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Em defesa do globalismo

Os atuais padrões de integração do mundo exigem o fortalecimento das instituições internacionais e não o contrário

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Gabriel Petrus

Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às, 18h46.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2019 às, 19h08.

Acelerado pelas novas tecnologias, o tempo dos acontecimentos que navegam na velocidade da internet avança mais rápido que a velha linearidade cronológica, modificando a percepção da opinião pública sobre a importância das instituições internacionais criadas na quadra histórica anterior. O século XX parece ter sido relegado a um museu distante, mas ele foi ontem – junto com suas guerras e disputas políticas e econômicas.

Na distopia populista, esquecemos que grandes conflitos e crises econômicas globais que mudaram a geopolítica do planeta aconteceram há poucas décadas. E também esquecemos que as instituições internacionais foram criadas como resposta para preveni-los: uma aposta na cooperação não como ideologia, mas como escolha pragmática para um mundo melhor.

Ao contrário dos nacionalismos, as instituições internacionais são uma das maiores conquistas da humanidade, tanto para a promoção da segurança internacional – apesar dos muitos casos em que falhamos ao não proteger populações da violência extrema -, quanto para o comércio e a prosperidade econômica compartilhada – apesar das desigualdades e efeitos colaterais gerados e que precisam ser rapidamente endereçados.

É verdade que, com as instituições, temos problemas. Sem elas, porém, tampouco teríamos o que ter, pois já não mais o seríamos – e o pior já teria acontecido. Vale relembrar a frase do ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Dag Hammarsjöld: “a ONU não foi criada para levar a humanidade ao paraíso, mas para salvá-la do inferno”.

Antes mesmo da criação da ONU e da Organização Mundial do Comércio (OMC), o nascimento da ICC (Câmara de Comércio Internacional) em 1919 teve como principal objetivo promover a cooperação entre as nações por meio do comércio internacional. Os “mercadores da paz”, como eram chamados os fundadores da ICC no entreguerras, estão na origem da criação da primeiras regras e padrões multilaterais do comércio internacionais, muitas das quais utilizadas até os dias de hoje.

Viajar, exportar e investir para além das fronteiras nacionais são atividades possíveis por conta da criação de padrões internacionais. A possibilidade de transitar livremente na Europa – como turista ou cidadão europeu –  é algo “taken for granted”. Mas não nos esqueçamos: o muro de Berlim foi ontem.

Atingir padrões atuais de integração do mundo exigiu um processo de fortalecimento das instituições internacionais.

Neste contexto, é preciso atenção sobre dois movimentos.

De um lado, o esquecimento leva ao processo de banalização (ou normalização) da importância histórica das instituições, como se elas sempre tivessem existido, quando na verdade são conquistas resultantes de um longa processo histórico, como resposta a fatos complexos.

De outro, tenta-se culpar organizações multilaterais por problemas domésticos – acusando-as de agirem sob rótulo de um suposto “globalismo” (sic), uma generalização rasa – como forma de transferir responsabilidades e desviar atenção sobre incapacidades políticas locais e sustentar populismos cambaleantes que não param de pé sem ideologias dessa natureza.

É preciso rejeitar movimentos que atacam o multilateralismo e a cooperação internacional. Da mesma forma como as agruras do século XX foram amenizadas ou corrigidas por meio do multilateralismo, também os novos desafios do século XXI serão endereçados a partir da ampliação da cooperação internacional. E não o contrário.

Como conclusão sobre a importância de aprofundarmos o multilateralismo, em relação ao Brasil vale destacar que:

(i) a Lava-Jato mostrou que não é possível combater a corrupção sem um olhar transnacional para o problema da corrupção, na medida em que a recuperação de ativos no exterior depende da cooperação internacional;

(ii) a relevância global do ecossistema brasileiro exige o protagonismo do Brasil no Acordo de Paris, assegurando às próximas gerações um planeta mais sustentável;

(iii) o Brasil não se beneficiará das oportunidades geradas pelo comércio digital se não se inserir nas negociações internacionais que definirão os padrões dessa nova economia.