Economia, Sociedade e Defesa
Ninguém deve desejar a guerra, mas tampouco devemos estar despreparados para instabilidades geopolíticas
Bibiana Guaraldi
Publicado em 19 de abril de 2021 às 12h52.
O mundo vive tempos geopoliticamente difíceis. Se, por um lado, as ameaças terroristas parecem ter refluído, por outro, as tensões entre as grandes potências têm aumentado por conta de disputas comerciais, tecnológicas, militares e territoriais.
A América do Sul parece um mar de tranquilidade frente às tensões ao redor do mundo. No entanto, existem questões que afetam o Brasil de forma direta e objetiva, envolvendo a segurança de nossas imensas fronteiras terrestres e marítimas e de nosso espaço aéreo, entre outros aspectos, inclusive o de segurança pública.
Como outros países, o Brasil foi capaz de desenvolver uma razoável indústria de defesa cujos reflexos vão muito além da área militar. O exemplo mais evidente é a existência da Embraer, que tem imensa repercussão econômica, educacional e social no país.
Investir em defesa, no caso da Embraer, é mais do que um exemplo de sucesso. Recentemente, a Universidade Federal de São Carlos estimou em mais de R$ 16,5 bilhões o impacto econômico da montagem e da fabricação de peças do caça Gripen, no ABC paulista, que são revertidos em ciência, tecnologia, empregos e impostos.
Apesar de ter uma importante indústria de defesa, o Brasil é apenas o 23o exportador de material de defesa no mundo. O Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) estimou que, em 2018, o comércio internacional da indústria de defesa movimentou US$ 1,822 bilhão.
Ninguém deve desejar a guerra, mas tampouco devemos estar despreparados para instabilidades geopolíticas. Devemos estar prevenidos não apenas para conflitos diretos, como também para somar esforços em coalisão com outras nações em defesa da democracia e dos direitos humanos, como fizemos no passado. Isto reforça a posição geopolítica do Brasil, mas exige enfrentar a corrida tecnológica da indústria de defesa, o que repercute no mundo civil.
O Brasil pode ser um player ainda mais relevante nesse mercado. Em um cenário de recuperação econômica do país, a indústria de defesa pode ser relevante. Principalmente por sua conexão com outros ramos da atividade industrial.
No entanto, o Brasil continua carente de tecnologias de ponta que agreguem valor aos produtos exportados. A superação dessa carência depende de decisões políticas de longo prazo. O gap tecnológico precisa ser reduzido. Nesse sentido, a parceria com grandes empresas globais de defesa aparece como uma janela de oportunidade importante a ser explorada.
A transferência de tecnologia, além de acelerar o desenvolvimento industrial do setor de defesa, impacta outras áreas que dependem de componentes sensíveis, como o setor de satélites de telecomunicações. A tecnologia de defesa sempre foi catalisadora do desenvolvimento industrial, sendo um multiplicador de resultados, o que pode ser fundamental para o país.
Existem benefícios econômicos claros (nacionais e regionais) com a manutenção de uma cadeia de produção da indústria de defesa. Esse efeito ocorre em razão da criação de novos empregos e do reaproveitamento de mão de obra ociosa. Outro efeito é a inovação tecnológica decorrente de um projeto estratégico de defesa, sobretudo se houver transferência de tecnologia militar de uso comprovado.
Enfim, na linha do inegável sucesso da Embraer, o Brasil deve consolidar sua indústria de defesa, ou até re-consolidá-la, pois já fomos destacados nas décadas de 1980 e parte de 1990. Tanto pela necessidade de expandir a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias quanto pela necessidade de gerar desenvolvimento econômico e social. A bem-sucedida experiência com o KC390 e o Gripen, além do submarino nuclear, indica que a cooperação entre grandes empresas de defesa pode trazer significativos benefícios de médio e longo prazo.
Agora abrem-se oportunidades, como o programa de novos veículos blindados do Exército. Um projeto nacionalizado de veículo de alta complexidade de sistemas embarcados, pode resultar no fortalecimento do setor de defesa no Brasil, na geração de emprego e renda. Deve-se considerar a potencial repercussão tecnológica em outros setores industriais, bem como a expansão de exportações para outros países da América do Sul e do mundo.
O Brasil deve pensar “geopoliticamente” quando se trata da sua indústria de defesa. Como o fez ao se definir pela aquisição e o desenvolvimento dos caças suecos Gripen, oriundos de um país não alinhado, tecnologicamente desenvolvido e disposto a repartir conhecimento. Pensar em defesa não é desejar a guerra. Mas lembrar que o preço da liberdade é a eterna vigilância.
O mundo vive tempos geopoliticamente difíceis. Se, por um lado, as ameaças terroristas parecem ter refluído, por outro, as tensões entre as grandes potências têm aumentado por conta de disputas comerciais, tecnológicas, militares e territoriais.
A América do Sul parece um mar de tranquilidade frente às tensões ao redor do mundo. No entanto, existem questões que afetam o Brasil de forma direta e objetiva, envolvendo a segurança de nossas imensas fronteiras terrestres e marítimas e de nosso espaço aéreo, entre outros aspectos, inclusive o de segurança pública.
Como outros países, o Brasil foi capaz de desenvolver uma razoável indústria de defesa cujos reflexos vão muito além da área militar. O exemplo mais evidente é a existência da Embraer, que tem imensa repercussão econômica, educacional e social no país.
Investir em defesa, no caso da Embraer, é mais do que um exemplo de sucesso. Recentemente, a Universidade Federal de São Carlos estimou em mais de R$ 16,5 bilhões o impacto econômico da montagem e da fabricação de peças do caça Gripen, no ABC paulista, que são revertidos em ciência, tecnologia, empregos e impostos.
Apesar de ter uma importante indústria de defesa, o Brasil é apenas o 23o exportador de material de defesa no mundo. O Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) estimou que, em 2018, o comércio internacional da indústria de defesa movimentou US$ 1,822 bilhão.
Ninguém deve desejar a guerra, mas tampouco devemos estar despreparados para instabilidades geopolíticas. Devemos estar prevenidos não apenas para conflitos diretos, como também para somar esforços em coalisão com outras nações em defesa da democracia e dos direitos humanos, como fizemos no passado. Isto reforça a posição geopolítica do Brasil, mas exige enfrentar a corrida tecnológica da indústria de defesa, o que repercute no mundo civil.
O Brasil pode ser um player ainda mais relevante nesse mercado. Em um cenário de recuperação econômica do país, a indústria de defesa pode ser relevante. Principalmente por sua conexão com outros ramos da atividade industrial.
No entanto, o Brasil continua carente de tecnologias de ponta que agreguem valor aos produtos exportados. A superação dessa carência depende de decisões políticas de longo prazo. O gap tecnológico precisa ser reduzido. Nesse sentido, a parceria com grandes empresas globais de defesa aparece como uma janela de oportunidade importante a ser explorada.
A transferência de tecnologia, além de acelerar o desenvolvimento industrial do setor de defesa, impacta outras áreas que dependem de componentes sensíveis, como o setor de satélites de telecomunicações. A tecnologia de defesa sempre foi catalisadora do desenvolvimento industrial, sendo um multiplicador de resultados, o que pode ser fundamental para o país.
Existem benefícios econômicos claros (nacionais e regionais) com a manutenção de uma cadeia de produção da indústria de defesa. Esse efeito ocorre em razão da criação de novos empregos e do reaproveitamento de mão de obra ociosa. Outro efeito é a inovação tecnológica decorrente de um projeto estratégico de defesa, sobretudo se houver transferência de tecnologia militar de uso comprovado.
Enfim, na linha do inegável sucesso da Embraer, o Brasil deve consolidar sua indústria de defesa, ou até re-consolidá-la, pois já fomos destacados nas décadas de 1980 e parte de 1990. Tanto pela necessidade de expandir a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias quanto pela necessidade de gerar desenvolvimento econômico e social. A bem-sucedida experiência com o KC390 e o Gripen, além do submarino nuclear, indica que a cooperação entre grandes empresas de defesa pode trazer significativos benefícios de médio e longo prazo.
Agora abrem-se oportunidades, como o programa de novos veículos blindados do Exército. Um projeto nacionalizado de veículo de alta complexidade de sistemas embarcados, pode resultar no fortalecimento do setor de defesa no Brasil, na geração de emprego e renda. Deve-se considerar a potencial repercussão tecnológica em outros setores industriais, bem como a expansão de exportações para outros países da América do Sul e do mundo.
O Brasil deve pensar “geopoliticamente” quando se trata da sua indústria de defesa. Como o fez ao se definir pela aquisição e o desenvolvimento dos caças suecos Gripen, oriundos de um país não alinhado, tecnologicamente desenvolvido e disposto a repartir conhecimento. Pensar em defesa não é desejar a guerra. Mas lembrar que o preço da liberdade é a eterna vigilância.