Ciência

Uso da mão direita pode estar relacionado com evolução humana

A mandíbula superior do Homo habilis fornece a evidência mais velha já arquivada do uso da mão direita pela nossa espécie

Destreza: o uso da mão direita pode estar relacionada com o desenvolvimento do cérebro da nossa espécie (Thinkstock)

Destreza: o uso da mão direita pode estar relacionada com o desenvolvimento do cérebro da nossa espécie (Thinkstock)

Marina Demartini

Marina Demartini

Publicado em 15 de janeiro de 2017 às 08h00.

Última atualização em 15 de janeiro de 2017 às 08h00.

São Paulo – Fósseis de um dos ancestrais do ser humano forneceram a mais antiga evidência já vista de uso da mão direita da nossa espécie. A descoberta pode ajudar os pesquisadores a explicar por que quase 90% das pessoas são destras.

Curiosamente, o fóssil em questão não é uma mão, mas a mandíbula superior de um Homo habilis, antepassado que viveu na África entre 2,4 a 1,4 milhões de anos atrás. O maxilar tem 1,8 milhão de anos e foi encontrado em Olduvai, na Tanzânia, um dos sítios arqueológicos com uma das maiores quantidades de fósseis do planeta.

A escolha por analisar a mandíbula está relacionada à falta de fósseis de dois braços de um mesmo Homo habilis. Além disso, as arcadas dentárias tendem a durar mais tempo no registro fóssil e preservam a química e a evolução do ser humano.

Ao examinar a mandíbula de nosso ancestral, os pesquisadores notaram uma série de marcas na parte frontal dos dentes – a maioria deles estava inclinada para a direita. Eles acreditam que as ranhuras foram feitas quando ferramentas de pedras foram usadas para cortar algum material preso entre os dentes frontais.

Fóssil de mandíbula de Homo Habilis

Em um estudo anterior, pesquisadores observaram as mesmas marcas nos dentes de Neandertais europeus. A hipótese deles é que essas ranhuras foram feitas quando um alimento ou outro tipo de material foi segurado com uma mão, preso entre os dentes da frente e partido pela outra mão com um utensílio de pedra.

Os cientistas do estudo decidiram replicar essa ação dos Neandertais com um experimento em que voluntários usavam protetores bucais. Os resultados indicaram que as ranhuras inclinadas para a direita são feitas quando o material é puxado com a mão esquerda e cortado com a mão direita. Assim, é evidente que o Homo habilis era destro.

Imagem de Homo Habilis

Hoje, os cientistas estimam que 90% dos seres humanos são destros. Eles também sabem que o hemisfério esquerdo do cérebro humano, além de controlar o lado direito do corpo, tem papel importante na linguagem.

“Há uma associação entre o uso da mão direita, assimetria lateral cerebral e linguagem – tudo se encaixa em um pacote", disse David Frayer, autor principal do estudo, no Journal of Human Evolution.

Frayer é cauteloso ao dizer que o caso ainda não pode provar totalmente essa relação. “Mas à medida que mais pesquisas são feitas, nós poderemos provar que a mão direita, a reorganização cortical e a capacidade do ser humano de falar serão mostradas como componentes importantes na origem do Homo sapiens", afirmou em comunicado.

A mandíbula do Homo habilis é importante pois fornece a evidência mais velha que explica o uso da mão direita. Mas também é significativo pois sugere que um nível principal de organização do cérebro se desenvolveu nos seres humanos há pelo menos 1,8 milhão de anos.

Este desenvolvimento do cérebro nos difere dos macacos. Segundo estimativas anteriores, a porcentagem de primatas destros e canhotos está perto de uma proporção de 50%-50%. Assim, destreza pode significar muito mais do que simplesmente uma preferência pelo uso da mão direita.

Acompanhe tudo sobre:HistóriaPesquisas científicas

Mais de Ciência

Telescópio da Nasa mostra que buracos negros estão cada vez maiores; entenda

Surto de fungos mortais cresce desde a Covid-19, impulsionado por mudanças climáticas

Meteoro 200 vezes maior que o dos dinossauros ajudou a vida na Terra, diz estudo

Plano espacial da China pretende trazer para a Terra uma amostra da atmosfera de Vênus