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Nas favelas de Petrópolis, o espírito comunitário fala mais alto

Em mais uma tragédia, a CUFA se faz presente organizando a logística de entrega de doações e cozinhando para 5 mil pessoas por dia

Bombeiros são vistos durante missão de resgate após deslizamento de terra gigante no bairro de Caxambu, em Petrópolis, Brasil, em 19 de fevereiro de 2022. (MAURO PIMENTEL/AFP)
Bombeiros são vistos durante missão de resgate após deslizamento de terra gigante no bairro de Caxambu, em Petrópolis, Brasil, em 19 de fevereiro de 2022. (MAURO PIMENTEL/AFP)
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Favela S/A

Publicado em 3 de março de 2022 às, 09h42.

Última atualização em 3 de março de 2022 às, 09h43.

Celso Athayde

Mais uma tragédia abala o Brasil. Em Petrópolis, duas centenas de pessoas perderam a vida e uma multidão está desabrigada. E mais uma vez o brasileiro mostra seu espírito solidário. Os governos são responsáveis pelas consequências da chuva, afinal, negligenciaram os alertas e investiram pouco na segurança da população. A noção de comunidade, especialmente nas favelas, amenizou o sofrimento.

Nosso grupo, de cerca de 45 pessoas, saiu de São Paulo em sete carros cedidos pela Volvo. Levávamos 3.500 cestas básicas. O destino era a CUFA de Madureira, no Rio de Janeiro. Mais 60 pessoas se juntaram a nós. De lá, leva cerca de 1h30 até o centro de distribuição instalado em Petrópolis. As doações foram chegando. No pedágio, deparamos com um tráfego intenso de carros transportando alimentos, itens de higiene e outros produtos essenciais. A empresa CCR liberou o pedágio para quem levava doações.

O cenário em Petrópolis era desolador. Muitas pessoas perderam tudo e não tinham nem onde cozinhar. Quem tinha, adotava um vizinho, um amigo, e nós fornecíamos as cestas básicas. Mas ainda havia um contingente de pessoas que não conseguiriam comer por não terem condições de preparar seu alimento. Decidimos organizar uma cozinha comunitária, aos cuidados da Valéria, excelente cozinheira, capaz de atender 5 mil pessoas por dia.

Neste momento, já éramos mais de 250 voluntários.

A Favela Log, empresa de logística da Favela Holding, foi acionada para entregar as quentinhas de motos nos becos e vielas. Uma comida simples, porém, saborosa. Outras necessidades foram surgindo, como a falta de colchões, muita gente dormindo no chão. Uma doação da Fundação Casas Bahia amenizou o problema. No caos que se instalou na cidade, era bonito de ver a fila de voluntário descarregando os caminhões que chegavam, um atrás do outro, com doações.

O que a mídia mostra, no entanto, é apenas uma parte do esforço. Em alguns dias, a pauta irá mudar, seja por outra tragédia, uma crise econômica ou, simplesmente, pelo esgotamento do assunto. As câmeras irão embora, mas a CUFA permanecerá em Petrópolis como já estava antes das chuvas. Já estamos estocando mantimentos para continuar a atender a comunidade pelo tempo que for preciso.

Nas favelas, o que mais importa é o espírito coletivo. Faltam muitas coisas nesses territórios, infraestrutura, segurança, transporte. Só não falta a noção de comunidade e amor ao próximo.  É o que nos garante a sobrevivência.  Mas nem de longe queremos ser vistos como heróis de nada, a favela precisa apenas de solidariedade. Não dá para não agradecer às empresas que estão fazendo muita diferença como:

  • Americanas
  • Assaí
  • Bauduco
  • CCR
  • Demillus
  • Favela Log
  • Fundação Casas Bahia
  • Facility
  • Gol
  • Luft
  • OLX
  • Pepsico
  • Soft
  • TikTok
  • Ultragaz
  • Volvo
  • Zap

E Secretaria de Esporte do Estado na figura do secretário, Gutemberg Fonseca, que estava junto conosco descarregando caminhões e retirando corpos com o corpo de bombeiros.

Fica o nosso agradecimento a todos e todas que contribuíram com doações, à Band, que mais uma vez se prontificou a nos ajudar a divulgar a campanha de solidariedade, e à Frente Nacional Antirracista, sempre presente.  Não vamos abandonar essas pessoas. Estamos aqui.