PORTO DE XANGAI: redução de tarifas adicionais sobre 75 bilhões de dólares em produtos americanos | Getty Images / (Getty Images)
Publicado em 12 de março de 2025 às 17h51.
Última atualização em 12 de março de 2025 às 17h53.
Por Zhu Qingqiao*
Recentemente, os Estados Unidos, sob o pretexto da questão do fentanil, impuseram arbitrariamente uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses, sobrepondo-se aos 10% já vigentes. Trata-se de um caso típico de unilateralismo e protecionismo comercial, em severa infração às normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Tal medida compromete o alicerce da cooperação econômica sino-americana, desestabiliza as cadeias globais de produção e suprimentos, e, consequentemente, suscita ampla apreensão e repúdio na comunidade internacional.
A China, com base na legislação cabível e nos princípios fundamentais do direito internacional, adotou contramedidas necessárias, legítimas e razoáveis, e entrou com uma ação na OMC, para defender firmemente não só seus direitos e interesses, como também o sistema multilateral de comércio e a ordem econômica e comercial internacional.
A imposição dessas tarifas adicionais é uma distorção dos fatos e uma medida desproporcional. Na realidade, a China sempre combateu firmemente o tráfico e a produção de drogas ilícitas e é um dos países com as políticas mais rigorosas e abrangentes de combate a essas substâncias. Movida pelo espírito humanitário, a China forneceu o apoio necessário aos EUA para lidar com o problema do fentanil e realizou uma ampla cooperação antidrogas com os americanos, com resultados visíveis.
Os Estados Unidos precisam reconhecer a realidade e enfrentar seus desafios internos com racionalidade, ao invés de recorrer constantemente à ameaça de tarifas adicionais. A cooperação econômica e comercial sino-americana fundamenta-se essencialmente no benefício mútuo e nos ganhos recíprocos. A estabilidade dessas relações atende aos interesses fundamentais de ambos e de seus povos, além de ser benéfico para o desenvolvimento econômico global.
O que os dois países e o resto do mundo precisam não é de tarifas unilaterais, mas de diálogo e consultas em pé de igualdade e com respeito mútuo. Instamos veementemente os Estados Unidos a retificarem suas políticas equivocadas, abstendo-se de politizar e instrumentalizar questões econômicas e comerciais. Contudo, caso os EUA persistam em sua conduta errônea, a China não apenas possui a confiança inabalável, mas também dispõe de ampla capacidade para responder de maneira apropriada e assertiva.
O emprego de tarifas aduaneiras como instrumento de coerção é incompatível com a conduta esperada de uma grande nação responsável. No âmbito das relações comerciais bilaterais, a abertura recíproca e a exploração das vantagens comparativas constituem fontes de oportunidades mútuas, e não ameaças. Em um relacionamento comercial genuíno, não existe um cenário de perdas ou ganhos absolutos e permanentes.
Nos últimos anos, a imposição de tarifas adicionais pelos Estados Unidos levou ao aumento dos preços no mercado doméstico e à aceleração da inflação. Isso, além de não servir para resolver os problemas de competitividade da indústria americana, ainda causa distúrbios na cadeia global de suprimentos. Os fatos comprovam e continuarão a comprovar que erguer “muros” tarifários bloqueia oportunidades, aprisiona o próprio país que as impõe, não altera as leis do mercado, falha em impedir o avanço da cooperação internacional e é incapaz de obstruir o desenvolvimento da China e de outras nações.
No ano passado, a China registrou um crescimento econômico de 5%, mantendo, por oito anos consecutivos, a posição de maior país em comércio de bens e principal parceiro comercial de mais de 150 países e regiões. Esse desempenho foi alcançado em um contexto de crescimento global lento, agravado por sanções unilaterais e cerceamento por parte dos Estados Unidos, demonstrando a resiliência e o vasto potencial da economia chinesa.
A China continuará a implementar integralmente o novo conceito de crescimento, acelerar a construção de um novo paradigma de desenvolvimento, de forma sólida e com alta qualidade, permanecendo, assim como um motor para a economia mundial. Independentemente das mudanças no ambiente externo, a China manterá sua abertura ao mundo, ampliará de forma ordenada a abertura autônoma e unilateral, e promoverá a construção de uma economia mundial aberta, oferecendo mais oportunidades para o desenvolvimento de todos os países.
Um ditado brasileiro ensina: “Um navio precisa de âncora, mas uma tripulação precisa de mãos unidas”. Como principais nações em desenvolvimento nos hemisférios oriental e ocidental, China e Brasil desfrutam de uma cooperação econômica e comercial alicerçada em bases sólidas, dotada de vitalidade abundante e perspectivas promissoras. Quanto mais turbulentas as águas, mais valiosa se torna a união sino-brasileira.
Almejamos colaborar com o Brasil para concretizar os importantes consensos alcançados pelos líderes de ambos os países, impulsionar vigorosamente o alinhamento de estratégias de desenvolvimento de ambos os governos, e dissipar interferências e pressões externas. Permaneceremos firmes contra o unilateralismo, defendendo a liberalização e facilitação do comércio global. Persistiremos como parceiros de ouro em busca de benefícios mútuos e progresso conjunto, construindo juntos uma comunidade sino-brasileira de futuro compartilhado por um mundo mais justo e um planeta mais sustentável.
*Zhu Qingqiao é embaixador da China no Brasil