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O que explica a crise: exterior, corrupção ou incompetência? Parte 2

Por que a economia brasileira colapsou? Essa questão ainda gera controvérsia especialmente quando o interesse é identificar o papel da “Nova Matriz Econômica”. Os advogados do experimento inicialmente atribuíam o calvário a fatores externos. No entanto, é relativamente simples mostrar que a crise foi fabricada domesticamente. Na semana passada, estimei de forma conservadora que as perdas […]

MICHEL TEMER: medida reverte a decisão da presidente afastada Dilma Rousseff e beneficia peemedebistas e seus aliados políticos / Evaristo Sa / Getty Images (Evaristo Sa/Getty Images/Getty Images)
MICHEL TEMER: medida reverte a decisão da presidente afastada Dilma Rousseff e beneficia peemedebistas e seus aliados políticos / Evaristo Sa / Getty Images (Evaristo Sa/Getty Images/Getty Images)
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Celso Toledo

Publicado em 11 de julho de 2016 às, 11h45.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h03.

Por que a economia brasileira colapsou? Essa questão ainda gera controvérsia especialmente quando o interesse é identificar o papel da “Nova Matriz Econômica”. Os advogados do experimento inicialmente atribuíam o calvário a fatores externos. No entanto, é relativamente simples mostrar que a crise foi fabricada domesticamente.

Na semana passada, estimei de forma conservadora que as perdas originadas dentro de nossas fronteiras foram da ordem de 700 bilhões de reais entre 2012 e 2015 – provavelmente mais do que isso. Nos próximos cinco anos, a conta deverá chegar a 7 trilhões de reais se as expectativas consensuais se confirmarem.

Diante da dificuldade de usar a crise externa para explicar a crise doméstica, a autodenominada “ala progressista” adota dois caminhos para salvar a Nova Matriz. O primeiro é afirmar que ela não existiu e que o fracasso do Brasil decorreu da timidez em aplicar políticas genuinamente “desenvolvimentistas”. O segundo é afirmar que o Brasil parou por conta dos efeitos colaterais da operação Lava-Jato.

Não é preciso aborrecer o leitor com uma análise detalhada do primeiro argumento. É óbvio que a política econômica mudou significativamente a partir de 2012 e que as tentativas de arrumar a casa após a reeleição, quando o estrago já era enorme, malograram por falta de convicção, inabilidade política e pelo repúdio das “bases” ao estelionato eleitoral.

No tocante ao segundo argumento, é certo que a operação Lava-Jato vem causando efeitos prejudiciais à economia – trata-se de mal necessário. Não há dúvida, no entanto, de que a paralisia que se instalou com as investigações foi amplificada pela natureza equivocada das escolhas previamente feitas sob o manto da Nova Matriz.

O caso da Petrobras é ilustrativo. Mesmo que não houvesse má-fé por trás das deliberações dos últimos anos, certamente a empresa estaria hoje em maus lençóis por conta da política de conteúdo nacional, por ter sido forçada a praticar preços distorcidos, pela compra de ativos obsoletos, pela falta de foco diante da agenda pesada de investimentos, etc. As outras estatais têm histórias parecidas.

Esta ideologia que pressupõe implicitamente a inexistência de restrições orçamentárias ajuda a esclarecer todas as opções desastradas que debilitaram o país: eventos esportivos caríssimos, insistência em criar “campeões” que sucumbem sem subsídios e proteção, irresponsabilidade fiscal, abuso de bancos públicos e fundos de pensão, e por aí vai.

A economia brasileira foi condenada ao malogro no mesmo instante em que essa visão de mundo ultrapassada passou a nortear a política econômica. Essa conclusão não muda quando se desconfia que algumas ou talvez a maioria das decisões possam ter sido tomadas mais para facilitar o escamoteio de recursos do que por convicção de que era o melhor a fazer. De qualquer forma, o resultado esperado de ações erradas é o mesmo, sejam elas sejam originadas por desonestidade ou por inépcia.

Sendo assim, o fato de haver alguma intersecção entre o grupo que escolheu políticas tortas e a quadrilha que se aproveitou do ambiente tranquilo e favorável à rapina não isenta a Nova Matriz de seu papel na explicação da desgraça que escarvou os pilares da estabilidade. Reconhecer isso não significa negar que o desmonte da alcateia tenha tido efeitos prejudiciais. Mas, certamente, estes não seriam tão fortes se a política econômica tivesse sido pautada pelos preceitos antigos e com o objetivo de alcançar patamares maiores de desenvolvimento.

A doença da corrupção não é nova no Brasil. A novidade dos últimos anos foi uma tentativa de restabelecer políticas que foram testadas e rejeitadas no passado. O custo desse equívoco supera com folga o da corrupção, mesmo quando se leva em conta o apetite com que os últimos governos se dedicaram à atividade. Não é por outra razão que os mercados, sempre pragmáticos, estão bem mais animados com o Brasil atualmente. Sabem que raposas continuam tomando conta do galinheiro. A diferença é que são raposas mais competentes.

A presidente teria dito que “gasto corrente é vida”. A meu ver, essa frase ilustra com perfeição a visão que deu origem à Nova Matriz. Tendo isso em vista, parece pertinente medir o estrago causado aos brasileiros em termos de vidas humanas. Partindo de uma estimativa usual do valor estatístico da vida nos EUA e supondo, de forma conservadora, que o brasileiro valoriza a vida 50% mais do que o norte-americano, o “Grande Expurgo” da Nova Matriz nos dez anos entre 2012 e 2021 poderá ser equivalente a 1,5 milhão de almas (incluindo os custos da Lava-Jato).

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