Ciência

Usar demais o cérebro pode diminuir seu tempo de vida, diz estudo

Pesquisadores de Harvard encontram possível ligação entre pouca atividade cerebral e vidas mais longas

Expectativa de vida: pesquisadores apontam possível relação entre níveis de REST no cérebro e longevidade (imaginima/Getty Images)

Expectativa de vida: pesquisadores apontam possível relação entre níveis de REST no cérebro e longevidade (imaginima/Getty Images)

ME

Maria Eduarda Cury

Publicado em 17 de novembro de 2019 às 09h19.

Última atualização em 18 de novembro de 2019 às 11h45.

São Paulo — Utilizar o cérebro por muitas horas ao longo dia, seja para trabalhar ou para estudar, pode resultar em cansaço e até crises de estresse. Mas, de acordo com um estudo realizado por cientistas da Faculdade de Medicina de HarvardEstados Unidos, o uso excessivo do cérebro também pode ser relacionado com a morte precoce – antes dos 80 anos. Pensar menos talvez seja uma das saídas para viver por mais tempo.

Publicada na revisa Nature, a pesquisa indica que quanto maior a atividade das células cerebrais, maiores as chances de essa frequência acabar se tornando prejudicial ao ser humano. Para realizar o estudo, pesquisadores de Harvard analisaram tecido cerebral, que havia sido doado para bancos de cérebros humanos, de indivíduos na faixa etária dos 60 e 70 anos e de pessoas que viveram por mais de 100 anos.

Depois da análise, eles perceberam que os indivíduos que faleceram antes de completar 80 anos apresentavam, no cérebro, níveis mais baixos da proteína REST – responsável por absorver os genes que estão envolvidos na atividade cerebral – do que pessoas que morreram próximas aos 100 anos ou mais velhas. Essa proteína, conhecida como Fator Silenciador Restritivo aos Neurônios, já foi apontada como uma protetora contra a doença de Alzheimer.

Como não é possível medir os níveis de REST em pessoas vivas, os pesquisadores utilizaram lombrigas e camundongos para testar o desempenho dessa proteína em melhorar a expectativa de vida. Nos animais em que eles aumentaram a quantidade de REST, a atividade cerebral se reduziu e esses animais conseguiram viver por mais tempo. Aqueles que não tiveram níveis de proteína mais altos morreram em menor tempo.

Bruce Yanker, professor de genética e neurologia em Harvard e um dos líderes do estudo, comentou que o objetivo do estudo é tentar estabelecer alguma relação entre a atividade cerebral e o envelhecimento. Seu laboratório está acompanhando também uma possível ligação do uso de drogas com os níveis da proteína REST: "Eu acho que a implicação do nosso estudo é que, com o envelhecimento, há alguma atividade neural aberrante ou deletéria. Ela não só torna o cérebro menos eficiente mas também é prejudicial para a fisiologia da pessoa ou do animal; e reduz a vida útil como resultado", disse, em nota, Yankner.

Os cérebros doados, porém, foram de indivíduos cuja causa da morte é uma mistura de fatores, o que torna impossível concluir se a proteína está, de fato, relacionada com as mortes precoces. Angela Gutchess, professora de psicologia, disse ao ScienceAlert que o novo estudo foi um lembrete de que o envelhecimento cerebral só pode ser entendido a partir da conexão de observações e modelos de laboratórios em grande escala, levando em conta o comportamento humano, a imagem do cérebro e o funcionamento individual de suas células.

Acompanhe tudo sobre:HarvardMedicinaMortesPesquisa e desenvolvimentoSaúde

Mais de Ciência

Telescópio da Nasa mostra que buracos negros estão cada vez maiores; entenda

Surto de fungos mortais cresce desde a Covid-19, impulsionado por mudanças climáticas

Meteoro 200 vezes maior que o dos dinossauros ajudou a vida na Terra, diz estudo

Plano espacial da China pretende trazer para a Terra uma amostra da atmosfera de Vênus