Vacina: novos testes com a vacina da Moderna mostram uma alta taxa de sucesso no combate ao vírus SARS-CoV-2 (Dado Ruvic/Reuters)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 16 de novembro de 2020 às 09h33.
Última atualização em 16 de novembro de 2020 às 10h28.
A Moderna divulgou nesta segunda-feira (16) um resultado de uma análise preliminar da fase 3 dos testes da sua vacina contra o novo coronavírus. De acordo com a empresa, a vacina é 94,5% eficaz contra a covid-19. Para Stéphane Bancel, CEO da companhia, o resultado é um “divisor de águas". Isso pode fazer com que a imunização seja aprovada para uso já no mês que vem.
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“Este é um momento crucial no desenvolvimento de nossa vacina candidata covid-19”, disse Bancel em comunicado. “Esta análise provisória positiva de nosso estudo de fase 3 nos deu a primeira validação clínica de que nossa vacina pode prevenir a doença covid-19, incluindo doença grave.”
O mercado se animou com o resultado. As ações da Moderna já acumulam alta de mais de 12% na manhã desta segunda-feira (16), horas antes da abertura do pregão da Nasdaq. A companhia começou o dia avaliada em 35,3 bilhões de dólares.
A nova taxa de sucesso foi obtida após testes realizados em mais de 30 mil voluntários. Apenas 95 pessoas infectadas foram infectadas com a doença após a aplicação da vacina. Entre os casos, 90 voluntários estavam no grupo que recebeu apenas o placebo da vacina, enquanto outras 5 pessoas receberam as duas doses da proteção.
“Muitas pessoas estão preocupadas com o que você obtém com uma vacina contra a gripe, você sabe 50% a 60% eficácia”, disse Bancel. Com os novos resultados, o executivo espera que a vacina ganhe a aprovação da Food and Drug Administration (FDA). O órgão atua como uma Anvisa nos Estados Unidos.
Em agosto, o governo americano fechou um acordo para a compra e entrega de 100 milhões de doses da vacina da Moderna, caso ela se mostrasse bem sucedida nos testes clínicos. Meses depois, a companhia informou que os órgãos de saúde dos Estados Unidos poderiam aprovar o uso emergencial da vacina conforme os resultados obtidos nos testes de novembro.
O mercado, inclusive, já esperava boas notícias neste sentido. Após a divulgação dos resultados eficácia da vacina Pfizer, produzida em parceria com BioNTech, havia a expectativa de que a imunização da Moderna, que usa processos semelhantes de produção, também registrasse uma taxa elevada sucesso nos testes clínicos.
Há uma diferença crucial entre as duas vacinas: a temperatura em que elas precisam estar condicionadas enquanto estão armazenadas. A imunização da Pfizer requer temperatura de armazenamento de 70 graus Celsius abaixo de zero, o que pode ser um problema. Já a vacina da Moderna permanece estável em temperaturas entre 2 e 7 graus – semelhante a de uma geladeira doméstica – por até 30 dias.
Com os novos resultados, a Moderna segue se preparando ativamente para o lançamento global da vacina. Isso pode acontecer já “nas próximas semanas”, segundo a companhia. A Moderna espera que 20 milhões de doses estejam prontas para embarque nos EUA. A previsão é fabricar entre 500 milhões e 1 bilhão de doses no mundo em 2021.
Das 47 em fases de testes, apenas 10 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. São elas a chinesa da Sinovac Biotech, a também chinesa da Sinopharm, a britânica de Oxford em parceria com a AstraZeneca, a americana da Moderna, da Pfizer e BioNTech, a russa do Instituto Gamaleya, a chinesa CanSino, a americana Janssen Pharmaceutical Companies e a também americana Novavax.
Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.
Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.
Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.
As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.
Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.