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Tendências e expectativas para o cenário fintech em 2022

Entenda quais são as perspectivas para o cenário fintech em 2022 após o melhor ano para o ambiente de inovação financeira no Brasil

Saiba o que esperar para o futuro das finanças e tecnologia (zf L/Getty Images)
MM

Mariana Maria Silva

Publicado em 17 de dezembro de 2021 às 16h00.

O ano de 2021 foi histórico para as fintechs e deixou claro a crescente importância desses players no setor financeiro nacional, bem como simbolizou um momento de maturidade único atingido pelo ecossistema de inovação em serviços financeiros. Algumas tendências e expectativas já haviam sido antecipadas no artigo que publiquei no início do ano chamado “As perspectivas para o cenário fintech em 2021” (e várias dessas tendências devem ganhar ainda mais corpo em 2022), mas acabamos tendo algumas surpresas adicionais ao longo do ano que passou.

Fazendo um exercício de retrospectiva, vimos um volume de investimentos no setor que superou os US$ 3,5 bilhões - ante US$ 1,9 bilhão em 2020 e US$ 1,1 bilhão em 2019, segundo dados do ecossistema de inovação Distrito – número que reflete a maturidade atingida por esse segmento e que nos coloca muito bem-posicionados dentre grandes nações globais. Para se ter uma ideia, e considerando dados de meados de 2021 compilados pela associação de fintechs britânicas Innovate Finance, o Brasil aparece em terceiro lugar dentre as nações que mais captaram investimentos, atrás dos Estados Unidos (em primeiro lugar) e do Reino Unido (em segundo lugar). Completando o restante das cinco primeiras posições, ficamos à frente de potências como a Alemanha e a Índia.

Somado a isso, a empresa de consultoria Findexable colocou o Brasil e a cidade de São Paulo no 14º e 4º lugar, respectivamente, em seus rankings dos melhores hubs globais para fintechs, no qual são avaliados quesitos como a quantidade e qualidade das empresas no local, bem como dados sobre o quanto amigável é o ambiente para as startups financeiras. Olhando ainda para o quão longe chegamos, vale lembrar que o segundo maior IPO de uma fintech em 2021 foi de uma empresa brasileira, o Nubank - operação que ficou atrás apenas da abertura de capital da gigante norte-americana de criptoativos Coinbase – e transformou este neobank na instituição financeira mais valiosa da América Latina.

Adicionalmente, não podemos nos esquecer que presenciamos o anúncio, o lançamento e o desenvolvimento de importantes iniciativas do ponto de vista regulatório e de infraestrutura por parte dos reguladores, algo que deve abrir ainda mais possibilidades para a inovação no mercado financeiro daqui para a frente. O Pix, lançado em novembro de 2020, tornou-se o sistema de pagamentos instantâneos com a adoção mais rápida no mundo e segue avançando com o desenvolvimento de novas funcionalidades. O Open Banking teve seu lançamento público realizado pelo Banco Central no começo de fevereiro de 2021, e tem engajado um número crescente de instituições a cada nova fase (dentro de um ambicioso escopo que é um dos mais completos do mundo). Adicionalmente, a SUSEP anunciou a criação do Open Insurance, iniciativa que se somará ao Open Banking debaixo de um guarda-chuva maior, chamado Open Finance, que abrirá portas para um sistema financeiro aberto. Ainda falando da SUSEP, a autarquia conseguiu também rodar duas edições do seu programa de Sandbox Regulatório para a viabilização de iniciativas inovadoras em seguros no país. Na sequência, a CVM e o BC tornaram públicos os nomes das instituições aprovadas em seus respectivos programas. Por fim, o Banco Central anunciou que, assim como outras entidades mundo afora, está desenvolvendo sua própria moeda digital (ou CBDC, como são conhecidas globalmente), inclusive mostrando interesse em entender como o atual ecossistema de DeFi, NFTs e até o metaverso podem ser integrados com a plataforma do Real Digital.

Vimos muitos acontecimentos em 2021, mas parafraseando a fala de Roberto Campos Neto, Presidente do BC, as inovações que estarão no ar em 2022 serão maiores do que as da última década, ou seja, é bem provável que sejamos surpreendidos (positivamente) mais uma vez.

Olhando adiante, é possível identificar algumas tendências que derivam dos fatos citados anteriormente e de outros movimentos mais amplos e novos de mercado, bem como sinalizações do que podemos ver em 2022. Exploraremos esses aspectos a seguir.

Tendências que seguirão avançando em 2022

Dentre as tendências que brilharam no ano que passou e que devem ganhar ainda mais força no próximo ciclo, destacamos as atividades de BaaS (Banking as a Service) e FaaS (Fintech as a Service). À medida que ficou claro no mercado que uma das formas mais rápidas e efetivas de se embutir novas soluções financeiras em empresas de diferentes setores é através da utilização de parceiros especializados por meio de ofertas modularizadas (movimento batizado de embedded finance), é possível afirmar com segurança que ainda há muitas oportunidades a serem desbravadas e muito trabalho a ser feito nessa frente. Fintechs que atuam nesse segmento (como a Swap, Pismo, Hash, Fitbank e Pomelo) receberam somas consideráveis de investimentos em 2021 para seguir desenvolvendo e entregando a infraestrutura necessária para companhias que buscam acelerar seu processo de “fintechzação” ou ganhar agilidade no lançamento de novos produtos. Um processo de consolidação nessa vertical parece inevitável e grandes players começam a emergir, inclusive ambicionando plena expansão pela América Latina e IPO internacional muito em breve, como no caso da Dock. A competição irá se intensificar, pois tantos bancos médios quanto grandes bancos já passam a olhar o BaaS como uma atividade cada vez mais estratégica, devendo ampliar sua atuação em 2022.

Se por um lado temos o movimento do "embedded finance”, do outro temos a tendência do " beyond banking ", onde bancos e fintechs expandem seu portifólio para além do universo financeiro, agregando soluções que vão desde marketplaces até ofertas que aprimorem o estilo de vida do usuário. Aqui no Brasil um dos players pioneiros na estratégia " beyond banking " (que alguns chamam de estratégia "superapp") foi o Inter, seguido de outros players como o Banco Next e o Nubank. Parece que esse é apenas o começo de um movimento que ainda transformará bastante a forma como enxergamos os bancos e as fintechs daqui por diante, algo que fomentará o desenvolvimento de novas plataformas e ecossistemas, nos levando a uma nova lógica financeira.

Voltando os olhos para mais oportunidades relacionadas a infraestrutura, não podemos deixar de falar dos negócios que estão mirando o potencial do Open Finance e do Pix no país. Companhias que visam tanto auxiliar outras empresas no desenvolvimento de novas soluções e experiências baseadas em dados financeiros abertos e pagamentos instantâneos, quanto aquelas que buscam entregar uma plataforma que permita o fácil acesso e gestão de suas atividades dentro da realidade regulada, devem ganhar destaque. Nesse cenário, encontramos players como Belvo, Quanto, FinanSystech, Klavi, Sensedia, Pluggy, Tecban, FCamara, dentre outros. A demanda de negócios é gigantesca e não seria surpresa se víssemos o surgimento de um novo unicórnio latino-americano nessa vertical já em 2022, bem como algumas aquisições por parte de incumbentes ou players internacionais interessados em ganhar terreno rapidamente na América Latina.

Amarrando as tendências anteriores, encontramos a necessidade de atender as expectativas de consumo dos clientes atuais através da hiperpersonalização (via entendimento profundo dessa massa de dados) e da entrega de serviços contextuais, o que tem sido chamado de contextual banking, algo que deverá ser incorporado por diferentes players do mercado através da utilização de fintechs especializadas no tema (como a canadense Flybits) ou por meio do desenvolvimento interno de tecnologia.

Tendências nascentes

Olhando para novas fronteiras que devem começar a receber mais atenção daqui para a frente no país, encontramos as sustainable fintechs e green fintechs, subsegmentos sobre as quais escrevi a respeito em 2021 e que desenvolvem negócios alinhados com as premissas ESG (ligadas ao meio ambiente, social e governança) que gerem impacto positivo na sociedade. Nesse amplo espectro, encontramos iniciativas relacionadas ao financiamento de projetos de energia solar (como a Solfácil e a Insole), voltadas para o mercado de crédito de carbono (como a Moss.earth) e até soluções play-to-earn de conservação florestal onde os NFTs utilizadas em seu metaverso são ligados a ativos florestais reais (proposta da startup Invert). As agrifintechs, que no Brasil costumam estar bem alinhadas às práticas sustentáveis, também prometem surpreender. Esse subsegmento está inserido dentro de um dos mais importantes setores do país (o agro) e é um oceano azul de oportunidades no qual já vemos algumas fintechs despontando, vide a Nagro, DuAgro, A de Agro, Agryo, Terramagna, Traive, dentre outras.

Fintechs com atuação em segmentos menos sexy, como back-office e automação financeira devem ganhar espaço ao solucionar dores relacionadas à complexidade e alto custo incorrido pelas empresas para realizar tais atividades com qualidade. Nesse mercado, encontramos as novatas BHub, Celero e Manda pro Financeiro, com foco em PMEs e Startups, e a Vórtex, focada no back-office de gestoras de investimentos, bancos e outras fintechs.

Outra tendência que merece bastante atenção é a diminuição da distância entre o mundo cripto e o mercado financeiro tradicional – e vemos cada vez mais fintechs endereçando esse tema. Como sabemos, os criptoativos não são novidade e sua relevância tem crescido ano após ano, mas as condições reunidas atualmente estão criando um momento único que pode representar uma virada de chave para o subsegmento, ampliando o seu alcance para um número ainda maior de brasileiros. Dentre os vários sinais já visíveis desta mudança, destaco a atenção despendida pelo governo e os reguladores em relação ao tema (com projetos de regulamentação do setor tramitando no congresso, o desenvolvimento do Real Digital e o ingresso de fintechs alinhadas ao tema nos Sandboxes do BC e da CVM), os avanços de grandes players no desenvolvimento de soluções voltadas para o ecossistema cripto (como B3, Visa e Mastercard ), o crescimento de iniciativas voltadas para finanças descentralizadas (DeFi) e o surgimento de 2 unicórnios brasileiros que desenvolvem negócios nesse setor (o Grupo 2TM, dono da startup Mercado Bitcoin, e a fintech de pagamentos Cloudwalk, que utiliza tecnologia Blockchain).

Além das corretoras de criptomoedas (formato mais popular de iniciativa no setor), vemos o desenvolvimento de um amplo ecossistema de soluções composto por gestoras (como a QR Capital e Hashdex), casas de research (como a Paradigma Education e a Convex Research) e provedores de serviços de custódia, trading e infraestrutura para o mercado (como a Parfin e a Bitrust, do grupo 2TM), dentre outros – todos representando um terreno fértil para novos negócios. Há, contudo, uma atividade ainda pouco explorada nesse subsegmento que vejo com bastante potencial para 2022 no país – o Crypto as a Service. Esse modelo é similar ao Banking as a Service e trata-se de possibilitar que diferentes companhias possam dar aos seus clientes acesso ao mundo dos criptoativos (de modo direto ou indireto). Internacionalmente um dos players mais bem sucedidos nesse mercado é a Paxos, que é a empresa que provê a infraestrutura necessária para o Paypal e o Mercado Livre atuarem neste mercado. Por aqui, a corretora Foxbit lançou uma unidade B2B para atuar no segmento, habilitando a 99 (da empresa de mobilidade chinesa Didi Chuxing) a mergulhar no mundo cripto. Esse é um grande negócio que está atraindo diferentes startups que já atuam no mercado cripto (desde corretoras até provedores de wallets) e empresas que atuam com Banking as a Service e buscam expandir seu portfólio de ofertas (a Dock já sinalizou que está montando uma área dedicada ao setor). Acredito que movimentos mais intensos de investimentos e operações de M&A devem acontecer neste setor em 2022.

Maior competição, internacionalização e reação dos incumbentes

Investidores e empreendedores de todo o mundo já perceberam que o mercado brasileiro está se tornando estratégico demais para ignorar. Assim, presenciamos a incursão cada vez maior de novos investidores no país, bem como um aumento no número de startups vindas de várias partes do mundo buscando participar desta verdadeira “corrida do ouro” digital. Esse movimento certamente será intensificado em 2022, aumentando a concorrência em vários subsegmentos. Já algumas fintechs brasileiras, que receberam grandes rodadas de investimentos, deverão acelerar seu processo de internacionalização.

Somado a esse cenário competitivo, prevejo movimentos mais agressivos por parte dos incumbentes, tanto em seu discurso em prol de isonomia regulatória no setor financeiro quanto em seu processo de transformação para esse novo campo de batalha.

Estou confiante de que veremos um ano de crescimento intenso e de acelerada evolução do mercado financeiro brasileiro. Espero que tenhamos surpresas tão boas quanto as que tivemos no balanço de 2020 para 2021 – e as perspectivas para que isso de fato aconteça não poderiam ser melhores.

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O ano de 2021 foi histórico para as fintechs e deixou claro a crescente importância desses players no setor financeiro nacional, bem como simbolizou um momento de maturidade único atingido pelo ecossistema de inovação em serviços financeiros. Algumas tendências e expectativas já haviam sido antecipadas no artigo que publiquei no início do ano chamado “As perspectivas para o cenário fintech em 2021” (e várias dessas tendências devem ganhar ainda mais corpo em 2022), mas acabamos tendo algumas surpresas adicionais ao longo do ano que passou.

Fazendo um exercício de retrospectiva, vimos um volume de investimentos no setor que superou os US$ 3,5 bilhões - ante US$ 1,9 bilhão em 2020 e US$ 1,1 bilhão em 2019, segundo dados do ecossistema de inovação Distrito – número que reflete a maturidade atingida por esse segmento e que nos coloca muito bem-posicionados dentre grandes nações globais. Para se ter uma ideia, e considerando dados de meados de 2021 compilados pela associação de fintechs britânicas Innovate Finance, o Brasil aparece em terceiro lugar dentre as nações que mais captaram investimentos, atrás dos Estados Unidos (em primeiro lugar) e do Reino Unido (em segundo lugar). Completando o restante das cinco primeiras posições, ficamos à frente de potências como a Alemanha e a Índia.

Somado a isso, a empresa de consultoria Findexable colocou o Brasil e a cidade de São Paulo no 14º e 4º lugar, respectivamente, em seus rankings dos melhores hubs globais para fintechs, no qual são avaliados quesitos como a quantidade e qualidade das empresas no local, bem como dados sobre o quanto amigável é o ambiente para as startups financeiras. Olhando ainda para o quão longe chegamos, vale lembrar que o segundo maior IPO de uma fintech em 2021 foi de uma empresa brasileira, o Nubank - operação que ficou atrás apenas da abertura de capital da gigante norte-americana de criptoativos Coinbase – e transformou este neobank na instituição financeira mais valiosa da América Latina.

Adicionalmente, não podemos nos esquecer que presenciamos o anúncio, o lançamento e o desenvolvimento de importantes iniciativas do ponto de vista regulatório e de infraestrutura por parte dos reguladores, algo que deve abrir ainda mais possibilidades para a inovação no mercado financeiro daqui para a frente. O Pix, lançado em novembro de 2020, tornou-se o sistema de pagamentos instantâneos com a adoção mais rápida no mundo e segue avançando com o desenvolvimento de novas funcionalidades. O Open Banking teve seu lançamento público realizado pelo Banco Central no começo de fevereiro de 2021, e tem engajado um número crescente de instituições a cada nova fase (dentro de um ambicioso escopo que é um dos mais completos do mundo). Adicionalmente, a SUSEP anunciou a criação do Open Insurance, iniciativa que se somará ao Open Banking debaixo de um guarda-chuva maior, chamado Open Finance, que abrirá portas para um sistema financeiro aberto. Ainda falando da SUSEP, a autarquia conseguiu também rodar duas edições do seu programa de Sandbox Regulatório para a viabilização de iniciativas inovadoras em seguros no país. Na sequência, a CVM e o BC tornaram públicos os nomes das instituições aprovadas em seus respectivos programas. Por fim, o Banco Central anunciou que, assim como outras entidades mundo afora, está desenvolvendo sua própria moeda digital (ou CBDC, como são conhecidas globalmente), inclusive mostrando interesse em entender como o atual ecossistema de DeFi, NFTs e até o metaverso podem ser integrados com a plataforma do Real Digital.

Vimos muitos acontecimentos em 2021, mas parafraseando a fala de Roberto Campos Neto, Presidente do BC, as inovações que estarão no ar em 2022 serão maiores do que as da última década, ou seja, é bem provável que sejamos surpreendidos (positivamente) mais uma vez.

Olhando adiante, é possível identificar algumas tendências que derivam dos fatos citados anteriormente e de outros movimentos mais amplos e novos de mercado, bem como sinalizações do que podemos ver em 2022. Exploraremos esses aspectos a seguir.

Tendências que seguirão avançando em 2022

Dentre as tendências que brilharam no ano que passou e que devem ganhar ainda mais força no próximo ciclo, destacamos as atividades de BaaS (Banking as a Service) e FaaS (Fintech as a Service). À medida que ficou claro no mercado que uma das formas mais rápidas e efetivas de se embutir novas soluções financeiras em empresas de diferentes setores é através da utilização de parceiros especializados por meio de ofertas modularizadas (movimento batizado de embedded finance), é possível afirmar com segurança que ainda há muitas oportunidades a serem desbravadas e muito trabalho a ser feito nessa frente. Fintechs que atuam nesse segmento (como a Swap, Pismo, Hash, Fitbank e Pomelo) receberam somas consideráveis de investimentos em 2021 para seguir desenvolvendo e entregando a infraestrutura necessária para companhias que buscam acelerar seu processo de “fintechzação” ou ganhar agilidade no lançamento de novos produtos. Um processo de consolidação nessa vertical parece inevitável e grandes players começam a emergir, inclusive ambicionando plena expansão pela América Latina e IPO internacional muito em breve, como no caso da Dock. A competição irá se intensificar, pois tantos bancos médios quanto grandes bancos já passam a olhar o BaaS como uma atividade cada vez mais estratégica, devendo ampliar sua atuação em 2022.

Se por um lado temos o movimento do "embedded finance”, do outro temos a tendência do " beyond banking ", onde bancos e fintechs expandem seu portifólio para além do universo financeiro, agregando soluções que vão desde marketplaces até ofertas que aprimorem o estilo de vida do usuário. Aqui no Brasil um dos players pioneiros na estratégia " beyond banking " (que alguns chamam de estratégia "superapp") foi o Inter, seguido de outros players como o Banco Next e o Nubank. Parece que esse é apenas o começo de um movimento que ainda transformará bastante a forma como enxergamos os bancos e as fintechs daqui por diante, algo que fomentará o desenvolvimento de novas plataformas e ecossistemas, nos levando a uma nova lógica financeira.

Voltando os olhos para mais oportunidades relacionadas a infraestrutura, não podemos deixar de falar dos negócios que estão mirando o potencial do Open Finance e do Pix no país. Companhias que visam tanto auxiliar outras empresas no desenvolvimento de novas soluções e experiências baseadas em dados financeiros abertos e pagamentos instantâneos, quanto aquelas que buscam entregar uma plataforma que permita o fácil acesso e gestão de suas atividades dentro da realidade regulada, devem ganhar destaque. Nesse cenário, encontramos players como Belvo, Quanto, FinanSystech, Klavi, Sensedia, Pluggy, Tecban, FCamara, dentre outros. A demanda de negócios é gigantesca e não seria surpresa se víssemos o surgimento de um novo unicórnio latino-americano nessa vertical já em 2022, bem como algumas aquisições por parte de incumbentes ou players internacionais interessados em ganhar terreno rapidamente na América Latina.

Amarrando as tendências anteriores, encontramos a necessidade de atender as expectativas de consumo dos clientes atuais através da hiperpersonalização (via entendimento profundo dessa massa de dados) e da entrega de serviços contextuais, o que tem sido chamado de contextual banking, algo que deverá ser incorporado por diferentes players do mercado através da utilização de fintechs especializadas no tema (como a canadense Flybits) ou por meio do desenvolvimento interno de tecnologia.

Tendências nascentes

Olhando para novas fronteiras que devem começar a receber mais atenção daqui para a frente no país, encontramos as sustainable fintechs e green fintechs, subsegmentos sobre as quais escrevi a respeito em 2021 e que desenvolvem negócios alinhados com as premissas ESG (ligadas ao meio ambiente, social e governança) que gerem impacto positivo na sociedade. Nesse amplo espectro, encontramos iniciativas relacionadas ao financiamento de projetos de energia solar (como a Solfácil e a Insole), voltadas para o mercado de crédito de carbono (como a Moss.earth) e até soluções play-to-earn de conservação florestal onde os NFTs utilizadas em seu metaverso são ligados a ativos florestais reais (proposta da startup Invert). As agrifintechs, que no Brasil costumam estar bem alinhadas às práticas sustentáveis, também prometem surpreender. Esse subsegmento está inserido dentro de um dos mais importantes setores do país (o agro) e é um oceano azul de oportunidades no qual já vemos algumas fintechs despontando, vide a Nagro, DuAgro, A de Agro, Agryo, Terramagna, Traive, dentre outras.

Fintechs com atuação em segmentos menos sexy, como back-office e automação financeira devem ganhar espaço ao solucionar dores relacionadas à complexidade e alto custo incorrido pelas empresas para realizar tais atividades com qualidade. Nesse mercado, encontramos as novatas BHub, Celero e Manda pro Financeiro, com foco em PMEs e Startups, e a Vórtex, focada no back-office de gestoras de investimentos, bancos e outras fintechs.

Outra tendência que merece bastante atenção é a diminuição da distância entre o mundo cripto e o mercado financeiro tradicional – e vemos cada vez mais fintechs endereçando esse tema. Como sabemos, os criptoativos não são novidade e sua relevância tem crescido ano após ano, mas as condições reunidas atualmente estão criando um momento único que pode representar uma virada de chave para o subsegmento, ampliando o seu alcance para um número ainda maior de brasileiros. Dentre os vários sinais já visíveis desta mudança, destaco a atenção despendida pelo governo e os reguladores em relação ao tema (com projetos de regulamentação do setor tramitando no congresso, o desenvolvimento do Real Digital e o ingresso de fintechs alinhadas ao tema nos Sandboxes do BC e da CVM), os avanços de grandes players no desenvolvimento de soluções voltadas para o ecossistema cripto (como B3, Visa e Mastercard ), o crescimento de iniciativas voltadas para finanças descentralizadas (DeFi) e o surgimento de 2 unicórnios brasileiros que desenvolvem negócios nesse setor (o Grupo 2TM, dono da startup Mercado Bitcoin, e a fintech de pagamentos Cloudwalk, que utiliza tecnologia Blockchain).

Além das corretoras de criptomoedas (formato mais popular de iniciativa no setor), vemos o desenvolvimento de um amplo ecossistema de soluções composto por gestoras (como a QR Capital e Hashdex), casas de research (como a Paradigma Education e a Convex Research) e provedores de serviços de custódia, trading e infraestrutura para o mercado (como a Parfin e a Bitrust, do grupo 2TM), dentre outros – todos representando um terreno fértil para novos negócios. Há, contudo, uma atividade ainda pouco explorada nesse subsegmento que vejo com bastante potencial para 2022 no país – o Crypto as a Service. Esse modelo é similar ao Banking as a Service e trata-se de possibilitar que diferentes companhias possam dar aos seus clientes acesso ao mundo dos criptoativos (de modo direto ou indireto). Internacionalmente um dos players mais bem sucedidos nesse mercado é a Paxos, que é a empresa que provê a infraestrutura necessária para o Paypal e o Mercado Livre atuarem neste mercado. Por aqui, a corretora Foxbit lançou uma unidade B2B para atuar no segmento, habilitando a 99 (da empresa de mobilidade chinesa Didi Chuxing) a mergulhar no mundo cripto. Esse é um grande negócio que está atraindo diferentes startups que já atuam no mercado cripto (desde corretoras até provedores de wallets) e empresas que atuam com Banking as a Service e buscam expandir seu portfólio de ofertas (a Dock já sinalizou que está montando uma área dedicada ao setor). Acredito que movimentos mais intensos de investimentos e operações de M&A devem acontecer neste setor em 2022.

Maior competição, internacionalização e reação dos incumbentes

Investidores e empreendedores de todo o mundo já perceberam que o mercado brasileiro está se tornando estratégico demais para ignorar. Assim, presenciamos a incursão cada vez maior de novos investidores no país, bem como um aumento no número de startups vindas de várias partes do mundo buscando participar desta verdadeira “corrida do ouro” digital. Esse movimento certamente será intensificado em 2022, aumentando a concorrência em vários subsegmentos. Já algumas fintechs brasileiras, que receberam grandes rodadas de investimentos, deverão acelerar seu processo de internacionalização.

Somado a esse cenário competitivo, prevejo movimentos mais agressivos por parte dos incumbentes, tanto em seu discurso em prol de isonomia regulatória no setor financeiro quanto em seu processo de transformação para esse novo campo de batalha.

Estou confiante de que veremos um ano de crescimento intenso e de acelerada evolução do mercado financeiro brasileiro. Espero que tenhamos surpresas tão boas quanto as que tivemos no balanço de 2020 para 2021 – e as perspectivas para que isso de fato aconteça não poderiam ser melhores.

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