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Muito além do lápis: Friedman e o livre mercado em 2025

Em um cenário de polarização política e tensões comerciais, pensamento de Friedman sobre cooperação global e livre mercado se mostra mais atual do que nunca

Cooperação entre as mais diversas nações e o livre mercado são tão essenciais. (Ingram Publishing/Thinkstock)

Cooperação entre as mais diversas nações e o livre mercado são tão essenciais. (Ingram Publishing/Thinkstock)

Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 08h20.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2025 às 09h28.

São tempos difíceis. A polarização política, potencializada pelas redes sociais, tomou conta de quase todas as democracias do planeta - ditaduras e teocracias não têm esse problema, mas enfrentam outros muito piores.

Além disso, estamos presenciando várias guerras no mundo, sendo que muitas delas nem aparecem na mídia. Segundo o Global Peace Index 2024, existem 56 conflitos armados no planeta, que vão desde guerras entre países, até guerras civis e guerrilhas. Ainda de acordo com a mesma fonte, trata-se do maior número de conflitos armados registrados no mundo desde a Segunda Guerra Mundial.

Como se não bastasse, o governo Trump inicia agora outro tipo de conflito: o tarifário. O mundo inteiro acompanha com apreensão os decretos que são emitidos diuturnamente a partir do Salão Oval da Casa Branca. Independentemente do mérito das medidas, a questão é que o equilíbrio econômico de países inteiros pode ser afetado num piscar de olhos.

Em tempos de tanta incerteza e animosidade mundial, considero oportuno resgatar um dos ensinamentos do economista americano Milton Friedman (1912-2006) sobre a importância do livre mercado e, mais do que isso, sobre a cooperação entre os povos como motor do progresso e da paz mundial. Trata-se da parábola do lápis:

“Olhe para este lápis. Não há uma única pessoa no mundo que possa fazer este lápis sozinha. Uma afirmação notável? De forma alguma. A madeira de que ele é feito, pelo que sei, vem de uma árvore que foi derrubada no estado de Washington. Para derrubar essa árvore, foi necessário um serrote. Para fazer o serrote, foi preciso aço. Para fazer o aço, foi necessário minério de ferro.

Quanto ao grafite, não tenho certeza de onde vem, mas acho que vem de algumas minas na América do Sul. Este topo vermelho aqui é uma borracha, que provavelmente vem da Malásia, onde a seringueira nem é nativa! Ela foi importada da América do Sul por alguns empresários, com a ajuda do governo britânico. E este anel de latão? Não faço a menor ideia de onde veio. Ou a tinta amarela. Ou a cola que mantém tudo unido. Literalmente, milhares de pessoas cooperaram para fazer este lápis. Pessoas que não falam a mesma língua, que praticam religiões diferentes, que talvez se odiassem se se encontrassem!

Quando você vai até a loja e compra este lápis, está, na verdade, trocando alguns minutos do seu tempo por alguns segundos do tempo de todas essas milhares de pessoas. O que as reuniu e as induziu a cooperar para fazer este lápis? Não houve nenhum comissário enviando ordens de um escritório central. Foi a mágica do sistema de preços: a operação impessoal dos preços que as reuniu e as fez cooperar para produzir este lápis, para que você pudesse tê-lo por uma quantia insignificante.

É por isso que a cooperação entre as mais diversas nações e o livre mercado são tão essenciais. Não apenas para promover eficiência produtiva, mas ainda mais para fomentar harmonia e paz entre os povos do mundo.”

A simplicidade da parábola de Friedman é desconcertante. Que ela ajude a trazer um pouco mais de luz e sensatez - atributos tão escassos quanto essenciais nestes tempos sombrios.

*Fernando Goldsztein

Fundador – The Medulloblastoma Initiative

Conselheiro – Children’s National Hospital

MBA – MIT, Sloan School of Management

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