. Na Argentina, trata-se de uma carreira bastante valorizada, por ser muito abrangente. Ressalto como no Brasil, por exemplo, certas tarefas designadas aos advogados são realizadas por contadores.
Fui incentivado a estudar desde cedo e obtive êxito no academicismo, atendendo às expectativas dos meus pais. Sou o mais velho de quatro irmãos, e enalteço como a minha primeira conquista ter sido o primeiro membro da família inteira a obter a formação universitária. Isso marcou como uma enorme felicidade e motivo de orgulho.
Sempre tive muita facilidade na escola, me destacava e costumava ser o orador em cerimônias. Isso é reconhecimento. Meus pais me utilizavam como exemplo em casa, o que também gerava certa pressão.
Posteriormente, realizei uma especialização em Administração Pública na UBA. Detinha a ambição de migrar para uma função no setor, e tratei de estudar normas contábeis internacionais para me especializar em impostos, ampliando o meu escopo.
Saliento como possuo facilidade para memorizar determinados temas, de maneira lógica, principalmente ao lidar bem com números. Isso me ajudou muito, haja vista como economizava tempo ao estudar e trabalhar. Além disso, havia amplo compartilhamento com os meus colegas – algo que introduzi na minha carreira profissional.
Comecei a trabalhar precocemente, logo aos 16 anos, como eletricista. Já ao iniciar a universidade, ingressei no Banco de La Nación Argentina (BNA), como atendente de caixa. Trabalhava de dia e estudava à noite, pois precisava me sustentar, pagar os estudos e viajar com os meus amigos quando possível. A dedicação é algo que trago comigo em minhas empreitadas desde o início.
Havia a vontade de fazer algo dedicado à Administração Pública, porém, ao conhecer a disciplina sobre impostos, lecionada por um eminente professor, mudei os meus planos. Detinha enorme admiração por ele, uma pessoa extremamente sábia, que escrevia textos das leis da área. Isso foi decisivo para conduzir a carreira por esse caminho.
Os passos iniciais da carreira e a ascensão como executivo
No Banco de La Nación Argentina, o profissional começava e terminava o trabalho no mesmo dia – não precisava levar extra para casa. Ou seja, sobrava tempo para me dedicar à faculdade, com um salário bom.Na mesma época, conheci minha futura esposa, Laura Veronica Zaninotto, e decidimos poupar dinheiro, tanto para nos casarmos quanto para viajarmos e nos divertirmos.
Já em 2004, recebi uma oferta da Ernst & Young (EY), uma das maiores empresas de auditoria do mundo. Evidentemente, por se tratar de uma companhia da Big Four, atendia à minha intenção de edificar a carreira neste segmento.
Todavia, o salário como auditor júnior era bem baixo. Durante a graduação, pensava em chegar ao final da carreira como sócio em uma Big Four, inserido no ambiente corporativo multinacional. Apesar de financeiramente não fazer sentido, o plano de carreira era sólido e, desta forma, ingressei na companhia.
Contudo, precisei remanejar os meus planos. Como uma boa empresa norte-americana, a EY funciona mais ou menos como o McDonald’s – o profissional começa de baixo e vai ascendendo paulatinamente na escala corporativa, conforme o seu desempenho, entregas e resultados.
Perseverante, atingi a posição de gerente de Impostos, justamente no período em que realizei a minha especialização. Neste ínterim, também dei aulas, pois tal atribuição integrava a parte do desenvolvimento da companhia – éramos estimulamos a estar presentes nas universidades. Assim, lecionei na Universidad de Buenos Aires e na Pontifícia Universidad Católica.
Reitero como o trabalho exigia bastante, fazia hora extra frequentemente, inclusive aos fins de semana – uma carreira sacrificante. Nesta época, no final de 2008, a minha primeira filha, Bianca, nasceu.
Encontra-me como gerente, mas não estava presente em casa, algo que me desagradava bastante. Em 2009, cheguei a ficar praticamente três semanas sem ver a minha filha. Isso me marcou em demasia e decidi sair, após seis anos de empresa, porque pretendia equilibrar a vida pessoal com a profissional.
Aproveitei uma oportunidade quando um ex-chefe da EY migrou para a General Eletric (GE) e me chamou para ir junto. A GE, à época, estava consolidada como companhia número 1 do mundo em seu segmento, sendo a marca mais admirada, com a maior receita a nível global. Ou seja, decidi investir nesta oportunidade fantástica, e assim assumi como gerente de Impostos, com responsabilidades regionais para a América Latina.
Essa transição marcou como a minha primeira oportunidade de poder viajar a trabalho para fora do país, pois até então permanecia alocado na Argentina. Comecei a contar com vivências enriquecedoras, estabelecendo relacionamentos com pessoas dos Estados Unidos, da Europa e do sudeste asiático, além dos colegas da região Latam.
Com o fruto de meu desempenho, recebi a proposta para morar no Peru, porém, a minha esposa estava trabalhando. Apesar disso, ela me apoiou fortemente e embarcarmos nessa aventura em 2015.
Nesta movimentação, deixei o nicho de impostos para assumir a área financeira, como chief financial officer (CFO) na região andina, alocado em Lima. Devidamente estabelecidos no Peru, a minha segunda filha, Allegra, nasceu. Confesso como nos deparamos com alguns receios, especialmente por estarmos longe da família e dos amigos. Contudo, isso significou uma experiência fantástica para todos nós, inclusive pelas interações culturais.
A trajetória repleta de conquistas emblemáticas como CEO da SGS
Ainda atuando em Lima, fui procurado no final de 2017 pela Société Générale de Surveillance (SGS), poderosa organização suíça com 145 anos de história. A GE não atravessava um bom momento e decidi sair da zona de conforto ao aceitar o convite. Contudo, estava como expatriado da GE e passei a ser CLT local, ou seja, requeria ficarmos no Peru por tempo indefinido.
Apesar das dificuldades iniciais, tudo compensou, porque acabei vindo para o Brasil cinco anos depois, após galgar posições importantes dentro da companhia, sendo promovido seguidamente. Assim, eu e minha família consideramos interessante conhecer o Brasil, porém, com o mesmo sentimento de quando partirmos rumo ao Peru, devido à incerteza acerca da permanência. Com o êxito alcançado na organização, atualmente exerço a função de CEO para o Brasil, responsável por todas as operações no país.
Analiso como a GE é uma organização voltada para produtos, com uma área de serviço menor. Já a SGS é um conglomerado focado em serviços – trata-se da líder mundial em inspeção, verificação, testes e certificação. Desta forma, abarcamos todos os setores da economia, aplicando o TIC.
Além disso, a empresa provém testes diversos – detemos muitos laboratórios no Brasil para analisar produtos eletroeletrônicos, têxtis, brinquedos, do setor alimentício, e nos aplicamos acerca da verificação do ar, da água, do solo e da agricultura. Definitivamente, possuímos um portfólio enorme.
Importante frisar como contamos com o reconhecimento dos nossos clientes em dois temas relevantes, que são muito significativos para nós. No quesito qualidade, nos destacamos solidamente no mercado – a nossa marca é extremamente reconhecida neste quesito.
Outro tópico diz respeito à segurança das pessoas. A SGS já foi agraciada com muitas premiações de excelência pela maneira como lida com a segurança dos colaboradores da companhia e dos nossos clientes.
Contamos com quase 100 mil colaboradores – sendo 4 mil no Brasil –, que atuam em uma rede extensa de 2.600 escritórios e laboratórios, com o propósito de possibilitar um mundo melhor, mais seguro e interligado. O sucesso é tamanho que se converteu em um serviço.
Aproveite as oportunidades e jamais permaneça na zona de conforto
Ao longo da minha carreira, sempre estive aberto às oportunidades, sem jamais me acomodar na perigosa zona de conforto. Deixei uma grande auditoria para migrar rumo a uma organização gigantesca, primeiro como gerente de Impostos e depois como gerente financeiro, com mais incumbências e missões. Ao sair da GE, abdiquei de todos os benefícios que dispunha, para assumir o cargo de CFO Latam na SGS, o que logo possibilitou vir para o Brasil como CEO das operações no país.
Saliento que, ao migrar da área financeira para me tornar CEO, precisei me adaptar e sair da “caixinha”, haja vista que as atribuições são mais complexas. Nesta posição, é necessário atuar com uma função pautada no desenvolvimento e com um foco comercial abrangente, envolvendo-se com culturas diferentes. Ademais, demanda-se gerir com extrema competência o setor de RH, englobando os aspectos de segurança e saúde.
Assevero como isso é bastante recorrente em minha carreira: sair da zona de conforto e me adaptar em prol de prosseguir ascendendo no mercado. Essa jornada é marcada por diversos turning points, mas a família, as minhas filhas, sempre foram a prioridade.
Outro ponto relevante ocorreu quando deixei a Argentina, algo que expandiu bastante a minha mente e colocou à prova questões de adaptação, empatia e a capacidade de estabelecer uma nova rede de relacionamentos. Basicamente, foi necessário criar toda uma nova vida no exterior, algo muito impactante devido às circunstâncias que se apresentaram pelo caminho.
Destaco que, ao assumir a posição de CEO, realizei uma autoanálise e percebi que superei minhas próprias expectativas, pois não havia planejado alcançar tal cargo. Portanto, enfrentei e superei desafios e obstáculos complexos ao assumir riscos calculados, sempre com o devido planejamento.
Muitas das novas relações alicerçadas, com amigos e colegas, junto à minha esposa, foram fomentadas pelo convívio nas escolas das nossas filhas ou no trabalho. É valoroso estar aberto e investir em novas relações, seja em promover um churrasco, tomar um café, com o propósito de estabelecer laços sólidos e confiáveis – isso ajuda na trajetória.
A construção de confiança também é baseada em resultados
A carreira sólida é embasada em confiança – é de suma importância se aplicar nesta característica para se desenvolver.Desde o começo, costumo acreditar nas pessoas. Avalio que há duas opções: ou não se acredita no indivíduo e se constrói essa conexão, ou há essa confiança inicial e, ao longo do tempo, ajustam-se os vínculos. E eu aprecio que as pessoas acreditem, confiem em mim.
Enfim, a construção da confiança, em todos os níveis, ajuda a se trabalhar coletivamente, com êxito, transmitindo valor. Pode ser o melhor profissional do mundo, mas sem credibilidade, jamais conseguirá as oportunidades.
Outro aspecto importante é estar aberto a ouvir oportunidades e a sair da zona de conforto, pois a partir disso, o indivíduo cresce, aprende, se desenvolve e abre portas diversas.Tudo se torna mais claro; é possível perceber como é viável transitar por cenários distintos. Manter a mente aberta é imprescindível para entregar resultados robustos e constituir uma carreira exitosa.
Obviamente, a resiliência e a perseverança são predicados inegociáveis. Portanto, é fundamental acreditar em si mesmo, aprender com os eventuais fracassos, para poder executar melhor futuramente.
Cito Michelle Obama para exemplificar a minha linha de pensamento: “ Fracassar é parte crucial do sucesso. Toda vez que você fracassa e se recupera, você exercita a perseverança, que é a chave da vida. Sua força está na habilidade de se recompor ”.
O líder deve atuar junto aos times, com humildade e empatia
O líder atual precisa estar à disposição das pessoas, sabendo ouvir, para se conectar com todos, independentemente do cargo, nível ou segmento. As novas gerações estão ingressando no mercado de forma massiva – são pessoas que precisam da valorização do contato com a liderança, por meio da comunicação assertiva. Os jovens precisam saber o que fazer, compreendendo os contextos, sem a interferência da hierarquia rigorosa.
A maioria entende que a hierarquia está relacionada ao nível de aprovação, de responsabilidades. A hierarquia atual é somente um processo burocrático. Então, se o líder não atuar lado a lado, jamais proverá engajamento junto aos times e colaboradores. E isso impedirá o desenvolvimento e a entrega de resultados satisfatórios.
Outra questão bastante importante é sobre a empatia – falar com a pessoa para compreender o que ela está sentindo, com amplitude e gentileza. Isso exige estar ao lado das pessoas, edificando o relacionamento sadio.
Contar com a disposição de dedicar seu tempo, saber receber críticas e passar a mensagem correta adiante são critérios primordiais das lideranças. Enfim, não há espaço para se acomodar com o cargo – é importante gerar impacto em todos os âmbitos, analisando as realidades dos cenários.
Saber dizer “não” também é valioso, algo que muitas vezes requer ser explicado e compartilhado. Eventualmente, é preciso explicitar como será difícil entregar o que foi requisitado, porque no final do dia os resultados importam, até na construção da confiança. Aprender a não aceitar por questões justas é essencial. Passei por situações complexas e hoje analiso de outra forma, com mais assertividade.
A humildade e a empatia devem integrar o perfil do líder, tendo em vista fomentar os relacionamentos. Ninguém sabe sobre tudo, portanto, estar rodeado por pessoas íntegras é um ponto-chave em toda a trajetória, porque instiga a seguir aprendendo constantemente.
Pondero como há um preconceito enraizado sobre a suposta soberba do argentino. Por isso, destaco o valor da humildade. Defini que seria um líder argentino, mas inserido na cultura brasileira, sempre buscando me adaptar.
A humildade, a empatia e a proximidade junto às outras pessoas me ajudaram muito. Antes de aceitar esse novo e prazeroso desafio, tratei de estudar o português com afinco para ser um líder exemplar, disponível e participativo.
Mentoria e conhecimentos sobre economia são fundamentais
Ao longo da carreira é mandatório identificar mentores, pessoas a quem recorrer para resolver dúvidas e compartilhar opiniões. A interação com indivíduos confiáveis, que tenham a vontade de contribuir, resulta em trocas sadias – é algo bastante relevante na vida. Conto com o auxílio dos meus mentores, que objetivamente ajudam a me aprimorar em determinados aspectos, com assertividade e clareza.
Além disso, ressalto que todos precisam saber um pouco sobre economia, matemática e finanças em geral, pois isso faz parte da vida cotidiana. Tomamos decisões políticas, de carreira, consideramos investimentos e até questões familiares com base em planejamentos econômicos.
Esse conhecimento é básico e deveria ser mais valorizado pelas pessoas. Considero como deve ser tema dentro das escolas, pois há questões pertinentes aos objetivos de vida, de como elaborar planos para o futuro. A economia faz parte do dia a dia de todo mundo. Trata-se de uma formação imprescindível em qualquer setor, inclusive para o indivíduo conseguir crescer na carreira.