Coronavírus: uso de medicamentos para tratar a doença pode trazer efeito colateral (Jasni Ulak / EyeEm/Getty Images)
AFP
Publicado em 2 de junho de 2020 às 08h08.
O aumento do uso de antibióticos para combater a pandemia de covid-19 aumentará a resistência bacteriana e em última instância provocará mais mortes durante a crise sanitária e depois, advertiu nesta segunda-feira (1º) a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, disse que há um "número preocupante" de infecções bacterianas que estão se tornando cada vez mais resistentes aos remédios usados tradicionalmente para combatê-las.
A agência sanitária da ONU se declarou preocupada de que o uso inapropriado de antibióticos durante a crise do coronavírus contribuirá para isto.
"A pandemia de COVID-19 levou a um aumento no uso de antibióticos, que provocará níveis maiores de resistência bacteriana e repercutirá no lastro da doença e nas mortes durante a pandemia e depois", disse o diretor-geral em uma coletiva de imprensa virtual da sede da OMS em Genebra.
A OMS considera que só uma pequena parte de pacientes com COVID-19 precisa de antibióticos.
A organização emitiu um guia para que os médicos não administrem antibióticos ou profilaxia para os pacientes com formas brandas de COVID-19 ou a pacientes com forma moderada da doença sem que haja uma suspeita clínica de infecção bacteriana.
Tedros disse que as recomendações deveriam permitir fazer frente à resistência antimicrobiana, salvando vidas.
A ameaça da resistência antimicrobiana é "um dos desafios mais urgentes do nosso tempo", advertiu.
"Está claro que o mundo está perdendo a capacidade de usar medicamentos antimicrobianos fundamentais".
Alguns países recorrem a um uso "excessivo" de antibióticos, enquanto nos de baixa renda, estes medicamentos essenciais não estão disponíveis, o que leva a um "sofrimento desnecessário e à morte".
Enquanto isso, alertou a OMS, a prevenção e o tratamento de doenças não transmissíveis foram seriamente alterados desde o início da pandemia de COVID-19 em dezembro, como demonstra um estudo feito em 155 países.
"Esta situação tem especial importância, já que as pessoas que vivem com estas doenças estão mais expostas à forma mais grave de covid-19 e à morte", disse.
O estudo, feito durante três semanas em maio, concluiu que os países com renda mais baixa são os mais afetados.
Cerca de 53% dos países reportaram interrupção parcial ou total dos serviços para o tratamento da hipertensão, 49% no caso dos tratamentos para diabetes, 42% no câncer e 31% no caso das emergências cardiovasculares.
As razões mais comuns para a interrupção ou a redução dos serviços foram as anulações dos tratamentos previstos, um declínio do transporte público disponível e a falta de pessoal porque os trabalhadores sanitários firam realocados para o tratamento de casos de covid-19.