Os 100 metros rasos e o tsunami de estímulos sensoriais
Em meio século, o tempo dos 100 metros rasos caiu poucos milésimos de segundos. Mas o bombeamento de informações cresce em ritmo frenético
Colunista
Publicado em 10 de agosto de 2024 às 08h00.
Última atualização em 10 de agosto de 2024 às 12h11.
Nesta semana, fiz um curso sobre inteligência artificial (IA). Gostemos ou não, o mundo da IA estará cada vez mais presente em nossas vidas. É inexorável. É extraordinário. É assustador.
Segundo os especialistas, não se deve ignorar a IA. Pode até ser que não venhamos a ser substituídos pela Inteligência Artificial, mas, se não aderirmos a ela, certamente alguém que a use assumirá a nossa posição.
A IA pode ser representada com a ideia de que todos temos um Einstein sentado no sofá da nossa sala. Um Einstein que tem acesso a todo o conhecimento acumulado ao longo da história da humanidade. Podemos perguntar a ele o que quisermos e a hora que quisermos, 24 horas por dia. Basta fazer a pergunta corretamente, e teremos acesso instantâneo a tudo.
Neste mundo cada vez mais digitalizado, existe uma preocupação crescente com o excesso de conexão. Muito tem se falado e escrito sobre o tema, especialmente com relação aos efeitos cognitivos e emocionais nas crianças.
Quando eu era criança, só havia o rádio e 4 canais de televisão. Não havia videocassete, aparelho de fax e nem mesmo o CD – hoje todos já devidamente extintos. Celular e internet, somente em filme de ficção científica ou no saudoso desenho da família Jetsons. Pesquisar para trabalhos da escola, somente na enciclopédia de casa ou da biblioteca.
Hoje, por sua vez, temos 200 canais de TV a cabo; um cardápio sem fim de opções de streaming; redes sociais com feeds infinitos; desktops, tablets e smartphones com os quais nos conectamos com o mundo 24 horas por dia; comunicação holográfica e, agora, a Inteligência Artificial. Qual o efeito de tantas mudanças e inovações em nossa vida, em nossas relações, em nossas emoções?
Pensei muito sobre o tema da evolução humana assistindo às Olimpíadas de Paris, especialmente as provas de atletismo. Os 100 metros rasos foram vencidos pelo americano Noah Lyles, com o tempo de 9,83 segundos. Já nos Jogos de Munique, em 1968, o vencedor foi outro americano, James Hynes, com 9,90 segundos. Portanto, nota-se que, mesmo com sapatilhas, roupas e suplementos modernos, o tempo dos atletas praticamente não mudou nesses 54 anos. Neste meio século, a evolução se mediu em milésimos.
A estrutura e o tamanho do nosso cérebro, assim como a capacidade dos nossos pulmões e pernas para correr ou saltar, são praticamente iguais às que tínhamos na época em que habitávamos cavernas e fugíamos de feras. Entretanto, é importante ressaltar que o cérebro tem sido capaz de evoluir gradualmente para absorver atividades cognitivas complexas, novos comportamentos sociais e também inovações tecnológicas. Graças a essa característica de plasticidade cerebral do ser humano, conseguimos nos desenvolver e evoluir cada vez mais como espécie.
Porém, a questão que tem me intrigado é justamente com relação à velocidade sem precedentes das mudanças e das inovações.
Qual o limite para o constante e crescente bombardeamento de informações a que somos submetidos? Será que o nosso cérebro – e corpo – vai resistir saudavelmente, ao longo de toda a nossa vida, a este verdadeiro tsunami de estímulos sensoriais?
*Fernando Goldsztein
Fundador do The Medulloblastoma Initiative
Conselheiro da Children's National Foundation
Nesta semana, fiz um curso sobre inteligência artificial (IA). Gostemos ou não, o mundo da IA estará cada vez mais presente em nossas vidas. É inexorável. É extraordinário. É assustador.
Segundo os especialistas, não se deve ignorar a IA. Pode até ser que não venhamos a ser substituídos pela Inteligência Artificial, mas, se não aderirmos a ela, certamente alguém que a use assumirá a nossa posição.
A IA pode ser representada com a ideia de que todos temos um Einstein sentado no sofá da nossa sala. Um Einstein que tem acesso a todo o conhecimento acumulado ao longo da história da humanidade. Podemos perguntar a ele o que quisermos e a hora que quisermos, 24 horas por dia. Basta fazer a pergunta corretamente, e teremos acesso instantâneo a tudo.
Neste mundo cada vez mais digitalizado, existe uma preocupação crescente com o excesso de conexão. Muito tem se falado e escrito sobre o tema, especialmente com relação aos efeitos cognitivos e emocionais nas crianças.
Quando eu era criança, só havia o rádio e 4 canais de televisão. Não havia videocassete, aparelho de fax e nem mesmo o CD – hoje todos já devidamente extintos. Celular e internet, somente em filme de ficção científica ou no saudoso desenho da família Jetsons. Pesquisar para trabalhos da escola, somente na enciclopédia de casa ou da biblioteca.
Hoje, por sua vez, temos 200 canais de TV a cabo; um cardápio sem fim de opções de streaming; redes sociais com feeds infinitos; desktops, tablets e smartphones com os quais nos conectamos com o mundo 24 horas por dia; comunicação holográfica e, agora, a Inteligência Artificial. Qual o efeito de tantas mudanças e inovações em nossa vida, em nossas relações, em nossas emoções?
Pensei muito sobre o tema da evolução humana assistindo às Olimpíadas de Paris, especialmente as provas de atletismo. Os 100 metros rasos foram vencidos pelo americano Noah Lyles, com o tempo de 9,83 segundos. Já nos Jogos de Munique, em 1968, o vencedor foi outro americano, James Hynes, com 9,90 segundos. Portanto, nota-se que, mesmo com sapatilhas, roupas e suplementos modernos, o tempo dos atletas praticamente não mudou nesses 54 anos. Neste meio século, a evolução se mediu em milésimos.
A estrutura e o tamanho do nosso cérebro, assim como a capacidade dos nossos pulmões e pernas para correr ou saltar, são praticamente iguais às que tínhamos na época em que habitávamos cavernas e fugíamos de feras. Entretanto, é importante ressaltar que o cérebro tem sido capaz de evoluir gradualmente para absorver atividades cognitivas complexas, novos comportamentos sociais e também inovações tecnológicas. Graças a essa característica de plasticidade cerebral do ser humano, conseguimos nos desenvolver e evoluir cada vez mais como espécie.
Porém, a questão que tem me intrigado é justamente com relação à velocidade sem precedentes das mudanças e das inovações.
Qual o limite para o constante e crescente bombardeamento de informações a que somos submetidos? Será que o nosso cérebro – e corpo – vai resistir saudavelmente, ao longo de toda a nossa vida, a este verdadeiro tsunami de estímulos sensoriais?
*Fernando Goldsztein
Fundador do The Medulloblastoma Initiative
Conselheiro da Children's National Foundation