A C&A é a marca de moda que melhor divulga práticas sustentáveis
A varejista de moda é a que divulga melhores práticas, segundo o Índice de Transparência na Moda, divulgado hoje; Malwee e Renner aparecem na sequência
Publicado em 10 de dezembro de 2019 às, 12h00.
Última atualização em 12 de dezembro de 2019 às, 12h32.
A marca de moda que melhor informa suas práticas sustentáveis no Brasil não é local, e sim a C&A, a maior rede de varejo do país, fundada na Holanda. A operação brasileira é a que fornece as informações mais completas em termos de metas sociais e ambientais, rastreabilidade dos processos desde o plantio de matérias primas até a escolha dos fornecedores de tecidos, e de justiça trabalhista e equiparação salarial.
Esse foi o resultado da segunda edição do Índice de Transparência da Moda Brasil, um indicador de informações públicas de grandes marcas da indústria da moda no Brasil divulgado pelo movimento Fashion Revolution. Esse relatório pretende ampliar o debate sobre transparência na cadeia de valor e estimular a cultura de prestação de contas entre as empresas.
O Índice de Transparência da Moda investiga questões consideradas importantes para a indústria fashion. Os desafios mais urgentes avaliados na pesquisa foram violência de gênero no trabalho, disparidades salariais entre mulheres e homens, baixos salários e remunerações, práticas de compra, descarte inadequado de resíduos, pouca adesão a iniciativas de reciclagem de produtos têxteis e de incentivo à circularidade desses produtos e pegada de carbono da indústria da moda.
Do total de pontos avaliados, a C&A atingiu 64%. Na sequência aparecem Malwee com 55%, Renner com 52%, Osklen com 49% e Havaianas com 47%.
“O resultado alcançado é fruto do nosso trabalho realizado nos últimos anos para inserir a sustentabilidade em nossa forma de fazer negócio, por meio da oferta de produtos mais sustentáveis, monitoramento da nossa rede de fornecedores, além de divulgar anualmente os nossos resultados e práticas socioambientais publicamente”, afirma Márcia Costa, vice-presidente de gente & Gestão da C&A Brasil. “Vamos continuar trabalhando o tema nos próximos anos, pois queremos trazer uma moda com impacto positivo para o mercado e criar um futuro em que isso seja o padrão.”
De onde vem a sua roupa?
As 30 marcas incluídas no relatório de 2019 foram Animale, Arezzo, Brooksfield, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Colombo, Decathlon, Dumond, Ellus, Farm, Hering, John John, Le Lis Blanc Deux, Leader, Lojas Avenida, Marisa, Melissa, Moleca, Olympikus, Pernambucanas, Riachuelo, TNG, Torra e Zara, além das já citadas C&A, Malwee, Renner, Osklen e Havaianas.
A pesquisa considerou empresas de diferentes segmentos para abranger a diversidade do setor. Assim, a seleção das marcas teve como referência três fatores: o volume de negócios anual; a diversidade de segmentos de mercado; e o posicionamento como top of mind, ou lembrança de marca.
A metodologia do Índice de Transparência da Moda se concentra em capturar informações públicas. A pesquisa, portanto, recompensa empresas que apresentam níveis elevados de detalhamento de informações, especialmente em publicações de listas de fornecedores e resultados de avaliações e auditorias.
A equipe analisou as informações disponíveis publicamente pelas empresas em cinco categorias: Políticas e Compromissos; Governança; Rastreabilidade; Conhecer, Comunicar e Resolver; e Tópicos em Destaque.
No total, cada empresa poderia atingir 250 pontos. O maior peso foi dado para o critério Rastreabilidade, que avalia se a marca publica uma lista de fornecedores, da matéria-prima à confecção. O segundo critério que mais contava pontos foi Conhecer, Comunicar e Resolver, que aponta de que fora a empresa avalia a implementação de suas políticas de fornecimento.
Entre os Tópicos em Destaque, estão avaliações da marca em relação a políticas de igualdade de gênero e empoderamento feminino, igualdade racial, pagamentos de salários justos, superprodução e reciclagem.
A pontuação média geral foi baixa, de apenas 16%, sendo que apenas uma marca, a C&A, pontuou acima de 60%. Dentre as 30 grandes marcas e varejistas pesquisadas, 13 obtiveram pontuação final igual a 0%. Isso não significa, necessariamente, que elas não tenham boas práticas e iniciativas. Apenas que, no momento da pesquisa, não compartilhavam publicamente nenhuma informação sobre os temas investigados.
Indicadores vêm melhorando
O Índice de Transparência da Moda é uma iniciativa da Fashion Revolution, um movimento global que nasceu após 24 de abril de 2013. Naquele dia desabou o Rana Plaza, um prédio em Bangladesh, que abrigava cinco confecções de roupas. Morreram 1.138 pessoas no desastre, e outras milhares ficaram feridas.
O desastre foi um ponto de inflexão na indústria da moda, considerada uma das mais predatórias. As confecções trabalhavam para as melhores grifes do planeta. A desproporção entre os salários das costureiras e o preço final das peças nas boutiques da Champs-Élysées, sem contar as péssimas condições de trabalho, gerou uma mobilização global pela transparência no segmento.
O Índice de Transparência da Moda foi uma das iniciativas lançadas pelo Fashion Revolution na busca por transparência de práticas na indústria da moda. O levantamento é feito globalmente. No ano passado foi feita a primeira edição brasileira da pesquisa, com 20 marcas avaliadas. Este ano, a lista cresceu para 30. Em média, as 20 marcas que foram analisadas em ambas as edições do Índice revelaram um crescimento médio de 38% em seus níveis de transparência.
Em 2018, graças à posição no ranking nacional, a Malwee, marca nacional melhor posicionada no ranking, passou a constar também no Índice de Transparência da Moda Global, como uma das 10 empresas mais transparentes do mundo.
“Para nós, a sustentabilidade é um assunto inegociável”, afirma Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee. “Entendemos nossa responsabilidade como agentes dessa mudança e queremos estimular outras empresas a seguirem nosso exemplo.”
Algumas empresas analisadas em 2018 apresentaram uma notável evolução de um ano para o outro, segundo Eloisa Artuso, coordenadora do projeto e diretora educacional do Fashion Revolution Brasil. Ela destaca o crescimento da Pernambucanas, com variação de 140%, seguida pela Renner, que aumentou 98% no seu nível de divulgação.
Também tiveram uma boa evolução a Riachuelo, com 62%, a Hering, com 55%, e a Osklen com um aumento de 46% no volume de informações e dados disponíveis. “Esse progresso, juntamente com o feedback que recebemos diretamente de algumas empresas, sugere que a inclusão no Índice de Transparência da Moda motivou com que elas se tornassem mais transparentes", diz Eloisa Artuso.
No entanto, diz Eloisa Artuso, "mesmo as marcas e varejistas líderes ainda têm um potencial significativo para aumentar a transparência sobre suas cadeias e ampliar a organização e o compartilhamento de informações mais detalhadas sobre os resultados e impactos de seus esforços junto a seus consumidores”.
O Instituto C&A é um dos principais parceiros do Fashion Revolution Brasil e ajudou a financiar a pesquisa. O relatório divulgado hoje, no entanto, ressalta que a C&A não teve acesso privilegiado a informações nem decisões metodológicas, e ressalta que a empresa teve o mesmo tratamento que as demais 29 marcas avaliadas.
O relatório completo pode ser lido aqui: http://bit.ly/itmb2019