Vacina: Instituto de Biotecnologia de Pequim teve bons resultados em testes de fase 2 (Dado Ruvic/Reuters)
Tamires Vitorio
Publicado em 20 de julho de 2020 às 11h45.
Última atualização em 20 de julho de 2020 às 14h57.
A fase 2 da vacina do Instituto de Biotecnologia de Pequim contra o coronavírus também foi capaz de criar uma resposta imune nos participantes da pesquisa, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira (20). A divulgação acontece no mesmo dia da publicação dos dados das fases 1 e 2 da vacina da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca, que também foi capaz de produzir uma resposta imune contra o vírus.
O estudo chinês, publicado na revista científica The Lancet, foi randômico, duplo-cego (quando nem os médicos nem os voluntários sabe qual medicamento está sendo administrado), com grupo de controle (que tomou uma versão placebo da vacina) e foi feito com cerca de 500 pessoas saudáveis em Wuhan, província chinesa onde a covid-19 pode ter começado.
Os resultados da pesquisa apontam, também, que a vacina é segura, mas os autores afirmam que nenhum dos participantes foi exposto ao vírus após a vacinação, o que não "pode determinar se a proteção é realmente eficaz contra as infeccções". A vacina, assim como a da universidade britânica, também faz uso do adenovírus (versão enfraquecida de doenças respiratórias, como resfriados).
Dos 508 participantes, 253 receberam uma dose alta da vacina, 129 uma dose menor e 126 receberam placebo. A maioria tinha entre 18 e 44 anos, 26% tinham entre 44 e 54 e 13% eram mais velhos do que 55 anos. Os pesquisadores afirmam que nenhum efeito colateral foi considerado grave.
95% dos participantes que receberam uma versão mais intensa da vacina demostraram a produção das células T ou de respostas imunes 28 dias após a vacinação. Em 59% das pessoas, a vacina induziu a criação de anticorpos neutralizantes.
Os autores também afirmam que diferentes taxas de imunidade devem ser consideradas pelos países. Não há informação sobre a duração da prevenção no estudo.
A vacina é desenvolvida em parceria com a empresa CanSino Biologics.
Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz, sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia da droga. Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população.
As outras que também estão na na fase três de testes são as versões da americana Moderna e a da chinesa Sinovac, que também será testada no Brasil.
Para a OMS, a vacina britânica é a opção mais avançada no mundo em termos de testagem.
Na última semana, a reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Soraia Smaili, em entrevista à GloboNews, afirmou que a vacina de Oxford pode ser distribuída no Brasil em junho de 2021, assim que o registro emergencial dela for aprovado.
A AstraZeneca e Oxford testarão sua vacina em mais de 50.000 pessoas no mundo todo. No Brasil, serão 5.000 voluntários testados em São Paulo, na Bahia e no Rio de Janeiro.
Em junho, o governo brasileiro anunciou uma parceria com Oxford para a produção de 100 milhões de doses quando a aprovação acontecer.
Antes a previsão da empresa anglo-sueca era que a vacina ficaria pronta já neste ano.
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais.