Os engenheiros da SAP vão trabalhar de chinelo
O uso de roupas informais é liberado em 94,7% das empresas. A peça mais aceita é a camisa de manga curta. É, o dress code corporativo mudou
Ivan Padilla
Publicado em 21 de outubro de 2019 às 15h53.
Última atualização em 21 de outubro de 2019 às 15h54.
Dê um pulo na sede da SAP, líder em softwares de gestão, em São Paulo. Você vai ver os engenheiros trabalhando de chinelos. Vá também a Kroton, maior empresa relacionada à educação do mundo, com mais de 30 000 funcionários. Mesma coisa. Vá a empresas nas áreas de mobilidade, de pesquisa e inteligência de mercado, agências de publicidade... os funcionários estão indo aos escritórios de dedos de fora.No caso das empresas citadas, isso está acontecendo por causa de uma campanha da Havaianas, como contamos numa reportagem da mais recente edição impressa.
O que a Havaianas está fazendo? Na prática, entrando em contato com os departamentos de recursos humanos de empresas dos mais variados setores para convencê-las a liberar seus funcionários a ir trabalhar de chinelos. Justo. Por enquanto, já estão em contato com mais de 50 companhias.É quase uma campanha de marketing de causa, que busca trazer algum benefício para a sociedade. Faz sentido. Uma pessoa que trabalha de chinelos não quer guerra com ninguém. A Havaianas também quer expandir a ocasião de uso das sandálias, como me disse Fernanda Romano, diretora global de marketing da Alpargatas, controladora da marca.
Fernanda ainda apontou diferenças culturais pelo Brasil como uma barreira para a campanha. “No Rio de Janeiro e Nordeste, o uso de chinelos é muito mais disseminado”, diz. “Em São Paulo esse hábito é muito mais restrito, paulistas são um pouco mais conservadores. Mulheres sempre cuidaram mais do pé e têm mais o hábito de usar pés de fora. Entre os homens existe uma resistência ainda, é mais difícil.”
Os chinelos das tiras que não soltam são líder global de categoria e, talvez, a única marca do segmento de moda a ter projeção internacional. No ano passado foram vendidas 240 milhões de sandálias, sendo 212 milhões no Brasil e o resto no exterior. Quase sempre para usar na praia. É possível que esses números tenham batido no teto. Os escritórios abrem novos mercados para o produto.
Santo de casa faz milagre, segundo a Havaianas. A Alpargatas, claro, libera o uso de chinelos para seus funcionários. Mais do que isso. Na última reunião do conselho de administração, no dia 20 de setembro, uma sexta-feira, todos os membros-diretores ganharam um par de chinelos. Alguns chegaram a calçá-los, mas apenas para comemorar a ação, já que fazia bastante frio nesse dia. Fazem parte do board Pedro Moreira Salles, Rodolfo Vilella Marino, Alfredo Egydio Setubal, Marcelo Pereira Lopes de Medeiros e Silvio Tini de Araújo.
O uso de chinelos no trabalho só é possível por alguns motivos:
- O dress code nas empresas está bem mais flexível. Camisetas, calças de moletom, até bermudas já são tolerados, até mesmo no segmento financeiro, em geral mais tradicional
- A nova geração que já está aí quer relações de trabalho mais horizontais e jornadas de trabalho mais flexíveis. E não dá para trabalhar de terno em casa, certo?
- A nova economia é realidade. Empresas de tecnologia, geeks e empreendedores não combinam muito com gravatas.
Para tentar mapear os hábitos de vestimenta hoje nos escritórios, fui atrás de alguma pesquisa. Encontrei um levantamento feito no ano passado pela consultoria britânica XpertHR com 477 empresas do Reino Unido.
Segundo essa pesquisa, entre as empresas consultadas, 91,6% orientam de alguma forma como os funcionários e as funcionárias devem se vestir, mas apenas 27,3% têm isso por escrito e 2,7% explicitam as normas no contrato de trabalho. Somente 5,3% nunca relaxam os códigos de vestimenta, nem mesmo às sextas-feiras. Em outra leitura: 94,7% das empresas liberam roupas informais aos seus funcionários.
Entre as peças mais aceitas estão camisas de manga curta (segundo 89% das empresas consultadas) e sapatos de salto alto (77,3%). Itens como jeans (51%), camisetas (50%) e tênis (42,8%) são aceitos, porém com restrições.
Já as roupas cortadas ou rasgadas são as menos recomendadas, de acordo com 89,9% das companhias ouvidas na pesquisa, assim como camisetas com frases ou desenhos considerados ofensivos (também com 89,8%), seguidas por camisetas cortadas na altura da cintura (82,8%).
Fora do Brasil, uma das mais tradicionais marcas de sandálias, a Birkenstock, também aposta na flexibilização do dress code corporativo. No ano passado, a grife alemã vendeu 25 milhões de pares em 54 lojas próprias e mais de 100 pontos de vendas no mundo todo. “Tradicionalmente, nossas sandálias são usadas como calçados casuais no lazer”, afirma Jochen Gutzy, diretor de comunicação corporativa da Birkenstock. “ Atualmente, porém, também oferecemos uma ampla gama de sapatos fechados com nossa famosa palmilha.”
Gutzy diz que mesmo os sapatos abertos têm mais aceitação hoje nos ambientes de trabalho: “Certamente também alguns de nossos clientes que desfrutam do extraordinário conforto de nossas sandálias em ambientes corporativos. O consumidor está adotando modelos mais modernos, para estar prontos para qualquer ocasião, incluindo trabalho.” Bom para todos.
Dê um pulo na sede da SAP, líder em softwares de gestão, em São Paulo. Você vai ver os engenheiros trabalhando de chinelos. Vá também a Kroton, maior empresa relacionada à educação do mundo, com mais de 30 000 funcionários. Mesma coisa. Vá a empresas nas áreas de mobilidade, de pesquisa e inteligência de mercado, agências de publicidade... os funcionários estão indo aos escritórios de dedos de fora.No caso das empresas citadas, isso está acontecendo por causa de uma campanha da Havaianas, como contamos numa reportagem da mais recente edição impressa.
O que a Havaianas está fazendo? Na prática, entrando em contato com os departamentos de recursos humanos de empresas dos mais variados setores para convencê-las a liberar seus funcionários a ir trabalhar de chinelos. Justo. Por enquanto, já estão em contato com mais de 50 companhias.É quase uma campanha de marketing de causa, que busca trazer algum benefício para a sociedade. Faz sentido. Uma pessoa que trabalha de chinelos não quer guerra com ninguém. A Havaianas também quer expandir a ocasião de uso das sandálias, como me disse Fernanda Romano, diretora global de marketing da Alpargatas, controladora da marca.
Fernanda ainda apontou diferenças culturais pelo Brasil como uma barreira para a campanha. “No Rio de Janeiro e Nordeste, o uso de chinelos é muito mais disseminado”, diz. “Em São Paulo esse hábito é muito mais restrito, paulistas são um pouco mais conservadores. Mulheres sempre cuidaram mais do pé e têm mais o hábito de usar pés de fora. Entre os homens existe uma resistência ainda, é mais difícil.”
Os chinelos das tiras que não soltam são líder global de categoria e, talvez, a única marca do segmento de moda a ter projeção internacional. No ano passado foram vendidas 240 milhões de sandálias, sendo 212 milhões no Brasil e o resto no exterior. Quase sempre para usar na praia. É possível que esses números tenham batido no teto. Os escritórios abrem novos mercados para o produto.
Santo de casa faz milagre, segundo a Havaianas. A Alpargatas, claro, libera o uso de chinelos para seus funcionários. Mais do que isso. Na última reunião do conselho de administração, no dia 20 de setembro, uma sexta-feira, todos os membros-diretores ganharam um par de chinelos. Alguns chegaram a calçá-los, mas apenas para comemorar a ação, já que fazia bastante frio nesse dia. Fazem parte do board Pedro Moreira Salles, Rodolfo Vilella Marino, Alfredo Egydio Setubal, Marcelo Pereira Lopes de Medeiros e Silvio Tini de Araújo.
O uso de chinelos no trabalho só é possível por alguns motivos:
- O dress code nas empresas está bem mais flexível. Camisetas, calças de moletom, até bermudas já são tolerados, até mesmo no segmento financeiro, em geral mais tradicional
- A nova geração que já está aí quer relações de trabalho mais horizontais e jornadas de trabalho mais flexíveis. E não dá para trabalhar de terno em casa, certo?
- A nova economia é realidade. Empresas de tecnologia, geeks e empreendedores não combinam muito com gravatas.
Para tentar mapear os hábitos de vestimenta hoje nos escritórios, fui atrás de alguma pesquisa. Encontrei um levantamento feito no ano passado pela consultoria britânica XpertHR com 477 empresas do Reino Unido.
Segundo essa pesquisa, entre as empresas consultadas, 91,6% orientam de alguma forma como os funcionários e as funcionárias devem se vestir, mas apenas 27,3% têm isso por escrito e 2,7% explicitam as normas no contrato de trabalho. Somente 5,3% nunca relaxam os códigos de vestimenta, nem mesmo às sextas-feiras. Em outra leitura: 94,7% das empresas liberam roupas informais aos seus funcionários.
Entre as peças mais aceitas estão camisas de manga curta (segundo 89% das empresas consultadas) e sapatos de salto alto (77,3%). Itens como jeans (51%), camisetas (50%) e tênis (42,8%) são aceitos, porém com restrições.
Já as roupas cortadas ou rasgadas são as menos recomendadas, de acordo com 89,9% das companhias ouvidas na pesquisa, assim como camisetas com frases ou desenhos considerados ofensivos (também com 89,8%), seguidas por camisetas cortadas na altura da cintura (82,8%).
Fora do Brasil, uma das mais tradicionais marcas de sandálias, a Birkenstock, também aposta na flexibilização do dress code corporativo. No ano passado, a grife alemã vendeu 25 milhões de pares em 54 lojas próprias e mais de 100 pontos de vendas no mundo todo. “Tradicionalmente, nossas sandálias são usadas como calçados casuais no lazer”, afirma Jochen Gutzy, diretor de comunicação corporativa da Birkenstock. “ Atualmente, porém, também oferecemos uma ampla gama de sapatos fechados com nossa famosa palmilha.”
Gutzy diz que mesmo os sapatos abertos têm mais aceitação hoje nos ambientes de trabalho: “Certamente também alguns de nossos clientes que desfrutam do extraordinário conforto de nossas sandálias em ambientes corporativos. O consumidor está adotando modelos mais modernos, para estar prontos para qualquer ocasião, incluindo trabalho.” Bom para todos.