Vacina: é dado sinal verde para preparativos em testes em humanos (Karoly Arvai/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de setembro de 2017 às 20h30.
Última atualização em 22 de setembro de 2017 às 20h33.
Brasília - Estudo conduzido pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) do Pará em conjunto com a Universidade do Texas mostra que a vacina contra zika desenvolvida pelas duas instituições protege camundongos e macacos contra o vírus.
Publicado pela Revista Nature Communications, o trabalho constatou que a aplicação de uma dose da vacina nos animais foi suficiente para prevenir a transmissão do vírus da mãe para o filhote durante a gestação, além de proteger machos.
Com a conclusão desta etapa, é dado sinal verde para preparativos em testes em humanos.
Apesar da boa notícia, um achado do estudo acende um alerta para uma eventual consequência da infecção pelo vírus: a redução da fertilidade masculina.
Testes realizados em camundongos mostram que a infecção pode alterar a reprodução nesses animais.
Machos não vacinados expostos ao zika tiveram uma redução significativa de espermatozoides. E os que foram produzidos perderam velocidade, o que dificulta a fecundação. Para completar, testículos dos camundongos atrofiaram.
"Sabemos da propensão do zika em infectar células do cérebro. O estudo agora indica que o vírus também age no testículo", relata o diretor do IEC, Pedro Vasconcelos.
"Não era esperado que isso ocorresse. Foi um achado ocasional", completa o diretor, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Não há ainda pistas sobre as causas que levam o vírus a atacar também a gônada masculina. Um dos caminhos a ser pesquisados, avalia, é a possibilidade de semelhanças entre receptores.
O diretor afirma que novos testes deverão ser feitos para verificar se o zika apresenta comportamento semelhante nos testículos de outras animais.
Caso novos estudos indiquem resultados similares, Vasconcelos considera importante partir para uma investigação epidemiológica em regiões onde o vírus provocou epidemia, como cidades do Nordeste.
"A epidemia pode ter provocado outras consequências, que serão sentidas numa outra fase, como a redução dos bebês nascidos em regiões afetadas. Isso precisa ser investigado."
A pesquisa não testou a capacidade de os camundongos engravidarem fêmeas após os danos constatados nos testículos.
Isso impede afirmar neste momento que animais se tornaram estéreis. Um novo experimento agora será realizado.
"O que se sabe é que há uma grande quantidade de vírus na excreção do esperma, que significa que o vírus tem bastante capacidade de se replicar, causando a destruição das células que resulta em diminuição dos testículos e, consequentemente, a esterilidade", concluiu.
Este foi o quarto estudo publicado sobre a vacina desenvolvida em parceria pelo IEC e a Universidade do Texas.
"Comprovada a eficácia da vacina em macacos e camundongos, terminamos nossa contribuição, abrindo caminho agora, para as pesquisas clínicas", afirma Vasconcelos.
Todos os testes realizados mostraram até o momento o efeito protetor do imunizante desenvolvido pela parceria. Os testes clínicos serão feitos por Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio. A expectativa, de acordo com Vasconcelos, é de que os testes comecem a ser feitos em 2019.
A parceria para essa pesquisa foi feita em 2016 a partir de acordo internacional para o desenvolvimento de vacina contra o vírus zika.
O Ministério da Saúde vai destinar um total de R$ 7 milhões nos próximos cinco anos (até 2021) para o desenvolvimento e produção da vacina.
O imunobiológico em desenvolvimento utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado de apenas uma dose, já que vacinas com vírus vivo são altamente capazes de estimular o sistema imunológico e proteger o organismo da infecção.