A importância da saúde mental no setor imobiliário
Em alguns segmentos, colaboradores abandonam empresas que não olham para temas como saúde mental, bem-estar e ESG e buscam novos locais
Marcelo Sakate
Publicado em 4 de agosto de 2021 às 07h00.
Última atualização em 5 de agosto de 2021 às 11h47.
O mercado imobiliário vive um dos seus melhores períodos das últimas décadas, com alta nas vendas em praticamente todos os estados do Brasil. As empresas e os profissionais do setor sentem, no dia-a-dia, o reflexo do aumento da demanda por um novo imóvel.
Junto com esse aquecimento, aumenta também a "caça" por talentos profissionais do setor. Lea Federmann é sócia da Heidrick & Struggles, empresa de recrutamento que atua nesse segmento e falou com exclusividade ao Mercado por Elas.
Federmann destacou que as movimentações entre as empresas foram marcadas por muitas substituições, mostrando uma necessidade das companhias "de trazer executivos que pensem 'fora da caixa' e que olhem para a transformação tanto digital quanto de processos e gestão, englobando as estruturas como um todo”.
Contudo a busca por sair da zona de conforto pode significar uma ameaça, especialmente para quem ainda vive os impactos da pandemia.
Na Olimpíada, a ginasta Simone Biles entrou para a história mais uma vez ao abandonar a competição em Tóquio, alegando escolher priorizar a saúde mental . "Não somos apenas atletas. Somos pessoas, afinal de contas, e às vezes é preciso dar um passo atrás", disse a tetracampeã olímpica.
Na pesquisa exclusiva realizada pelo think tank do movimento Mulheres do Imobiliário com 129 profissionais do setor, é possível identificar que as mulheres estão ainda mais sobrecarregadas.
Para quase metade delas (48,7%), conciliar vida pessoal e profissional é uma tarefa ainda mais difícil e a saúde emocional aparece como o elemento mais afetado na vida pessoal, conforme 41% dos entrevistados. Esse ponto é muito mais lembrado pelas mulheres (43,4%) do que pelos homens (25%).
A maioria (aproximadamente 66%) dos entrevistados para a pesquisa relata ter recebido apoio de suas empresas na pandemia, em diferentes intensidades. Entre os homens, esse suporte é mais reportado (87,5%). A jornada múltipla feminina de trabalho ainda pode estar invisibilizada pelas empresas e a diferença nos percentuais de apoio pode ser um reflexo disso.
Um passo importante para enxergar essa multiplicidade de funções pode ser medido já nas contratações. Federmann afirma que “o trabalho remoto deixou de ser um 'tabu' e de ser visto como 'horas de folga', pois percebeu-se que os resultados vieram independentemente da localização do executivo”. Ela lembra que em posições de gestão ainda existe a visão de que o contato humano traz benefícios e que o ideal seria um modelo híbrido.
Para a maioria dos ouvidos pelo Amazonita Clube em conjunto com o grupo Mulheres do Imobiliário, o cenário trazido pela Covid-19 gerou aumento da carga de trabalho, mas também impulsionou carreira e remuneração.
"Em 2020 tivemos o pico histórico de afastamentos por transtornos mentais. Foram mais de 576 mil trabalhadores afastados do mercado de trabalho (concessão de auxílio doença e aposentadoria por invalidez). Importante pensar que, para cada pessoa convivendo com um transtorno mental, há sempre um núcleo familiar que é afetado e que, muitas vezes, adoece também, onerando ainda mais os custos com a operadora de saúde" explica Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude, startup de psicologia e educação emocional focada em empresas. A startup registrou um crescimento de receita acumulada desde o início da pandemia de 700%.
Pimenta conta que, em alguns segmentos, colaboradores têm apresentado um comportamento interessante, abandonando empresas que não olham para temas como saúde mental, bem-estar e ESG e buscando novos locais em que serviços como psicoterapia online estão entre os benefícios oferecidos no contrato de trabalho.
Pelo lado das empresas, Lea Federmann nos conta que a diversidade atualmente é quase um pré-requisito no processo de contratação. Segundo ela, as empresas deixaram de olhar para o tema como "uma 'cota' a ser cumprida, e, sim, uma forma de tornar o ambiente de trabalho mais receptivo e aberto a qualquer forma de diversidade".
Saber parar antes de quebrar é para poucos. Eu diria que vale ouro olímpico.
*Elisa Tawil é LinkedIn Top Voices e TEDxSpeaker. Mentora, consultora estratégica de negócios, podcaster pelo Vieses Femininos. Idealizadora e fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário. Colunista na revista HSM, Imobi Report e EXAME Invest. Head de Growth e Onboarding Specialist na eXp Realty Brasil.
O mercado imobiliário vive um dos seus melhores períodos das últimas décadas, com alta nas vendas em praticamente todos os estados do Brasil. As empresas e os profissionais do setor sentem, no dia-a-dia, o reflexo do aumento da demanda por um novo imóvel.
Junto com esse aquecimento, aumenta também a "caça" por talentos profissionais do setor. Lea Federmann é sócia da Heidrick & Struggles, empresa de recrutamento que atua nesse segmento e falou com exclusividade ao Mercado por Elas.
Federmann destacou que as movimentações entre as empresas foram marcadas por muitas substituições, mostrando uma necessidade das companhias "de trazer executivos que pensem 'fora da caixa' e que olhem para a transformação tanto digital quanto de processos e gestão, englobando as estruturas como um todo”.
Contudo a busca por sair da zona de conforto pode significar uma ameaça, especialmente para quem ainda vive os impactos da pandemia.
Na Olimpíada, a ginasta Simone Biles entrou para a história mais uma vez ao abandonar a competição em Tóquio, alegando escolher priorizar a saúde mental . "Não somos apenas atletas. Somos pessoas, afinal de contas, e às vezes é preciso dar um passo atrás", disse a tetracampeã olímpica.
Na pesquisa exclusiva realizada pelo think tank do movimento Mulheres do Imobiliário com 129 profissionais do setor, é possível identificar que as mulheres estão ainda mais sobrecarregadas.
Para quase metade delas (48,7%), conciliar vida pessoal e profissional é uma tarefa ainda mais difícil e a saúde emocional aparece como o elemento mais afetado na vida pessoal, conforme 41% dos entrevistados. Esse ponto é muito mais lembrado pelas mulheres (43,4%) do que pelos homens (25%).
A maioria (aproximadamente 66%) dos entrevistados para a pesquisa relata ter recebido apoio de suas empresas na pandemia, em diferentes intensidades. Entre os homens, esse suporte é mais reportado (87,5%). A jornada múltipla feminina de trabalho ainda pode estar invisibilizada pelas empresas e a diferença nos percentuais de apoio pode ser um reflexo disso.
Um passo importante para enxergar essa multiplicidade de funções pode ser medido já nas contratações. Federmann afirma que “o trabalho remoto deixou de ser um 'tabu' e de ser visto como 'horas de folga', pois percebeu-se que os resultados vieram independentemente da localização do executivo”. Ela lembra que em posições de gestão ainda existe a visão de que o contato humano traz benefícios e que o ideal seria um modelo híbrido.
Para a maioria dos ouvidos pelo Amazonita Clube em conjunto com o grupo Mulheres do Imobiliário, o cenário trazido pela Covid-19 gerou aumento da carga de trabalho, mas também impulsionou carreira e remuneração.
"Em 2020 tivemos o pico histórico de afastamentos por transtornos mentais. Foram mais de 576 mil trabalhadores afastados do mercado de trabalho (concessão de auxílio doença e aposentadoria por invalidez). Importante pensar que, para cada pessoa convivendo com um transtorno mental, há sempre um núcleo familiar que é afetado e que, muitas vezes, adoece também, onerando ainda mais os custos com a operadora de saúde" explica Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude, startup de psicologia e educação emocional focada em empresas. A startup registrou um crescimento de receita acumulada desde o início da pandemia de 700%.
Pimenta conta que, em alguns segmentos, colaboradores têm apresentado um comportamento interessante, abandonando empresas que não olham para temas como saúde mental, bem-estar e ESG e buscando novos locais em que serviços como psicoterapia online estão entre os benefícios oferecidos no contrato de trabalho.
Pelo lado das empresas, Lea Federmann nos conta que a diversidade atualmente é quase um pré-requisito no processo de contratação. Segundo ela, as empresas deixaram de olhar para o tema como "uma 'cota' a ser cumprida, e, sim, uma forma de tornar o ambiente de trabalho mais receptivo e aberto a qualquer forma de diversidade".
Saber parar antes de quebrar é para poucos. Eu diria que vale ouro olímpico.
*Elisa Tawil é LinkedIn Top Voices e TEDxSpeaker. Mentora, consultora estratégica de negócios, podcaster pelo Vieses Femininos. Idealizadora e fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário. Colunista na revista HSM, Imobi Report e EXAME Invest. Head de Growth e Onboarding Specialist na eXp Realty Brasil.