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Narciso? O Golpe tá aí, cai quem quer

Narciso, símbolo máximo da vaidade, gostava tanto de si mesmo, que inspirou o nome da patologia Narcisismo na psicanálise

O ego acabou sendo o grande problema de Narciso (Getty Images/Getty Images)
O ego acabou sendo o grande problema de Narciso (Getty Images/Getty Images)
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Frederico Pompeu

Publicado em 25 de agosto de 2022 às, 17h22.

Por Frederico Pompeu

Eu acho a mitologia grega simplesmente fascinante. Ela reúne um conjunto de mitos e lendas que dizem respeito à origem e a natureza do mundo, onde deuses viviam ao lado de pessoas comuns. Quando esses deuses tinham filhos com pessoas normais, nasciam os então chamados semideuses, que tinham poderes sobrenaturais, mas também suas fraquezas.

Um dos personagens mais famosos da mitologia é o Narciso, símbolo máximo da vaidade, que gostava tanto de si mesmo, que inspirou o nome da patologia Narcisismo na psicanálise. Reza a lenda, que assim que Narciso nasceu, sua mãe resolveu visitar um adivinho. Estupefata com a beleza de seu filho, ela queria saber se ele viveria por muitos anos. Segundo o vidente, Narciso viveria bastante, mas nunca poderia conhecer a si mesmo. Caso isso acontecesse, segundo a profecia, ele seria vítima de uma maldição fatal. Já adulto, Narciso destacava-se de todos ao seu redor por conta de sua grande beleza. Entretanto, ele também era conhecido por sua extrema arrogância, pois julgava que nenhuma mulher era digna de seu amor e de sua companhia. Ele recusou inclusive o amor da ninfa Eco, que revoltada por ter sido ignorada, pediu ajuda para deusa da vingança Nêmesis lançar uma maldição que dizia: “Que Narciso se apaixone com muita intensidade, mas não consiga possuir a sua amada”. O final da história vocês conhecem: Narciso ficou com sede durante uma caçada, inclinou-se para beber a água de um lago e acabou apaixonando-se pelo próprio reflexo. Ao tentar tocar a imagem que via refletida, perdeu o equilíbrio, caiu no lago e morreu afogado.

Vindo para os dias de hoje, eu tenho certeza de que você também conhece muitos narcisos. Se não conhecer pessoalmente, tenho convicção que pelo menos virtualmente você os reconhece. As redes sociais estão repletas deles, sempre postando selfies e uma vida sem problemas, alimentando-se dos likes e dos comentários nos seus posts. Marcas e influenciadores podem se apaixonar tanto por seus personagens digitais, que podem acabar se desconectando da realidade, e assim também morrendo. Eles não buscam uma real conexão com seu público, querem apenas admiradores, ecos de sua persona online.

Outro tipo de Narciso, este ainda mais perigoso, são os presentes nas organizações. Principalmente quando lembramos da Teoria dos Altos Escalões, escrita por Donald Hambrick e Phyllis Mason, em 1984. Segundo eles, “[...] a personalidade, os valores e as experiências dos executivos influenciam fortemente suas interpretações, que por sua vez afetam suas escolhas.” Traços narcisistas comumente observados, como carisma, persuasão, megalomania e desejo de atenção e admiração, podem influenciar suas organizações de muitas maneiras diferentes, seja relacionado a promoção de funcionários de maneira não equânime, seja em mudanças radicais na estratégia da organização (conhecido também como pivotagem) ou mesmo aquisições de novos negócios ou marcas.

As marcas são criadas para atrair a atenção e gerar sentimentos positivos. Por isso, ao adquirir uma marca, um CEO narcisista pode atrair grande atenção da mídia, além de ser uma forma de demonstrar superioridade a seus seguidores, concorrentes e investidores. Por outro lado, os desinvestimentos são usualmente vistos como erros pelo mercado, além de necessariamente reduzir o poder de influência do CEO.

Embora o C-Level de uma companhia deva se concentrar primordialmente nos benefícios econômicos da venda de uma marca, às vezes eles podem dar mais peso às consequências pessoais desfavoráveis ​​associadas à uma alienação, do que ao retorno financeiro. Isso pode influenciar a otimização da gestão da empresa, dado que CEOs narcisistas provavelmente mostrarão maior preferência por aquisições de marcas e maior aversão às vendas, do que executivos que o façam baseados apenas na análise dos dados.

O ego acabou sendo o grande problema de Narciso. Ele passou a achar que que o mundo era ele, esquecendo de todo o resto. Um gestor nunca pode cair nesta armadilha. Pergunte, ouça, provoque e, talvez o mais importante, peça dados antes de decidir. Afinal, como diz aquele famoso ditado americano: “In god we trust, all the others bring data” (“Em Deus nós confiamos, todos os outros tragam dados”).

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