O céu é o limite para o ecossistema de startups na América Latina?
Startups brasileiras captaram US$ 5,2 bi no primeiro semestre, um recorde histórico. SP hoje já abriga mais unicórnios do que Seul, Amsterdã, e Hong Kong
Publicado em 28 de julho de 2021 às, 09h00.
Por Florian Hagenbuch
Desde que a pandemia imposta pelo coronavírus teve início, em 2020, fala-se de um “novo normal”. A expressão, de tão utilizada nesses tempos, chegou a ficar batida. De fato, ela não reflete com exatidão (e nem de longe) as transformações que tomaram conta das vidas de pessoas, famílias, empresas, governos e países, em todos os aspectos.
Uma coisa, porém, é certa. A Covid-19 trouxe como legado - a galope - o aumento da digitalização, em detrimento de canais tradicionais. Uma consequência óbvia e facilmente observável. À medida que mais pessoas precisaram ficar em casa, a demanda por produtos e serviços remotos aumentou de forma exponencial.
O que se verifica é que todas as formas de compra e venda estão migrando para o mundo online. O fenômeno da consolidação do e-commerce começou pelo varejo tradicional (livros, vestuário, eletrônicos), seguiu para o mercado de serviços (viagens, entretenimento, transportes) e chegou com força ao mercado imobiliário - o maior do mundo.
Na América Latina, esse processo de avanço tecnológico ganha contornos ainda mais nítidos. Trata-se de uma das regiões digitalmente mais ativas do mundo, com uso da internet em patamares acima da China e da Índia. E mais. A capitalização do mercado de tecnologia no bloco, como percentual do PIB, cresce 65% ao ano - contra 11% nos EUA e 40% na China. Os dados são do fundo de venture capital Atlantico.
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São duas faces da mesma moeda. Ao mesmo tempo em que há desafios a vencer em busca do crescimento sustentável, como a redução da pobreza e da desigualdade social, esse imenso mercado possui margem de manobra quando se fala em soluções tecnológicas.
Em tempos de “novo normal”, os consumidores necessitam de conveniência, velocidade, confiança e segurança na hora de consumir. Há inúmeras oportunidades para o florescimento de empresas de base tecnológica para suprir demandas em áreas como moradia, finanças e saúde. E elas estão se tornando as mais valiosas da região, acompanhando um movimento global.
Aos dados. A América Latina representa apenas 4% dos fundos globais de estágio inicial. Porém, isso está mudando rapidamente. O interesse do capital de risco na América Latina vem crescendo e a região vem atraindo alguns dos maiores nomes da fase inicial do Vale do Silício e alguns dos mais estimados players de estágio posterior
Nesse cenário de tecnologia, o Brasil puxa a fila da mudança. O país possui cerca de 13 mil startups. No primeiro semestre de 2021, as startups brasileiras captaram US$ 5,2 bilhões segundo o relatório Inside Venture Capital Report, do centro de inovação Distrito. Um recorde histórico.
A Loft, por exemplo, tornou-se unicórnio em apenas um ano e meio e recebeu, em sua Série D, este ano, um aporte de US$ 525 milhões. Hoje, é uma das maiores plataformas de compra e venda de apartamentos residenciais do mundo.
São Paulo hoje já abriga mais unicórnios do que Seul, Jacarta, Amsterdã, e Hong Kong; quase tantos quanto Berlim e quase o mesmo do que as cidades de Austin e Miami combinadas (veja tabela abaixo).
O mais interessante nisso tudo? O ecossistema de startups na América Latina não dá sinais de que vai parar de acelerar tão cedo. Seria o céu o limite?
Localidades |
Número de Unicórnios por local |
Berlim |
9 |
São Paulo |
8 |
Seul |
7 |
Hong Kong |
5 |
Jacarta |
4 |
Amsterdam |
4 |
Austin |
4 |
Miami |
3 |
Fonte: CBInsights |