Somos um grão de areia
Afinal, o Sol é apenas uma estrela comum entre centenas de milhões (sim, centenas de milhões) de estrelas que compõem a Via Láctea
Colunista
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 13h22.
Era o início de 2002 e o atentado de 11/9 havia ocorrido há poucos meses. Iniciava o meu ano sabático, em Boston, cidade de onde os aviões que colidiram e derrubaram as torres do World Trade Center (WTC) haviam decolado. A situação nos EUA - e no mundo - ainda era de perplexidade e insegurança. Lembro, inclusive, da ameaça de bombas “sujas” que poderiam atingir as grandes cidades americanas. Havia um pânico generalizado, pois tais bombas teriam o potencial de propagar poeira radioativa. Tudo parecia ser possível.
Nestes dias de tensão, um dos meus professores sugeriu que a turma fizesse uma reflexão. Tínhamos que imaginar a sala de aula sendo observada por alguém no teto, acima dos alunos. A partir daí, este observador imaginário começaria a subir, enxergando o prédio inteiro, o quarteirão, o bairro, a cidade de Boston, o estado de Massachusetts, os Estados Unidos, a América do Norte, o planeta Terra. Afastando-se cada vez mais, teria a visão de todo o nosso Sistema Solar.
O professor, ainda não satisfeito, orientou que o observador continuasse subindo. Afinal, o Sol é apenas uma estrela comum entre centenas de milhões (sim, centenas de milhões) de estrelas que compõem a Via Láctea. E a Via Láctea, por sua vez, é apenas uma entre milhares de outras galáxias que compõem o Agrupamento de Virgem, uma parte ínfima do Universo observável…
Se fosse possível entrar em uma nave e viajar na velocidade da luz (algo como 300 mil km por segundo), levaríamos 100 mil anos para cruzar apenas a Via Láctea. São dimensões inconcebíveis para o nosso cérebro, não temos como processá-las. A nossa minúscula casa, o planeta Terra, está para o Universo assim como uma gota d’agua está para o oceano. Isso sem falar na brevidade das nossas vidas, um simples piscar de olhos na evolução dos tempos…
Infelizmente, mesmo diante de toda a nossa irrelevância espacial e temporal, o ser humano é capaz de escolher o caminho do ódio, da malevolência e da destruição dos seus semelhantes.
Essa verdade foi eternizada há décadas pelo famoso astrônomo americano Carl Sagan:“O nosso planeta é um palco muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades impostas pelos habitantes de um canto do nosso pequeno mundo aos habitantes (dificilmente distinguíveis) de algum outro canto. Quão frequentes são os seus mal-entendidos, quão ansiosos eles estão para matar uns aos outros, quão fervorosos são os seus ódios? Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em glória e triunfo, pudessem se tornar os senhores momentâneos de uma fração deste grão de areia chamado Terra.”
Fernando Goldsztein
FundadorThe Medulloblastoma Initiative
Conselheiro daChildren’s National Foundation
MBA, MIT Sloan School of Management
Era o início de 2002 e o atentado de 11/9 havia ocorrido há poucos meses. Iniciava o meu ano sabático, em Boston, cidade de onde os aviões que colidiram e derrubaram as torres do World Trade Center (WTC) haviam decolado. A situação nos EUA - e no mundo - ainda era de perplexidade e insegurança. Lembro, inclusive, da ameaça de bombas “sujas” que poderiam atingir as grandes cidades americanas. Havia um pânico generalizado, pois tais bombas teriam o potencial de propagar poeira radioativa. Tudo parecia ser possível.
Nestes dias de tensão, um dos meus professores sugeriu que a turma fizesse uma reflexão. Tínhamos que imaginar a sala de aula sendo observada por alguém no teto, acima dos alunos. A partir daí, este observador imaginário começaria a subir, enxergando o prédio inteiro, o quarteirão, o bairro, a cidade de Boston, o estado de Massachusetts, os Estados Unidos, a América do Norte, o planeta Terra. Afastando-se cada vez mais, teria a visão de todo o nosso Sistema Solar.
O professor, ainda não satisfeito, orientou que o observador continuasse subindo. Afinal, o Sol é apenas uma estrela comum entre centenas de milhões (sim, centenas de milhões) de estrelas que compõem a Via Láctea. E a Via Láctea, por sua vez, é apenas uma entre milhares de outras galáxias que compõem o Agrupamento de Virgem, uma parte ínfima do Universo observável…
Se fosse possível entrar em uma nave e viajar na velocidade da luz (algo como 300 mil km por segundo), levaríamos 100 mil anos para cruzar apenas a Via Láctea. São dimensões inconcebíveis para o nosso cérebro, não temos como processá-las. A nossa minúscula casa, o planeta Terra, está para o Universo assim como uma gota d’agua está para o oceano. Isso sem falar na brevidade das nossas vidas, um simples piscar de olhos na evolução dos tempos…
Infelizmente, mesmo diante de toda a nossa irrelevância espacial e temporal, o ser humano é capaz de escolher o caminho do ódio, da malevolência e da destruição dos seus semelhantes.
Essa verdade foi eternizada há décadas pelo famoso astrônomo americano Carl Sagan:“O nosso planeta é um palco muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades impostas pelos habitantes de um canto do nosso pequeno mundo aos habitantes (dificilmente distinguíveis) de algum outro canto. Quão frequentes são os seus mal-entendidos, quão ansiosos eles estão para matar uns aos outros, quão fervorosos são os seus ódios? Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em glória e triunfo, pudessem se tornar os senhores momentâneos de uma fração deste grão de areia chamado Terra.”
Fernando Goldsztein
FundadorThe Medulloblastoma Initiative
Conselheiro daChildren’s National Foundation
MBA, MIT Sloan School of Management