Com alta da Selic, 2025 promete ser mais desafiador para mercado imobiliário
Mudanças na economia brasileira prometem criar um cenário bem mais complicado do que o visto nos últimos anos
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às, 10h04.
*Coriolano Lacerda
O que esperar do mercado imobiliário em 2025? Esse é um questionamento frequente nessa época do ano para quem atua no setor. A resposta, porém, não é tão simples, e pode ser diferente de acordo com o nível de otimismo do observador.
Vale aqui recuperar um pouco do histórico dos últimos anos. 2021 foi um ano extraordinário para o setor. Por um conjunto de fatores – notadamente a pandemia ou, melhor dizendo, as medidas econômicas tomadas em resposta a ela – o mercado imobiliário mudou de patamar, com o crédito a um nível historicamente barato e recordes no número de unidades comercializadas.
Os dois anos seguintes (2022 e 2023) confirmaram essa tendência positiva, com resultados não tão bons quanto os de 2021 (o que, de fato, seria muito improvável), mas sempre acima dos números pré-2021.
Chegamos a 2024 e os números, mais uma vez, surpreenderam positivamente. O PIB brasileiro deve fechar o ano superando as projeções iniciais. O mercado de trabalho está estável, com a menor taxa de desemprego da série histórica registrada no último mês de outubro. Programas governamentais, com destaque para o Minha Casa Minha Vida, continuam fortalecidos e, com isso, impulsionam a compra e venda de imóveis.
Vale destacar também que a concessão real de crédito acumulada em 12 meses (tendo como referência o mês de outubro) superou o pico observado em janeiro de 2022. Em outras palavras, o montante de crédito concedido neste ano já é maior do que os montantes recordes registrados em 2021/2022.
Isso ajuda a explicar, por exemplo, porque no segundo trimestre deste ano o setor apresentou crescimento de mais de 20% tanto em número de lançamentos quanto em unidades habitacionais verticais comercializadas, segundo a Câmara Brasileira da Indústria e da Construção (CBIC).
Dado esse histórico, podemos esperar só boas notícias em 2025, certo? Não exatamente. Mudanças na economia brasileira prometem criar um cenário bem mais complicado do que o visto nos últimos anos.
Em primeiro lugar, o ciclo de aumentos da taxa de juros (Selic) deve começar a afetar negativamente o financiamento de imóveis. Em essência, juros mais altos limitam o acesso de mais pessoas ao mercado de compra e venda. Soma-se a isso o fato de que a poupança vem se esgotando como fonte de financiamento imobiliário, o que significa que mais famílias precisarão recorrer a fontes alternativas e, quase por definição, mais custosas. Em resumo, o crédito promete ficar mais caro em 2025, o que impacta profundamente o setor imobiliário.
Os sinais, portanto, ainda são dúbios. Quem enxerga o copo meio vazio tem razões para acreditar que crédito encarecido é sinônimo de menor crescimento em 2025. Por outro lado, a resiliência dos indicadores de emprego e renda enseja um olhar mais otimista, apostando, inclusive, que o mercado de locação, mais volátil, possa aparecer como destaque do setor para o ano que vem.
Uma coisa é certa: 2025 será um ano em que resiliência e adaptação serão essenciais para quem atua no mercado imobiliário.
*Coriolano Lacerda é Gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX