Economia Circular – onde o fim é apenas um novo começo
O varejo passou a surfar a onda da sustentabilidade, principalmente por meio do mercado second hand
Colunista
Publicado em 27 de agosto de 2024 às 12h16.
Os consumidores estão cada vez mais comprometidos com a sustentabilidade na América Latina. Os chamados eco-actives chegaram a representar 18% da população latino-americana em 2023, compondo um mercado de US$ 15 bilhões em compras de bens de consumo, segundo o levantamento “Sustentar para ganhar: Desvendando práticas ecológicas para alcançar o crescimento de marca”, realizado pela Kantar. Essas pessoas evitam a compra de produtos com excesso de plástico ou que não estejam alinhados com práticas de preservação ambiental.
A partir da nova exigência dos consumidores, o varejo passou a surfar a onda da sustentabilidade, principalmente por meio do mercado second hand. Além de ser sustentável, a venda de produtos usados permitiu a criação de um novo modelo de negócio rentável para os varejistas.
De acordo com uma pesquisa da Pymnts Intelligence, consumidores estão comprando em lojas de segunda mão com a mesma frequência que em outros segmentos do varejo. Um estudo da GlobalData mostrou que o mercado global de vestuário de segunda mão alcançará US$ 350 bilhões até 2028, crescendo três vezes mais rápido do que o setor de moda que oferece roupas novas. Em 2023, nos Estados Unidos, cresceu 31% o número de marcas operando em second hand em relação ao ano anterior. Já no Brasil, um levantamento da OLX mostrou aumento de 30% nas vendas de itens usados no primeiro trimestre de 2023.
A mentalidade da população latino-americana de que os produtos usados tinham qualidade ruim ou, até mesmo, uma “energia negativa” não existe mais. As novas gerações, como Alpha e Z, em sua maioria, estão mais preocupadas com a sustentabilidade e preferem a compra de produtos de segunda mão. Isso evidencia a transformação social, em que deixamos de ser consumidores e passamos ao posto de usufruidores.
O mercado de segunda mão é tão forte e impactante que já é possível observar grandes cases de sucesso. Um deles é a rede de franquia Peça Rara Brechó, voltada para vestuários usados, que já possui mais de 60 unidades. Segundo a empresa, a economia circular gira mais de 2,7 milhões de itens por ano e o número de fornecedores - clientes que levam peças para vender nas lojas - quase dobrou de 2022 para 2023, alcançando mais de 250 mil pessoas.
Outro case brasileiro de moda circular é a Troc, fundada em Curitiba em 2016, vem trabalhando desde então o conceito e educando o consumidor. Em 2020 foi adquirida e passou a fazer parte do Grupo Arezzo & Co., demonstrando que além de bem-sucedida a iniciativa também entrou no radar de um dos maiores grupos de moda do Brasil. Os exemplos têm se multiplicado no país e fora dele.
As plataformas de marketplace para itens de segunda mão também ganharam força. Em 2014, o Alibaba criou a Idle Fish, com o objetivo de fazer o “lixo” tornar-se consumo. Hoje, a comunidade de usuários chega a 300 milhões de pessoas e é a mais rentável depois da Taobao e TMall. Comprovando que a tendência é global e tem ganhado força em todas as partes do mundo.
Outro grande case de sucesso é o da Beni, uma empresa californiana que fez uma extensão para o navegador, em que o usuário é capaz de buscar por um produto, seja um tênis de marca ou uma camiseta, e a plataforma traz resultados de itens de segunda mão com agilidade e facilidade. Para as empresas que já possuem soluções second hand dentro de marketplaces ou de suas próprias plataformas, a Beni é uma grande oportunidade para que os produtos cheguem ao usuário de maneira prática. A partir de novas soluções como essa, os consumidores não precisam mais fazer uma busca de garimpo. Os produtos estão disponíveis na Internet, assim como os novos.
Nesse sentido, as indústrias passam a investir cada vez mais em mercadorias de alta qualidade e durabilidade, quebrando o ciclo anterior de itens que estragavam com rapidez para serem trocados em pouco tempo. A partir de agora, as marcas passam a ver uma nova oportunidade de negócio, já que estes itens podem ser comercializados quando novos e depois revendidos no mercado por meio da economia circular. Além disso, o setor de second hand democratiza o acesso dos consumidores às marcas de luxo, já que os itens podem ser vendidos por um valor 30% a 50% menor. Dessa forma, uma pessoa que antes não tinha condições de comprar em lojas como Arezzo ou NV, agora tem acesso a esses produtos por meio do mercado de segunda mão.
O second hand é uma grande evolução para o varejo, alinhada à sustentabilidade, economia circular e a democratização de produtos de luxo para todo o mercado. Em contrapartida torna-se um grande desafio para as empresas que trabalham com produtos de baixo valor. Afinal, de um lado esta marca é pressionada pela força das grandes varejistas chinesas e de outro pelas mercadorias com preços mais baixos no mercado de segunda mão.
O fato é que o second hand é uma grande oportunidade para todo o varejo expandir as vendas e, consequentemente, sua receita. Além disso, contribui com o meio ambiente apenas criando programas de devolução de produtos que não estão mais sendo utilizados pelos clientes. Todas essas mercadorias podem ser revendidas para gerar receita à marca. Precisamos entender que, na maioria dos casos, o que antes era descarte agora é um novo dinheiro. Na economia circular, as marcas estão aprendendo a botar as peças antigas para girar e desse jeito todos saem ganhando: os clientes, a marca e o meio ambiente.
Bernardo Carneiro é Sócio-Diretor da Stone
Os consumidores estão cada vez mais comprometidos com a sustentabilidade na América Latina. Os chamados eco-actives chegaram a representar 18% da população latino-americana em 2023, compondo um mercado de US$ 15 bilhões em compras de bens de consumo, segundo o levantamento “Sustentar para ganhar: Desvendando práticas ecológicas para alcançar o crescimento de marca”, realizado pela Kantar. Essas pessoas evitam a compra de produtos com excesso de plástico ou que não estejam alinhados com práticas de preservação ambiental.
A partir da nova exigência dos consumidores, o varejo passou a surfar a onda da sustentabilidade, principalmente por meio do mercado second hand. Além de ser sustentável, a venda de produtos usados permitiu a criação de um novo modelo de negócio rentável para os varejistas.
De acordo com uma pesquisa da Pymnts Intelligence, consumidores estão comprando em lojas de segunda mão com a mesma frequência que em outros segmentos do varejo. Um estudo da GlobalData mostrou que o mercado global de vestuário de segunda mão alcançará US$ 350 bilhões até 2028, crescendo três vezes mais rápido do que o setor de moda que oferece roupas novas. Em 2023, nos Estados Unidos, cresceu 31% o número de marcas operando em second hand em relação ao ano anterior. Já no Brasil, um levantamento da OLX mostrou aumento de 30% nas vendas de itens usados no primeiro trimestre de 2023.
A mentalidade da população latino-americana de que os produtos usados tinham qualidade ruim ou, até mesmo, uma “energia negativa” não existe mais. As novas gerações, como Alpha e Z, em sua maioria, estão mais preocupadas com a sustentabilidade e preferem a compra de produtos de segunda mão. Isso evidencia a transformação social, em que deixamos de ser consumidores e passamos ao posto de usufruidores.
O mercado de segunda mão é tão forte e impactante que já é possível observar grandes cases de sucesso. Um deles é a rede de franquia Peça Rara Brechó, voltada para vestuários usados, que já possui mais de 60 unidades. Segundo a empresa, a economia circular gira mais de 2,7 milhões de itens por ano e o número de fornecedores - clientes que levam peças para vender nas lojas - quase dobrou de 2022 para 2023, alcançando mais de 250 mil pessoas.
Outro case brasileiro de moda circular é a Troc, fundada em Curitiba em 2016, vem trabalhando desde então o conceito e educando o consumidor. Em 2020 foi adquirida e passou a fazer parte do Grupo Arezzo & Co., demonstrando que além de bem-sucedida a iniciativa também entrou no radar de um dos maiores grupos de moda do Brasil. Os exemplos têm se multiplicado no país e fora dele.
As plataformas de marketplace para itens de segunda mão também ganharam força. Em 2014, o Alibaba criou a Idle Fish, com o objetivo de fazer o “lixo” tornar-se consumo. Hoje, a comunidade de usuários chega a 300 milhões de pessoas e é a mais rentável depois da Taobao e TMall. Comprovando que a tendência é global e tem ganhado força em todas as partes do mundo.
Outro grande case de sucesso é o da Beni, uma empresa californiana que fez uma extensão para o navegador, em que o usuário é capaz de buscar por um produto, seja um tênis de marca ou uma camiseta, e a plataforma traz resultados de itens de segunda mão com agilidade e facilidade. Para as empresas que já possuem soluções second hand dentro de marketplaces ou de suas próprias plataformas, a Beni é uma grande oportunidade para que os produtos cheguem ao usuário de maneira prática. A partir de novas soluções como essa, os consumidores não precisam mais fazer uma busca de garimpo. Os produtos estão disponíveis na Internet, assim como os novos.
Nesse sentido, as indústrias passam a investir cada vez mais em mercadorias de alta qualidade e durabilidade, quebrando o ciclo anterior de itens que estragavam com rapidez para serem trocados em pouco tempo. A partir de agora, as marcas passam a ver uma nova oportunidade de negócio, já que estes itens podem ser comercializados quando novos e depois revendidos no mercado por meio da economia circular. Além disso, o setor de second hand democratiza o acesso dos consumidores às marcas de luxo, já que os itens podem ser vendidos por um valor 30% a 50% menor. Dessa forma, uma pessoa que antes não tinha condições de comprar em lojas como Arezzo ou NV, agora tem acesso a esses produtos por meio do mercado de segunda mão.
O second hand é uma grande evolução para o varejo, alinhada à sustentabilidade, economia circular e a democratização de produtos de luxo para todo o mercado. Em contrapartida torna-se um grande desafio para as empresas que trabalham com produtos de baixo valor. Afinal, de um lado esta marca é pressionada pela força das grandes varejistas chinesas e de outro pelas mercadorias com preços mais baixos no mercado de segunda mão.
O fato é que o second hand é uma grande oportunidade para todo o varejo expandir as vendas e, consequentemente, sua receita. Além disso, contribui com o meio ambiente apenas criando programas de devolução de produtos que não estão mais sendo utilizados pelos clientes. Todas essas mercadorias podem ser revendidas para gerar receita à marca. Precisamos entender que, na maioria dos casos, o que antes era descarte agora é um novo dinheiro. Na economia circular, as marcas estão aprendendo a botar as peças antigas para girar e desse jeito todos saem ganhando: os clientes, a marca e o meio ambiente.
Bernardo Carneiro é Sócio-Diretor da Stone